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Pastagens

Produção Intensiva de Leite em Pasto - Parte I - Seca

Produção Intensiva de Leite em Pasto - Parte I - Seca

Texto: Marco A. Factori

Em sistemas intensivos de produção de leite a pasto, a suplementação volumosa é essencial no período da seca, possibilitando aos animais a expressão de seu potencial produtivo e favorecendo o seu bem-estar. A escolha do tipo de suplementação dependerá de uma análise minuciosa dos custos de produção e da resposta produtiva esperada dos animais.

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Introdução

Quando se fala de produção de leite em pasto, na qual a forragem é diretamente colhida pelas vacas, os custos de produção são menores, quando comparados com outras formas de alimentação. A oferta de alimento no momento certo (ponto ótimo de manejo da forragem) e em quantidade suficiente, resulta em uma dieta volumosa adequada para que as vacas possam produzir ao redor de 12 litros de leite por dia, desde que tenham potencial genético para tanto.

Dessa forma, um sistema com pastagem bem estabelecida e com baixo custo de implantação, em comparação aos demais sistemas de produção de leite, confere segurança e versatilidade frente aos altos preços dos insumos e o baixo preço do leite. Considerando como base o pasto (volumoso de verão), é de fundamental importância utilizar sistemas mais produtivos (lotação/ha), semeando forrageiras de alto potencial de produção. Assim, uma das opções é a adoção do pastejo com lotação rotacionada, que nada mais é do que uma área subdividida em piquetes (por meio de cerca eletrificada), tendo como finalidade fornecer ao animal forragem de alta qualidade, no momento certo. Após o pastejo, nos meses de verão, este capim deverá ser adubado.

No inverno, o fato de que os animais sairiam do pasto e passariam a comer no cocho, poderia ser um agravante no aumento dos custos de produção. Porém, a cana é uma opção de volumoso, sendo o mais barato depois do pasto (Tabela 1) e, embora proporcione produções relativamente baixas de leite por animal por dia, é atrativa por ser barata e de fácil manejo, principalmente para pequenos produtores que não possuem maquinários (trator, colhedora de forragem) para fazer silagem.

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Considerando a estacionalidade da produção de forragem, o déficit de alimento para os animais na época seca (Figura 1), embora seja encarado como problema por muitos produtores, para outros é visto também como um momento de muita alegria, em função do aumento do preço do leite. É evidente que, com condições climáticas desfavoráveis (luz, temperatura e água), haverá comprometimento da produção de forragem em quantidade e qualidade. Com isso, devido à redução da oferta de alimento aos animais, há diminuição da produção de leite, que resultará na redução da oferta do produto no mercado com consequente aumento de seu respectivo preço (oferta e procura). Assim, para o produtor que quer manter produtividade, suplementar o animal no cocho é fundamental.

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Estratégias para suplementação volumosa

Como já é sabido que há falta de pasto na seca, a única saída encontrada é reservar forragem de uma época de alta produção para outra de escassez. Agindo desta forma, haverá volumoso para ser fornecido aos animais, e a produção leiteira será menos afetada nesta estação. Assim, com a alimentação adequada, a intensificação na produção pode ocorrer mesmo em tempos de escassez de pastagens, quando os preços do leite são mais atrativos.

 

1) Cana com uréia

Dentre as alternativas para suplementação no inverno, com custos semelhantes aos do verão, está a utilização de cana com uréia. Como citado anteriormente, a cana é o volumoso mais barato e, quando sua utilização é bem planejada – coincidindo o ponto ideal de corte com a seca – é facilmente usada na época de escassez das demais forragens.

Atualmente, o grande interesse no uso da cana-de-açúcar, deve-se principalmente à sua elevada produção, fácil implantação e manejo, baixo custo de produção e boa aceitação pelos animais. Entretanto, se usada pura e como única fonte de volumoso da dieta, o desempenho produtivo dos animais normalmente é muito baixo, em virtude de seu baixo valor protéico. Como alternativa para essa limitação, é necessário que a cana de açúcar seja suplementada com uma fonte protéica, destacando-se a mistura de uréia+sulfato de amônio, resultando em uma dieta mais equilibrada para fornecimento aos animais. Somado à cana, é necessário o fornecimento de concentrado quando se busca uma produção animal ao redor de 25 a 30 litros de leite diários. Acima disto, com certeza, deve-se optar por outro volumoso de melhor qualidade.

Para a utilização da mistura cana e uréia, deve-se cortar a forragem rente ao solo, eliminando-se as folhas secas. Em seguida, picar integralmente o caule e as folhas verdes, e adicionar ao material triturado uma mistura diluída de uréia+sulfato de amônio (Figura 2). Para os animais em fase de adaptação (primeira semana), usar 0,5kg de uréia + sulfato de amônio (9 partes de uréia e 1 parte de sulfato) diluídos em 4 litros de água, regados uniformemente sobre 100 kg do material triturado. Após o período de adaptação, ampliar a quantidade para 1 kg de uréia mais sulfato de amônio diluídos em 4 litros de água, regados uniformemente sobre 100 kg do material triturado.

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2) Sobressemeadura deaveia e azevém

Outra forma de contornar o período seco, é a sobressemeadura de aveia e azevém sobre o capim. Este procedimento é bastante utilizado nos sistemas produtivos com irrigação, pois os baixos custos da semente da aveia e do processo de sobressemeadura fazem com o que esta estratégia seja uma alternativa viável e acessível aos produtores. A irrigação é essencial para o processo, pois auxilia na emergência das sementes e favorece rebrotes eficientes nos sistema de rotação.

A associação do capim tropical com a aveia e o azevém é interessante, pois, enquanto aquele é adaptado ao clima mais úmido, estes crescem melhor no temperado. Desta forma, no inverno, quando o capim tem seu desenvolvimento reduzido, é o momento ideal para o desenvolvimento da aveia e do azevém por serem adaptados ao clima frio e às baixas luminosidades, crescendo muito bem entre o capim.

O manejo adequado para ressemeadura é o prévio rebaixamento do capim por meio de roçada, seguido da irrigação da área. Depois disso, as sementes de aveia e azevém deverão ser distribuídas na área, com uma nova irrigação posterior. Com o pisoteio dos próprios animais, as sementes serão “enterradas” no solo.

Dentro do próprio manejo do capim, em função da rotação do mesmo, a aveia emerge (Figura 3) e cresce entremeada (Figura 4), fazendo parte do módulo de rotação. Assim, em circunstâncias de baixo crescimento do capim tropical (Mombaça, Tanzânia, etc.) ela sobressai e contribui para uma lotação de até 6 – 7 unidades animais (bovino adulto de 450 kg) por hectare, possibilitando uma dieta de alto valor protéico (18 a 22%) que propicia uma maior produção de leite.

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Assim, além do fato do animal permanecer no pasto, há redução de custos, com a menor necessidade de uso de concentrado, pelo fornecimento de um capim de melhor qualidade. Para tanto, deve-se ressaltar que a eficiência deste manejo depende do uso da irrigação, como frisado anteriormente.

Aproveitando o momento, vale ressaltar o quanto a irrigação é uma ferramenta útil na produção de leite. No entanto, dizemos que é mais útil no verão. Pelo fato de não chover no inverno, a irrigação é erroneamente utilizada como ferramenta para aumentar a produção. Como dito anteriormente, em função das diversas condições climáticas, o crescimento do capim torna-se reduzido nesta estação e somente a água não é suficiente para promover seu desenvolvimento. Então, utilizar-se da irrigação no inverno não é a melhor estratégia, exceto no período que chamamos de entressafra, quando a luminosidade e temperatura ainda são favoráveis (Figura 5). Por outro lado, como mencionado anteriormente, a irrigação é fundamental quando pensamos em forrageiras de clima temperado, adaptadas ao clima frio, tanto em cultivo solteiro ou em sobressemeadura.

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3) Feno e silagem

Outros volumosos utilizados para suplementação na seca são o feno e a silagem que, em comparação aos anteriormente citados, são de maior custo de produção e, por isso, sua utilização deve ser bem analisada. Quando forem a opção escolhida, a sua utilização deve ser direcionada aos animais que produzem mais que 25 a 30 litros de leite diários, pois não é viável fornecer feno e silagem a vacas de baixa produção.

A produtividade de uma lavoura de milho é resultado do potencial genético das sementes e das condições de plantio (solo, adubação e clima), bem como do manejo da cultura. A cultivar é responsável, em média, por 50% desse rendimento final, portanto, na escolha do híbrido de milho para produção de silagem, deve-se buscar alta porcentagem de grãos, elevado valor nutritivo da porção haste-folha e a boa digestibilidade do material. Tudo isto despende custos que acarretam na ineficiência do seu uso para animais de baixa produção.

 

4) Subprodutos

O uso de subprodutos da agroindústria, como parte da suplementação volumosa no período seco, tem se tornado prática comum, com resultados positivos para o sistema. Preços atrativos, que reduzem os custos da dieta, são uma das principais vantagens da utilização. No entanto, cabe ressaltar que a variabilidade da qualidade dos subprodutos disponíveis no mercado deve ser considerada no momento de sua utilização, pois, em alguns casos, a falta de padronização pode ser um problema. Outro aspecto importante é a disponibilidade inconstante ao longo do ano, prejudicando a compra destes suplementos e sua utilização diária. No entanto, uma compra estratégica e antecipada poderá baratear ainda mais os custos e “salvar” o sistema em determinados períodos. É como dizem, “uma boa compra vale mais que uma boa venda”.

 

Conclusões

No período da seca, os animais devem receber suplementação volumosa que possibilite a expressão de seu potencial produtivo e o seu bem-estar. Entretanto, conforme dito anteriormente, esta suplementação deve ser planejada de acordo com o potencial produtivo do animais para que o manejo nutricional seja viável financeiramente, gerando o retorno esperado.

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