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Clínica do Leite

Entendendo o trabalho de um laboratório de monitoramento da qualidade do leite

Entendendo o trabalho de um laboratório de monitoramento da qualidade do leite

Texto: Laerte Dagher Cassoli

Outro dia estava reunido com um grupo de técnicos e produtores que estava visitando a Clínica do Leite e pude responder a uma séria de perguntas sobre o funcionamento do laboratório e sobre como são obtidos os resultados. Percebi que muitos dos nossos usuários não conhecem de fato todo o trabalho que é realizado, desde o envio do material de coleta, passando pelo recebimento das amostras, realização das análises e, por fim, a disponibilização da informação (relatórios). Já recebemos nos últimos anos vários grupos de visitantes que puderam ver de perto todo este processo, mas certamente existe uma grande maioria que ainda não teve esta oportunidade. Pensando nisso, resolvemos apresentar neste artigo algumas etapas importantes de todo o processo, afinal é a partir dos resultados que o produtor, técnico, indústria e governo realizam as suas ações. Desejo a todos uma excelente leitura.

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O primeiro contato

O primeiro contato, seja do produtor ou de uma indústria é feito com um setor específico e focado no atendimento aos usuários, e que chamamos de Central de Relacionamento. A equipe deste setor presta todos os esclarecimentos e orientações aos interessados em realizar uma determinada análise laboratorial. Neste momento, encaminha-se uma série de informações, desde o custo das análises, procedimento de coleta de amostras e cadastro. Uma vez confirmado o interesse em realizar as análises, o usuário é cadastro no Portal Clínica, recebendo um login e uma senha de acesso. A partir de então, ele está apto a solicitar os materiais para efetuar a coleta das amostras. Todas as interações realizadas com os usuários (troca de e-mails e ligações telefônicas) ficam registradas em nosso sistema para mantermos um histórico deste relacionamento.

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Material de coleta solicitado, entra em campo a equipe de Logística Expedição

Com o login e senha de acesso ao Portal Clínica, o usuário já pode solicitar os materiais de coleta necessários (frascos, etiquetas de código de barras), tudo de forma rápida e simples. No caso de fazendas, o produtor poderá também já deixar agendado o envio automático do material de coleta em um determinado dia do mês.

Assim que criada a SM (solicitação de material), ela é analisada pela equipe da Central de Relacionamento e, em seguida, liberada para a equipe da Logística Expedição, responsável por separar e embalar o material de coleta. Para cada SM criada é estabelecido um prazo máximo para envio e há uma meta de envio de 100% dos pedidos dentro deste prazo. O transporte desta SM até o usuário pode ser feito via Correios ou por meio do ClínicaLog (serviço de coleta de amostras que falaremos a seguir).

 

A coleta da amostra

De posse do material de coleta, o usuário realiza a coleta das amostras. No caso do produtor, faz-se a coleta de amostras individuais e, no caso de indústrias, coleta-se amostras de tanques, caminhões e silos. Toda as informações necessárias sobre como realizar a coleta são fornecidas por meio de material impresso (manual) e, no caso de indústrias, oferecemos também treinamentos presenciais de capacitação de agentes de coleta. Como já abordamos em artigos anteriores aqui na Revista Leite Integral, a coleta de amostra é o principal gargalo. Se não tivermos amostras bem coletadas, não teremos resultados de análise confiáveis.

É fundamental que todos as recomendações sejam devidamente seguidas, para que o laboratório possa realizar as análises de forma rápida e eficiente. Se, por exemplo, a amostra não vier identificada corretamente, causará atrasos na liberação dos resultados.

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Amostra coletada, é hora de enviar para o laboratório

O envio pode ser feito por meio dos Correios (Sedex) ou do ClinicaLog, serviço especializado de coleta de amostras em veículos refrigerados.

O ClinicaLog foi criado em 2007 para atender à demanda de algumas indústrias que tinham dificuldades para enviar as amostras refrigeradas até o laboratório. Atualmente, contamos com 7 veículos refrigerados, que percorrem todos os meses mais de 70 mil quilômetros, por 8 estados e 160 municípios. Cerca de 90% das amostras de indústrias são transportadas por estes veículos. No caso de amostras de fazenda, foram criados os Pontos de Apoio, locais (geralmente lojas agropecuárias, cooperativas) onde os produtores podem deixar as amostras em uma data programada, para que o veículo do ClínicaLog recolha e traga para a Clínica do Leite. Os veículos refrigerados têm sua temperatura monitorada por equipamentos eletrônicos, com aferições a cada 15 minutos. Com esse monitoramento podemos nos certificar que a temperatura durante toda a viagem seja mantida dentro do esperado (abaixo de 10oC).

 

Amostra chegou, entre em ação a equipe da Logística Recepção

Assim que as amostras chegam ao laboratório, a equipe de Logística Recepção já cadastra o lote no Portal Clínica, com as informações de data de coleta, recebimento e temperatura de chegada. As amostras são em seguida armazenadas em câmaras frias com temperatura entre 1 e 7ºC, aguardando para serem analisadas. Cada câmara fria possui termômetro devidamente calibrado e as temperaturas máxima e mínima são aferidas duas vezes ao dia. Em alguns dias, o laboratório recebe mais de 15 mil amostras, todas manuseadas com muito cuidado.

Existem 3 tipos de amostras:

a) Com conservante Bronopol: Para análise de Contagem de Células Somáticas (CCS), Composição, Nitrogênio Ureico, Crioscopia, Escore de Autenticidade

b) Com conservante Azidiol: Para análise de Contagem Bacteriana Total (CBT)

c) Sem conservante: Para análise de Resíduo de Antibióticos (ABT)

As amostras provenientes de indústrias, vêm obrigatoriamente identificadas com etiquetas com código de barras, e as provenientes de animais são identificadas por meio de uma numeração sequencial anotada na tampa dos frascos.

Cada tipo de amostra é direcionada para uma linha analítica específica.

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O processo analítico

Uma vez liberadas para análise, as amostras são direcionadas para as linhas analíticas específicas. A equipe responsável verifica no Portal Clínica todos os lotes disponíveis, e a análise é então iniciada pela ordem cronológica de cadastro das amostras no laboratório.

Todas as análises são realizadas por meio de equipamentos automatizados, de alta capacidade analítica e alta acurácia de resultados. No caso da análise para CCS e Composição, as amostras são previamente aquecidas em banho-maria a 40ºC, e para análise de CBT, elas são analisadas ainda refrigeradas, não havendo necessidade de aquecimento prévio.

Todos os dias pela manhã, cada equipamento passa por uma checagem minuciosa, para garantir que está apto a entrar em operação. Depois, durante o processo de análise, são feitas checagens com amostras controle (que possuem um valor definido para cada parâmetro). A checagem é feita a cada 20 amostras para a análise de CBT e a cada 100 amostras para as análise de Composição e CCS. Sempre após a análise de uma amostra controle, o valor observado é comparado com os limites aceitáveis de variação. Por exemplo, vamos imaginar que esta amostra possua um valor conhecido de 3,50% de gordura. Durante a análise, o valor observado poderá variar em +/- 0,07 unidades, ou seja, de 3,43 a 3,57%. Se o resultado da amostra controle estiver dentro desta faixa esperada, reinicia-se o trabalho com as análises.. Caso contrário,, suspendem-se as análises para verificação do funcionamento do equipamento pela equipe técnica. Após solucionado o problema, as análises das amostras anteriores são repetidas.

Além da verificação com as amostras controle, é realizada uma aferição da calibração dos equipamentos que realizam as análises de Composição (gordura, proteína, lactose, caseína, nitrogênico ureico, crioscopia) e CCS, com o que chamamos de “material de referência”. São amostras analisadas previamente por laboratórios especializados, e que servem de referência para os equipamentos. O material de referência para Composição é proveniente atualmente do Canadá, e o de CCS é produzido aqui no Brasil pelo LANAGRO, de Pedro Leopoldo/MG. Com esta verificação e o ajuste da calibração, garantimos que o equipamento está produzindo resultados acurados e precisos.

Muitas outras ações para garantir a qualidade dos resultados são realizadas, como teste de repetibilidade, reprodutibilidade, carry-over e interlaboratorial. Todos estes controles são previstos em normas internacionais publicadas pela IDF (International Dairy Federation) e ISO. O laboratório deve, portanto, aplicar estes procedimentos dentro do seu sistema de controle e garantia da qualidade.

No caso do teste interlaboratorial, o LANAGRO já o realiza para CCS e Sólidos Totais. Amostras são preparadas lá e distribuídas para os laboratórios da RBQL, sem ser informado o resultado que deveria apresentar. Cada laboratório realiza as análises e reporta os resultados para o LANAGRO, que faz uma avaliação estatística para verificar se os equipamentos dos laboratórios participantes estão apresentando resultados dentro do esperado.

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Resultados prontos, hora de transformá-los em informação

Os equipamentos geram arquivos eletrônicos com os resultados das análises, que são então importados pelo Portal Clínica. Esta operação de transferência dos resultados é realizada pela equipe de processamento de dados. No caso de indústrias, o laudo com os resultados é gerado automaticamente, sem qualquer intervenção. No caso das amostras de animais, que não possuem código de barras, é realizada a digitação do brinco ou nome de cada animal.

Após esta etapa de transferência de resultados do equipamento para o Portal Clínica, inicia-se a geração automática de vários relatórios. O primeiro  é o “Laudo de análise”, que é o documento oficial do laboratório e possui os resultados das análises em forma de listagem. A partir destes dados, também é disponibilizada uma série de relatórios analíticos para as fazendas e para as indústrias, que servirá como fonte de informações para a tomada de decisão. Contudo, somente com o laudo, não é possível fazer uma avaliação  precisa do problema (por exemplo, mastite ou nutrição) e, portanto, definir as ações que devem ser tomadas.

Todo o acesso aos resultados é feito via Portal Clínica. Além da própria indústria, os seus produtores também podem receber um login de usuário e senha para visualizar os seus resultados.

Foi criado ainda um serviço chamado SMSLab, no qual o resultado de qualidade do tanque é transmitido via mensagem de texto, diretamente ao celular do produtor. Com isso, assim que a análise e o processamento são finalizados, o produtor já recebe os resultados, possibilitando uma ação mais rápida no caso de problemas com a qualidade do leite.

Tentamos neste artigo mostrar um pouco das etapas percorridas, desde o primeiro contato,  até o retorno da informação. Esperamos que, após a leitura deste material, você leitor, e eventualmente usuário de um laboratório de qualidade do leite, possa ter percebido a complexidade e a responsabilidade envolvida em todo este trabalho.

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