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Fazendas

JTP Farm

Um exemplo no uso de tecnologia

JTP Farm

Edição #94 - Janeiro/2017

JTP Farm 

Dorchester/WISCONSIN/EUA

Um exemplo no uso de tecnologia.

Quais os modelos de sistemas de produção de leite que você conhece? Extensivo ou intensivo? A pasto (extensivo ou rotativo) ou confinado (piquetões, free stall, tie stall e agora o composto)? Gado puro ou cruzado? Rebanhos com grande número de animais ou em escala familiar? O que, na verdade, define um sistema de produção? Podemos ter inúmeras combinações entre todas essas e muitas outras variáveis. Temos inúmeros exemplos de sucesso ou de fracasso nos mais variados modelos de produção existentes no Brasil e no mundo.

Normalmente, o que define o sistema são fatores históricos, culturais, tamanho da propriedade, capacidade de investimento, clima, condições de solo, disponibilidade de animais, dentre tantos outros. Um ponto que não pode ser negligenciado em nenhum sistema é a aplicação prática de novas tecnologias, sejam elas produtos, equipamentos ou formas de manejo.

Cada sistema tem suas peculiaridades e diferenças, porém, um acontecimento é comum a todos eles: a ordenha. Independente do sistema de produção, todos os dias os animais serão ordenhados em um horário fixo, uma, duas ou três vezes. A atividade de ordenha baliza todas as outras atividades na fazenda. Os funcionários, geralmente, começam seu turno de trabalho imediatamente antes da ordenha. Os animais são alimentados logo após a ordenha. Os manejos sanitários e reprodutivos necessários são realizados na saída da ordenha.

E se não tivéssemos um horário fixo de ordenha? Como você organizaria as atividades da fazenda? Isso facilitaria ou dificultaria a condução de sua atividade? É possível não ter horário fixo de ordenha?

Sim, é possível não ter horário fixo de ordenha em uma propriedade leiteira, quando são utilizados robôs para ordenhar as vacas. Neste sistema, as vacas acessam a ordenha robotizada voluntariamente, a qualquer hora do dia ou da noite. O estímulo para isso vem do fornecimento de parte do concentrado no robô, durante a ordenha, e pela sensação de úbere cheio, não sendo necessária a presença humana. Neste caso, cai por terra o paradigma de que todas as atividades diárias da fazenda giram em função da ordenha. Ou seja, qualquer atividade pode ser feita a qualquer momento, independentemente umas das outras. A única atividade que demanda uma rotina diária, com horários pré-determinados, é o fornecimento de alimento aos animais. Mas, mesmo assim, sem necessidade de sincronização com outras atividades. O uso de automação, não só os robôs de ordenha, mas também raspadores automáticos, robôs para empurrarem a comida para as vacas e alimentadores automáticos de bezerros, aliados ao uso de maquinário adequado para a alimentação dos animais e manejo da camas, diminui drasticamente a demanda por mão de obra e facilita a organização das atividades e, consequentemente, dos turnos de trabalho. 

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Foto: O robô localiza os tetos através de infravermelho e posiciona um copo de ordenha em cada teto individualmente.

No início do mês de novembro, um grupo de profissionais ligado à pecuária leiteira, visitou fazendas no estado americano de Wisconsin, com o objetivo de acompanhar o uso de tecnologias de automação e controle de ambiente, em sistemas de produção de leite, para aplicação em um projeto de alta tecnologia que está prestes a ser implantado no Mato Grosso do Sul. Este grupo foi composto pelos gestores da Sapé Agro - Artur Falcette, Gerente Executivo; Luiz Schiavo, Gerente Financeiro; Rodney Guadagnin, Gerente de Produção Animal, David Souza, consultor da área de engenharia; e por mim, médico veterinário e professor do IFMG, que além de ter os mesmos interesses em adquirir novos conhecimentos, tinha o objetivo de abrir portas para que estudantes brasileiros possam realizar estágios por lá. Vimos muitas coisas interessantes em diferentes sistemas de produção, mas focamos nossa atenção nos resultados práticos desses dois pontos: automação e controle de ambiente para o conforto e bem-estar animal.

O clima da região varia de frio a temperado, com uma temperatura média anual de 7.7 °C (variando dos extremos de -13 a 28°C) e pluviosidade média anual de 806 mm, bem distribuídos. Esse clima permite a produção de apenas uma safra de alimentos por ano. Nestas condições climáticas a estabulação dos animais é condição básica para se conseguir altas produções de leite. No auge do inverno é necessário proteger os animais e os trabalhadores do frio e no verão um sistema de ventilação adequado evita que os animais entrem em estresse calórico.

Para exemplificar a aplicação de tecnologias nestas duas áreas, mostraremos, a seguir, a experiência da família Peissig, na JTP Farm, localizada na cidade de Dorchester, em Wisconsin, EUA. Trata-se de uma fazenda leiteira familiar, típica da região, que se destaca pelo uso de automação e controle de ambiente, em um sistema confinado de alta tecnologia, onde todos os trabalhos diários são feitos pelos proprietários, Tom e Jake Peissig, pai e filho, e um estagiário de ensino médio, que trabalha 4 horas por dia, 3 dias por semana. Algumas atividades são realizadas por mão de obra externa, tais como parte das atividades nas lavouras de produção de volumosos e grãos, casqueamento periódico os animais, acompanhamento reprodutivo por veterinário, dentre outras.

Histórico 

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Até 2012, A JTP Farm ordenhava cerca de 120 vacas, em uma sala de ordenha duplo quatro, com linha alta. A produção média era de 30 litros por vaca/dia e a contagem de células somáticas (CCS) era superior a 300.000. Após sua graduação na faculdade, Jake trabalhou no ramo de venda de equipamentos, mas logo concluiu que o trabalho externo à fazenda era um fator limitante à produção da mesma. Quando Jake e seu pai tomaram a decisão de modernizar a produção de leite, eles estavam convencidos de que um free stall e uma nova sala de ordenha era o que eles precisavam, e havia uma resistência natural ao uso de tecnologias avançadas. Entretanto, visitas a fazendas nas quais a automação era largamente utilizada, fez com que eles mudassem totalmente de opinião. O próximo passo foi estudar profundamente os sistemas de automação aplicáveis à produção de leite e verificar, na prática, a experiência daquelas que já utilizavam estes sistemas. Assim, em 2012, construíram um galpão de 67 x 55 metros, com 228 camas de areia no modelo free stall, separadas em 4 grupos, duas baias de 82 metros quadrados para vacas secas e pré-parto imediato (cama sobreposta), 4 camas separadas para animais que demandam cuidados especiais e espaço para 10 gaiolas para bezerras recém-nascidas. Neste galpão, foi instalado um sistema de ventilação cruzada (exaustores em uma das laterais do galpão e cortinas reguláveis na outra), quatro robôs de ordenha (com capacidade para 60 a 70 vacas cada), dois conjuntos de raspadores automáticos de esterco, sistema de bombeamento de dejetos e um robô para empurrar a comida para as vacas. Além do galpão, foi construída também uma lagoa de armazenamento de dejetos e novos silos para estocagem de alimentos (volumosos e grãos). Até então, a meta para os próximos cinco anos era ordenhar 240 vacas e atingir a média de 41 litros por vaca por dia. Jake lembra que tudo era novidade, e que instalações e equipamentos são apenas uma parte do progresso. Segundo ele “a adequação do manejo e os cuidado com o bem-estar das vacas foi crucial para o sucesso”. Com isso, as metas foram alcançadas bem antes dos cinco anos, e hoje os resultados ultrapassaram qualquer expectativa que tinham em 2012.

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Fluxo esquemático dos animais no galpão com ordenha robotizada na JTP Farm

Os sistemas robotizados de ordenha podem ser de três tipos quanto ao fluxo dos animais: Fluxo livre, fluxo dirigido “feed first” ou fluxo dirigido “milk first”. Na JTP Farm foi escolhido o fluxo dirigido “milk first”, como demonstrado no esquema. As vacas têm livre acesso às camas de areia (4), ao alimento (1) e ao robô (7) de ordenha durante 24 horas por dia, porém têm que obedecer um caminho pré-determinado para irem de um ponto ao outro. Começando o trajeto por uma vaca que está posicionada no corredor de circulação (2) junto à pista de alimentação (1), quando esta quiser se deitar terá que passar por uma contenção unidirecional do tipo “finger gate” (3) para acessar as camas de areia. Continuando seu trajeto, para a vaca voltar a se alimentar, ela terá que seguir no sentido das setas até chegar no portão selecionador (5). A função deste portão é selecionar qual vaca deve entrar na sala de espera (6) do robô (7) e qual vaca poderá ir diretamente para a pista de alimentação (1). As vacas que tiverem sido ordenhadas a menos de 6 horas irão direto para a pista de alimentação (1) enquanto que aquelas ordenhadas a mais de 6 horas serão desviadas para a sala de espera (6). As vacas são atraídas ao robô (7) pelo fornecimento de ração concentrada dentro do mesmo durante a ordenha. Outro fator que estimula a vaca a procurar o robô é a sensação de úbere cheio. Normalmente, vacas em início e pico de lactação fazem mais visitas ao robô por dia, enquanto que quanto maior o DEL (dias em lactação) menor o interesse das vacas em se deslocarem até o robô. Da sala de espera (6) as vacas acessam o robô (7) onde são ordenhadas. Ao saírem do robô elas passam por outro portão selecionador (5) que separam para a área de manejo (10) todas as vacas que atendam a parâmetros pré-determinados que caracterizem a necessidade de alguma intervenção naquela vaca. O motivo desta separação pode ser algum manejo sanitário, inseminação artificial, etc. Após a realização dos manejos essas vacas deixam a área de manejo (10) diretamente para a pista de alimentação. Assim se completa o ciclo de alimentação, descanso e ordenha dos animais. Na JTP Farm, atualmente, os animais são ordenahdos 2,7 vezes por dia. Mas a meta é aumentar essa média para 3 ordenhas/ vaca/ dia. Quanto mais alto o DEL do rebanho menor será o número médio de ordenhas diária. Portanto, o sucesso na reprodução afeta esse parâmetro. O tempo médio gasto para ordenhar cada vaca na JTP Farm é de 7,35 minutos. Das 24 horas do dia, 84% do tempo o robô está em atividade de ordenha, 5% em processos de autolimpeza e 11% livre.

Rotina de trabalho

Em uma área total de 243 ha, a JTP Farm possui, atualmente, um rebanho de 280 vacas da raça holandesa. Destas,  247 estão em lactação e 36 secas. A ordenha é robotizada, com produção média de 47,4 kg de leite por vaca/dia, totalizando uma produção diária de 11.850 litros.

Os alimentos volumosos e parte dos grãos utilizados na alimentação dos animais são produzidos na propriedade, e o restante dos insumos é comprado no mercado local. As atividades na JTP Farm começam, aproximadamente, às 7 horas da manhã. As tarefas rotineiras diárias são divididas entre Jake e seu pai Tom Peissig. Jake é o responsável pelos afazeres internos do galpão, enquanto seu pai cuida da alimentação de todos os animais (vacas adultas e recria) e verifica o funcionamento e manutenção do sistema de limpeza e manejo dos dejetos. Na época do cultivo das lavouras, ambos se desdobram nas tarefas da agricultura, auxiliados por trabalhadores temporários. O estagiário realiza tarefas rotineiras não diárias, pois está na fazenda apenas três tardes por semana e, eventualmente, substitui um dos proprietários em sua ausência. Obviamente, eles são uma equipe e se auxiliam, mutuamente, o tempo todo.

Como mencionado anteriormente, os animais são ordenhados durante todo o dia, sem a necessidade de pessoas durante o processo. O sistema é autônomo e alertas pré-programados são emitidos e enviados para smartphones ou computador, sempre que algo sai da rotina. “Enquanto realizo outras tarefas, dentro ou fora do galpão, recebo os alertas, e 90% deles podem ser resolvidos por meio do smartphone ou o sistema resolve por si só”, diz Jake. Em alguns casos, é necessária uma intervenção física nos robôs, mas isso acontece com uma frequência bastante baixa. Ele diz ainda que “a qualidade de vida agora é outra. Antes, levantávamos às 4 da madrugada e corríamos o dia todo para conseguir realizar as tarefas. Ao final do dia estávamos, literalmente, nocauteados. Agora, tomamos café com a família antes de vir para o galpão às 7 da manhã.”

Ao chegar ao galpão, Jake imprime os relatórios específicos de rotina diária pré-determinados no sistema. Os critérios e parâmetros para montagem desses relatórios são previamente definidos. Este é um momento de execução e não de planejamento. Com o relatório em mãos, a atenção prioritária vai para as vacas recém-paridas ou em trabalho de parto. Em segundo lugar, para os animais que apresentam parâmetros que indicam possível ocorrência de doenças metabólicas e anormalidades de comportamento. Então, verifica-se os animais automaticamente separados pelo robô de ordenha para algum procedimento, e são feitas tarefas como inseminações, aplicações de medicamentos, fornecimento de drench, procedimentos de secagem, dentre outros. Na sequência, faz-se uma verificação visual rápida de todo o rebanho e, seguindo-se um relatório específico, levam-se aos robôs eventuais vacas que não tenham sido ordenhadas por um determinado tempo (geralmente 12 horas, mas esse tempo pode variar de acordo com o estágio de lactação da vaca e critérios decididos pelos profissionais em conjunto com o proprietário). Segundo os proprietários, essa tarefa, como um todo, consome em média uma hora de trabalho, podendo chegar a uma hora e meia, em dias com mais animais a serem atendidos.

A rotina de observação visual e outras formas de detecção de cio feitas pelo homem foram abolidas. O manejo reprodutivo é baseado na detecção eletrônica de cio, que é feita por meio da interpretação de dados obtidos pelo robô, durante a ordenha, juntamente com outros obtidos pelos colares de atividade, durante todo o dia. A separação das vacas em cio é feita após a passagem pelo robô. Embora o sistema permita a criação de protocolos específicos, a inseminação é feita de maneira tradicional, seguindo-se um protocolo previamente definido, normalmente no início da manhã e no final da tarde, de acordo com os relatórios emitidos pelo sistema, com atenção especial às vacas com mais lactações (3 ou mais). O período voluntário de espera é de 60 dias. Depois de um determinado período de serviço, todos os animais que não foram inseminados entram num protocolo de IATF (inseminação artificial em tempo fixo). As vacas com maior número de lactações (3 ou mais lactações) recebem atenção especial quanto ao manejo reprodutivo.

Em seguida, Jake alimenta o sistema de gestão do rebanho com as informações geradas durante as atividades anteriores. Todas as informações são criteriosamente lançadas e então faz-se uma análise mais ampla da situação de momento. Avaliam-se os parâmetros produtivos, reprodutivos, de gestão, dentre outros. Este é o momento de se pensar o sistema e propor adequações em relatórios ou tarefas. É o momento de gestão, de pensar o que está funcionando ou não e quais adequações propor. Mas, é importante ressaltar que nenhuma mudança é feita sem uma ampla discussão com todos os profissionais envolvidos no projeto. Essa tarefa consome, diariamente, entre 30 minutos e uma hora. 

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Foto:Todos os acontecimentos podem ser acompanhados de qualquer lugar com acesso à internet. Executar o que determinam os relatórios diários de rotina são um ponto chave do funcionamento do sistema. Vemos aqui o Kyle em seu escritório na Abels Acres Farm, uma fazenda com dois robôs e 104 vacas

Retornando ao trabalho com os animais, as bezerras recém-nascidas, que nas primeiras semanas de vida também ficam dentro do galpão, em gaiolas individuais sobre palha, são alimentadas e observadas. Outros 30 minutos se foram. 

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Foto:Gaiolas onde as bezerras são mantidas nas primeiras semanas de vida.

Ao saírem do galpão, as bezerras são criadas em casinhas individuais externas até a desmama. A recria é feita em lotes com dieta total, utilizando-se, basicamente, os mesmos ingredientes utilizados para os animais adultos. As atividades de recria já são atribuições do Sr. Tom.

A próxima tarefa é “fazer” as camas das vacas. Diariamente, as camas são verificadas, e a areia suja retirada manualmente, o que, segundo os proprietários, é simples e não toma muito tempo. Segundo Jake, “o segredo está na qualidade e quantidade de areia colocada sobre as camas, pois se as vacas estão confortáveis e se deitam na posição correta, elas não defecam nas camas e não dão trabalho”. A tranquilidade e rotina dentro do galpão é outro ponto chave, pois vacas estressadas sujam mais as camas. Simultaneamente à arrumação das camas, é feita a verificação mais criteriosa das vacas e do funcionamento de portões, exaustores, cortinas e outros equipamentos. Aproximadamente uma hora é o suficiente para essas tarefas. 

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Foto: Vista completa de um dos lotes, a partir do escritório.

Na sequência, é feita a reposição dos insumos utilizados pelo robô de ordenha. São completados os reservatórios de produtos utilizados no pré e pós-dipping e limpeza de tetos, e do próprio equipamento (auto limpeza), além de passar o check list dos pontos críticos do sistema (fluídos, produção de vácuo, etc). Faz-se também uma limpeza externa do robô com jato de água e, eventualmente, sabão comum. Assim, terminam os trabalhos matinais do Jake.

Aproximadamente entre 7 e 9 horas da manha, Tom está alimentando as vacas em lactação e secas. O manejo alimentar é bastante tradicional, porém realizado com muito critério, seguindo rigidamente as recomendações dos profissionais responsáveis pela formulação das dietas (além de ser feito um acompanhamento em tempo real do mercado de insumos, os alimentos são analisados frequentemente e as dietas ajustadas por profissionais externos). A dieta única para todos os lotes é composta, basicamente, por silagem de milho, silagem pré-secada de alfafa, milho grão, farelo de soja e pré-misturas de minerais e vitaminas, sendo fornecida por um vagão misturador. Outros subprodutos também são utilizados, dependendo da disponibilidade no mercado regional e do custo. É importante lembrar que as vacas são atraídas ao robô pela ração concentrada fornecida durante a ordenha. Essa ração fica em um silo aéreo ao lado dos robôs, sendo abastecidos diretamente pelo fornecedor. Portanto, as vacas recebem uma dieta padrão na pista de alimentação e um complemento individualizado durante a ordenha. Com isso, as dietas efetivamente fornecidas a cada vaca são determinadas individualmente, sendo essa uma grande vantagem desse sistema, por proporcionar uma maior taxa de acerto entre o que é fornecido a cada animal e sua real necessidade. Isso leva a um melhor controle de escore corporal e taxa de conversão alimentar. 

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Acima: Nesta foto obtida na Abels Acres, outra fazenda similar à JTP Farm, podemos ver o robô que empurra a comida em ação. Esse serviço é feito a cada 3 horas durante as 24 horas do dia.

São fornecidos dois tratos diários, sendo as sobras retiradas apenas uma vez por dia. Entre estes dois fornecimentos da dieta, a comida é empurrada para as vacas para estimular o consumo. Esse trabalho é feito por um robô autônomo, que tem uma base fixa para carregamento de suas baterias e segue uma rotina pré-programada, percorrendo toda a extensão das pistas de trato. Este percurso é repetido a cada três horas, o que estimula o consumo da dieta pelas vacas, pois além de atraí-las, posiciona melhor o alimento. Isso é feito sem demandar tempo de mão de obra. Em seguida, as vacas secas e no pré-parto imediato recebem alimentação específica para este período, que é extremamente crítico, demandando ainda mais cuidados com a alimentação e o conforto dos animais. O sucesso dessa fase é o que determina a baixa incidência de doenças metabólicas durante toda a lactação seguinte, em especial no pós-parto imediato. Todo o manejo alimentar dos animais alojados no galpão consome entre duas horas e duas horas e meia por dia.

Assim que termina a alimentação, Tom cuida da reposição e adequação da cama sobreposta nos lotes de vacas secas e em pré-parto imediato. Neste último, a limpeza e quantidade de palha recebem atenção especial, pois é onde ocorrerão os partos.

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Fotp: As vacas secas e no pré-parto são mantidas em baias com cama sobreposta. A atenção no periparto é redobrada.

Em seguida, ele faz uma verificação do sistema de limpeza, desde os raspadores até a lagoa de armazenamento de dejetos. A limpeza dos corredores de circulação dos animais é feita por raspadores mecânicos automatizados (scrapers), sendo o corredor limpo, pelo menos, 6 vezes por dia. O esterco é conduzido, por bombas, até a lagoa de armazenagem, para posterior distribuição nas áreas de plantio. A legislação local obriga que a fazenda tenha capacidade para estocar o esterco produzido, pois a distribuição nas áreas de agricultura só pode ser feita em determinadas épocas do ano, seguindo a legislação local. Entre os cuidados com a cama sobreposta e com o sistema de limpeza e bombeamento de dejetos, são gastos outros 30 minutos. 

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Além da limpeza dos corredores de circulação dos animais, o raspador automático conduz os dejetos até um reservatório, de onde é bombeado para as lagoas de contenção (imagem abaixo).

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Ainda sob a responsabilidade do Tom, está a alimentação e cuidados com os animais de recria, que são mantidos em sistema de confinamento em piquetes. Eles são alimentados uma vez por dia com uma dieta total, distribuída pelo vagão misturador. Durante o processo de alimentação, os animais são observados e, caso necessário, são tomadas providências quanto à alguma eventualidade. As atividades externas ao galpão consomem aproximadamente uma hora. Neste momento, encerram-se as tarefas da manhã sob responsabilidade do Tom.

As tarefas a serem realizadas no período da tarde são aquelas rotinas com periodicidade regular, mas não diária, tais como:  acompanhamento reprodutivo pelo veterinário e realização de protocolos de IATF, manejos sanitários programados, reorganização de lotes (de vacas e de animais em recria), manutenção e limpeza pesada de instalações e equipamentos, acompanhamento de prestadores de serviço externos em suas atividades, dentre outras. O estagiário tem papel importante nestes processos, assim como na substituição eventual de um dos proprietários. Muitas atividades não diárias são programadas para uma das três tardes por semana em que ele está na fazenda. Eventualidades são encaradas como uma parte inevitável do processo, mas tudo que pode ser feito de forma preventiva é feito sem desvios ou desculpas.

Ao final da tarde, algumas rotinas diárias realizadas pela manhã se repetem. Jake retira novamente os relatórios específicos de rotina diária pré-determinados no sistema, exatamente como feito pela manhã. Em seguida, alimenta as bezerras alojadas nas gaiolas dentro do galpão, além de verificar se apresentam algum problema e realizar as intervenções, caso necessárias. Já Tom alimenta as vacas e bezerras nas casinhas externas ao galpão, da mesma forma feita pela manhã. Neste momento, é trocada a solução do pedilúvio.

Periodicamente, um prestador de serviços externo faz uma toalete preventiva de cascos em todos os animais, e trata aqueles com problemas clínicos (cada vaca é casqueada pelo menos duas vezes por lactação). O uso do pedilúvio é diário, e o controle do processo e concentração dos produtos utilizados é bastante rígido. Mas, o principal fator que possibilita uma baixa incidência de problemas de casco é o conforto das camas e limpeza dos corredores de manejo. Isso faz com que as vacas fiquem grande parte do tempo deitadas, o que imprime uma menor pressão sobre seus cascos. E, quando estão de pé se alimentando ou se locomovendo, os cascos estão apoiados em local limpo e com pouca umidade. Assim, o desafio é aceitável, e os problemas diminuídos.

A contagem de células somáticas no leite é baixa, e a incidência de mastite clínica é muito reduzida. A qualidade microbiológica do leite atende aos mais exigentes padrões do mercado norte americano. Esses resultados são alcançados por meio de uma combinação de fatores. A qualidade das camas e a limpeza dos corredores de circulação dos animais são pontos críticos para a contaminação dos tetos, e toda a atenção é dada aos mesmos. Além disso, é seguido um protocolo de secagem com foco na eliminação de possíveis agentes causadores de mastite. O processo de limpeza e aplicação do pré-dipping é feito, de maneira muito eficiente, pelo, utilizando água na temperatura correta e produtos adequados para limpeza e desinfecção dos tetos. Por meio do cruzamento de dados obtidos individualmente de cada teto, durante todas as ordenhas, tais como volume de leite produzido, condutividade elétrica do leite e presença de traços de sangue no leite, é calculado um “índice de detecção de mastite”, em tempo real, ainda durante a ordenha. Assim, é possível determinar, com um grau de precisão de 95%, cada teto que apresenta mastite. A partir disso, de acordo com protocolos previamente determinados no sistema de controle do robô, é emitido um alerta, e o animal é ou não separado na saída da ordenha e o leite desviado para um reservatório de leite de descarte. Assim, o leite contaminado não se mistura ao leite do tanque. Dependendo da gravidade do caso, o animal pode ser tratado imediatamente ou durante a rotina diária. Após o término da ordenha de um animal detectado com mastite, todo o sistema passa por uma limpeza e desinfecção com produtos específicos e água quente (normalmente, ao final da ordenha de cada animal, o sistema passa por uma limpeza de rotina um pouco menos radical).

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Foto: Durante cada ordenha é medida a produção, a condutividade elétrica e verificada a presença de traços de sangue no leite. Essas medidas são feitas individualmente em cada teto.

A escolha do sêmen a ser utilizado é feita visando a qualidade de úbere, longevidade das vacas e capacidade produtiva de sólidos totais, nesta ordem de importância.  A qualidade de úbere como um todo, mais especificamente o posicionamento dos tetos, é muito importante para aumentar a eficiência do processo de limpeza e colocação dos copos de ordenha pelo robô. Um aspecto que nos chamou muito a atenção foi a preocupação constante com a longevidade das vacas, por parte dos produtores. Segundo Jake “depois que realmente demos importância ao conforto dos animais, houve um aumento do número médio de lactações. Conseguimos atualmente 2,9 lactações por vaca e queremos aumentar essa média”. Um bom manejo de vacas secas, para evitar problemas metabólicos, a diminuição dos problemas de casco, por meio do conforto e limpeza nas instalações, e uma ordenha eficiente para se evitar mastites, são os principais fatores que, aliados a uma boa genética, permitem que as vacas permaneçam produtivas por mais tempo, e, consequentemente, que sejam mais lucrativas. A produção total de sólidos completa os critérios de escolha do sêmen, por ser o principal fator na determinação do preço pago pelo leite.

Ações futuras

O projeto da JTP Farm foi pensado para possibilitar expansões. A fazenda tem área para produção de alimento que permite a instalação de até 11 robôs. Em relação ao número de animais adultos, a recria está muito "inchada", o que permite uma expansão, no curto prazo, sem a aquisição de animais. Mas, Jake dá um conselho: “não pense exagerado, quanto mais vacas você tem, mais difícil é o trabalho”.

Pensando em melhorias do sistema atual, sem o aumento de mão de obra, poderiam ser instaladas placas evaporativas em substituição das cortinas de controle de fluxo de ar no sistema de ventilação cruzada. Isso melhoraria o conforto térmico durante os meses de verão.

Outra medida interessante seria a implementação de um sistema de criação de bezerras, durante o período de aleitamento, em galpão com cama de palha, equipado com alimentador automático, para diminuir a mão de obra e melhorar o bem estar das mesmas neste período crítico da vida. É claro que este sistema de criação permitiria também um melhor controle do ambiente e mensuração do consumo e desenvolvimento dos animais. 

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Foto: Sistema de criação de bezerras em baias coletivas com cama de palha sobreposta e alimentador automático, da Nasonville Dairy Heimans Farm.

Mas, para se considerar tanto a expansão quanto as melhorias no sistema existente, análises de viabilidade técnica e econômica devem ser feitas de maneira criteriosa. Afinal, em time que está ganhando, não se mexe! Pelo menos sem uma ótima razão.

Agradecemos toda a família Peissig pela forma cordial e sincera que fomos recebidos na JTP Farm, em especial ao Jake, que não poupou esforços para explicar cada detalhe físico e operacional do sistema, além de mostrar a realidade comprovada em números e análises isentas da situação. Esperamos ter a oportunidade de visita-los novamente, ou quem sabe de enviar estagiários para vivenciarem a fundo esta extraordinária experiência. 

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Foto: Da esquerda para a direita temos: Tom Peissig, Tod, Luiz, Artur, David, Rodney, Oiti e Jake Peissig.

Por Oiti de Paula

Professor do IFMG

 

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