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Fazenda Monjolo Velho - Martinho Campos/MG

Fazenda Monjolo Velho - Martinho Campos/MG

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A Fazenda

A fazenda Monjolo Velho, localizada em Martinho Campos, Minas Gerais, é um exemplo de tradição na atividade leiteira. Desde 1908, de geração em geração, a família Gontijo produz leite. E foi justamente a questão da tradição familiar que motivou o engenheiro civil, Ronaldo Valadares Gontijo, empresário do ramo de construção civil em Belo Horizonte, a assumir a coordenação dos negócios e do projeto de produção de leite em larga escala.

O rebanho da fazenda é Girolando, totalmente formado na propriedade. A meta final do projeto, em implantação, é produzir 30.000 litros de leite por dia, com 2000 a 2500 vacas em lactação. Em 1995, a produção de leite era de 800 litros por dia. Em 2012, foram produzidos 2.120.000 litros, perfazendo uma média de 5808 litros/dia, com 400 vacas em produção. Hoje, são produzidos 14.000 litros por dia, em duas ordenhas, com 733 vacas em lactação. A expectativa para 2013 é atingir 4.500.000 litros, com média acima de 12.000 litros/dia e 800 fêmeas em lactação.

Além do leite, como atividade principal, a fazenda trabalha com agricultura, produzindo grãos - milho, soja, feijão - e cana-de-açúcar. De um total de 2.100 ha em diferentes glebas de terra próximas à Monjolo Velho, 856 ha são destinados ao leite. Destes, 600 ha são utilizados para a produção de forragens, sendo 300 ha sob pivô central. As forrageiras conservadas produzidas são: silagem de milho, capim e cana, perfazendo um volume anual de 4.000 toneladas.

Devido aos negócios envolvendo a construção civil, na capital mineira, Ronaldo costuma visitar e acompanhar as atividades da fazenda nos finais de semana. No dia-a-dia, conta com uma personalidade ímpar no setor, Marcelo Mesquita, seu cunhado, popularmente conhecido na região e por todos na fazenda como “Batata”. Marcelo é quem está à frente de todas as atividades da fazenda, sendo um grande parceiro de Ronaldo. Profundo conhecedor de vacas, Marcelo, que não chegou a concluir sua graduação, também em engenharia civil, é um apaixonado pelo que faz. Todos os dias chega à propriedade por volta das 05:00, retornando para casa, muitas vezes, somente às 21:00. Ao ser indagado se não seria extenuante trabalhar dessa forma, respondeu: “Imagina, sem problemas! É corrido, mas é assim mesmo. Não tem jeito, tocamos sem problemas e eu vivo isso 24 horas por dia, se necessário”.

Na fazenda, praticamente todas as atividades são realizadas ou comandadas por Marcelo, desde o abastecimento de dados no software de gerenciamento a atividades práticas de manejo, como casqueamento, inseminação artificial, vacinações, aplicações de BST e demais procedimentos envolvendo a reprodução e manejo sanitário dos animais. A fazenda conta com o suporte técnico de empresas parceiras, como DeLaval, MSD, Semex, Itambé, Monsanto, dentre outras.

O sistema de produção da fazenda é o semi-confinamento. A alimentação dos animais em produção é fornecida no cocho em 3 a 4 tratos/dia, em diferentes quantidades, de acordo com a produção de cada lote e período do ano. Os animais são alimentados em galpões cobertos, com piso concretado, e descansam em piquetes menores, anexos aos mesmos, nos intervalos entre tratos.

Todo o sistema de limpeza dos galpões é automatizado, por meio de flushing, consumindo 150.000L/dia, e direcionado para uma unidade de separação e tratamento de dejetos. O esterco sólido é armazenado, sendo adicionado de gesso agrícola e resíduos de alimentos, dando origem a um composto orgânico. Essa parte sólida é utilizada na lavoura e adubação de pastagens. A fração líquida, ou chorume, vai para uma lagoa de decantação e também é utilizada como adubação orgânica. No futuro, a fazenda tem intenção de trabalhar também com a produção de biogás.

 

Cochos de alimentação

Para atingir a produção de 30.000 litros por dia, o sistema de produção atual será modificado. A estrutura de cochos será aproveitada para suplementação de concentrado e volumoso após cada ordenha. Em seguida, as vacas irão para piquetes de pastejo rotacionado irrigado, sob pivô central, totalizando 200 ha. O objetivo da migração do regime atual para o pastejo é promover redução significativa dos custos de produção. Segundo os gestores, a exploração intensiva das pastagens permitirá reduzir a quantidade de silagem utilizada.

Como dito anteriormente, além da atividade leiteira, a fazenda trabalha com agricultura, voltada para comercialização de grãos, que também são utilizados como matéria-prima para a produção de concentrados.

Atualmente, a fazenda trabalha com média de 390.585/mL de CCS e 32.101 UFC/mL de CBT, e tem como meta para 2013 atingir CCS inferior a 100.000/mL e CBT inferior a 10.000 UFC/mL. Com o programa de remuneração por qualidade, a propriedade tem obtido bonificação média de R$0,17/L, e a rentabilidade média da atividade em 2012 foi de 15%.

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O Sistema

A produção de leite da Monjolo Velho é obtida em duas ordenhas diárias, em linha média de 36 postos. Os animais em lactação são totalmente controlados, com registro diário da produção individual por meio de bolus intra-ruminal.

As dietas são misturadas em vagões total-mix, com balança programável nos cochos, estrategicamente construídos próximo à unidade de ordenha. Os animais são divididos em quatro lotes, sendo dois lotes para primíparas, um lote para vacas e outro para animais em estágio mais avançado de lactação.

A suplementação para vacas em produção é composta por dieta à base de silagem de milho e concentrado, que é misturado na fazenda, em fábrica de ração com capacidade de processamento de até 10 toneladas/hora. Durante os cerca de 120 dias do período de seca, o gado recebe toda a sua alimentação no cocho. Nos demais 245 dias do ano, as vacas passam parte do dia em pastejo, com menor suplementação de volumoso e concentrado. Os lotes são organizados de acordo com a média de produção, e a quantidade de suplemento oferecida varia acompanhando os índices produtivos.

O projeto de pastejo da fazenda engloba uma área total de 200 ha de Mombaça, em dois pivôs, cada um com 100 piquetes de 2 ha. O objetivo do projeto é trabalhar com uma taxa de lotação média de 10 UA/ha. Para obtenção destes índices, é realizada calagem, anualmente, baseada em análise de solo. De acordo com dados dos últimos anos, com a adubação orgânica, utilizando composto produzido na fazenda, será possível reduzir em 40% a quantidade de fertilizantes químicos tradicionais.

A produtividade das forrageiras na Monjolo Velho é bem alta. O solo foi corrigido ao longo dos anos nas áreas agriculturáveis, apresentando uma saturação de bases superior a 65%, e teor de fósforo superior a 17 ppm. A produtividade média do milho tem sido superior a 70 ton de matéria orgância/ha nas áreas irrigadas. Já a média de milho grão é de 9.600 kg/ha (160 sacos/ha), e a de soja está ao redor de 3.000 kg/ha (50 sacos/ha). Para armazenamento de grãos, a propriedade conta com dois silos, com capacidade de 10.000 sacos/cada.

O rebanho da Monjolo Velho foi formado na propriedade, com compra de poucas cabeças no início da atividade. Para impor a taxa de crescimento desejada, a reprodução é trabalhada com seriedade, sendo utilizadas todas as ferramentas de manejo reprodutivo possíveis para maximizar os índices, como inseminação artificial em tempo fixo (IATF) e transferência de embriões (TE). Em 2012, a fazenda registrou 450 partos e 700 inseminações, com custo médio por dose de sêmen de R$25,00. Ao todo, no mesmo ano, foram realizadas 120 transferências de embrião, com custo médio por transferência de R$500,00.

Para alcançar volume expressivo em produção de leite, a fazenda tem investido bastante na criação de bezerras, com implantação de sistema automatizado de aleitamento e fornecimento de concentrado (calf-feeder). Foram adquiridos quatro equipamentos com dois bicos alimentadores cada, com capacidade de 50 animais por máquina. A quantidade e freqüência de alimentação de cada bezerra é controlada, individualmente, por meio de chip, na forma de brinco. Cada alimentador possui uma pequena central eletrônica, que coleta e armazena dados de cada animal. Com o alimentador automático é possível disponibilizar quantidades diferentes de leite para cada bezerra, e transferir os dados de cada aparelho para o software que controla o rebanho, e vice-versa. “É possível monitorarmos diariamente o quanto cada bezerra consumiu de leite e ração, e se alguma deixou de consumir o que foi determinado, direcionamos uma atenção especial a esse animal”, explica Marcelo. Ainda segundo Marcelo, o sistema automático de alimentação é uma grande inovação tecnológica, mas que requer cuidados, especialmente com a higienização dos componentes do equipamento e com a qualidade da dieta líquida fornecida. Pensando nisso, um pequeno tanque de expansão, com capacidade para 150 litros, foi instalado no bezerreiro, junto aos alimentadores, para armazenamento da dieta líquida, composta por 50% de sucedâneo + 50% leite de descarte, misturados. Foi feita ainda uma adapatação, com sistema de abastecimento direto e individual para cada equipamento. Com estes cuidados, a mortalidade de bezerras na fazenda é inferior a 2% ao ano.

Nos primeiros 90 dias de vida, são fornecidos, em média, 6 litros de leite por bezerra/dia, e a desmama é realizada entre 140 a 150 dias. Para Marcelo, investir e cuidar dos animais jovens, principalmente nos meses iniciais de vida, é a chave do sucesso de qualquer sistema de produção.

O armazenamento de leite da propriedade é feito em 6 tanques horizontais refrigeradores, totalizando uma capacidade de armazenamento de 41.200 litros.

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A Gestão

A Monjolo Velho é segmentada em duas atividades principais: produção de leite e agricultura, com Marcelo Mesquita no comando e gerência de todos os setores. Na atividade leiteira, a equipe é composta por 30 funcionários. O sistema de produção de leite conta com o apoio de Leandro Silva, técnico agrícola responsável pelo manejo dos animais, e de Lucas Tavares, estagiário e estudante de veterinária da Unipac/Bom Despacho, que supervisionam as atividades envolvendo a ordenha, alimentação do rebanho e manejo reprodutivo. A consultoria na área de reprodução é feita pelo médico veterinário Eduardo Amaral, e a nutrição é conduzida por Wagner Speziali Caldas, da Improveter.

A produção agrícola é gerenciada por Enes Fialho, responsável pelo plantio, produção e armazenamento de grãos e silagem.

Ronaldo Valadares Gontijo, o proprietário idealizador, é supervisor e coordenador dos projetos em andamento na propriedade, trabalhando em conjunto e parceria com Marcelo, o responsável pela manutenção e execução dos trabalhos.

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A gestão da mão-de-obra na propriedade é diferenciada. Todos os funcionários trabalham uniformizados. Anexo à unidade de produção, encontramos uma sala de treinamento, um refeitório e um vestiário com armários e chuveiros. Os intervalos são pré-estabelecidos e, nesses momentos, os funcionários têm café, bolo e leite à vontade, disponibilizados no refeitório. Os turnos de trabalho são divididos em duas equipes. A equipe de ordenha é um destacamento especial e independente, com carro próprio para o seu transporte. Quando um turno de ordenha acaba, com todas as rotinas finalizadas, a equipe tem o carro à disposição para levá-la para casa. Para os demais trabalhadores, há um ônibus, com horários específicos, para o transporte entre a fazenda e a cidade. Segundo Marcelo, são premissas e detalhes como estes que garantem a dignidade, compromisso e satisfação dos funcionários da fazenda.

A fazenda Monjolo Velho pode ser caracterizada como um exemplo de esforço, obstinação e força de vontade para implantação e obtenção de resultados previamente planejados.

Quando visitamos propriedades, é comum escutarmos diferentes planos e projetos que acabam virando histórias ou tentativas, ficando sempre a ideia ou conceito de “quando atingirmos” ou “quando conseguirmos”. Na Monjolo Velho, de história, vemos apenas a tradição leiteira da família. Apesar de estarem na atividade há muitos anos, o projeto atual, visando 30.000 litros/dia, é recente. Em andamento há 2,5 anos, conseguiram atingir a produção diária de 14.000 litros/dia. É inevitável perguntar: quantas fazendas no Brasil atingiram essa produção em período tão curto de tempo? Conversando com Marcelo cheguei a indagar: “Serão mesmo 30.000 litros?”. Ele completou, com ânimo e naturalidade: “É, pode escrever. E será até 2015. Nós vamos fazer isso. Vamos completar e vamos atingir essa marca!”.

Chama atenção na fazenda a racionalidade do projeto e a segurança dos gestores na obtenção dos resultados. Quem anda pela propriedade, sente absoluto domínio e firmeza naquilo que é feito, da escolha do padrão racial do rebanho aos recursos direcionados, como a produção de grãos para consumo próprio e o projeto de pastejo direcionado para redução de custos. Há quem possa indagar que muito capital foi empregado para implementação do sistema, mas quem trabalha com produção de leite sabe que é necessária muita habilidade e extrema capacidade de gestão para conseguir colocar “uma máquina em movimento” neste curto período de tempo. Quando andamos pela propriedade, e conversamos com seu gerente geral, conseguimos entender melhor o porquê do sucesso, índices e números. Marcelo trabalha assiduamente no negócio. Entra no esquema antes do sol nascer e volta para casa, muitas vezes, tarde da noite. Ele respira o seu negócio e gosta do que faz. Participa do trabalho, interage com sua equipe, e tem na cabeça todos os números do sistema.

Conheço outros produtores de leite com esse perfil, nenhum deles fracassado. Sob meu ponto de vista, esta é uma qualidade importante para que os sistemas prosperem. Hoje, todo e qualquer segmento, em diferentes setores da economia, necessita de gestores envolvidos e comprometidos, para aumentar as chances de sucesso no empreendimento. Na atividade leiteira esse perfil é mais do que desejado.

Muitos produtores, técnicos e profissionais envolvidos com a atividade associam, de maneira precipitada, o nível tecnológico de fazendas como indicador de eficiência. Esse é um grande erro. Outras vezes, realizam uma separação entre sistemas rústicos e sistemas tecnificados. A questão é que estamos no Brasil, um país enorme, com diferentes características edafoclimáticas em seu território, fazendo com que o princípio Darwiniano seja ainda mais evidente, ou seja: “o mais adaptado sobrevive”. Na Monjolo Velho, encontramos um rebanho forte, rústico, manejado com alta tecnologia, como bolus intra-ruminal, ordenha informatizada, calf-feeder para bezerras e pivô central ambientalmente correto. Por falar em meio ambiente, foram feitos investimentos adicionais para deixar a linha de irrigação mais alta que a de pivôs convencionais, visando à manutenção de espécies arbustivas e arbóreas da região, de modo que possam ser aproveitadas como sombreamento natural para as vacas em pastejo. Encontramos na propriedade galpões concretados com ranhuras e sistema de lavagem tipo flushing, mas não vemos nenhum free-stall. Vemos vagões forrageiros total mix, mas não existe confinamento total. Em outras palavras, temos uma profusão de idéias e conceitos, unidos de maneira racional e adaptada à demanda e realidade da propriedade.

A fazenda merece ser visitada por todos que possuem conceitos consolidados sobre sistemas de produção. Na Monjolo Velho, estes conceitos estão integrados e direcionados para produção de leite, da maneira mais prática, com o menor custo. Muitos sistemas de produção no Brasil são delineados e fundamentados, infelizmente, sob o ponto de vista do “tecnicamente correto”, quando deveriam ser estruturados no “economicamente viável”. Para saber quem ou o que está certo, devemos avaliar os indicadores financeiros e econômicos de cada sistema de produção. A rentabilidade média em 2012 da fazenda foi de 15%. Para refletir.

 

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