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Violência no campo: Isso tem que parar!

Violência no campo: Isso tem que parar!

Diante da insegurança, produtores estão deixando de estocar insumos. Em alguns casos, a contratação de segurança armada é única opção para garantir tranquilidade na propriedade.

A rotina nas zonas rurais do país está mudando nos últimos anos. O motivo é o crescimento dos casos de roubo a propriedades, que tem forçado os produtores a adotar estratégias para evitar prejuízos financeiros e danos à integridade física de suas famílias e de seus funcionários.

Embora sem dados oficiais, agricultores de todos os estados relatam que o número de ocorrências tem aumentado significativamente a cada ano. Na maior parte dos casos, grupos armados invadem as fazendas, inclusive à luz do dia, e roubam desde sementes e defensivos agrícolas até máquinas e animais vivos ou abatidos no local. Na fuga, os próprios veículos dos produtores são utilizados para transportar a carga roubada.

“O roubo em fazendas é bastante comum e está aumentando há anos. Os ladrões querem sementes, implementos e máquinas. Às vezes até mesmo os pertences pessoais dos trabalhadores que moram na propriedade são levados”, relata o presidente do Sindicato Rural de Apucarana, Paraná, Jorge Nishikawa.

O produtor de leite Alcio Azambuja de Azambuja, da região de Bagé, no Rio Grande do Sul, teve sua propriedade assaltada no último dia 26 de maio, onde estavam sua irmã e seu pai, de 91 anos. "Os bandidos mataram e descarnaram cinco vacas de altíssimo potencial genético, para vender a carne, de forma ilegal e por um baixo valor", desabafa Alcio. Segundo ele, é a impunidade desse tipo de crime que estimula sua continuidade e crescimento. "É preciso que haja uma união de forças policiais, da fiscalização sanitária e da sociedade para combater essa violência", afirma.

Na região de São Simão/SP, um grupo de criminosos fez 11 pessoas reféns, durante roubos a duas fazendas vizinhas no último dia 21 de junho. De acordo com informações das vítimas, funcionários e familiares dos donos das propriedades, incluindo crianças menores de 7 anos, foram mantidos amarrados por assaltantes armados por mais de 4 horas. "As crianças ficaram muito assustadas", diz uma das vítimas. Um caseiro, que preferiu não ser identificado, relatou que chegava com a mulher em uma das fazendas, quando foi surpreendido por um grupo de cinco ladrões, todos armados. Depois de ser obrigado a entregar objetos pessoais e documentos, além de ter a casa revirada, o casal foi levado pelos assaltantes no carro das vítimas.

No meio do percurso, os criminosos pararam um furgão escolar, onde estavam um motorista e um estudante, e seguiram com o veículo até uma propriedade rural vizinha. Lá, o grupo fez uma nova abordagem, amarrando novas vítimas. De acordo com a testemunha, os criminosos estavam em busca do dinheiro que seria usado para o pagamento dos salários de funcionários. A Polícia Militar informou que o policiamento é realizado de acordo com os índices de criminalidade, mas prometeu que aumentará o patrulhamento na zona rural.

Na região do Alto Paranaíba, em Minas Gerais, os grupos têm como alvo as fazendas de café, e, segundo relatos da polícia, costumam agir com violência, amarrando as vítimas e as mantendo sob cárcere privado enquanto reviravam as fazendas à procura de armas, equipamentos agrícolas, dinheiro e joias. Uma operação, deflagrada na região, com o nome de "Marimbondo I",

culminou na prisão de uma quadrilha. Dois líderes do grupo já haviam sido presos durante outras operações, mas ficaram detidos por apenas cinco dias, sendo depois liberados pela Justiça. Nesta operação, além dos suspeitos presos, a polícia apreendeu também várias armas e equipamentos eletrônicos e agrícolas, todos provenientes de roubos.

Em meados de agosto, duas propriedades rurais foram alvo de assaltantes nas regiões de Uberaba e Campo Florido, em Minas Gerais. Em Uberaba, as vítimas relataram à Polícia Militar (PM) que, por volta das 18h, dois indivíduos chegaram ao local a pé, pedindo água. Uma das vítimas foi rendida pela dupla, que anunciou o assalto. Os ladrões estavam com um revólver e uma espingarda. Após anunciarem o assalto, os criminosos trancaram três vítimas em um quarto da sede da propriedade. A dupla roubou diversos pertences das vítimas e, em seguida, fugiu. Já na zona rural de  Campo Florido, uma fazenda foi invadida por seis indivíduos armados e encapuzados. Eles chegaram a pé e renderam três pessoas que estavam no local. O grupo roubou pertences das vítimas, além de defensivos agrícolas e duas caminhonetes. Os ladrões fugiram e ainda não foram localizados.

A solução encontrada por alguns fazendeiros é implantar medidas que afastem os ladrões ou, em caso de assalto, diminuam o prejuízo. “Tem produtor tirando a placa do portão da fazenda para tentar dificultar a vida dos ladrões”, conta José Roberto Tosato, engenheiro agrônomo da Secretaria Estadual de Abastecimento do Paraná, em Ponta Grossa.

O agricultor Hendrik Barkema teve sua fazenda, em Tibagi/PR, assaltada em 2010. Desde o episódio, algumas medidas preventivas foram adotadas. “Tivemos que contratar segurança armada, o que gerou um gasto mensal de R$ 3 mil. Também deixamos de estocar produtos. Quando precisamos, vamos buscar na cooperativa”, conta Barkema, que também instalou câmeras e passou a deixar fechado o enorme portão de entrada da fazenda. A ação dos ladrões em sua propriedade resultou em um prejuízo de mais de R$ 150 mil, considerando defensivos agrícolas, um caminhão e pertences dos funcionários, calcula o administrador da fazenda Pedro Henrique Daniel. Na época do assalto, mais dois casos foram registrados na região. “Este ano já soubemos de mais três roubos na vizinhança ”, afirma o administrador.

O maior número de assaltos a fazendas vem acompanhado da sofisticação dos ladrões. As ações criminosas, que antes eram praticadas pelos chamados “ladrões de galinha”, hoje são coordenadas por quadrilhas especializadas e, invariavelmente, bem armadas. “O pessoal é organizado e sempre está com muitas armas. Eles estudam a rotina da fazenda antes de agir”, diz o presidente do Sindicato Rural de Apucarana, PR, Jorge Nishikawa.

De acordo com José Roberto Tosato, os grupos já têm compradores para a mercadoria, mesmo antes do assalto. “É muito arriscado transitar pelas estradas e passar pelos postos de polícia com o caminhão cheio de mercadoria e máquinas. O resultado do roubo fica na própria região”, diz. “É fácil achar comprador quando se oferece o produto por 50% do valor real”, complementa.

Embora a impunidade seja apontada como a principal responsável por este tipo de crime, algumas ações de combate têm sido bem sucedidas. No último dia 20 de julho, três criminosos foram presos pela Polícia Judiciária Civil, durante a operação “Jubileu”, deflagrada no município de Canarana/Mato Grosso, para combater roubos e furtos em propriedades rurais da região. Na operação, a equipe policial percorreu cerca de 300 quilômetros de diligências na zona rural. Um dos presos já era procurado por crime de homicídio.

 

Flávia Fontes

DSc. Nutrição Animal

Editora da Revista Leite Integral

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