Conheça Cristiane Azevedo, proprietária da Qualy & Calf Consultoria – direcionada à qualidade do leite e à criação de bezerras
Proprietária da Qualy & Calf Consultoria – direcionada à qualidade do leite e à criação de bezerras –, Cristiane Azevedo atua diretamente no campo e divide sua experiência na utilização de vacina intranasal nas bezerras leiteiras
O nome Cristiane Azevedo é conhecido nas fazendas leiteiras de todo o Brasil e chega antes da forte presença que sua figura materializa. Não é à toa – e nem foi de um dia para o outro – que isso passou a ocorrer. A segurança que o seu nome confere é resultado de um trabalho pioneiro, consistente, persistente e com excelentes e mensuráveis resultados. Proprietária da Qualy & Calf, consultoria em qualidade do leite e criação de bezerras, Cristiane atua diretamente no campo, transformando os protocolos de qualidade do leite, o manejo das bezerras e, sobretudo, o comportamento das pessoas envolvidas na produção e na gestão da atividade leiteira.
A paixão pelo agro
Há pouco mais de duas décadas, Cristiane Azevedo recebia honras em sua formatura em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual de Lages, em Santa Catarina, e enfrentava seu primeiro desafio profissional: um processo seletivo para a área comercial de uma multinacional de medicamentos para saúde animal, sendo a única mulher candidata à vaga. Essa conquista inaugurou uma trajetória marcada pelo pioneirismo. Naquela época, a presença feminina no setor não era comum. No entanto, em seu primeiro ano de trabalho, Cristiane foi reconhecida como a maior vendedora de vacinas contra a febre aftosa da região Sul do Brasil. Mas seu verdadeiro sonho era atuar na área técnica, o que a levou a assumir cargos de crescente responsabilidade, especialmente em programas de qualidade do leite, área em que desenvolveu grande afinidade e domínio.
Seu trabalho no campo a levou a percorrer o Brasil com a missão de melhorar a qualidade do leite. Uma questão importante identificada foi a alta taxa de mortalidade das bezerras na fase de aleitamento até a primeira lactação. “Em qualquer região, em fazendas de todos os portes, mesmo naquelas onde estavam implementadas técnicas de inseminação artificial (IA) ou transferência de embriões (FIV), eu observava que 30% das bezerras morriam na fase de aleitamento e apenas 50% chegavam à primeira lactação”, afirma Cristiane.
Dessa percepção, surgiu a identificação da proximidade dos protocolos relacionados à busca da qualidade do leite com os da criação de bezerras. Cristiane explica: “O setor de criação de bezerras envolve muita higiene, desinfecção, trabalho com pessoas e atenção aos detalhes, muito parecido com a expertise que eu tinha na qualidade do leite. Foi assim que as bezerras passaram a fazer parte do meu dia a dia, vinculadas à qualidade”. Em decorrência dessas experiências, em 2013, Cristiane decidiu empreender e fundou a Qualy & Calf Consultoria, com foco na criação de bezerras e na qualidade do leite.
Cristiane Azevedo, proprietária da Qualy & Calf Consultoria, se dedica a trabalhar compromissada com a qualidade do leite e com a criação saudável das bezerras.
O básico bem-feito
Um problema crítico identificado nas fazendas leiteiras: a inflamação umbilical, que frequentemente leva a condições graves como peritonite, diarreia e meningite. Esse é um exemplo de que os principais problemas encontrados nas fazendas leiteiras, relacionados ao manejo e à prevenção das doenças das bezerras, são surpreendentemente causados por falhas básicas.
Para mudar essa realidade, Cristiane e sua equipe de consultoria perceberam a necessidade de estabelecer metas e indicadores para medir o desempenho e identificar áreas de melhoria, similar ao que já era feito na qualidade do leite. Organizar os dados dos bezerreiros passou a ser prioridade nas fazendas atendidas. “Antes, poucas fazendas registravam informações detalhadas sobre natimortos, crescimento das bezerras, incidência de diarreia e de pneumonia e mortalidade. A falta de dados dificultava a identificação de problemas e a implementação de soluções eficazes”, explica Cristiane.
Os calendários vacinais, essenciais para a saúde das bezerras, eram praticamente inexistentes em grande parte das propriedades assistidas. “A vacinação era geralmente focada nas vacas adultas, sem considerar as necessidades específicas das bezerras”, observa Cristiane. Com isso, ela introduziu a prática de vacinar tanto as bezerras quanto suas mães contra doenças como diarreia e pneumonia, melhorando significativamente a transferência de imunidade passiva.
“Trabalhamos para mudar a abordagem reativa para uma abordagem preventiva. Não queremos apagar incêndios, mas evitar que eles comecem”, diz Cristiane. Com esse objetivo, ela desenvolveu o programa “Bio&Be”, focado no bem-estar e na biossegurança dentro do bezerreiro. Esse programa ajuda a estabelecer práticas preventivas que reduzem a incidência de doenças e melhoram a saúde geral das bezerras.
A importância das vacinas na prevenção de doenças respiratórias
As três doenças de maior impacto nos bezerreiros são a diarreia, a pneumonia e, em algumas áreas, a tristeza parasitária bovina. Essa é a constatação de Cristiane, fundamentada tanto em estudos científicos quanto na prática do campo. No entanto, doenças respiratórias como a pneumonia têm se tornado tão prevalentes quanto a diarreia. “Nós melhoramos muito os quadros de diarreia com a implementação do banco de colostro, com o cuidado com a vacinação das mães, entre outras medidas. Mas o problema respiratório, hoje, dependendo dos rebanhos, já inverteu a curva. A pneumonia é tão problemática quanto a diarreia”, afirma Cristiane.
Os impactos das doenças respiratórias são significativos. Segundo Cristiane, a doença respiratória tem um impacto negativo maior na lactação futura do que a diarreia. Toda bezerra que trata de pneumonia fica com uma cicatriz no pulmão, o que diminui sua performance no ganho de peso, aumenta a taxa de descarte e reduz a taxa de concepção quando chega à idade de inseminação. Consequentemente, de acordo com os dados avaliados de três rebanhos da raça Holandês, as novilhas produziram entre 400 a 800 litros a menos de leite, corrigida a produção em um acumulado de 305 dias.
As doenças respiratórias são multifatoriais, ligadas a situações de estresse como superlotação, qualidade do ar e nutrição inadequada. Cristiane ressalta que as vacinas, especialmente as intranasais, têm sido fundamentais na prevenção dessas doenças. Ela foi uma das primeiras a testar a vacina intranasal nos bezerreiros das fazendas que atende e destacou suas vantagens: “As bezerras podem ser vacinadas na primeira semana de vida. Tratase de uma vacina viral que previne os vírus que causam lesões primárias, enquanto as bactérias causam as lesões secundárias”.
A adoção da vacina intranasal reduziu significativamente a incidência de problemas respiratórios. “No primeiro momento, reduziu 50% da incidência de problemas respiratórios. No segundo momento, percebemos que a vacina não resolve todos os casos, mas reduz a severidade do problema. As bezerras se recuperam rapidamente, com menos sequelas, menor perda de peso e menor taxa de mortalidade”, relatou Cristiane.
Atualmente, todos os bezerreiros sob sua gestão utilizam vacinas intranasais. “As bezerras tomam uma dose na primeira semana de vida e, em alguns bezerreiros, uma segunda dose entre 30 e 60 dias após o nascimento. Isso nos auxilia a reduzir a incidência de pneumonia, mesmo em condições adversas”, concluiu Cristiane.
Se Liga!
Confira o vídeo que revela os detalhes da conexão entre Cristiane Azevedo, proprietária da Qualy & Calf Consultoria, e a estratégia de vacinação intranasal na prevenção de doenças respiratórias em bezerras
Palavra final
“A vacina intranasal auxilia muito no tratamento e na prevenção de doenças respiratórias, mas é necessário diminuir os desafios. Para reduzir a incidência das doenças respiratórias para menos de 15%, precisamos proporcionar bem-estar aos animais, oferecer conforto e garantir uma boa troca de ar no bezerreiro para reduzir a amônia. É importante também que as bezerras recebam leite de qualidade e que sejam bem colostradas; e, claro, que se faça uma boa cura do umbigo. Treinar pessoas para fazer diagnósticos precoces e vacinar as mães para transferir imunidade passiva também é essencial. É fundamental não negligenciar o básico. É preciso construir um ambiente para que a vacina atue em toda sua potencialidade. Mas, se a bezerra estiver subnutrida, recebendo pouco leite, em um ambiente úmido e sem um bom manejo das camas, a vacina não fará milagre. O básico representa 80% dos problemas das fazendas; é o básico que faz a grande diferença. Para fazer bem feito, é preciso que os funcionários sejam bem treinados e orientados, além de ter um protocolo operacional. O monitoramento deve ser constante. Isso é fundamental para manter a saúde e o bemestar das bezerras”, conclui Cristiane.
É FUNDAMENTAL NÃO NEGLIGENCIAR O BÁSICO. É PRECISO CONSTRUIR UM AMBIENTE PARA QUE A VACINA ATUE EM TODA SUA POTENCIALIDADE
Autora: Adriana Vieira Ferreira
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