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Sanidade

10 Mandamentos da Saúde dos Cascos

10 Mandamentos da Saúde dos Cascos

Texto: Flávia Fontes

 

 As lesões de casco são muito frequentes em nosso meio, causando grandes prejuízos, pois interferem com a reprodução, saúde da glândula mamária e com a produção de leite. Elas são multifatoriais, isto é, ocorrem quando vários fatores atuam em conjunto. Estes fatores podem ser divididos em dois grupos. O primeiro, é composto por aqueles que influenciam a qualidade dos cascos, como a nutrição, conforto, genética e a ocorrência de outras doenças concomitantes. O segundo grupo, se relaciona com os desafios ambientais sofridos pelos cascos, e podemos destacar: condições higiênicas e umidade do ambiente, conservação de trilhas, tipo de piso, tempo de descanso, forma de condução das vacas, distâncias percorridas diariamente, obstáculos presentes nos caminhos, dentre outros.

Vale a pena destacar que, em cada fazenda, faz-se necessário realizar uma leitura dos fatores de risco presentes e da qualidade dos cascos, para implementação de programas de controle.

1)Amarás o sistema locomotor sobre todas as coisas.

A partir de meados do século XX, geneticistas e criadores intensificaram os trabalhos de melhoramento de bovinos leiteiros. Entretanto, os progressos obtidos não foram acompanhados, na mesma velocidade, pelo melhoramento de pernas e pés, que além de não terem sido uma preocupação inicial, são de baixa herdabilidade, necessitando muitos anos de seleção para a obtenção de resultados satisfatórios.

Um sistema locomotor saudável é essencial para que os animais consigam se locomover, em busca de água e alimentos, e expressar seus comportamentos naturais, especialmente de cio. As manqueiras são consideradas, juntamente com as mastites e problemas reprodutivos, os principais problemas de saúde que acometem os rebanhos leiteiros. Sua incidência nos sistemas intensivos de produção de leite tem chegado a valores extremamente elevados, o que exige medidas eficazes de prevenção e controle, visando evitar prejuízos expressivos.

 

2) Não tomarás seu santo pedilúvio em vão.

O uso do pedilúvio, de 3 a 5 vezes por semana, durante todo o ano, é essencial no combate das afecções podais, pois controla os processos infecciosos e, muitas vezes, melhora a qualidade dos tecidos córneos. Recomenda-se que o pedilúvio seja construído com aproximadamente 80cm de largura, 3m de comprimento e 20cm de profundidade, apresentando uma lâmina de solução de 10 cm. Deve estar localizado, preferencialmente, na saída da sala de ordenha, precedido de um lava-pés. As soluções mais empregadas são o sulfato de cobre a 5%, formol de 3 a 5% ou a combinação das duas soluções. Alguns pesquisadores recomendam também o sulfato de zinco a 10%, que apesar do custo mais elevado, mostra-se bastante eficiente. Acaba de chegar ao Brasil, um produto a base de tricloroisocianurato, que substitui o formol e o sulfato de cobre, além de não ser inativado pela matéria orgânica.

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3) Guardarás o período de transição.

O período de transição de vacas de leite é marcado por mudanças fisiológicas e pela ocorrência de distúrbios que podem interferir com a saúde dos cascos. O processo de formação do casco pode ser prejudicado por uma série de fatores, tais como deficiências nutricionais, alterações hormonais e distúrbios digestivos ou infecciosos, que podem resultar em laminite. Essas alterações ocorrem com maior intensidade no período peri-parto. Com isso, o tecido córneo formado nesse período pode ser menos resistente aos fatores adversos, ambientais e de manejo, a que os animais são submetidos no pós-parto, tais como excesso de concentrados, umidade excessiva, acúmulo de matéria orgânica, pisos abrasivos, forças mecânicas decorrentes do próprio processo de locomoção e a ação de agentes infecciosos. Para garantir a saúde dos cascos, faz-se necessário conhecer sua fisiologia, a fisiologia das vacas neste período e entender as inter-relações entre os fatores que interferem com a formação do casco e os desafios ambientais.

 

4) Honrarás a boa nutrição.

A alimentação é um fator de suma importância na prevenção das manqueiras. O balanceamento adequado das dietas, respeitando as exigências nutricionais e a fisiologia ruminal, é essencial para assegurar a saúde geral e dos cascos das vacas leiteiras. Alimentação rica em concentrado, especialmente carboidratos não estruturais que, na fermentação ruminal, ocasionam a produção de grandes quantidades de ácidos, é um fator de risco para a ocorrência de acidose ruminal e, consequentemente, das laminites. A falta de adaptação às dietas, acarreta pequeno desenvolvimento papilar na parede do rúmen e, consequentemente, reduzida absorção e metabolismo dos AGVs ruminais. Dietas pobres em fibra efetiva também são um fator de risco, já que as fibras são responsáveis por estimular a ruminação e incrementar a produção e ingestão de saliva que, por sua vez, contribui para o tamponamento e manutenção do pH ruminal. Vários minerais participam na síntese, qualidade e preservação do tecido córneo, com destaque para o zinco, cobre, cálcio, selênio e manganês. Entre as vitaminas, destacam-se a A, D, E e a biotina.

 

5) Não matarás as vacas de acidose.

É importante ressaltar que os ganhos genéticos relativos à produção de leite vêm acompanhados de aumento das exigências nutricionais dos animais. Dessa forma, os nutricionistas são obrigados a formular dietas com alta densidade energética que, em geral, causam algum grau de desequilíbrio no ambiente ruminal. A acidose ruminal subclínica se caracteriza pela produção e manutenção no rúmen de altas concentrações de ácidos graxos voláteis (AGVs). Com isso, o pH ruminal mantém-se na faixa de 5,0 a 5,5 várias horas por dia, durante períodos prolongados. Quadros de acidose ruminal subclínica são responsáveis por alterações sistêmicas e participam na etiologia das laminites. Os sinais mais comuns da acidose subclínica são queda de consumo nos momentos em que o pH ruminal está muito baixo (consumo errático ou em montanha russa), alta variabilidade na produção de leite, fezes inconsistentes, pouca ruminação, e uma depressão geral na aparência da vaca. Na acidose ruminal subclínica, ocorre liberação de substâncias vasoativas (histamina, mediadores inflamatórios e endotoxinas), em função da inflamação da parede ruminal e da morte de bactérias gram negativas. Estas substâncias causam alterações hemodinâmicas, levando a congestão, hemorragias, isquemia e trombose, que aliadas a fatores ambientais que acarretam sobrecarga e desgaste excessivo dos cascos, são responsáveis pela instalação de laminite subclínica e suas consequências: hemorragia de sola, úlceras de sola e de pinça, doença da linha branca e deformação das unhas. Com uma maior quantidade de endotoxinas ruminais, observa-se também o aumento de LPS (Lipopolissacarídeo - principal componente da parede celular de bactérias gram-negativas) circulante no plasma. O LPS é um dos principais fatores que desencadeiam a resposta inflamatória, por ativar o sistema imune e promover a sintomatologia clínica de várias doenças.

 

6) Não pecarás contra a biosseguridade.

Os agentes infecciosos, causadores de lesões podais, podem ser introduzidos nas propriedades pela compra de animais com doença clínica ou portadores assintomáticos. Um bom exemplo é a dermatite digital, que foi descrita pela primeira vez em 1984, na Itália, e em 20 anos se espalhou para todas as regiões do mundo. Em nosso meio, os trabalhos apontam prevalência de 30% para esta enfermidade. O aparo funcional dos cascos das vacas leiteiras é uma rotina de prevenção das enfermidades não infecciosas, objetivando melhor distribuição de peso entre as unhas e retirada de lesões iniciais. Essa prática, porém, tem sido associada com a disseminação de doenças infecciosas dos cascos, especialmente a dermatite digital. O material utilizado no casqueamento, quando sujo e infectado, funciona como transmissor de agentes microbianos entre animais e entre fazendas. Além disso, quando o casqueamento é realizado por pessoas não treinadas, pode ocorrer retirada excessiva de sola, predispondo às lesões traumáticas. Manter um rebanho fechado e com bom nível de higiene é o melhor modo de prevenir a entrada de agentes infecciosos causadores de manqueira.

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7) Não roubarás no conforto.

A vaca deve estar em condição de conforto quando deitada e também em pé e caminhando. A relação entre o tempo que a vaca fica em pé ou deitada influencia diretamente a saúde dos pés. É desejável que as vacas passem, diariamente, de 9 a 14 horas deitadas, por três razões: para aumentar o tempo de ruminação e, consequentemente, melhorar o tamponamento ruminal; para aumentar o fluxo sanguíneo para a glândula mamária, e para aliviar a carga sobre os pés. Desta forma, deve-se observar se existem locais higiênicos e confortáveis que estimulem a vaca a se deitar e, nos confinamentos, se há camas suficientes e confortáveis para todas os animais. O ideal é que cerca de 85% das vacas estejam deitadas uma hora após o oferecimento da alimentação. Quando os animais permanecem muito tempo em pé, parados, o sangue fica estagnado nos pés, reduzindo as trocas gasosas e de nutrientes, podendo comprometer a saúde dos cascos. Esta situação pode ocorrer quando as instalações não são planejadas adequadamente, e as vacas esperam em pé para se alimentar, beber água ou para serem ordenhadas. Por outro lado, o exercício é uma atividade positiva para a saúde dos pés. Quando as vacas se movimentam, há um aumento do fluxo sanguíneo nos pés, trazendo oxigênio e nutrientes e, ao mesmo tempo, retirando dos cascos CO2 e metabólitos. A adequação dos tempos de descanso e de exercício está relacionada com redução da incidência de lesões de sola, especialmente úlceras.

 

8) Não levantarás falso testemunho de que o casqueamento de rotina não é importante.

Os bovinos apresentam uma taxa de crescimento dos tecidos córneos dos cascos de, aproximadamente, 5 mm mensais, o que, muitas vezes, leva ao crescimento excessivo, necessitando de aparos para correção dos apoios e restabelecimento de sua morfologia. As modificações do apoio podem ser importantes causas de lesões podais, especialmente da linha branca e úlceras de sola. As unhas apresentam taxas diferenciadas de crescimento e desgaste das suas várias partes. Isto leva a distribuições de peso diferentes nos vários locais, predispondo a ocorrência de lesões. O principal objetivo do casqueamento é restabelecer a distribuição do peso do animal nas diversas partes das unhas, de maneira uniforme, tanto no animal em estação quanto em locomoção. Sugerese que se realizem as correções logo após a parição, ao se iniciar a lactação. Os aparos devem ser realizados uma a duas vezes ao ano, dependendo das condições, por pessoa treinada, deixando as lesões para atendimento especializado.

 

9) Não desejarás a genética do próximo.

A conformação genética dos membros posteriores, no que se refere aos aprumos, ângulo de pinça e altura de talão influem decisivamente na distribuição de peso durante a locomoção, reduzindo significativamente os problemas de casco. A pontuação do composto de pernas/pés vem sendo alterada, significativamente, nos últimos anos, o que, a médio prazo, deve trazer benefícios importantes para a saúde dos pés. Para isso, é importante que cada propriedade trace seus próprios objetivos para o programa de melhoramento genético, planejando os acasalamentos corretivos.

 

10) Não cobiçarás os cascos alheios.

Um rebanho com cascos saudáveis e baixa incidência de manqueira é um resultado a ser conquistado, com um manejo preventivo, adequado à realidade de cada propriedade. É importante desenvolver uma metodologia de avaliação do escore de locomoção e, com isso, uma rotina de diagnóstico dos problemas de casco. Também, é imprescindível que todos os demais pontos aqui discutidos, como nutrição, biosseguridade, genética e conforto estejam sob constante monitoramento. Não adianta invejar os resultados do seu vizinho. Faça a sua parte e Deus te ajudará!

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