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Qual o risco?

Medidas de biosseguridade para a prevenção da entrada e disseminação de doenças infecciosas em fazendas leiteiras.

Qual o risco?

Edição #96 - Março/2017

QUAL O RISCO?

Medidas de biosseguridade para a prevenção da entrada e disseminação de doenças infecciosas em fazendas leiteiras.

A biosseguridade eficaz é estrutural e operacional. A abordagem estrutural é incorporada na construção física e manutenção das instalações. Alguns layouts e projetos de construção tornam a aplicação de protocolos de biosseguridade mais fácil do que outros. Já a biosseguridade operacional, envolve práticas de gestão, concebidas para impedir a introdução e propagação de agentes patogênicos dentro ou fora de instalações de produção animal. As indústrias de suínos e aves tendem a concentrar sua biosseguridade estrutural e operacional na exclusão de doenças. Ambos os setores nos Estados Unidos enfrentaram recentemente desafios infecciosos sem precedentes, resultando em alta mortalidade de suínos (vírus da diarreia epidêmica suína ou PEDV) e aves (gripe aviária altamente patogênica ou HPAI).

Felizmente, a pecuária leiteira ainda não enfrentou desafios de doenças semelhantes. O sistema de produção de gado de leite é, fundamentalmente, diferente na criação (pastagens ou instalações abertas), ciclos de produção (muito mais longo) e necessidades nutricionais (grande utilização de forragens). Embora possamos aprender muito com as indústrias de aves e suínos, a abordagem da biosseguridade, os riscos de exposição e as consequências da entrada de doenças são diferentes para a pecuária leiteira.

Uma vez que cada fazenda é única em termos estruturais e operacionais, cada local deve ter seu próprio plano de biosseguridade. Primeiramente, deve ser definindo o escopo da operação para a propriedade, descrevendo claramente as categorias de animais existentes e as instalações (galpões, pastagens e piquetes). Além disso, outras atividades realizadas na fazenda, deverão ser contabilizadas no plano de biosseguridade (por exemplo, distribuição ou venda de leite ou produtos lácteos, ovos, frutas, vegetais, ração, minerais, fertilizantes, adubo, sementes ou equipamentos; visitas, oficinas, etc). Cada setor deve ter um plano de biosseguridade separado.

Determinar os detalhes a incluir em um plano de biosseguridade depende dos perigos identificados para cada setor. Não existe um plano único que seja eficaz para todas as áreas. O uso de uma abordagem de análise de risco pode ajudar a garantir o melhor uso dos recursos - financeiros e humanos - com o objetivo final de prevenir a entrada ou disseminação de doenças no rebanho, com base na tolerância, de cada propriedade, ao risco.

A análise de risco inclui quatro áreas: percepção de risco, avaliação de risco (identificação de perigo), gestão de risco e comunicação de risco. O Centro de Segurança Alimentar e Saúde Pública da Iowa State University, nos EUA, desenvolveu um programa on-line fácil de usar, chamado Biological Risk Management, para realizar análises de risco na pecuária leiteira. Ele está disponível em www.preventingdisease.org.

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Foto: Deve-se designar pontos de acesso de veículos e equipamentos, para minimizar o contato destes como os animais

PERCEPÇÃO DE RISCO

O primeiro passo no programa de Gestão de Risco Biológico é identificar um indivíduo de risco, que é, muitas vezes, percebido no “dia a dia” na fazenda. O risco percebido por um produtor de leite, certo ou errado, afetará como, ou se, a mudança será realizada.

Protocolos de gestão, como a biosseguridade operacional, podem ser adaptados para atender a essas preocupações. Risco significa coisas diferentes para pessoas diferentes, e riscos aceitáveis também variam entre indivíduos. Por exemplo, dois produtores de leite podem perceber a doença de Johne como um risco para o seu rebanho. Um deles pode implantar numerosos mecanismos de controle no local para evitar a entrada ou disseminação da doença. Já o outro, aceita o risco e, ao invés de preveni-lo, tolera perdas de produção. Ou seja, os produtores podem ter a mesma percepção de risco, mas ações diferentes. O programa de Gerenciamento de Risco Biológico inclui um “questionário de pré- avaliação”, que consiste de 21 perguntas, para coletar informações sobre metas para a produção de leite, tipos de instalação, informações sobre a produção, vacinações, doenças ou questões administrativas. As respostas fornecem uma percepção do risco do produtor e um nível de tolerância ao mesmo que, em seguida, orienta as próximas fases da análise - avaliação de risco - e, no final, influencia a abordagem de gestão de risco.

AVALIAÇÃO DE RISCO

A indústria de alimentos utilizou a abordagem HACCP - Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle - por décadas, para manter os produtos seguros para o consumo humano. A indústria pecuária pode aplicar muitos desses mesmos princípios para manter os animais seguros contra a exposição a doenças. Uma vez identificados os riscos, como a potencial exposição a uma doença, os pontos de controle críticos (plano de biossegurança) podem ser colocados em prática.

Agentes contaminantes podem entrar em uma fazenda por diversas maneiras, mais comumente por meio da introdução de novos animais. A entrada de pessoas, incluindo funcionários, veterinários, pessoal de serviço e visitantes também pode ser um fator de risco para a transmissão de doenças, se os procedimentos de biosseguridade não forem seguidos. Veículos, equipamentos, cama, ração e água também têm o potencial de introduzir agentes infecciosos no rebanho. Outros importantes agentes transmissores de doenças são os animais selvagens, roedores e insetos, porém o contato dos mesmos com as vacas leiteiras é mais difícil de ser evitado.

Cada um destes possíveis meios de entrada de doenças são avaliações de risco separadas, dentro do programa de Gestão de Risco Biológico.

Subjacente a cada uma destas avaliações, o foco está na via de transmissão ao animal ou humano (no caso de doenças zoonóticas). Independente do agente patogênico (bactéria, vírus, protozoários, fungos) e das infecções que estes produzem, todos têm algo em comum: o animal ou ser humano deve ser exposto a eles para desenvolver a doença. O programa de Gerenciamento de Risco Biológico, desenvolvido pelo Centro de Segurança Alimentar e Saúde Pública da Iowa State University, inclui seis rotas comuns de transmissão: aerossol, contato direto, fômites, oral, vetorial e zoonótica. A prevenção, ou a gestão de riscos, baseia-se nestes perigos, uma vez identificados.

Quando os produtores compreendem que certos agentes patogênicos podem ser adquiridos por via oral e outros, por aerossóis, eles passam a ter um maior controle sobre a doença. Por exemplo, a salmonelose e os coliformes podem causar doenças se uma vaca ingere algo contaminado com esses organismos (exposição oral). Se um produtor passar a usar baldes separados para alimentação e manuseio de dejetos, ele irá minimizar a contaminação fecal dos alimentos. Os produtores não precisam, necessariamente, saber de detalhes sobre a etiologia de um agente patológico, apenas como fazer a prevenção. Um dos principais benefícios desta abordagem é que ela pode ajudar a prevenir a exposição a TODOS os agentes patogênicos disseminados por essa via de transmissão.

As avaliações de risco centradas na minimização da disseminação de doenças dentro de uma operação, incluem a qualidade dos alimentos e da água, a qualidade do leite e controle de mastite, o parto e a colostragem, a reprodução e a síndrome respiratória. Cada uma das questões de avaliação do Gerenciamento de Risco Biológico aumenta o conhecimento das práticas de prevenção. A maioria dos produtores tem os recursos, tecnologia e equipamentos para implementar a mudança, se assim o desejarem. No entanto, eles podem não saber quais são os riscos e como superá-los. Portanto, os questionários de avaliação de Gestão de Risco Biológico são escritos de tal forma que, se o produtor tinha essa prática de prevenção no local, a resposta é sempre “sim”. Avaliar as práticas de gestão de risco, desta forma, permite uma maior conscientização sobre aquelas que impedem ou controlam a doença. O processo de avaliação se torna um “momento de aprendizado”. Uma vez concluída a avaliação, pode-se gerar uma série de relatórios que orientam a gestão de riscos e a criação de um plano de biosseguridade.

A contaminação ambiental não deve ser ignorada, como parte de um programa de controle de doenças. Vacas leiteiras são muitas vezes expostas a agentes patogênicos no ambiente onde são alojadas e ordenhadas, pois muitos deles podem sobreviver durante longos períodos de tempo no solo, na cama ou em outro tipo de material orgânico. 

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Foto: Para serem eficazes, os planos de biosseguridade devem basear-se em riscos potenciais e atender às necessidades de cada setor, individualmente.

GERENCIAMENTO DE RISCOS

Para serem eficazes, os planos de biosseguridade devem basear-se em riscos potenciais e atender às necessidades de cada setor, individualmente. A decisão de implementar certas práticas, muitas vezes, depende da probabilidade de introdução de uma determinada doença, da suscetibilidade à mesma (se vacinas eficazes estão disponíveis) e da gravidade da doença (perdas de produção, morte). Para serem implementados com sucesso, os planos de biossegurança devem ser desenvolvidos com o apoio dos responsáveis pela sua execução. Isto poderia ser feito por meio da identificação de um indivíduo que está familiarizado com a atual biosseguridade estrutural e operacional de todos os locais onde os animais são alojados, bem como do estado de saúde dos mesmos. Sugere-se que este “Gerente de Biossegurança” possa avaliar os resultados do levantamento de risco e, então, desenvolver e implementar um plano de biosseguridade destinado a proteger a operação dos perigos identificados. O gerente de biossegurança pode ser o proprietário, o gerente do rebanho, o veterinário ou outro funcionário. Se ele não for veterinário, deve consultar um, que seja experiente e esteja familiarizado com o fluxo da fazenda, procedimentos diários e estado de saúde dos animais, para desenvolver o plano de biosseguridade.

Cada setor deverá designar um gerente que seja responsável por assegurar que os protocolos de biossegurança sejam realizados diariamente.

É importante que ele e seus designados, tenham autoridade para tomar medidas corretivas, se os protocolos forem violados ou precisarem ser revisados.

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O PLANO DE BIOSSEGURIDADE

Os planos de biosseguridade devem incluir uma visão geral da fazenda, com rótulos para entrada de veículos e pessoas, movimentos de animais, bem como local apropriado de descarte de carcaça e armazenamento de alimentos. Deve-se designar pontos de acesso de veículos e equipamentos, para minimizar o contato destes como os animais.

Um ponto importante em planos de biosseguridade são os riscos planejados, como introdução de novos animais na fazenda (compra ou retorno da recria), e os riscos imprevistos, como contato de linha de cerca com gado vizinho, animais selvagens e domésticos, como cães e gatos.

Para a entrada planejada de novos animais, com base na tolerância ao risco, pode-se decidir pela aplicação de testes, por exemplo, para BVD, ou cultura de leite para Mycoplasma. Outras práticas de gestão de risco podem incluir o uso de instalações separadas para animais com testes positivos e funcionários específicos para diferentes grupos. Por exemplo, aqueles que cuidam do gado adulto não trabalham com as bezerras. Se isso não for possível, devem limpar e desinfetar seus calçados, e usar roupas limpas, para garantir que não levem fezes, urina ou leite contaminado para o bezerreiro. Para riscos não planejados, considere a tolerância para minimizar a introdução de doenças. As áreas de alimentação podem ser modificadas para evitar a entrada de animais selvagens? As pastagens ou lotes de vacas secas podem ser controlados, para evitar o contato na linha de cerca?

Outra preocupação comum em fazendas leiteiras são fômites, ou objetos contaminados, que podem introduzir agentes patológicos, a menos que sejam seguidos procedimentos adequados de biosseguridade. Estes objetos incluem pneus de veículos, equipamento compartilhado, como tratores e pás de carregadeiras, ferramentas de casqueamento ou equipamentos de parto usados em outras fazendas, até calçados e roupas dos visitantes ou pessoal de serviço.

Alguns fômites são muito mais fáceis de administrar do que outros.

Os veículos que transportam suprimentos para os animais, como rações ou camas, representam riscos, se o produto transportado estiver contaminado. Comprar insumos de fontes confiáveis e certificarse de que eles estão em boa qualidade quando entregues - e inspecionados antes de serem usados - pode minimizar o risco de introdução de doenças. Caminhões que transportam o leite, os animais, o lixo, os dejetos e as carcaças podem ser fômites potenciais. É importante certificar-se de que estes veículos e equipamentos, vindos de outras propriedades, não deixarão “nada para trás”. Você pode minimizar a necessidade de entrada de veículos, designando caminhos de condução que não passam perto dos animais.

COMUNICAÇÃO DE RISCO

O programa de Gestão de Risco Biológico gera quatro diferentes relatórios, baseados na avaliação de risco. Todos podem ser personalizados pela pessoa responsável pela avaliação. Folhetos educacionais também podem ser desenvolvidos para conscientizar os funcionários sobre o risco de doenças e sobre como gerenciá-lo.

O plano de biosseguridade só será eficaz se TODOS na operação o seguirem, o tempo todo. Idealmente, o cumprimento de suas práticas deve tornar-se parte da rotina da propriedade. A falta de conformidade ocorre, geralmente, pelo desconhecimento ou incompreensão dos protocolos de biosseguridade ou das consequências, caso eles sejam descumpridos. Quando o plano de biosseguridade for implantado, todos os indivíduos, independentemente do seu status (membro da família, funcionário em tempo integral, parcial ou sazonal, etc.), devem receber treinamento abrangente, pelo menos uma vez por ano e, posteriormente, ter acesso aos protocolos estabelecidos. O cumprimento de boas práticas de biosseguridade por parte do pessoal da fazenda e dos visitantes é um desafio permanente para a pecuária leiteira.

QUANDO O PLANO DE BIOSSEGURIDADE FOR IMPLANTADO, TODOS OS INDIVÍDUOS, INDEPENDENTEMENTE DO SEU STATUS (MEMBRO DA FAMÍLIA, FUNCIONÁRIO EM TEMPO INTEGRAL, PARCIAL OU SAZONAL, ETC.), DEVEM RECEBER TREINAMENTO ABRANGENTE, PELO MENOS UMA VEZ POR ANO E, POSTERIORMENTE, TER ACESSO AOS PROTOCOLOS ESTABELECIDOS

CONCLUSÃO

O objetivo geral de um programa de Gerenciamento de Risco Biológico deve ser o desenvolvimento de um método para avaliar as práticas atuais de prevenção de doenças e identificar vulnerabilidades, para que os produtores possam tomar decisões acertadas sobre a gestão sanitária. As informações apresentadas têm o objetivo de elucidar as formas de minimizar a carga infecciosa nas fazendas e melhorar a capacidade inata dos animais para suportar os desafios sanitários, mantendo a saúde, produção e viabilidade econômica dentro do sistema de produção.    

A percepção e aceitação dos produtores é individual, e deve ser considerada ao desenvolver um plano de biosseguridade. Embora os riscos de doenças não possam ser completamente eliminados na pecuária leiteira, eles podem ser gerenciados. A adaptação de um plano de biosseguridade para cada produtor, com base na sua tolerância ao risco, riscos identificados e recursos disponíveis, é essencial. Avaliar o risco baseado em rotas de transmissão fornece uma abordagem mais completa e holística e pode evitar doenças específicas.

Um plano de biosseguridade bem-sucedido conta com comunicação e treinamento eficazes, para garantir que todos os envolvidos na implementação das práticas de prevenção de doenças compreendam a necessidade e o seu importante papel na manutenção da saúde e bemestar das vacas.

O sucesso também depende de como o plano pode ser realizado, quem é responsável por fazer as mudanças acontecerem e como incorporar as práticas nas atividades diárias.

A contaminação ambiental não deve ser negligenciada em um programa de controle de doenças. Os animais e seres humanos podem ser contaminados por várias vias, como apresentado na Tabela 1.

TABELA. Vias de transmissão de doenças e definições correspondentes para a Gestão do Risco Biológico

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Danelle Bickett-Weddle
Diretora do Center for Food Security/ Public Health Iowa State University, USA

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