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Pastagens

Recuperação de pastagens degradadas - Parte I

Recuperação de pastagens degradadas - Parte I

Texto: Ricardo A. Reis, Márcio Pedreira, Andreia L. Moreira

O insucesso no estabelecimento, utilização e persistência de forrageiras, no passado e na atualidade, é causado basicamente pelo mesmo motivo - a forma extrativista e imediatista de exploração da grande maioria das pastagens, que ocasiona, em função do manejo inadequado e também da falta de reposição de nutrientes, o esgotamento do solo. Aumentar a quantidade, a qualidade e garantir a persistência das forragens é fundamental para o adequado desempenho produtivo dos animais mantidos nos sistemas de produção de leite em pasto. Assim, as interações observadas entre as plantas forrageiras, os fatores climáticos, as características do solo e o manejo dos animais nestas áreas devem ser mantidas em equilíbrio para que o ecossistema possa se manter estável, ou persistir às alterações sofridas durante o processo de substituição da vegetação original. Nesse primeiro artigo, abordaremos os fatores condicionantes da degradação e fertilidade do solo, bem como o manejo das pastagens.

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1.Introdução

Conforme pode ser observado na Tabela 1, as pastagens cultivadas vêm ocupando áreas cada vez maiores, passando de cerca de 30 milhões de hectares em 1970, para aproximadamente 100 milhões, um incremento superior a 300% em 25 anos, representando 58% do total de áreas ocupadas com pastagens.

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Este crescimento resultou, principalmente, da valorização da terra, dos créditos disponíveis na década de 70 e da necessidade de aumentar a produtividade da pecuária nacional, o que favoreceu a substituição de áreas de cerrado e florestas por pastagens e, conseqüentemente, o aumento no efetivo bovino nas diferentes regiões do Brasil. Outra observação pertinente diz respeito à redução da área total de pastagens na região Sudeste, que provavelmente se deve à substituição destas áreas por culturas de alto rendimento, como café, cana-de-açúcar e laranja.

Em 1998, as áreas ocupadas com pastagens representavam 20% das terras agricultáveis do país, que, segundo dados da FAO (2000), chegavam a 185 milhões de hectares. Cerca de 36% desta área estão situados na região Centro-Oeste e 80% desse total encontram-se com alguma característica de degradação. Esta situação não é diferente nos Estados de Minas Gerais e Bahia, onde as pastagens tiveram sua capacidade de suporte reduzida, principalmente por efeitos do superpastejo em períodos críticos de estiagens e pela ausência de reposição de nutrientes do solo.

 

2. Fatores condicionantes da degradação das pastagens

O insucesso no estabelecimento, utilização e persistência de forrageiras, no passado e na atualidade, é causado basicamente pelo mesmo motivo - a forma extrativista e imediatista de exploração da grande maioria das pastagens, que ocasiona, em função do manejo inadequado e também da falta de reposição de nutrientes, o esgotamento do solo. Outro problema importante é a introdução de novas forrageiras nos sistemas de produção sem os devidos estudos de adaptação, manejo e práticas de adubação. A utilização de cultivares lançados para uma determinada região em locais com diferentes características edafoclimáticas também constitui uma séria causa de insucesso na formação e manutenção das pastagens.

O processo de degradação em uma pastagem se instala quando se observa a evolução da perda de vigor, da produtividade e da capacidade de recuperação natural de uma determinada planta forrageira, que se torna incapaz de superar o efeito da desfolha, pragas, doenças e invasoras. A persistência de uma determinada forrageira submetida ao pastejo depende das condições a que é submetida desde a fase de estabelecimento. Sendo assim, a escolha da espécie forrageira, a formação da pastagem, o manejo e a reposição de nutrientes são determinantes para a manutenção dos níveis produtivos das plantas nos sistemas de produção e, quando qualquer um destes fatores for trabalhado de forma inadequada, o processo de degradação pode ser iniciado.

 

2.1 Manejo das pastagens

Adequar a pressão de pastejo de acordo com a época do ano pode ser fundamental para evitar o superpastejo em períodos de estacionalidade da produção da forragem. O superpastejo é uma das principais causas da degradação das pastagens, pois reduz o vigor das plantas e sua capacidade de rebrota, favorecendo o surgimento de plantas invasoras em substituição à vegetação existente. Para um manejo adequado, é fundamental a determinação da capacidade de suporte de uma pastagem, a fim de se evitar tanto o super quanto o subpastejo, ambos indesejáveis no sistema de produção.

A capacidade de suporte é definida como sendo a lotação máxima que permite um determinado desempenho animal, em um método de pastejo especificado, que poderá ser aplicado durante um período de tempo definido, sem causar degradação da pastagem. É imprescindível trabalhar com taxas de lotação que não proporcionem perdas na eficiência da rebrota do vegetal e também não ocasionem sobras de pasto. Em se tratando de degradação de uma pastagem, a pressão de pastejo pode ser um fator desencadeador do processo, sendo cada vez mais acentuado à medida que ocorre diminuição na disponibilidade de forragem (Figura 1).

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A relação entre pressão de pastejo, ganho por animal e ganho por unidade de área mostra que, entre pu e po, a produção por animal decresce suavemente à medida que a pressão de pastejo aumenta de um valor leniente (subpastejo) até uma pressão de pastejo ótima, que apresenta uma pequena amplitude de variação em função das espécies, das misturas e do grau de pastejo seletivo. Entre po e pm, o ganho por animal é determinado pela disponibilidade de forragem por animal ao dia, podendo ser observado que, a partir da faixa ótima de pressão de pastejo, o ganho de peso por animal declina acentuadamente. É nesta faixa que ocorre a maior incidência de perda de vigor das plantas e se instala o processo de degradação do pasto.

O manejo inadequado, caracterizado pelas condições de super ou subpastejo, causa ainda acentuada modificação na composição botânica da pastagem. O superpastejo determina um crescimento reduzido da parte aérea, com correspondente redução do sistema radicular, diminuindo a capacidade de absorção de água e nutrientes, com conseqüente queda de produção e qualidade da forragem e possibilidade de crescimento de plantas invasoras. Esta situação pode ser observada na Figura 2.

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Como pode ser observado na Figura 2, o superpastejo favorece a seletividade dos animais por determinadas espécies, que, sendo constantemente repastejadas, acabam eliminadas, enquanto outras, de menor aceitabilidade, passam a dominar a pastagem.

Resultados de pesquisa têm mostrado que desfolhas freqüentes e intensas de plantas forrageiras, sem que haja tempo suficiente para o restabelecimento de um mínimo de reservas por meio da fotossíntese, ocasionam debilidade e até desaparecimento das plantas, cedendo lugar às espécies indesejáveis, o que reduz progressivamente a produtividade da pastagem e determina, no curto prazo, a degradação irreversível.

As opiniões sobre qual o melhor sistema de utilização das pastagens são numerosas e divergentes, principalmente com relação ao sistema contínuo e rotacionado. Apesar de vários experimentos terem sido conduzidos para comparar os dois sistemas, ainda existem consideráveis controvérsias sobre os méritos relativos a cada um.

Qualquer sistema poderá resultar em ótimo desempenho animal, dependendo da oferta e qualidade da forragem. Da mesma forma, a produção animal por hectare, obtida em diferentes sistemas de pastejo, depende das características morfológicas das plantas e da freqüência, intensidade e época de utilização das pastagens. Pesquisas conduzidas nas regiões de clima temperado indicam que os sistemas de pastejo per se têm pequeno efeito sobre a produção animal.

Em relação à persistência das espécies forrageiras e à susceptibilidade das pastagens ao processo de degradação, qualquer dos sistemas de pastejo utilizado pode ocasionar uma rápida degradação, dependendo das características de manejo adotadas em cada situação.

Quando se trabalha em áreas com poucas divisões, nas quais os animais pastejam livremente, a seletividade é favorecida, fazendo com que certas plantas ou partes das plantas sejam repastejadas continuamente. Neste sistema de pastejo, é difícil conseguir uma utilização uniforme da forragem disponível, fazendo com que apareçam áreas de superpastejo, caracterizadas pela pouca cobertura vegetal e ocupação futura por plantas invasoras, e áreas subpastejadas, caracterizadas pela sobra de forragem. Esta situação pode ocasionar, em poucos anos, a degradação das pastagens.

Por outro lado, quando se trabalha com o pastejo rotativo, no qual o intuito é aumentar a taxa de lotação e, conseqüentemente, o aproveitamento máximo do potencial produtivo e nutricional da forrageira, a degradação da pastagem pode ser ainda mais rápida, quando não são observados os critérios de reposição de nutrientes, período de ocupação e descanso dos piquetes.

Vários sistemas inovadores de manejo de plantas forrageiras utilizam diferentes métodos de subdivisão e utilização das pastagens para o controle do pastejo. As subdivisões constituem uma ferramenta de manejo para se monitorar as repostas das plantas e das diferentes classes de animais. Portanto, o objetivo do método de pastejo deve ser o de manejar a pastagem e outros insumos alimentares de forma a aumentar a eficiência da produção animal.

As espécies cespitosas, de porte alto, adaptam-se melhor no pastejo rotacionado, enquanto as de porte baixo, prostradas ou estoloníferas, são mais apropriadas para o pastejo contínuo. Entretanto, as espécies de porte ereto também podem ser pastejadas de modo contínuo, desde que se permita o acúmulo de forragem. Segundo o mesmo autor, o pastejo rotativo deve ser adotado para as plantas que necessitam de período de descanso para acumular e recuperar as reservas orgânicas, permitindo a regeneração da pastagem, sem a interferência do animal, e prevenindo a eliminação das espécies mais aceitas pelos animais. Estes princípios permitem evitar certos problemas que ocorrem com o pastejo contínuo.

Em qualquer situação de pastejo, é importante estabelecer critérios de manejo que permitam à planta uma constante recuperação após a desfolha, favorecendo assim a persistência das forrageiras dentro do sistema de produção.

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3. Fertilidade do solo

No Brasil, os solos sob pastagens são predominantemente os Ultissolos e Oxissolos, que apresentam serias limitações quanto à fertilidade e acidez, notadamente aqueles das regiões dos Cerrados e Amazônica. Os teores de bases trocáveis (Ca, Mg e K), assim como os de P são baixos, enquanto os de Al e Mn altos. O principal fator a ser considerado na implantação de pastagens nestas áreas é a adaptação das espécies a estas condições. Mesmo para espécies adaptadas às baixas condições de fertilidade do solo, a adubação apresenta efeito marcante sobre a eficiência produtiva por hectare e, principalmente, sobre a persistência das plantas forrageiras.

A perda da fertilidade do solo é uma das causas mais comuns da degradação das pastagens, sendo que, muitas vezes, essa condição já é conseqüência dos fatores de manejo que ocasionaram a degradação. Alguns solos, originalmente férteis, que não recebem reposição de nutrientes por meio da adubação, perdem sua fertilidade, principalmente por efeito da erosão ou esgotamento por superpastejo. A própria situação de superpastejo pode ser considerada como desencadeadora de erosão, por permitir o aparecimento de faixas de áreas descobertas, que se tornam susceptíveis aos efeitos das chuvas e dos ventos.

Mesmo considerando que cerca de 90% dos minerais extraídos do solo pela planta retornam para a pastagem na forma de fezes e urina, sua distribuição irregular na pastagem e a imobilização parcial na matéria orgânica das fezes limitam a sua reutilização total. Sendo assim, a taxa de mineralização não consegue sustentar um fluxo de nutrientes que atenda às necessidades de novo crescimento. Além disso, a contribuição proveniente da meteorização dos minerais primários é de pouca significância em ecossistemas de pastagens. Como resultado desta situação, as taxas de crescimento das pastagens são reduzidas a cada ano.

Nas condições brasileiras, a grande maioria das pastagens apresenta redução de produção no decorrer do tempo e atribui-se esse efeito à falta de adubação de manutenção e conservação do solo. Conforme pode ser observado na Tabela 3, as pastagens apresentam altas produções nos primeiros anos, com posterior decréscimo no decorrer de sua utilização.

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Observa-se nítida redução no ganho/animal e no ganho/ha ao longo dos três ciclos. O ganho por área média das duas lotações foi reduzido de 778 kg/ha no primeiro ciclo para 488 kg/ha no terceiro ciclo, o que, segundo os autores, deveu-se aos problemas de crescimento da forrageira.

Para evitar esta queda de produtividade das pastagens, a utilização de adubações de manutenção e o monitoramento da fertilidade do solo devem ser empregados como ferramentas indispensáveis para garantir a persistência das plantas sob pastejo.

Confirmando esta afirmação, pesquisadores trabalhando com diferentes níveis de adubação em pastagens consorciadas, constataram que, quando a adubação não foi utilizada, a produtividade apresentou declínio significativo no decorrer dos anos (Tabela 4).

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A produção animal por hectare e a taxa de lotação dos pastos durante o período experimental tenderam a se estabilizar com o nível médio de adubação, aumentaram com o nível mais alto e diminuíram quando não se realizava a adubação de manutenção. Estes dados comprovam que a manutenção da fertilidade do solo é uma condição indispensável à persistência das pastagens.

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