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Eu, robô

Propriedades leiteiras espalhadas pelo Brasil registram crescimento da produção com uso de ordenhas robotizadas

Eu, robô
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Genética ARM foi a primeira propriedade do Brasil a ter uma ordenha robotizada. Produção média cresceu 29% nos últimos 4 anos

 

Autor: João Paulo Mello

 

O avanço tecnológico tem transformado as relações humanas e possibilitado o desenvolvimento em diversas áreas da sociedade. Na pecuária leiteira, o uso cada vez mais frequente da inteligência artifi cial robótica denota que a quarta revolução industrial, chamada de indústria 4.0, já está aí e tem trazido melhoria considerável da efi ciência produtiva e  também reprodutiva. Por esse e outros motivos, a produção brasileira de leite tem dado sinais de recuperação. No ano passado, por exemplo, o crescimento registrado no volume produtivo foi de 1,6%, segundo o IBGE.

Com a mão de obra especializada cada vez mais escassa e devido à característica da atividade leiteira, que demanda atenção contínua, produtores têm optado pela implantação de robôs que além de realizar a ordenha, são capazes de fazer inúmeros tipos de controles, como monitorar o cio, a produção por animal e identificar doenças. Além disso, a máquina fornece ração individualizada, recompensando a vaca conforme a produção. Para muitos produtores esses recursos podem representar ganho produtivo exponencial, se o sistema for calibrado corretamente para a realidade da propriedade.

É o caso do produtor de Santa Catarina, Fritz Wehebrink, que viu sua produção média anual crescer 13,5% após a implantação de duas unidades de ordenha robotizada. O aumento de um ano para o outro chegou a mais de 126 mil litros (incremento foi de 10.500 litros por mês), com média de 120 vacas em lactação, em sua maioria da raça Holandês. A média por animal aumentou em 4,7 litros.

“Uma das vantagens do robô é o aumento do número de ordenhas, principalmente das vacas recém-paridas que estão aumentando a produção de leite para chegarem ao pico de lactação. Esses animais chegam a ser ordenhados de 4 a 5 vezes ao dia”. Antes do sistema, as vacas eram ordenhadas apenas duas vezes ao dia. Outro ganho, segundo Fritz, é em relação ao bem-estar, já que os animais vão para a ordenha na hora que sentem vontade, no caso do sistema de fluxo livre.

PARA MUITOS PRODUTORES ESSES RECURSOS PODEM REPRESENTAR GANHO PRODUTIVO EXPONENCIAL, SE O SISTEMA FOR CALIBRADO CORRETAMENTE PARA A REALIDADE DA PROPRIEDADE

Essa tecnologia não está limitada apenas a grandes produtores. Fazendas de pequeno e médio porte tem demonstrado que basta um bom planejamento para que se torne realidade. O custo do equipamento muitas vezes é citado entre integrantes da cadeia leiteira como sendo um impeditivo, o que, segundo Fritz, não deve ser um limitador. Para ele, o fundamental é usar a matemática ao seu favor. “É necessário fazer conta. Multiplicamos o aumento da produção média por vaca e vimos quanto ganharíamos a mais no fim de um ano. O próprio sistema está se pagando”. No caso dele, o retorno do capital investido se dará em seis anos.

A capacidade de resposta produtiva, o perfil e a adaptação do rebanho também devem ser observados e são fundamentais para o sucesso do sistema. Fritz destaca que a conversão alimentar do rebanho Holandês é maior que o da raça Jersey. “Observamos que as vacas holandesas comem 1,5 quilo a mais de ração, mas produzem, em média, 9 quilos a mais de leite. Ou seja, quem tem uma boa genética da raça Holandês vai pagar mais fácil o robô”, pontua.

Anderson Rickli, produtor de Pinhão, no Paraná, relatou ter tido alguns percalços nas primeiras semanas após o início da operação da ordenha robotizada em sua propriedade, o que foi acertado apenas com o ajuste da dieta e do manejo. “Levamos a vaca para a ordenha no mesmo dia do pós-parto ou no máximo no outro dia de manhã. Em dois dias ela já começa a ir sozinha para o robô”, conta. Ele diz que as vantagens da ordenha robotizada vão além da eficiência produtiva. Em sua propriedade ele conseguiu reduzir o DEL médio do rebanho de 220 dias para 175 dias porque o robô informa o cio da vaca, e também observou melhorias em relação à saúde do úbere, já que o robô recolhe separadamente o conjunto por quarto mamário, evitando a sobreordenha nos tetos esgotados. “A qualidade da ordenha é bem melhor”, afirma. Além de todos esses benefícios, houve redução dos custos com medicamentos.

Localizada em Mato Grosso do Sul, estado com tradição em pecuária de corte, a Fazenda Sapé já mantinha atividades de agricultura, pecuária de corte e avicultura quando o médico veterinário Rodney Guadagnin idealizou o projeto da produção de leite. A ordenha robotizada foi implantada no início da operação, há aproximadamente dois anos. A decisão pelo sistema voluntário de ordenha se deu muito pela essência do projeto que preza pelo conforto animal e o máximo monitoramento de cada indivíduo. Outro ponto que motivou a implantação do sistema foi a redução da necessidade de mão de obra.

Por se tratar de um equipamento com inúmeras variáveis tecnológicas, ter uma assistência técnica de qualidade é fundamental. Nesse aspecto, Rodney afirma não ter tido qualquer problema já que a empresa que desenvolveu o robô oferece suporte aos clientes com equipe comprometida e muito capacitada. “Por estarmos no Mato Grosso do Sul, longe dos centros produtivos, esse poderia ser um grande problema, porém tudo isto não foi um gargalo”, destaca.

Um diferencial é capacitar colaboradores da propriedade para realizar o atendimento primário. Outro ponto-chave é definir quem da propriedade vai acompanhar toda a implantação e que esta pessoa receba capacitação mínima para fazer a “assistência primária”. É essencial saber também de onde virão as peças de reposição, sendo importante contar com um estoque próximo da propriedade e de fácil acesso para as reposições necessárias.

Ele também dá dicas essenciais para quem pensa em implantar a ordenha robotizada. A primeira delas é que o produtor conheça outras propriedades com o mesmo sistema, principalmente quando optar pelo sistema de fluxo guiado. “Isto causa uma enorme alteração na forma de trabalho, principalmente no manejo dos animais. O produtor deve se planejar”. Outro ponto importante é visitar o máximo de propriedades possível, de todos os diversos sistemas e conversar com pessoas que tenham alguma experiência com o equipamento, produtores, seus funcionários, técnicos da assistência, técnicos do fornecedor e consultores.

 

SE LIGA: Pela primeira vez, a produtividade nacional de leite ultrapassou os 2 mil litros por vaca ao ano, crescimento de 4,7% frente a 2017, segundo o IBGE

 

Após a implantação do sistema robotizado na Agropecuária Sol Nascente, há pouco mais de um ano, o produtor Guinter Rickli viu não só a produção crescer, como também obteve resultado em questões gerenciais. “É interessante porque você começa a ver que seus índices [zootécnicos] não eram muito bons e a coleta de informação exigia muito tempo. Com o passar do tempo vamos afinando o rebanho, obrigatoriamente”, pontua. A propriedade da família, localizada entre os municípios de Guarapuava e Campina do Simão, no estado do Paraná, reduziu o DEL médio de 220 para 140 com a melhoria na identificação do cio. Outros ganhos estão relacionados à identificação prematura de problemas que acometem o rebanho, como a cetose e a acidose. “Conseguimos qualidade de vida para os animais e para as pessoas envolvidas. Além disso, o produtor consegue otimizar a mão de obra e potencializar a capacidade produtiva dos animais, alcançando eficiência também com o monitoramento de dados”.

Na Granja Rio Leão, em Erval Velho/SC, os proprietários também experimentaram crescimento produtivo exponencial com a ordenha robotizada. A média do rebanho cresceu 7 litros por animal e, segundo o proprietário Denilso Alessi, um dos diferenciais que contribuiu com esse resultado é o perfil genético do plantel. “Realizamos inseminação artificial desde 1996 sem o uso de touros da propriedade, participamos de exposições ranqueadas durante anos e temos centenas de troféus e premiações”. Hoje, o rebanho é formado por 86 vacas em lactação e produção média de 3.000 litros/dia, com pretensão de chegar a um plantel de 120 animais lactantes.

O número de ordenhas diárias, como nas outras propriedades consultadas nessa reportagem, também aumentou, neste caso, de duas para três ordenhas. Ao contrário de outros produtores, Denilso não enfrentou problemas com mão de obra. E sobre a assistência técnica, ele afirma que é satisfatória. “A equipe está à disposição 24 horas por dia, com sistema de atendimento no local em menos de 2 horas, se for necessário. Contamos com técnicos experientes e prestativos”.

Para quem sonha em ter uma ordenha robotizada, Denilso sugere que o produtor avalie a capacidade de pagamento e estruturação da propriedade, número de animais, genética e produção de comida. “O custo ainda é bem alto, pois não são todas as propriedades que estão bem estruturadas, e isso dificulta bastante. Para um produtor que está pensando em fazer um investimento, sugiro que ele deva pensar primeiro em genética para ter capacidade de produção”.

 

PRIMEIRO ROBÔ DO BRASIL

Com o objetivo de aumentar a rentabilidade da Genética ARM, propriedade do qual é dono e que já mantinha outras atividades agropecuárias, Armando Rabbers resolveu investir também na pecuária de leite. A ARM foi a primeira propriedade do Brasil a ter uma ordenha robotizada. O projeto foi pensado com o sistema robótico após o produtor ter tido conhecimento que uma das empresas fabricantes do equipamento queria trazer a robótica para América do Sul.

“Entramos em contato com eles, fizemos vários cálculos e viagens técnicas, então decidimos fazer o investimento”. Entre os benefícios constatados durante a fase de análise, estão melhoria de mão de obra ou horas trabalhadas, bem-estar animal e possibilidade de gerenciamento à distância pelo software.

A produção média por animal está entre 39 a 41 litros, com 140 vacas em lactação. São produzidos 5.600 litros diários com frequência média de 2,5 ordenhas. Nos últimos 4 anos a produção média cresceu 29%. Sobre a implantação de um sistema com uso de robôs, Armando destaca que é necessário avaliar, principalmente, a distância da equipe que fará as manutenções e a quantidade de vacas em lactação que serão alojadas em médio e longo prazo. Ele também enfatiza que é preciso fazer um bom projeto, incluindo as futuras ampliações da planta e formar uma equipe que aceita mudanças de tecnologia.

 

HUMANOS X ROBÔS

Em uma pesquisa realizada no ano passado pela Embrapa Gado Leite, o tema Robótica foi citado como uma das prioridades das demandas do setor por 38% dos produtores de leite entrevistados. De acordo com o Chefe-adjunto de Pesquisa & Desenvolvimento da entidade, Pedro Arcuri, essa demanda pode ainda não ser considerada tão prioritária pelos participantes em comparação com outros temas apontados, porque a mão de obra, apesar dos encargos, ainda é disponível num custo relativamente baixo se comparado com o custo das máquinas. “Principalmente das máquinas de ordenha robótica, que são importadas”, diz.

No entanto, para ele, a tecnologia tem futuro em função da tendência das propriedades aumentarem a escala de produção e em paralelo diminuírem a mão de obra. “Por isso, inovações como essa passam a ter mais chance de serem adotadas”, analisa.

 

ORDENHA ROBOTIZADA NO AMBIENTE ACADÊMICO

Estudantes, produtores e técnicos do Paraná ganharam, em outubro, a oportunidade de se capacitar e desenvolver pesquisas com o auxílio da única ordenha robotizada implantada em uma universidade brasileira. Essa tecnologia, instalada no novo setor de bovinocultura de leite da PUC do Paraná, vai beneficiar mais de 500 alunos.

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PUCPR inaugurou a primeira ordenha robôtica em uma fazenda experimental de universidade

 

O investimento total da universidade foi de aproximadamente R$ 3 milhões, incluindo a construção da nova planta e o custo do equipamento. "Escolhemos a ordenha robotizada por ser uma tecnologia inovadora e por seus benefícios. Com essa iniciativa vamos devolver para a sociedade aquilo que é esperado da universidade", explicou o coordenador do curso de medicina veterinária, Carlos Eduardo Camargo, citando que o local será espaço de treinamento não apenas de alunos, mas também de produtores, técnicos e colaboradores de fazendas da região.

A escolha pela ordenha robotizada se deu pela inovação e por ser uma tecnologia com inúmeros benefícios. O sistema promove o direcionamento de ordenha das vacas de forma voluntária pelos animais, melhorando a qualidade e a produção do leite. Com a tecnologia, os estudantes podem ainda ter acesso a uma realidade semelhante à do mercado profissional, além de participarem de todas as etapas do processo da produção. "Temos uma cultura em que o estudante coloca a mão na massa.

Desde o primeiro ano ele participa. Então, quando ele sair da Universidade, já estará habituado com as tecnologias de ponta que funcionam lá fora", explica Carlos Eduardo.

Hoje, a Fazenda Experimental da PUCPR conta com 50 vacas em lactação, com expectativa de aumentar para 70 animais lactantes. Essa, é a segunda vez que a universidade sai na frente em relação à implantação de um sistema inovador em ambiente acadêmico. Há 20 anos foi inaugurado o sistema de ordenha carrossel, substituído agora pela ordenha robotizada.

 

João Paulo Mello

Jornalista

Equipe Revista Leite Integral

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