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Manejo, Sanidade

Conheça as principais causas e os sinais clínicos da ceratoconjuntivite infecciosa bovina

Conheça as principais causas e os sinais clínicos da ceratoconjuntivite infecciosa bovina, bem como as melhores práticas para proteger seu rebanho e minimizar as perdas associadas a essa doença.

Conheça as principais causas e os sinais clínicos da ceratoconjuntivite infecciosa bovina

A ceratoconjuntivite infecciosa bovina (CIB) é a enfermidade ocular mais comum em bovinos e problema recorrente nas propriedades leiteiras. Popularmente chamada de cerato, ceratite contagiosa ou infecciosa, queratite ou “mal do olho”, a CIB se destaca por ser uma doença de rebanho: para que o diagnóstico seja considerado, pelo menos 10% dos animais do lote devem apresentar sinais clínicos.

Esse critério é essencial para distinguir a CIB de doenças com sinais clínicos semelhantes, como a diarreia viral bovina (BVD) e a rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR). Enquanto essas doenças podem desencadear sinais sistêmicos, como febre e prostração, a CIB afeta predominantemente a região ocular, facilitando o reconhecimento e o tratamento específico da condição.

A evolução dos sinais clínicos da CIB

O primeiro indício da CIB nos animais é um lacrimejamento intenso, que deixa a cara manchada, especialmente em bovinos de pelagem mais clara. Esse sinal é tão característico que os próprios produtores e tratadores costumam identificar os animais afetados como aqueles que estão “chorando”. À medida que a doença progride, o lacrimejamento pode evoluir para uma secreção pegajosa e purulenta. Além disso, os animais acometidos podem desenvolver feridas (úlceras) na córnea — uma membrana fina e transparente que reveste o olho. Essas úlceras geralmente se apresentam como pontos esbranquiçados ou lesões transparentes com bordas elevadas, lembrando o formato de um vulcão.

Outro sinal clínico importante é o edema de córnea, que confere ao olho um aspecto esbranquiçado ou azulado. Com o passar dos dias, alguns animais desenvolvem vasos sanguíneos visíveis sobre a córnea, resultando em uma coloração rosada ou avermelhada do olho — característica que deu origem ao nome da doença em inglês: pinkeye (olho rosa). Nos casos mais graves, a infecção pode levar à perfuração da córnea e, consequentemente, à cegueira irreversível.





Causas e fatores de risco 

A CIB é causada pela bactéria Moraxella bovis. A transmissão ocorre tanto por contato direto entre animais infectados e saudáveis quanto por meio de vetores, com destaque para as moscas domésticas, moscas da face e moscas dos estábulos. Esses insetos desempenham papel importante na disseminação da doença, carregando a bactéria de um animal para outro.

Além das moscas, diversos fatores de risco contribuem para o surgimento da CIB, como a exposição prolongada à luz ultravioleta (UV), que pode enfraquecer a córnea, e pequenas lesões oculares provocadas por pastagens altas e sujas, excesso de poeira ou ambientes com alta densidade animal, como os confinamentos. Nesses sistemas, o risco de transmissão direta entre os animais é maximizado pela proximidade física entre os bovinos, e pode ser potencializado pela má gestão dos dejetos, que pode aumentar a proliferação de moscas e, consequentemente, a disseminação indireta da doença. 

Determinadas raças bovinas apresentam maior predisposição à CIB, sendo as europeias, como Hereford, Angus e Holandês, as mais afetadas. Embora alguns especialistas apontem a falta de pigmentação ao redor dos olhos como um fator de risco adicional, a relação entre despigmentação e suscetibilidade à doença ainda não é um consenso no meio científico. 

Outro aspecto relevante é a sazonalidade da CIB, com maior incidência no final da primavera e durante o verão. O aumento do fotoperíodo intensifica a exposição à radiação UV, que pode gerar microlesões oculares, ao mesmo tempo em que o clima quente favorece a proliferação das moscas, elevando significativamente os riscos para o rebanho.



ALÉM DAS MOSCAS, DIVERSOS FATORES DE RISCO CONTRIBUEM PARA O SURGIMENTO DA CIB, COMO A EXPOSIÇÃO PROLONGADA À LUZ ULTRAVIOLETA (UV), QUE PODE ENFRAQUECER A CÓRNEA, E PEQUENAS LESÕES OCULARES PROVOCADAS POR PASTAGENS ALTAS E SUJAS, EXCESSO DE POEIRA OU AMBIENTES COM ALTA DENSIDADE ANIMAL, COMO OS CONFINAMENTOS

Prevenção e controle: estratégias para proteger o rebanho contra a CIB

 

A prevenção e o controle da CIB envolvem um conjunto de práticas voltadas para a redução dos fatores de risco e a interrupção do ciclo de transmissão da doença. O controle das moscas é uma das principais estratégias, podendo ser realizado por meio do manejo adequado dos dejetos, da higienização das áreas de manejo e do uso de brincos repelentes, que ajudam a afastar os vetores responsáveis pela disseminação da bactéria.


A manutenção das pastagens limpas e em condições adequadas é outro fator essencial, pois contribui para evitar as microlesões oculares que predispõem os animais à infecção. Além disso, minimizar o tempo de confinamento pode reduzir a transmissão direta da doença, uma vez que estes ambientes favorecem o contato entre os bovinos e aumentam o risco de contágio. 


Medidas de biossegurança também desempenham papel importante na prevenção da CIB. Evitar o compartilhamento de utensílios entre os animais e adotar boas práticas de higiene, como lavar as mãos ou utilizar álcool 70% após o contato com a face dos bovinos, são atitudes simples, porém eficazes, para conter a propagação da doença. 

 

No Brasil, estão disponíveis duas vacinas contra a CIB, mas ainda são necessários estudos mais aprofundados para determinar sua real eficácia na prevenção da enfermidade.


Coleta de material para diagnóstico laboratorial da CIB, essencial para confirmar a presença da bactéria Moraxella bovis

O CONTROLE DAS MOSCAS É UMA DAS PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS, PODENDO SER REALIZADO POR MEIO DO MANEJO ADEQUADO DOS DEJETOS, DA HIGIENIZAÇÃO DAS ÁREAS DE MANEJO E DO USO DE BRINCOS REPELENTES, QUE AJUDAM A AFASTAR OS VETORES RESPONSÁVEIS PELA DISSEMINAÇÃO DA BACTÉRIA


Impactos econômicos e desafios no Brasil: combatendo a CIB com ciência e tecnologia 


Embora e CIB não seja uma doença fatal, suas consequências econômicas podem ser significativas. A enfermidade afeta diretamente a produtividade dos rebanhos, resultando em redução do ganho de peso nos bovinos de corte e queda na produção de leite nos rebanhos leiteiros. Além disso, há custos adicionais com tratamentos, desvalorização comercial dos animais afetados e, em casos mais graves, o descarte precoce dos bovinos. Outro impacto relevante é o comprometimento do conforto e bem-estar dos animais, fator cada vez mais valorizado na pecuária moderna.


Uma característica marcante da CIB é sua rápida disseminação dentro do rebanho. Em um estudo realizado por nossa equipe em propriedades rurais do sul do Rio Grande do Sul, mais de 98% dos animais de um dos rebanhos avaliados apresentaram sinais clínicos da doença, evidenciando sua taxa de contágio e a necessidade de estratégias eficazes de controle.


A CIB tem distribuição global ampla, causando prejuízos expressivos em diversos países. Estima-se que, anualmente, as perdas econômicas causadas pela doença alcancem aproximadamente 226 milhões de dólares nos Estados Unidos e 13,3 milhões de dólares na Austrália. No Brasil, infelizmente, ainda não dispomos de dados consolidados sobre os prejuízos econômicos ou a prevalência da CIB, o que reforça a necessidade de pesquisas mais aprofundadas para dimensionar o problema e propor soluções eficazes.

 

Buscando preencher essa lacuna, nossa equipe conduziu uma pesquisa recente utilizando um questionário online, amplamente divulgado nas redes sociais. O objetivo era avaliar o nível de preocupação dos produtores de leite e carne em relação à CIB e mapear as regiões mais afetadas. Os resultados mostraram que 70% dos participantes relataram a ocorrência de doenças oculares em seus rebanhos nos últimos três anos, e 78,5% observaram casos de lacrimejamento — um possível indicativo da presença da CIB no país. No entanto, estudos de campo ainda são necessários para confirmar a origem desses sinais clínicos e compreender melhor a dinâmica da doença nos rebanhos brasileiros.


Dando continuidade a esses esforços, nossa equipe está desenvolvendo um projeto de pesquisa que envolve a coleta e análise da microbiota ocular de animais sintomáticos. O objetivo é identificar as bactérias presentes e, assim, contribuir para o desenvolvimento de estratégias mais assertivas de prevenção e controle da CIB no Brasil.



Bezerra da raça Holandês apresentando úlcera de córnea e secreção ocular (animal “chorando”)

AUTORES
EMANUELLE BALDO GASPAR - Pesquisadora da Embrapa Gado de Leite 
MARTA FONSECA MARTINS - Pesquisadora da Embrapa Gado de Leite
ROBERT DOMINGUES - Analista da Embrapa Gado de Leite

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EMBRAPA GADO DE LEITE

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