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Fresco é melhor

Colostro fresco reduz a ocorrência doenças em bezerras recém-nascidas

Fresco é melhor

FRESCO É MELHOR

Colostro fresco reduz a ocorrência doenças em bezerras recém-nascidas

A palavra “colostro” significa “o primeiro leite de um animal”, sendo essa palavra usada pela primeira vez no século XVI (1570-1580). O seu reconhecimento como um alimento capaz de transferir anticorpos para as bezerras ocorreu no século XIX, porém pesquisas recentes têm demonstrado que o colostro contém muito mais do que imunoglobulinas.

O colostro contém aproximadamente 90 constituintes transferidos para as bezerras, tais como fatores imunes (imunoglobulinas, lactoferrina, citocinas, inibidores da tripsina, lisozima, leucócitos, lactoperoxidases, lactoalbuminas, complemento, oligossacarídeos, gangliosídeos, espécies reativas de oxigênio, proteínas de fase aguda), fatores de crescimento (fator de crescimento semelhante à insulina tipo I e II - IGF I e II; fator de transformação do crescimento beta - TGFβ; fator de crescimento epidermal), micronutrientes (vitaminas, minerais), e macronutrientes (aminoácidos, proteínas, gorduras, carboidratos).

O papel de todos os constituintes do colostro sobre o sistema orgânico das bezerras ainda é parcialmente compreendido, porém alguns processos de tratamento, como o congelamento, podem alterar a sua composição original. De antemão, ressalto que a concentração de anticorpos não diminui com a conservação do colostro à -20ºC, pelo período máximo de 1 ano.

O colostro fresco contém aproximadamente 1 a 2,5 X 106 células imunes maternas/mL. Estas células imunes migram, gradativamente, do sangue para a glândula mamária, entre o período seco e parição, sendo que 30% delas ainda estão vivas no colostro fresco. Na prática, fornecer 2L de colostro fresco significa transferir 600 milhões de células maternas vivas para as bezerras. Em contrapartida, o colostro congelado não possui células vivas, porque as mesmas são destruídas (rompidas) durante o processo de congelamento. 

As células maternas do colostro possuem elevado grau de experiência imunológica, devido ao processo progressivo de estimulação do sistema imune por uma série de microrganismos ao longo da vida da vaca. Acredita-se que esta “maturidade” pode ser transferida para as bezerras recém-nascidas que ingerem o colostro fresco, favorecendo o seu desenvolvimento.

A equipe Gecria, desenvolveu um projeto de pesquisa, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP, Processo número 2013/06152-7), intitulado “Efeito dos leucócitos do colostro materno na resposta imune de bezerras recém-nascidas”. Esta pesquisa foi conduzida na fazenda Colorado, em Araras/SP, na qual foram acompanhados 20 partos para a seleção das bezerras incluídas no estudo.

As bezerras foram distribuídas em dois grupos, cujos tratamentos são descritos na Tabela 1:
1) COL+ receberam colostro fresco, obtido pela ordenha das mães, imediatamente após o parto;
2) COL- receberam colostro congelado, oriundo de vacas doadoras de colostro.

O colostro congelado foi armazenado em garrafas plásticas, antes do início do experimento. Os dois grupos receberam colostro com semelhantes concentrações de anticorpos, mensuradas pelo colostrômetro.

TABELA 1. Tratamentos adotados para os grupos COL+ e COL

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As bezerras receberam 4L de colostro, divididos em duas mamadas, sendo a primeira fornecida imediatamente após o nascimento, e a segunda entre 6 a 12 horas mais tarde. A ocorrência de diarreias foi avaliada por escore fecal (Quadro 1). Os escores 0 e 1 foram considerados normais, e os escores 2 e 3 caracterizaram a ocorrência de diarreias.

QUADRO 1 Escore de fezes usado para a detecção de diarreia.

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A taxa de ocorrência das diarreias, no primeiro mês de vida, foi semelhante entre os grupos (Gráfico 1). Entretanto, as bezerras que receberam o colostro congelado apresentaram maior intensidade da doença. Os exames de sangue revelaram que as bezerras COLapresentaram sequelas posteriores às diarreias. Estes animais apresentaram maiores taxas de anemia e baixo teor de ferro no sangue. Além disso, apenas as que receberam o colostro congelado (COL-) apresentaram inflamações umbilicais (3 em 10) e doença respiratória (1 em 10). Os dados clínicos das bezerras, apresentados brevemente neste texto, poderão ser obtidos na íntegra no artigo de Novo et al., 2017 (Effect of maternal cells transferred with colostrum on the health of neonatal calves. Aceito para publicação na revista Research in Veterinary Science).

GRÁFICO 1 Frequência de diarreias (fezes escore 2 e 3) observadas nos grupos de bezerras que receberam colostro fresco (COL+) e congelado (COL-).

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AS CÉLULAS MATERNAS DO COLOSTRO POSSUEM ELEVADO GRAU DE EXPERIÊNCIA IMUNOLÓGICA, DEVIDO AO PROCESSO DE ESTIMULAÇÃO DO SISTEMA IMUNE, POR UMA SÉRIE DE MICRORGANISMOS, AO LONGO DA VIDA DA VACA. ACREDITASE QUE ESTA “MATURIDADE” PODE SER TRANSFERIDA PARA AS BEZERRAS QUE INGEREM O COLOSTRO FRESCO, FAVORECENDO O SEU DESENVOLVIMENTO

A explicação para a menor ocorrência de doenças no grupo COL+ pode ser a transferência de células de defesa da mãe. É como se a memória de uma experiência imunológica prévia garantisse maior eficiência imune frente aos microrganismos causadores de doenças. 

A nossa pesquisa também avaliou a resposta imune das bezerras frente às diarreias que ocorreram por exposição natural aos microrganismos presentes no bezerreiro. Neste estudo, a autora Juliana França dos Reis demonstrou que as células do sistema imune das bezerras que receberam colostro fresco foram muito mais velozes e eliminaram os agentes causadores de diarreia muito mais rápido que as do grupo COL(que receberam o colostro congelado). É como se os animais que receberam o colostro fresco tivessem maior habilidade para limpar o organismos dos invasores. Dados sobre a resposta imune das bezerras, apresentados brevemente neste texto, poderão ser obtidos na íntegra no artigo de Costa et al., 2017 (Innate imune response in neonate heifer fed fresh and frozen colostrum. Aceito para publicação na revista Research in Veterinary Science).

Na prática, precisamos pensar na viabilidade no manejo para o fornecimento do colostro fresco às bezerras. No experimento, foi seguido o passo a passo descrito no quadro 2.

QUADRO 2 Medidas de manejo para o fornecimento do colostro FRESCO para bezerras recém-nascidas.

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Para finalizar, gostaríamos de deixar claro que não somos contra o colostro congelado. Nosso objetivo é ressaltar que o colostro fresco pode trazer vantagens para alguns sistemas de criação. Fazendas com elevadas taxas de mastite no pós-parto imediato, por exemplo, não devem usar o colostro fresco, devido à elevada quantidade de bactérias que podem ser transferidas para as bezerras. Não existe uma regra para o manejo de colostro, como pensávamos a algum tempo atrás. Hoje existem opções entre fresco, congelado, pasteurizado, substitutos do colostro e outros. As alternativas devem ser pensadas e personalizadas de acordo com cada sistema de criação.

VIVIANI GOMES Professora da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia/USP

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