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Reprodução

Cinco pontos essenciais para o sucesso reprodutivo - Parte I

Cinco pontos essenciais para o sucesso reprodutivo - Parte I

Texto: Paul M. Fricke

A ineficiência reprodutiva em vacas em lactação não é somente uma fonte de frustração para produtores de leite e seus consultores, mas também reduz substancialmente a lucratividade das fazendas leiteiras. Inseminar vacas rapidamente após o fim do período voluntário de espera e no momento correto com relação ao cio ou ovulação são dois dos cinco pontos essenciais para o sucesso reprodutivo que apresentaremos na primeira parte desse artigo.

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Introdução

A produção eficiente de leite é responsável direta pela lucratividade de uma fazenda leiteira. Dentro de um rebanho, a produção total é determinada pela proporção de vacas que produzem leite em um dado momento e pelo nível de produção de vacas individuais dentro do rebanho. Ambos fatores são afetados dramaticamente pela eficiência reprodutiva. A melhora na eficiência reprodutiva melhora a lucratividade, mantendo uma maior proporção de vacas no rebanho, produzindo leite em níveis ótimos.

A taxa de prenhez em um rebanho leiteiro é medida usando o risco de prenhez de 21 dias, que é determinado por uma interação entre o risco de serviço e o risco de concepção. Apesar de o risco de prenhez de 21 dias não ser, necessariamente, o produto matemático da taxa de concepção e da taxa de serviço, essa equação se aproxima do mesmo em grandes grupos de vacas. Dessa forma, maximizar o risco de concepção e o risco de serviço fornece oportunidades de manejo para controlar a reprodução e a lucratividade em uma operação leiteira. Um método prático para determinar o risco de prenhez é observar o número de resultados bem sucedidos (prenhezes) que ocorrem durante o período no qual vacas elegíveis estão em “risco” de se tornar prenhes (ciclos reprodutivos de 21 dias). Grandes estabelecimentos leiteiros usam softwares de computador para monitorar o desempenho reprodutivo, calculando os riscos de prenhez, serviço e concepção em uma base diária, semanal e mensal. O risco de prenhez para vacas em lactação na região superior do Meio-Oeste dos Estados Unidos pode variar de 5% a 30% entre as fazendas, dependendo da taxa de serviço e de concepção, sendo, em média, cerca de 14%. A maioria das fazendas leiteiras determinam uma meta reprodutiva de alcançar 20% ou mais de risco de prenhez de 21 dias ao ano.

A ineficiência reprodutiva em vacas em lactação não é somente uma fonte de frustração para produtores de leite e seus consultores, mas também reduz substancialmente a lucratividade das fazendas leiteiras. A inseminação artificial (IA) é uma das tecnologias reprodutivas mais importantes desenvolvidas durante o século passado, e a maioria das fazendas leiteiras usa IA para continuar competitiva no atual cenário econômico da indústria de lácteos. A ineficiência reprodutiva em vacas em lactação, entretanto, reduz substancialmente o impacto e a eficiência da IA.

A fertilidade das vacas leiteiras à IA, comumente, é medida calculando a porcentagem de vacas que concebem após um único serviço de IA, também conhecido como taxa de concepção ou risco de concepção. Quatro fatores gerais que determinam o risco de concepção em um rebanho leiteiro incluem:

1) fertilidade da vaca;

2) fertilidade do touro;

3) precisão dos cios; e

4) eficiência da IA.

A fertilidade da vaca se refere a qualquer fator relacionado à vaca que influencie o estabelecimento da prenhez e inclui itens como nutrição inadequada e estresse ambiental. A fertilidade do touro se refere à qualidade do sêmen usado para IA. A precisão dos cios se refere ao momento de fazer a IA com relação ao estro ou ovulação, e a eficiência da IA se refere a fatores que afetam as taxas de prenhez devido à técnica de IA. Desses quatro fatores, a precisão dos cios e a eficiência da IA podem ser maximizados por meio de práticas cuidadosas de manejo reprodutivo e que serão discutidas em maiores detalhes abaixo. As estratégias de manejo devem ser desenvolvidas para maximizar o risco de concepção, tendo sempre em mente que, mesmo rebanhos de alta produção, sob manejo excelente, provavelmente não excederão um risco geral de concepção de 50%.

Os 5 pontos essenciais para o sucesso reprodutivo focam nas áreas de manejo que podem ajudar a melhorar o risco geral de prenhez de 21 dias em um rebanho leiteiro. São eles:

• Ponto 1: Inseminar as vacas rapidamente após o final do período voluntário de espera

• Ponto 2: Inseminar as cacas no momento correto com relação ao estro e à ovulação

• Ponto 3: Melhorar a eficiência da IA

• Ponto 4: Identificar vacas não prenhes precocemente após a inseminação (mas não muito cedo)

• Ponto 5: Re-inseminar agressivamente vacas não prenhes.

 

Ponto 1: Inseminar vacas rapidamente após o fim do período voluntário de espera

É um princípio fundamental da biologia reprodutiva que inseminar uma vaca é o primeiro passo em direção ao estabelecimento da prenhez. Infelizmente, em muitas fazendas, uma proporção significativa de vacas não recebe seu primeiro serviço de IA pós-parto até depois de 100 dias em lactação. O primeiro serviço de IA pós-parto representa uma oportunidade única para o manejo reprodutivo de vacas em lactação, porque todas as vacas no rebanho têm um status conhecido de prenhez nesse momento (isto é, não prenhez), o que permite o uso de sistemas hormonais de sincronização que usam PGF2α sem o risco de abortar uma prenhez estabelecida anteriormente. Além disso, reduzir o intervalo do parto até o primeiro serviço de IA para todas as vacas no rebanho tem um efeito profundo na eficiência reprodutiva. O intervalo que deve decorrer do parto até que a vaca esteja elegível para receber seu primeiro serviço de IA é chamado de Período Voluntário de Espera (PVE). Como o nome indica, a duração desse intervalo é voluntária (isto é, uma decisão de manejo) e, tradicionalmente, varia de 40 a 70 dias na maioria das fazendas.

Para ilustrar as vantagens de programar vacas para receber o primeiro serviço de IA, compararemos dados reprodutivos de duas fazendas leiteiras em Wisconsin que empregam duas estratégias diferentes para iniciar o primeiro serviço de IA pós-parto (Figura 1). Para ambos os gráficos, os dias em lactação (DEL) na primeira cobertura estão plotados no eixo vertical (eixo y) e o tempo está plotado no eixo horizontal (eixo x). Cada quadrado representa uma observação, ou uma vaca dentro do rebanho, e uma linha foi traçada horizontalmente no DEL 100. Em ambos os gráficos, vacas recebendo o primeiro serviço de IA antes do DEL 100 ficaram abaixo da linha, enquanto vacas recebendo o primeiro serviço de IA após o DEL 100 ficaram acima da linha. O gráfico da parte de cima da Figura 1 mostra o padrão de vacas recebendo o primeiro serviço de IA em um rebanho manejado usando detecção visual de cio para primeiro serviço de IA pós-parto, enquanto o gráfico de baixo mostra o padrão de vacas recebendo o primeiro serviço de IA em um rebanho que usa detecção de cio combinado com os protocolos Presynch-Ovsynch (sistema de sincronização hormonal para IA em tempo fixo) para o primeiro serviço de IA pós-parto.

Quase um terço das vacas no rebanho mostrado no gráfico de cima da Figura 1 excederam o DEL 100 antes do primeiro serviço de IA. Deve ser óbvio que nenhuma dessas vacas teve a chance de emprenhar antes do DEL 100 porque não tinham ainda sido inseminadas. Apesar de a maioria dos produtores de leite identificar uma duração fixa para o PVE, as decisões reprodutivas para vacas individuais, frequentemente, ocorrem antes de transcorrer o PVE. O PVE para a fazenda ilustrada no gráfico de cima da Figura 1 é de 50 DEL; entretanto, muitas vacas são submetidas à IA antes desse tempo. A decisão de fazer IA em uma vaca pela primeira vez após o parto é determinada com base em quando (ou se) essa vaca é detectada no cio, ao invés de ser uma decisão predeterminada de manejo. Nesses casos, a vaca é quem gerencia a decisão de inseminar, ao invés do gestor. A decisão de inseminar uma vaca antes do PVE terminar é motivada por um fator e esse fator é o medo. Muitos produtores temem a decisão de não inseminar uma vaca detectada no cio, porque ela pode não ser detectada no cio novamente até muito mais tarde na lactação. Infelizmente, esse risco é muitas vezes observado em fazendas que confiam na observação visual do cio para IA devido às falhas na detecção do cio pelos funcionários e pela baixa expressão de cio em vacas em lactação.

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Se o gráfico de cima refletisse o desempenho reprodutivo para a primeira IA em sua fazenda, você deveria considerar usar um programa de sincronização de cio para iniciar o primeiro serviço de IA pós-parto. O uso de um programa como Presynch/Ovsynch para iniciar o primeiro serviço de IA expõe todas as vacas do rebanho ao risco de se tornarem prenhes no fim do PVE ou muito próximo dele. No gráfico de baixo da Figura 1, quase todas as vacas receberam o primeiro serviço de IA pós-parto entre 65 e 73 DEL. Nesse cenário, o fim do PVE é aproximadamente igual ao dia médio do primeiro serviço para todo o rebanho.

 

Envio de vacas para a primeira IA pós-parto usando Presynch-Ovsynch

A meta de longa data dos fisiologistas reprodutivos que trabalham com vacas leiteiras era desenvolver um programa de sincronização hormonal que pudesse resolver os problemas e limitações associadas com a detecção visual do cio. Essa meta foi alcançada em 1995 com a publicação de um protocolo hormonal de sincronização que combinava GnRH e PGF2α para controlar a fisiologia ovariana, e é agora amplamente conhecido como protocolo Ovsynch. O protocolo Ovsynch sincroniza o desenvolvimento folicular, a regressão luteal e a ovulação, de forma que a inseminação artificial possa ser conduzida em um momento fixo, sem a necessidade de detecção de cio, o que é comumente chamado de inseminação artificial em tempo fixo (IATF). Estudos subsequentes confirmaram os resultados do primeiro estudo, e os produtores de leite e veterinários começaram a implementar o protocolo Ovsynch como uma ferramenta para manejo reprodutivo em fazendas leiteiras comerciais. Hoje, muitas fazendas leiteiras nos Estados Unidos e ao redor do mundo adotam protocolos sistemáticos de sincronização como uma estratégia de manejo.

Os primeiros resultados com Ovsynch indicaram que todas as vacas não prenhes poderiam ser inscritas no protocolo, independentemente de seu estágio durante o ciclo estral. Resultados subsequentes, usando vacas em lactação e novilhas mostraram que o início do Ovsynch entre 5 a 12 dias do ciclo estral poderia resultar em uma melhor taxa de concepção do que o protocolo original. A pré-sincronização, entre os dias 5 a 12 do ciclo estral, pode ser realizada utilizando duas injeções de PGF2α administradas em intervalos de 14 dias antes do início da primeira injeção de GnRH do Ovsynch. Essa estratégia de pré-sincronização melhorou as taxas de concepção em vacas em lactação comparada com a utilização isolada do Ovsynch, e é conhecida como Presynch-Ovsynch (Tabela 1). Vacas em lactação foram aleatoriamente distribuídas para receber Ovsynch (n=262) ou Presynch (n=264) para sua primeira IA em tempo fixo (IATF) pós-parto, que foi conduzida 16 h após a segunda injeção de GnRH. A primeira e a segunda injeção de PGF2α para vacas Presynch foram administradas nos dias 37 e 51 em lactação, respectivamente, e todas as vacas foram submetidas à IATF aos 73 dias em lactação. Uma possível injeção de hormônio e um cronograma de IATF baseado nessa pesquisa são apresentados na Tabela 1. Para vacas cíclicas, a taxa de concepção aumentou de 29%, com o Ovsynch, para 43%, com o Presynch; entretanto, não foi detectada diferença estatística no tratamento quando todas as vacas (cíclicas e anovulares) foram incluídas na análise. A conclusão retirada desse estudo é que o uso de Presynch para pré-sincronização de vacas em lactação para receber sua primeira IATF pós-parto pode melhorar o risco de concepção no primeiro serviço.

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Ponto 2: Inseminar vacas no momento correto com relação ao cio ou ovulação

Um dos primeiros experimentos (se não o primeiro) conduzido para estabelecer o momento ótimo de IA com relação ao comportamento de cio foi conduzido nos anos quarenta, e indicou que esse ocorria cerca de 6 a 12 horas após o começo do comportamento de cio (Tabela 2). Infelizmente, esses dados não foram analisados estatisticamente e contavam com muito poucas vacas por tratamento para comparações estatísticas válidas. Ainda assim, foi estabelecida uma recomendação, na qual os produtores de leite foram instruídos a inseminar vacas detectadas no cio de manhã (isto é, antes do meio-dia ou do inglês, a.m.) no final desse dia (isto é, depois do meio-dia ou do inglês, p.m.) enquanto as vacas detectadas no cio à tarde (isto é, após o meio-dia, p.m.) deveriam ser inseminadas na manhã seguinte (isto é, antes do meio-dia, a.m.). Esse método foi chamado de regra a.m./p.m. e muitos produtores de leite continuam inseminando suas vacas de acordo com essa regra até hoje.

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De uma perspectiva prática, essa regra a.m./p.m. fornece aos produtores de leite uma forma fácil de memorizar e uma recomendação clara para o momento de IA com relação ao comportamento de cio. Logisticamente, entretanto, a regra a.m./p.m. tem causado problemas, uma vez que as fazendas que dependem de técnicos de IA para inseminar suas vacas podem requerer visitas duas vezes por dia, muitas vezes para inseminar uma única vaca. Para solucionar esse dilema, foram conduzidos estudos comparando estratégias de manejo para o momento de IA, e esses concluíram que programas de IA uma vez por dia resultam em taxas de concepção similares aos que usam a regra a.m./p.m. Os dados na Tabela 3 mostram claramente um grande número de vacas nas quais a taxa de não retorno em 75 dias (um substituto para o risco de concepção) não difere quando se compara o uso da regra a.m./p.m. com o programa de IA uma vez ao dia.

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O momento da IA com relação à detecção do comportamento de cio pode também afetar a fertilidade subsequente. Baseado em dados de 7.240 vacas Holandesas ao primeiro serviço, inseminadas por profissionais técnicos em IA, aquelas inseminadas dentro de 0 a 12 h do cio detectado tiveram maiores taxas de não retorno em 75 dias, comparadas com vacas inseminadas 12 h ou mais após o cio detectado (Tabela 4). Juntos, vários estudos apoiam a recomendação de que uma única IA no meio da manhã, para todas as vacas detectadas no cio na noite anterior ou na mesma manhã, deverão resultar em taxas de concepção máximas, sendo uma alternativa efetiva ao uso da regra a.m./p.m. para manejar a IA com detecção de cio.

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Momento de IA com relação às ovulações sincronizadas:Ovsynch56

O momento das injeções e da inseminação artificial em relação ao segundo GnRH do protocolo Ovysnch tem sido uma área de recente investigação científica. O momento ótimo da segunda injeção de GnRH e da IATF em um protocolo Ovsynch foi testado por pesquisadores que compararam dois protocolos Cosynch (isto é, Cosynch-48 e Cosynch-72 vs. Ovsynch-56). Nesse estudo, todas as vacas receberam GnRH, seguido 7 dias depois por PGF2α, e então receberam um dos seguintes tratamentos:

1) GnRH + IA em tempo fixo 48 horas depois do PGF2α (Cosynch-48);

2) GnRH 56 h após PGF2α + IA em tempo fixo 72 h após o PGF2α (Ovsynch-56);

3) GnRH + IA em tempo fixo 72 h após PGF2α (Cosynch-72).

De forma geral, a fertilidade foi similar, 27% e 23%, para os tratamentos Cosynch-48 e Cosynch-72, respectivamente, enquanto as vacas que receberam o tratamento Ovsynch-56 tiveram maior fertilidade (36%). Um experimento subsequente, conduzido em 3 rebanhos (n=739) corroborou esses resultados.

Baseado nos resultados desses dois experimentos, bem como no entendimento do momento da IA com relação à ovulação, o Ovsynch-56 (Tabela 5) é fortemente recomendado em relação aos protocolos Cosynch, que não otimizam o momento da IA com relação à ovulação.

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