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Comportamento

Modelos Mentais

Os Modelos Mentais explicam porque as pessoas resistem às mudanças. A mudança de comportamento é uma premissa essencial para que a mudança organizacional ocorra efetivamente e com êxito.

Modelos Mentais

Edição #94 - Janeiro/2017

MODELOS MENTAIS

Os Modelos Mentais explicam porque as pessoas resistem às mudanças. A mudança de comportamento é uma premissa essencial para que a mudança organizacional ocorra efetivamente e com êxito.

Há mais de 25 anos tenho trabalhado em fazendas de leite, tanto pequenas quanto nas maiores do Brasil. Grande parte deste tempo, venho focando na gestão da qualidade do leite. Mas, o que é gestão da qualidade? É estudar, organizar, entender os resultados das análises microbiológicas e físico-químicas do leite, no ambiente em que elas ocorrem, e identificar as principais causas das análises estarem fora do objetivo esperado.

Durante este tempo, assisti a grandes transformações pelas quais passou a cadeia do leite, tais como:

  • fim do tabelamento do leite pelo governo,
  • implantação da coleta a granel, leite resfriado na fazenda,
  • melhorias dos indicadores zootécnicos e financeiros,
  • início das grandes fazendas e
  • o pagamento do leite baseado em uma escala de bonificação de Contagem de Células Somáticas (CCS), Contagem Bacteriana Total (CBT), Gordura e Proteína Total.

Nesse período, o ambiente de trabalho em algumas fazendas mudou completamente, e as mesmas passaram a atingir índices zootécnicos e financeiros iguais aos dos países desenvolvidos. Porém, outras propriedades não conseguiram crescer ou melhorar estes indicadores, nem mesmo a qualidade do leite.

Diante desta triste realidade, de baixa remuneração, baixo faturamento anual, excesso de perdas, principalmente devidas à mastite clínica e altas CCS, é que comecei a me perguntar: Por que algumas fazendas evoluíram e cresceram, e outras caminham para o encerramento das atividades?

Em busca desta resposta, fiz vários cursos, conversei com muitas lideranças, produtores, veterinários, agrônomos, administradores, professores, pesquisadores, e as opiniões foram variadas. A resposta mais frequente e triste foi: “falta de incentivo do governo!”.

Insatisfeito com as respostas e vendo a realidade de algumas fazendas se agravando a cada dia, continuei a procurar uma saída, uma justificativa, uma luz ou uma explicação.

E parece que encontrei!

No segundo semestre de 2012, estava estudando um material sobre cultura organizacional das empresas, e percebi que as diferenças entre elas eram as pessoas, e não as máquinas, os produtos ou o faturamento, e muito menos o lucro.

Foi como um raio na minha cabeça e no meu coração descobrir que as pessoas fazem a diferença nas empresas ou fazendas de leite!

Parece tão obvio, né?

Daí em diante, intensifiquei as minhas observações e comparações entre empresas, fazendas de leite, de corte, avicultura e a suinocultura.

De uma coisa eu tenho certeza: as pessoas não acordam pensando em fazer algo de errado ou buscando resultados ruins em suas fazendas de leite. Existe uma força maior, atuando para que os resultados não aconteçam.

Esta força maior se chama MODELO MENTAL!

O que é o modelo mental? É o conjunto das crenças, imagens, valores, referências e pressupostos que os indivíduos têm sobre si mesmos, sobre o seu mundo, sua organização ou atividade, e como eles se encaixam nos mesmos, como mostrado na Figura 1. Isso explica porque as pessoas resistem às mudanças. A mudança de comportamento é uma premissa essencial para que a mudança organizacional ocorra efetivamente e com êxito.

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Figura 1- Definição de Modelo Mental 

As pessoas constroem as estruturas à sua volta, de acordo com o que pensam e sentem. As atitudes (sentimentos) e os comportamentos (ações) são decorrentes do modelo mental. A experiência individual influencia os modelos mentais e, por isso, eles podem ser mudados por meio de novas realidades. Portanto, são mutáveis, e formados, em grande parte, pela cultura na qual o indivíduo está inserido. Geralmente, pessoas de uma mesma comunidade compartilham modelos mentais semelhantes.

Então, se as lideranças, produtores, veterinários, agrônomos, administradores, professores e pesquisadores continuarem com os seus modelos, se podemos chamar de antigos, e o ambiente é completamente diferente do passado, o resultado não poderia ser diferente. A fazenda de leite caminhará na contra mão do crescimento, com menor retorno sobre o capital e um empobrecimento constante.

Assim, quando entramos em uma fazenda de leite ou qualquer outra organização é fundamental entender os modelos mentais das pessoas, pois eles definirão o sucesso ou o fracasso.

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Como exemplo prático, quando sou chamado para gerenciar a qualidade do leite de uma fazenda, antes de trabalhar com as vacas, o equipamento de ordenha e os medicamentos, busco conhecer as pessoas e os seus modelos mentais. Os resultados da CCS, da CBT, a prevalência (n° de vacas com CCS > 200 mil ) e a taxa de mastite clínica, dentre outros, serão definidos pelos modelos mentais das pessoas que compõem a equipe, começando na diretoria, gerência, supervisores, ordenhadores e demais colaboradores dos outros setores da fazenda.

Nos últimos 18 meses, tenho entrevistados ordenhadores, perguntado a eles o que é mastite e o que é CCS. Já consegui falar com 92 pessoas, e os resultados são assustadores.

Vinte e cinco por cento dos ordenhadores deram a resposta correta – mastite é a inflamação da glândula mamária causada pela presença de bactérias. Os outros 75% correlacionam a mastite com resto de leite que fica no úbere durante a ordenha.

Noventa por cento não sabem o que é CCS. Apenas 10%, definiram CCS como sendo células de defesa presentes no leite.

E, para piorar o cenário, muitos dos produtores concordam com os ordenhadores que mastite é “resto de leite”!

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Foto: 90% dos ordenhadores não sabem o que é CCS.

Assim, definimos o que é o modelo mental de uma fazenda que tem problemas de altas contagens de células somáticas e muitos casos de mastite clínica. As pessoas não sabem o que é mastite e CCS, não correlacionam a causa com o efeito e, pior ainda, insistem nas suas referências, nos seus conhecimentos, nas suas crenças e nas suas pressuposições – que nada mais são que o modelo mental.

Os modelos mentais podem ser ampliados e acrescidos de novas referências e novas crenças. Por isso, é importante estimular estas ampliações dos modelos mentais para gerar novos sentimentos (atitudes) e novos comportamentos (ações) nas pessoas envolvidas com a produção de leite.

Tenho vários exemplos práticos de fazendas com 2.500.000 de CCS e taxa de mastite clínica maior que 20%, que com um ano de gerenciamento da qualidade do leite conseguiram mudar suas realidades. Atualmente, alcançaram CCS média das vacas menor que 200.000 e taxa de mastite clínica menor que 4%. Além disso, aumentaram o faturamento, devido à maior produção de leite das vacas e menor descarte de leite, e passaram a viver com um novo modelo mental, de que é possível controlar a mastite e a CCS de forma tranquila e profissional.

Por: Cassio Roberto Melo Camargos

MÉDICO VETERINÁRIO

 

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