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Comportamento

Laminite: Uma doença do período de transição

Laminite: Uma doença do período de transição

Texto: Marina Von Keyserlingk

As laminites são o principal desafio relacionado ao bem-estar, enfrentado pela pecuária leiteira na América do Norte. As laminites são dolorosas, e os quadros podem durar de semanas a meses. Casos graves, que não apresentam melhora aos tratamentos, podem resultar no descarte do animal do rebanho. Vacas com dor apresentam menos sinais de estro, como montar e aceitar a monta, uma vez que esses comportamentos aumentam as sensações dolorosas.

Um grande volume de pesquisas tem mostrado que problemas relacionados ao conforto das vacas podem aumentar os riscos de laminite. Em particular, o aumento do tempo gasto de pé, fora das camas, no concreto molhado e no esterco escorregadio, estão associados com altas taxas de ocorrência de laminites.

Há também uma crescente evidência de que a laminite pode ser desencadeada durante o período de transição (3 semanas antes e 3 semanas após o parto). As mudanças fisiológicas e de comportamento que ocorrem durante esse período podem provocar lesões no cório (tecido que produz solas saudáveis para os cascos). Essa lesão não é imediatamente aparente, mas resulta em deficiências no crescimento dos cascos. O ciclo natural de crescimento e revestimento dos cascos faz com que as áreas lesionadas levem cerca de 2-3 meses para se tornarem aparentes na superfície da sola, na forma de hemorragias ou úlceras. Isso significa que os casos de laminite que aparecem durante o meio da lactação podem ter sido desencadeados por mudanças que ocorreram durante o período de transição, meses antes.

Dois estudos recentes, conduzidos no Dairy Education and Research Centre, da University of British Columbia, tiveram como objetivo investigar comportamentos, durante o período de transição, que tivessem associação com laminites e outras lesões de casco em vacas em lactação. Todas as vacas dos estudos foram abrigadas em free stalls. 

Em um dos estudos, nós mensuramos o comportamento em estação (de pé) de vacas Holandesas, por duas semanas antes do parto. Foram utilizadas câmeras de vídeo para avaliar onde as vacas permaneciam de pé (cochos, corredor de alimentação, corredores entre as camas ou nas camas). Quando as vacas estavam nas camas, era avaliado se as mesmas estavam com os dois membros dianteiros sobre a cama, comportamento chamado de empoleiramento (Figura 1) ou com os quatro membros sobre a cama. Também foram feitas avaliações da saúde dos cascos por três meses após o parto. 

empoleiramento.jpg (1019 KB)

Todas as vacas que tiveram laminite ou outra doença clínica antes do parto foram excluídas do estudo. Vacas que apresentaram apenas lesões moderadas ao final do estudo também foram excluídas, restando 13 animais sem lesões visíveis e 13 com lesões severas (5 úlceras de sola e 8 hemorragias severas de sola). Foram comparados os comportamentos desses dois grupos durante o período de transição.

As vacas que gastaram duas horas do dia de pé e ociosas, durante as duas semanas anteriores ao parto, apresentaram maior risco, tanto para úlcera, quanto para hemorragia de sola, durante a lactação. O mais interessante é que a maior parte do tempo ocioso foi gasto com os dois membros dianteiros sobre a cama (Figura 2).

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No segundo experimento, nós mensuramos novamente o comportamento em estação, durante o período de transição, mas dessa vez com foco nas primeiras semanas imediatamente após o parto. Quarenta e oito vacas Holandesas foram alojadas em grupos de 12 animais, em quatro galpões idênticos, com camas de areia e piso de concreto. Foram avaliados os comportamentos de descanso, alimentação e estação, utilizando câmeras de vídeo, durante três semanas após o parto. A saúde dos cascos foi monitorada por três meses após o parto.

Nesse estudo, nós também observamos que as vacas que gastam mais tempo empoleiradas, com os dois membros anteriores sobre a cama, durante as três primeiras semanas após o parto, apresentaram maior risco de desenvolvimento de hemorragias de sola. Os tempos médios e máximos gastos com o empoleiramento foram associados com quadros mais sérios e com maior incidência de hemorragias de sola. Já os tempos gastos com alimentação ou descanso não foram associados com alterações na saúde dos cascos.

Ambos os estudos mostraram os efeitos negativos do empoleiramento nas camas, durante o período de transição. Longos períodos de empoleiramento estão associados com problemas no ambiente da vaca. Por exemplo, vacas alojadas em free stall com neck rails restritivos ao movimento, gastam mais tempo empoleiradas, porque a posição do nack rail impede que se posicionem confortavelmente, com os quatro membros nas camas.

Pequenas mudanças no posicionamento do nack rail, tornando-o menos restritivo, podem reduzir o comportamento de empoleiramento e, assim, os riscos de laminites. Entretanto, essas mudanças podem ocasionar um custo higiênico (porque as vacas que permanecem de pé, com os quatro membros na cama, têm mais chance de defecar e urinar na mesma), demandando maiores esforços na manutenção das mesmas.

Será que esse esforço extra vale a pena? Mudanças no layout das camas e no manejo, que possam minimizar o empoleiramento durante o período de transição irão ajudar na redução dos quadros de laminite. Outra opção, pode ser a criação de baias para vacas com laminite, as quais devem possuir neck rails menos restritivos à movimentação. Isso permitirá que as vacas com laminite permaneçam de pé, com os quatro membros sobre a cama, o que dará a elas uma melhor chance de recuperação. 

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