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Gestão

Engajar é preciso

Como os gestores das fazendas leiteiras podem construir equipes movidas pela paixão ao negócio e sem perder o foco no resultado financeiro?

Engajar é preciso

Do bezerreiro à ordenha, a produção de leite depende da dedicação das pessoas. E as pessoas são motivadas pelo propósito. Como os gestores das fazendas leiteiras podem construir equipes movidas pela paixão ao negócio e sem perder o foco no resultado financeiro?

 

João Paulo Mello

 

O que você tem feito pelas pessoas envolvidas na produção de leite na sua fazenda? Não vale pensar apenas num momento de crise que exigiu o seu olhar para as pessoas, nem que o salário e outros direitos, são garantidos mensalmente.

A gestão de pessoas é um conceito mais amplo e demanda de qualquer empreendedor jogo de cintura para lidar com os desafios.

E o dia a dia é repleto deles! Preparo técnico e operacional inadequados, dificuldade no relacionamento interpessoal e dimensionamento equivocado da equipe são apenas alguns deles. Além de lidar com questões comportamentais e culturais, o gestor precisa avaliar o impacto financeiro da mão de obra no negócio. Pode parecer paradoxal, mas não é. Pensar no comportamento e nas relações entre as pessoas é tão importante quanto pensar no impacto delas nos custos de produção. Na atividade leiteira, por exemplo, esse é um dos principais componentes do custo de produção. Dados da Labor Rural, empresa de consultoria que atua no agronegócio, apontam que, em média, mais de 13% de toda renda bruta obtida nas fazendas está comprometida com o custo da mão de obra (contratada + familiar).

Para solucionar tantas questões, o produtor precisa entender que tão importante quanto os investimentos em melhoria genética, aquisição de máquinas e equipamentos, melhoria de manejo e instalações, é o desenvolvimento de um trabalho estruturado de planejamento, organização, execução e análises constantes dos recursos humanos para definir as prioridades. É o que afirma o consultor, especialista em gestão de pessoas na agropecuária, Marcelo Cabral.

Ele acredita que existe uma noção muito distorcida, por parte dos gestores, sobre quanto e como deve ser uma consultoria voltada para melhorar a relação com os colaboradores. As consequências são um atraso no processo e um clima de desânimo e descrédito entre todos, tamanhas as decepções das partes envolvidas. “Dizer a um proprietário, gerente ou familiar que ele é um dos grandes problemas de um negócio não é tarefa fácil”, explica.

Cabral conhece bem a realidade do setor, já que é médico veterinário e acompanha líderes e funcionários de empresas de diversos portes há anos. Com todo esse tempo capacitando e acompanhando equipes, ele percebeu que os principais problemas de um negócio começam por quem deveria ser exemplo: os líderes. “Os casos mais complicados estão relacionados à imaturidade, despreparo e desalinhamento de pessoas da alta gestão das propriedades”.

O consultor do Educampo Sebrae, Márcio Antônio de Oliveira, também destaca que um dos entraves está relacionado aos gestores, e aparecem logo no início da consultoria. Para ele, sensibilizar o empresário sobre a necessidade de implantar medidas relacionadas à gestão de pessoas nas propriedades leiteiras é o obstáculo mais presente nos negócios rurais. “Vencido esse primeiro desafio, vêm outros, como manter uma rotina de reuniões”.

Ao se construir um espaço de troca de informação entre gestores e colaboradores, é fundamental que os objetivos da empresa sejam compartilhados, assim como as metas e as estratégias de curto, médio e longo prazo. “As pessoas precisam entender para onde estamos indo, enxergar e acreditar nesse caminho”, conta o produtor cearense David Girão. É assim que se constrói propósito na equipe.

Com esse pensamento, a família Girão conseguiu implantar um modelo de gestão, há cerca de 20 anos, que tem trazido resultados satisfatórios para a propriedade. Tanto é que a gestão de pessoas nem é tida como um desafio no dia a dia da Fazenda Flor de Serra (Limoeiro do Norte/CE). Lá trabalham aproximadamente 100 funcionários diretos e são produzidos cerca de 25 mil litros de leite ao dia. “Pelo menos 80% do time são engajados, participam, têm as metas claras e dividem os desafios”. Com isso, é possível oferecer benefícios, como a remuneração variável: quanto mais ele entrega, mais bônus salarial ele recebe.

Mesmo com maior disponibilidade de mão de obra qualificada para a atividade, se comparado ao Sudeste, há a preocupação da família Girão em investir em treinamento, reciclagem de técnicas e processos. “Isso está na nossa agenda anual”, conta David. Para ele, dificilmente obterá êxito um modelo de gestão no qual há distanciamento entre os gestores e os demais cargos. “Mantemos a porta aberta, todo mundo tem direito de apresentar sugestões e participar de todos os processos para a solução dos desafios”, completa.

Administrar os recursos humanos de uma organização não é tarefa fácil, e isso vale também para uma fazenda leiteira. Confira a seguir quais são os entraves relacionados à gestão de pessoas (envolvendo tanto os gestores quanto os funcionários) mais presentes no dia a dia das empresas e quais as soluções mais adequadas. Qualquer que seja o método escolhido, vale a pena voltar o olhar para as pessoas envolvidas no processo produtivo, afinando o discurso, escutando as demandas. Afinal, o processo e as pessoas devem caminhar juntas.

 

 

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“A ALTA ROTATIVIDADE DE FUNCIONÁRIOS AFETA DIRETAMENTE A PRODUÇÃO, DESENVOLVIMENTO, RETENÇÃO OU PERDA DE KNOW HOW. FATO QUE CUSTA MUITO CARO, QUANDO CALCULADO NA PONTA DO LÁPIS”, DESTACA O CONSULTOR ESPECIALISTA EM GESTÃO DE PESSOAS MARCELO CABRAL.

 

O IMPACTO DA SUCESSÃO

Considerada um desafio de todo o setor agropecuário, a sucessão familiar tem forte impacto na gestão de pessoas e, consequentemente, na saúde do negócio. Por isso, a preparação dos futuros responsáveis por tocar a fazenda é indispensável para a continuidade do negócio. O primeiro ponto para solucionar essa questão, segundo o consultor Márcio Antônio de Oliveira, é identifi car se há um potencial gestor para dar andamento às atividades. O segundo ponto é saber se ele tem interesse e acredita no negócio, assim como avaliar se ele conseguirá manter a rentabilidade do negócio.

Marcelo Cabral define que os impactos das ações de liderança nas organizações são muito expressivos. Desta forma, é de se esperar que fragilidades nos momentos e movimentos de transição de gerações, ou mesmo entre membros de uma mesma geração, mas com mudanças nos papéis societários, afetem direta e indiretamente nos trabalhos e resultados dessas fazendas. Ele acredita que é necessário analisar cada caso e avaliar em cada um deles se há necessidade de algum acompanhamento e estruturação. Deve-se atentar para o desenvolvimento dos sucedidos e sucessores de modo a ajudá-los a passar pelo processo de maneira produtiva, equilibrada e que garanta a qualidade das relações familiares e dos resultados da organização.

“Espera-se que todos os pontos positivos das gerações presentes possam ser trazidos à mesa e serem trabalhados para construir uma nova forma de gerir: o melhor da experiência vivida pelos mais velhos e a energia e coragem dos que chegam, potencializando as chances de melhores resultados. “O choque cultural é a parte mais desafiadora!”, define.

 

IMPACTOS FINANCEIROS DA MÃO DE OBRA

Com tantas contas a serem feitas para garantir a saúde fi nanceira do negócio, o produtor não pode deixar de avaliar se está perdendo dinheiro, já que a mão de obra tem grande representatividade no custo de produção. Uma dica importante é fazer um diagnóstico profundo para analisar o impacto financeiro da mão de obra na renda bruta da empresa, para assim, tomar as decisões, traçar os objetivos e metas.

O consultor Márcio sugere que o produtor analise quanto ele paga para cada funcionário, colocando no papel as entregas de cada um. “É preciso ter uma visão muito crítica. Muitas vezes não é o salário que é alto, é a renda da fazenda que é baixa”, pondera.

 

 

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“TRATE AS PESSOAS COMO VOCÊ GOSTARIA DE SER TRATADO. SEJA VERDADEIRO, DÊ FEEDBACK E SEJA CLARO NO QUE VOCÊ ESPERA DO COLABORADOR.” DAVID GIRÃO

 

CAPACITAÇÃO É FUNDAMENTAL

A implantação de práticas gerenciais em propriedades leiteiras vem mudando a realidade do setor ao possibilitar aumento da eficiência nos processos e melhoria da qualidade do leite. Um dos programas de capacitação técnica em gestão é o de Formação no Sistema MDA (Master Dairy Administration). O curso, desenvolvido em 1990 pelo engenheiro agrônomo e professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ)/USP Paulo Machado, capacita produtores, gestores e consultores em um modelo de gestão de negócios adaptado à pecuária leiteira. O MDA usa ferramentas práticas para o gestor melhorar o relacionamento com os colaboradores, o fluxo de trabalho, as soluções de problemas e o planejamento do futuro da fazenda. Com isso, ele passa a compreender seu papel na defi nição do propósito e da visão do negócio.

Com uma proposta parecida, o especialista Marcelo Cabral criou o programa Pé de Talentos, ainda em fase piloto na Escola Técnica do IF Sul de Minas, em Machado/MG. O projeto está na grade curricular do curso de técnico agrícola e propõe o desenvolvimento de competências como recrutamento, seleção, acompanhamento e avaliação de desempenho de funcionários no agronegócio. No Instagram @pedetalentos será possível acompanhar as principais ações e atividades. Interessados também poderão entrar em contato com o consultor pelo e-mail [email protected].

 

João Paulo Mello

Jornalista

Equipe Leite Integral

 

 

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