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Fazenda Roda D’Água - Formiga/MG

Fazenda Roda D’Água - Formiga/MG

 

Texto: Marlizi Marineli Moruzzi

Garra, luta e determinação definem o produtor Ari Belmiro de Oliveira. Mesmo com vários motivos para desistir da atividade ao longo de sua história, ele nunca deixou a Fazenda Roda D’Água parar. Ao contrário, lutou bravamente para solidificar o negócio e expandi-lo, e hoje ocupa lugar de destaque entre as melhores fazendas da região central de Minas Gerais.

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 “Meu primeiro emprego, no início da adolescência, foi como vendedor de pães nas ruas de Formiga-MG, onde morava com meus pais. Também fui garçom, vendedor em uma loja de eletrodomésticos, e por fim me mudei para Belo Horizonte, onde trabalhei 19 anos em uma corretora de valores. Mas meu sonho sempre foi este... ser produtor de leite”, conta emocionado Ari Belmiro de Oliveira, lembrando de sua infância e da propriedade de seus pais, onde adorava passar seu tempo.

A história do produtor é marcada por momentos de perdas e grandes dificuldades, mas nenhuma barreira imposta pela vida o impediu de lutar e realizar seu sonho. “Não foi fácil... não faltaram motivos para desistir. Mas isso nunca passou pela minha cabeça. Minha família sempre foi minha força para seguir em frente, minha maior motivação para superar os entraves e realizar este sonho”, diz o produtor.

Localizada em Formiga, MG, a Fazenda Roda D’Água foi adquirida por Ari em 1985, quando ele ainda trabalhava em Belo Horizonte. “Eu estava em um escritório, mas sonhando com o dia em que teria minha propriedade e poderia desenvolver meu negócio”, conta Ari Belmiro.

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Lutas e vitórias

“Minha esposa sempre soube deste meu sonho, e foi quem mais me ajudou a realiza-lo”, salienta o produtor. Junto à Clélia Maria de Oliveira, com quem tem três filhos – Fernanda, Bruno e Paloma -, Ari poupou economias e adquiriu os 81 hectares que compõem a fazenda. Aos poucos, Ari foi convencendo sua esposa a saírem de Belo Horizonte, e em 1988 mudaram-se para a cidade de Formiga. “Ela não queria, foi uma fase muito difícil. Tínhamos três filhos estudando, uma fazenda para estruturar, e a renda de apenas 50 litros diários para pagar as contas. Até os bifes do almoço eram contados”, lembra o produtor, contando que as dificuldades aumentaram tanto, que ele propôs à esposa deixar a fazenda e voltar para a capital. “Mas ela não deixou. Foi firme em dizer que estávamos aqui e aqui iríamos ficar! Ela sabia que este era meu sonho, e devo muito a ela por todo apoio que me deu”, reconhece Ari.

Na época, Clélia voltou a estudar e passou em um concurso. Mesmo com a renda de seu novo trabalho, as dificuldades não diminuíram. Anos se passaram, e Ari e Clélia batalhavam para manter os estudos dos filhos, que estavam agora na Universidade. “Isso foi em 2000, quando produzíamos cerca de 400 litros de leite por dia, e eu lutava para chegar a 50 vacas em lactação”, conta o produtor.

Em meio a muitas dificuldades financeiras, Ari recebeu a visita de um produtor interessado em adquirir algumas vacas. “Estávamos com 39 vacas, tentando crescer e chegar nas 50, e eu tinha umas bezerras de sociedade com meu irmão. Decidi vender 30 vacas, a R$ 1.200 cada, e com os R$ 36 mil paguei todas as dívidas que tinha, restando uma pequena quantia do dinheiro. Com isso, a produção caiu para 140 litros/dia, e mesmo com as dívidas pagas, as dificuldades não diminuíram”, conta.

A luta diária continuava. Para tentar aumentar a produção do rebanho e a renda para sustento da família, Ari Belmiro decidiu investir na alimentação do rebanho, plantando uma área de milho para produção de silagem. Mas algo pior o esperava... Em 2000, durante a colheita, o produtor sofreu um acidente e acabou perdendo uma de suas pernas. A família se viu em desespero. Bruno, que cursava o 2o ano de Agronomia, trancou sua matrícula na faculdade e voltou para Formiga para ajudar o pai que, em uma cadeira de rodas, orientava sobre o que precisava ser feito. Tempos depois, seu irmão, que é mecânico, adaptou um trator da fazenda, e Ari voltou a trabalhar, arando a terra e plantando alimento para o rebanho. “Não podíamos parar. E para reverter a situação, o gado precisava produzir mais, e isso dependia de uma melhor alimentação”, conta.

Um ano depois do acidente, Ari adquiriu uma prótese e voltou aos poucos ao trabalho. “Pedi ao meu filho que voltasse a estudar, pois sempre priorizei o estudo deles e era um desejo meu ver os três formados. E assim fomos levando... muitos meses eu recebia ligações das faculdades dos meus filhos, dizendo que as mensalidades estavam muito atrasadas, e que precisávamos regularizar a situação. Negociávamos prazos, e assim fomos contornando, até que conseguimos formar nossos três filhos, enquanto a fazenda ia se estruturando, tomando forma, e gerando renda para sobreviver e quitar as dívidas.

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Passos firmes

Superada a fase das maiores turbulências, os primeiros investimentos foram na compra de 15 vacas, em 2005, e depois mais 20 novilhas. “Minha pretensão era chegar nos 500 litros diários”, conta o produtor. Hoje, a Fazenda Roda D’Água produz diariamente 5.500 litros de leite, com 202 vacas em lactação e um rebanho total com quase 500 animais. São realizadas duas ordenhas diárias, em um equipamento com 12 conjuntos (duplo 6).

Ari Belmiro tem agora a ajuda de seus filhos na gestão da propriedade, e sua meta é crescer. Há exatamente 1 ano, foi inaugurado o primeiro compost barn da fazenda. Até então, o gado era mantido em piquetes, recebendo toda a alimentação no cocho.

Os problemas na época das chuvas, com excesso de barro e umidade, fizeram o produtor repensar seu sistema de produção. “Chegamos num ponto em que era imprescindível investir em um novo modelo. Não conseguiríamos crescer com as vacas naquela situação, estressadas e sem conforto. Além disso, estávamos no nosso limite de área”, explica Ari.

Depois de conhecer algumas propriedades que utilizavam free stall e compost barn, Ari Belmiro optou pelo segundo tipo de sistema. “Visitei fazendas em Minas Gerais e no Paraná, e o compost barn me pareceu ser a melhor opção em função do conforto dos animais, facilidade no manejo dos dejetos, além de menor custo. O free stall possui muito concreto, tem o problema do tratamento de dejetos e a aquisição de areia está cada vez mais difícil”, comenta.

O galpão recém-construído possui 1.200 m2 de área de cama, para 150 vacas (8 m2 por vaca). Outras 50 vacas, de menor produção e próximas à secagem, permanecem alojadas em piquetes. O produtor optou por utilizar uma cama mais profunda (90 cm), para aumentar o conforto dos animais, e o material utilizado é uma mistura de casca de café (90%) e serragem. O manejo da cama é realizado 2 vezes ao dia, visando manter o material sempre seco e proporcionar um processo eficiente de compostagem. Potentes ventiladores (18 no total) ajudam a manter a cama seca, além de promover o resfriamento dos animais. “Calculo que essa cama proporcionará mil toneladas de composto orgânico, quando retirada”, diz o produtor.

A nova estrutura conta também com um sistema de coleta e armazenamento de água pluvial. “Esta água será utilizada para limpeza do curral, da sala de espera, e também para aspersão”, diz o produtor.

Com um ano de uso, os benefícios do compost barn já são notados. Segundo o produtor, as vacas estão muito mais tranquilas, chegam limpas à sala de ordenha, os casos de mastite foram significativamente reduzidos, além de aumentar a produtividade e a qualidade do leite.

Para se ter uma ideia, em setembro de 2014, quando ainda ficavam nos piquetes, a produtividade das 150 vacas era, em média, 25 litros/vaca/dia. Um ano depois, a produtividade aumentou e passou para 31,3 litros/vaca/dia. A contagem de células somáticas (CCS) saiu de 385 mil cél/ml em setembro/2014, para 265 mil cél/ml em setembro/2015. A contagem bacteriana total também foi reduzida pela metade (de 16 mil ufc/ml para 8 mil ufc/ml, no período mencionado).

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Produção e seleção

A parte agrícola da fazenda, para produção de alimento para o rebanho, está sob os cuidados do filho Bruno. A dieta total (TMR) é composta por silagem de milho, caroço de algodão, polpa cítrica, farelo de soja, grão de milho úmido e mineral de boa qualidade. Os animais são divididos em lotes de acordo à produtividade, recebendo dietas específicas.

Com o compost barn, a fazenda melhorou sua infraestrutura e o conforto animal. Os objetivos, agora, consistem em aumentar a produtividade do rebanho e, além da nova estrutura e ajustes nutricionais, a fazenda está intensificando a seleção genética e apurando o grau de sangue do rebanho para o Holandês.

Todas as fêmeas são inseminadas artificialmente. Esporadicamente a fazenda emprega algumas biotécnicas, como a utilização de sêmen sexado e a fertilização in vitro (FIV), visando intensificar a produção de animais geneticamente superiores.

No plano genético da fazenda, a prioridade é saúde. “Também atento para a conformação de úberes, pernas e pés. Se tivermos vacas saudáveis e de boa estrutura, a produção de leite vai ser uma consequência”, diz Ari Belmiro.

Assim que nascem, as bezerras têm o umbigo curado e recebem o colostro, sendo levadas para o bezerreiro, onde são alojadas individualmente, conforme o modelo argentino ou tropical. Recebem 2,5 litros de leite pela manhã e 2,5 litros à tarde, além de ração à vontade. Aos 60 dias são desmamadas e passam a compor lotes de acordo à idade. Entre os 15-16 meses, estão aptas para a primeira inseminação.

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A importância da gestão

Com toda experiência que adquiriu ao longo dos anos, Ari Belmiro afirma convicto que a fazenda é uma empresa, e deve ser administrada como tal. “Não adianta você querer fugir disso. O produtor de leite é um empresário e precisa ter controle dos custos, do fluxo de caixa, da necessidade de investimento, e também é necessária a gestão de pessoas, ou seja, de todos os envolvidos no negócio”, diz.

O produtor conta que sempre esteve presente na propriedade, acompanhando todas as rotinas, mas que faltava um controle efetivo dos custos, do planejamento financeiro, da gestão econômica da atividade. Nesse sentido, a parceria com o Projeto Educampo foi essencial para o sucesso do negócio.

A fazenda Roda D’Água iniciou no projeto Educampo em outubro de 2013. O projeto é desenvolvido em parceria com o laticínio Embaré, para onde o leite produzido é enviado há anos. “Temos uma sólida parceria com a Embaré. Além da venda do leite, conseguimos insumos com preços melhores, resultado de negociações de maior volume entre o laticínio e as empresas fornecedoras”, explica o produtor.

Em relação ao projeto Educampo, Ari Belmiro afirma que a assistência dos técnicos trouxe o que faltava à propriedade: o controle gerencial. “Hoje posso dizer que tenho a propriedade nas minhas mãos. Tenho o controle de tudo. Mas isso só foi possível com as correções, orientações e procedimentos implementados pelo Educampo”, ressalta.

A fazenda recebe a assistência mensal de Marcio Antonio de Oliveira, Consultor do Educampo/Embaré. "A fazenda já apresentava excelentes índices zootécnicos quando iniciei minha consultoria, porém o empresário não tinha controle de custos, isto é, não conhecia a rentabilidade da atividade. Hoje, o Sr. Ari domina financeiramente sua empresa, sendo o acompanhamento do custo de produção a base para as tomadas de decisões", afirma o consultor.

Atualmente, a Fazenda Roda D’Água ocupa a 5a posição no ranking das Top 15 propriedades do Projeto Educampo na região central de Minas Gerais. “Mas não me contento com esta posição. Quero subir mais degraus neste pódio”, brinca o produtor, enfatizando que o trabalho não pode parar, e que a busca por melhores resultados é o que motiva e proporciona o crescimento na atividade.

 

União por resultados

Ao contrário da maioria das fazendas, em que um dos maiores gargalos é a mão de obra, na Fazenda Roda D’Água a rotatividade é baixíssima, sendo que o tempo médio de permanência dos funcionários é de 7 anos. “Tenho funcionários com mais de 20 anos de casa, com filhos que nasceram e cresceram aqui”, conta o produtor. A fazenda emprega 10 funcionários, considerando a produção de leite e lavoura.

Na opinião de Ari, o segredo está na gestão da equipe, em ser acessível e fazer parte do dia a dia das pessoas. “Temos que entender e escutar nossos funcionários. Acompanhar as rotinas e participar. E claro, proporcionar treinamentos, capacitações, de forma que se sintam motivados e cada vez mais especialistas no que fazem”, afirma.

Um dos desafios citados pelo produtor, é manter-se atualizado, acompanhar a evolução tecnológica. “Esse é o maior desafio, pois muitas vezes é caro implementar novos procedimentos, novas tecnologias. Por outro lado, se não nos profissionalizamos, ficamos ‘para trás’ e deixamos de ser competitivos”, afirma.

A próxima meta da fazenda é construir um segundo compost barn, da mesma dimensão do primeiro, e confinar todo o rebanho.

Ele conta que muitas vezes é questionado sobre o porquê de querer aumentar a produção. “A resposta é simples: se eu parar agora, o lobo vem e me come”, brinca o produtor, explicando que não é questão de precisar aumentar a produção, mas sim de explorar o potencial existente e fazer tudo o que é possível. “Eu acho que a gente nasceu para deixar uma história. Então, eu estou fazendo minha parte”, enfatiza Ari Belmiro.

O produtor recebe constantemente visitas de outros produtores da região, que vão até a Fazenda Roda D’Água para conhecer sua estrutura e história de evolução. Geralmente, de dois em dois anos, a fazenda realiza um Dia de Campo, com a presença de cerca de 300 produtores da região. “O mérito do sucesso desta fazenda não é só meu. Somos uma equipe: família, funcionários e parceiros profissionais”, ressalta Ari Belmiro.

“Estou na atividade há bastante tempo, e posso dizer que qualquer pessoa que optar pela produção leiteira tem que, acima de tudo, amar o que faz! Só assim será possível alcançar o sucesso no negócio”, afirma Ari. “O mal feito está muito próximo do bem feito. E só faremos bem feito se gostarmos do nosso trabalho, se notarmos a diferença de uma vaca feliz e uma vaca estressada, de uma construção adaptada e uma estrutura planejada, enfim, fazer bem feito requer experiência, conhecimento e vontade!”, ressalta o produtor, lembrando que estar amparado por assistência técnica de qualidade e comprometida com a fazenda, além da busca constante por novidades e atualizações é fundamental.

 

FAZENDA RODA D’ÁGUA EM NÚMEROS

 

Informações gerais

Área total da propriedade (ha): 81 ha área total (69 ha para a atividade leiteira e 12 ha reserva legal).

Área destinada à produção de leite (ha) – 69 ha da área própria e 80 ha arrendados.

Números de funcionários: 10

Número total de animais: 472

Vacas em lactação: 202

Produção média (litros/dia): 5.500

Produtividade média (litros/vacas/dia): 27,2

 

Índices reprodutivos

Idade ao primeiro parto (meses): 25

Taxa média de prenhes (%): 23,5

Taxa média de concepção à primeira IA (%): 51,6

Intervalo entre partos ( meses): 12,95

 

Qualidade do leite

Gordura: 3,62%

Proteína: 3,18%

CCS: 265 mil cél/ml

CBT: 8 mil cél/ml

 

 

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