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Reprodução

Critérios para escolha de biotecnias reprodutivas - Parte I

Critérios para escolha de biotecnias reprodutivas - Parte I

Texto: Ana Carolina Leite, João Gabriel Viana de Grázia, Natália Vieira Sollecito, Virgílio Barbosa de Andrade, Telma da Mata Martins, Álan Maia Borges

 Diversas biotecnias estão disponíveis para rebanhos leiteiros, permitindo potencializar o aproveitamento do material genético de animais com melhor desempenho produtivo. Na primeira parte deste artigo, serão abordadas as principais vantagens e dificuldades na implantação da inseminação artificial convencional e em tempo fixo, e da transferência de embriões, destacando as consequências do uso inadequado.

 

 As biotecnias reprodutivas foram desenvolvidas para potencializar o aproveitamento do material genético de animais com melhor desempenho produtivo. Em rebanhos leiteiros, a adoção destas técnicas possibilita o cruzamento e a seleção de animais geneticamente superiores, visando aumentar a produção de leite e garantir a transmissão de características morfológicas e funcionais desejáveis para a geração seguinte.

A incorporação de biotecnias da reprodução aumenta os níveis de exigências específicas para a expressão do potencial de produção dos animais, sendo necessário adotar técnicas de criação adequadas para cada categoria. Recomenda-se que a propriedade seja organizada para proporcionar condições favoráveis para a implementação das biotecnias reprodutivas, investindo previamente no treinamento dos funcionários, na adequação das instalações, no manejo sanitário, nutricional e reprodutivo do rebanho.

Dentre as biotecnias reprodutivas disponíveis para propriedades leiteiras, a inseminação artificial (IA) é a pioneira e a mais utilizada. Na sequência cronológica, seguem a transferência de embriões (TE) e a produção in vitro de embriões (PIVE), que possibilitam a máxima exploração do material genético dos machos e das fêmeas geneticamente superiores. Mais recentemente, surgiram a transgenia e a clonagem, que necessitam de maior embasamento científico e, por isso, são pouco aplicadas a campo.

Na primeira parte deste artigo abordaremos as principais vantagens e dificuldades na implantação da inseminação artificial convencional e artificial em tempo fixo, e da transferência de embriões, destacando as consequências do uso inadequado.

 

Inseminação artificial e IATF

A IA convencional é uma das biotecnias da reprodução mais antigas e é considerada a mais importante para o melhoramento genético dos animais. A IA possibilita alta pressão de seleção a um baixo custo, já que não é necessário comprar e manter reprodutores de alto valor genético e econômico na propriedade.

A técnica de IA consiste na transposição da cérvix e posterior deposição mecânica do sêmen no corpo do útero da fêmea. Alguns fatores que contribuem para a utilização da IA em bovinos são a facilidade de aplicação desta técnica, as boas taxas de gestação obtidas com sêmen congelado e a possibilidade do uso de sêmen sexado. Cerca de 10% do rebanho bovino do Brasil é inseminado, segundo dados da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (ASBIA) de 2014. Especula-se que esse número seja subestimado devido a falhas de comunicação entre as empresas que comercializam o sêmen, as propriedades e os órgãos responsáveis por fazerem a estatísticas. Além disso, algumas propriedades utilizam sêmen de animais do próprio rebanho, muitas vezes processado de forma inadequada, o que prejudica os resultados da IA e coloca em risco a sanidade do rebanho.

A rigorosidade na observação de cio é primordial para o sucesso da técnica de IA convencional (Figura 1). Preconiza-se que as fêmeas observadas em cio pela manhã, sejam inseminadas à tarde, e que as fêmeas observadas em cio à tarde sejam inseminadas na manhã do dia seguinte. Assim, é possível obter maior aproximação entre o momento da ovulação e a realização da IA, favorecendo o encontro entre o gameta feminino (oócito) e o gameta masculino (espermatozoide) nas tubas uterinas, o que aumenta a chance de ocorrer a concepção.

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Em função da dificuldade em se detectar o cio na maioria dos rebanhos leiteiros e, consequentemente, o momento ideal para realizar a IA, o uso de protocolos hormonais para indução da ovulação e sincronização do cio tem sido cada vez mais comum. Para maiores esclarecimentos sobre a técnica de Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF), recomenda-se a leitura dos artigos “Protocolos Hormonais: viabilidade da aplicação em rebanhos leiteiros” e “Protocolos hormonais: quando e como utilizá-los?”, publicado nas edições de dezembro/2015 (Parte 1) e janeiro/2016 (Parte2) da Revista Leite Integral, respectivamente. Basicamente, a IATF possibilita a realização da IA sem a observação prévia de cio, concentrando a mão de obra para execução da técnica e manejo de vacas e bezerros ao longo do ano.
 

Apesar de todas as vantagens proporcionadas pela IA convencional ou em tempo fixo, vários cuidados devem ser tomados. Para as propriedades que usam a IA convencional como estratégia reprodutiva, a implantação de uma adequada rotina de observação de cio é imprescindível para alcançar bons resultados. A decisão de adotar a IATF deve ser avaliada criteriosamente, visto que diversos fatores podem influenciar no sucesso dessa biotecnia, tais como sanidade, manejo nutricional, correta administração dos hormônios e avaliação reprodutiva dos animais.

A aplicação da IA convencional ou em tempo fixo de forma imprudente pode ter como consequências a obtenção de taxas de gestação abaixo da média, o prolongamento do intervalo de partos e o aumento dos custos com a reprodução, inviabilizando a adoção dessas biotecnias. Um ponto muito importante que deve ser observado é a escolha do sêmen do touro a ser utilizado nos acasalamentos. Para alcançar o objetivo de multiplicar animais geneticamente superiores, uma seleção bastante criteriosa do reprodutor deve ser previamente realizada levando em consideração qual o objetivo do sistema de produção. As taxas de gestação obtidas para cada touro e os resultados esperados em relação ao melhoramento genético a médio e longo prazos devem ser considerados como critério de avaliação da técnica de IA.

Todo o planejamento para a adoção da IA convencional ou em tempo fixo e das outras estratégias reprodutivas deve ser coordenado por profissionais bem treinados. Apesar de parecerem simples, essas técnicas requerem uma série de conhecimentos prévios, que apenas os profissionais especializados apresentam. É necessário conhecer a fisiologia dos animais, a variedade de protocolos hormonais utilizados de acordo com as condições fisiológicas dos animais, as particularidades do sêmen (convencional ou sexado), os procedimentos para realização de cada técnica, a viabilidade econômica da adoção de determinada biotecnia, dentre outros pontos específicos da Reprodução Animal. Pensando em realizar alguma economia, alguns produtores de leite optam por contratar pessoas não qualificadas para a implantação de biotecnias reprodutivas em seus rebanhos, e acabam colocando em risco não apenas o resultado das taxas de gestação, mas também a integridade das matrizes e a viabilidade das técnicas.

 

Transferência de embriões

A TE consiste na obtenção de embriões provenientes de fêmeas doadoras de alto valor genético e subsequente transferência dos mesmos para fêmeas designadas como receptoras, nas quais os embriões completarão o período gestacional. Por meio da TE, é possível obter mais descendentes de uma mesma fêmea durante a sua vida útil.

Assim como a técnica de IA, citada anteriormente, a TE também precisa ser utilizada com responsabilidade e planejamento criterioso. O uso inadequado da TE pode trazer prejuízos para diversas áreas da bovinocultura de leite, devido à necessidade de altos investimentos para o estabelecimento e manutenção da técnica.

Vários pontos críticos devem ser considerados para o êxito da TE em um sistema de produção. O primeiro deles é o cuidado e a atenção no processo de implantação da técnica. É necessário ter boa infraestrutura para atender as necessidades de obtenção e manipulação dos embriões. O investimento para a construção de um laboratório dentro da propriedade deve ser levado em conta, ou deve-se avaliar a opção de parcerias com laboratórios externos. Além disso, todos os procedimentos de coleta e processamento dos embriões devem ser realizados com materiais limpos e esterilizados, de preferência descartáveis, incluindo meios de manipulação e reagentes de boa qualidade (Figura 2). Instalações inapropriadas, materiais e meios de origem duvidosos resultam em menor número de embriões transferidos, o que compromete os resultados e causa prejuízos.

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Outro ponto chave da TE é a sincronização hormonal da doadora e da receptora. Esta etapa é fundamental para o sucesso da biotecnia, pois depende da resposta dos animais a protocolos hormonais de alto custo, os quais devem ser escolhidos com cuidado devido à alta variabilidade individual na resposta à superovulação, que interfere negativamente nas etapas subsequentes da TE. Logo, o conhecimento sobre a fisiologia reprodutiva da fêmea bovina é substancial, pois permite escolher o melhor protocolo para as doadoras e receptoras utilizadas no programa de TE. A escolha de protocolos desconsiderando os pontos anteriormente citados pode levar a falhas na sincronização hormonal entre doadoras e receptoras, gerando divergência de estádios fisiológicos entre elas, o que compromete a sobrevivência do embrião.

Com relação às características zootécnicas do rebanho leiteiro, a TE possibilita a troca de material genético por meio de embriões gerados a fresco ou criopreservados, sendo essencial a avaliação criteriosa do valor genético das bases materna e paterna selecionadas, pois elas serão as bases de outras gerações, além de estarem diretamente relacionadas com o retorno do capital investido na implantação do programa de melhoramento genético do rebanho. Nas raças de aptidão leiteira, por exemplo, é necessário considerar a conformação do úbere, a massa corporal, o consumo e a conversão alimentar, a adaptabilidade, a fertilidade, a produtividade e a higidez. Qualquer erro na escolha dos animais utilizados na TE pode introduzir características não desejadas no rebanho, as quais poderão ser transmitidas para as próximas gerações.

Deve-se considerar também a questão sanitária dos rebanhos nos quais pretende-se implantar e comercializar embriões para TE. Os embriões destinados ao comércio devem estar livres de doenças no período mínimo de seis meses segundo a IETS (International Embryo Transfer Society). As principais doenças infectocontagiosas que podem ser transmitidas pelos embriões são: brucelose, tuberculose, leucose, Rinotraquíte Infecciosa Bovina (IBR), Diarreia Viral Bovina (BVD), dentre outras. Toda propriedade que pretende exportar embriões comercialmente deve ser livre de tais doenças em seu plantel, e também deve tratar os embriões de acordo com o protocolo de manuseio sanitário da IETS. Está incluída nesse protocolo a descontaminação da zona pelúcida, camada externa dos embriões que pode carrear patógenos aderidos à sua superfície. A omissão de quaisquer critérios sanitários pode levar à disseminação de doenças em plantéis livres, resultando em problemas reprodutivos como mortalidade embrionária, aborto, má-formação fetal e/ou nascimento de natimortos.

Portanto, apesar da TE ser viável e disponível para o aceleramento do progresso genético em rebanhos leiteiros, a técnica deve ser implantada com maturidade, pois seu mal uso pode acarretar danos de ordens fisiológica, sanitária e financeira.

 

Na próxima edição, a segunda parte deste artigo discutirá a produção in vitro de embriões (PIVE), a transgenia e a clonagem.

 

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