A força que vem de berço: conheça a história da Argropecuária Arkafla (Castro/PR)
A Agropecuária Arkafla reflete a força de uma tradição familiar pautada em valores sólidos, na inovação e no desejo de deixar um legado que atravessa gerações.

Nome próprio
A sonoridade do nome Arkafla é resultado da combinação do nome dos filhos de Maria Helena: Armando, Karina e Flávio. Mais do que um efeito estético, tal acrônimo simboliza a construção de uma sociedade alicerçada em sólidos valores familiares e em um profundo amor mútuo. No entanto, a história da fazenda começa muito antes do nascimento dos três, em 1978, quando o pai iniciou a produção agrícola. Guiado pela paixão pela terra e pela habilidade de enxergar oportunidades em meio às adversidades, ele transformou áreas de pastagem em lavouras. O sucesso foi gradual no decorrer da década de 1980, mas, em 1994, o falecimento precoce do patriarca trouxe a necessidade de redefinir sonhos, metas e estratégias.
Depois dessa perda, coube à mãe, Maria Helena, assumir o comando dos negócios familiares. Embora sem experiência direta na produção, sua determinação inabalável a levou a tomar decisões corajosas que garantiram a sobrevivência e o futuro da propriedade. “Um momento decisivo para os nossos negócios foi quando minha mãe trocou uma caminhonete por 20 vacas da raça Holandês, dando início à atividade leiteira como uma fonte estável de receita”, conta Armando.
Aos poucos, Armando e seus irmãos também se envolveram no negócio e, em 2001, decidiram unir as operações. Essa fusão permitiu ganhos de escala e maior eficiência nos processos, dando início a uma fase de crescimento para a Agropecuária Arkafla. Em 2010, Maria Helena formalizou a sucessão, transferindo o controle da fazenda para os filhos, que hoje administram a Agropecuária Arkafla de forma sólida e próspera. Com 1.221 vacas em lactação, a fazenda produz atualmente 54.700 litros de leite por dia, com média de 46,5 litros por vaca. Além da pecuária leiteira e da agricultura, a Arkafla diversificou suas atividades, incluindo a silvicultura. E investiu também no setor educacional, refletindo a visão de Maria Helena, que sempre foi professora e pedagoga. “Com dedicação e união, conseguimos levar o negócio a um novo patamar”, afirma Armando, destacando o papel fundamental da família na construção desse legado.
Da agricultura à pecuária
“Todo bom produtor de leite tem que ser bom agricultor. Produzir forragem de qualidade, com custo acessível, é imprescindível para o sucesso da produção. Tudo começa por aí”, diz Armando. Localizada a 1.035 metros de altitude, a Agropecuária Arkafla se beneficia de um ambiente privilegiado tanto para os animais quanto para a produção de forragem. Com campos de alfafa, cereais e azevém, a fazenda tira proveito da localização, do clima favorável e do legado da colonização holandesa, que impulsionou a produção de leite na região. O sucesso da pecuária leiteira está diretamente ligado à agricultura, pois a sustentabilidade da atividade depende da produção de forragem de qualidade com custo acessível.
TODO BOM PRODUTOR DE LEITE TEM QUE SER BOM AGRICULTOR. PRODUZIR FORRAGEM DE QUALIDADE, COM CUSTO ACESSÍVEL, É IMPRESCINDÍVEL PARA O SUCESSO DA PRODUÇÃO. TUDO COMEÇA POR AÍ
A combinação entre o ambiente propício e o constante aprimoramento da infraestrutura foi determinante para o crescimento da Agropecuária Arkafla. Em 2009, durante sua primeira viagem à Califórnia, Armando adquiriu valiosas perspectivas sobre a organização da produção leiteira. O conhecimento adquirido foi transformador, levando à implementação de melhorias significativas na fazenda, com novas ideias que otimizaram processos e aumentaram a eficiência do manejo. Essa evolução consolidou a Arkafla como uma operação moderna e bem estruturada.
Além dos avanços em infraestrutura e agricultura, Armando ressalta que o crescimento gradual da fazenda tem sido impulsionado pelo fluxo contínuo de receita. “A atividade leiteira se autoconstrói porque a receita é constante”, explica. Com entradas de caixa regulares a cada 15 dias, esse fluxo permite que se faça investimentos progressivos, adquirindo o que é necessário e mantendo as despesas sob controle. “Nós seguimos esse modelo, aproveitando o fluxo de caixa para financiar os investimentos”, reforça Armando.
Desde o início, a Arkafla foi guiada por uma visão clara de futuro, o que possibilitou uma estruturação eficiente e planejada. Hoje, com a operação consolidada, a fazenda já vislumbra uma nova fase de expansão, sempre com estratégia bem- definida para o crescimento contínuo.
Nutrição estratégica
Armando enfatiza a importância da nutrição na operação da fazenda: “A nutrição é algo muito amplo e representa metade dos custos da fazenda”. O controle rigoroso da alimentação é essencial para garantir o desempenho ideal dos animais. Sem uma nutrição adequada, mesmo com boas condições de ambiência e genética de qualidade, os resultados não seriam satisfatórios.
Além de produzir silagem de grão úmido e outros insumos, a fazenda incorporou o uso do HPDDG (High Dried Distillers Grains – ou grãos secos por destilação com alta proteína), proteína alternativa que tem se mostrado solução eficaz para reduzir custos, substituindo em grande parte as fontes de proteína à base de soja. “Hoje, conseguimos substituir boa parte da proteína bypass que usávamos, com produtos à base de soja, pelo HPDDG, o que nos trouxe uma economia significativa”, comenta Armando. A adoção desse produto vem se tornando mais comum entre os produtores de leite, principalmente por seu excelente custo-benefício se comparado ao farelo de soja, amplamente utilizado na nutrição bovina há muitos anos.
Armando evidencia como é importante o equilíbrio de aminoácidos, que ocorre quando se diversificam as fontes proteicas. “Quando você usa várias fontes de proteína, garante maior equilíbrio, tanto no aproveitamento ruminal quanto intestinal, o que faz diferença nos níveis de produtividade.”
Vacas em lactação se alimentam de dieta balanceada que inclui HPDDG – suplemento nutricional que contribui para a alta produtividade e o bem-estar animal
ALÉM DE PRODUZIR SILAGEM DE GRÃO ÚMIDO E OUTROS INSUMOS, A FAZENDA INCORPOROU O USO DO HPDDG (HIGH DRIED DISTILLERS GRAINS – OU GRÃOS SECOS POR DESTILAÇÃO COM ALTA PROTEÍNA), PROTEÍNA ALTERNATIVA QUE TEM SE MOSTRADO SOLUÇÃO EFICAZ PARA REDUZIR CUSTOS, SUBSTITUINDO EM GRANDE PARTE AS FONTES DE PROTEÍNA À BASE DE SOJA
O HPDDG, usado como fonte alternativa de proteína, traz benefícios econômicos à fazenda e nutricionais aos animais, substituindo parte do farelo de soja na alimentação do rebanho
Eleno Huff, representante comercial da FS, fala da importância de utilizar o HPDDG, devido à alta digestibilidade e à qualidade superior, resultado de um processo de produção diferenciado que separa a parte fibrosa do milho. Isso garante um produto mais refinado, visualmente atrativo e com um aroma agradável, além de oferecer um teor de proteína mais consistente ao longo do ano. “Um dos pontos fortes do HPDDG da FS é sua consistência de qualidade, sempre uniforme em cor, aroma e perfil proteico, fundamental para garantir precisão na dieta dos rebanhos”, destaca Eleno.
Recentemente, a fazenda investiu em um programa de gerenciamento que monitora os vagões de alimentação, otimizando ainda mais o fornecimento da dieta total para os animais. Essa atenção impacta diretamente outros indicadores técnicos, como a reprodução e a saúde do rebanho. Com a melhoria na nutrição, as taxas de reprodução aumentam, as doenças diminuem e a imunidade do rebanho melhora significativamente. “A nutrição faz parte do bem-estar animal. Nutrir de maneira completa e eficiente contribui para o sucesso do negócio,” conclui Armando.
O cuidado com as pequenas
Na Agropecuária Arkafla, o manejo das bezerras recebe a mesma atenção meticulosa que outras áreas da fazenda, com foco em genética de qualidade e infraestrutura de ponta. Armando explica que o processo de cria e recria é longo, com o objetivo de preparar as fêmeas para a primeira lactação aos dois anos de idade. “As bezerras nascem e, depois de receberem o colostro e de serem avaliadas, são encaminhadas para as cabanas individuais”, comenta Armando.
As 290 cabanas plásticas, importadas dos Estados Unidos, proporcionam às bezerras abrigo adequado, permitindo que elas tenham contato com o ambiente externo sem comprometer a saúde. “O sistema das casinhas é um dos meus preferidos, porque permite um controle rigoroso das condições de saúde dos animais, principalmente para evitar problemas como diarreia”, destaca Armando. O aleitamento é intensivo, com 6 litros de leite por dia, resultando em bezerras mais fortes e com menos complicações na fase crítica de desaleitamento.
As bezerras da Agropecuária Arkafla são criadas em cabanas plásticas individuais, que garantem abrigo adequado, controle sanitário e ambiente salutar, essencial para o desenvolvimento de animais fortes e saudáveis
O processo de recria segue um cronograma preciso, com as bezerras sendo desaleitadas aos 90 dias e transferidas para baias coletivas recém-inauguradas, que proporcionam maior conforto e espaço. “Nossa meta é entregar as fêmeas ao parto com 650 quilos antes dos 24 meses; estamos alcançando esses números”, declara Armando. O uso de sêmen sexado é outro componente essencial da estratégia da fazenda, garantindo que 90% dos partos de novilhas resultem em fêmeas. Esse planejamento cuidadoso, aliado a uma infraestrutura avançada, tem permitido à Agropecuária Arkafla atingir altos índices de desempenho na criação e na recria de seu rebanho.
Planejamento e expansão
Atualmente, os animais da Agropecuária Arkafla são ordenhados em uma estrutura rotatória de 60 postos. Segundo Armando, a ordenha tem capacidade para crescer ainda mais, podendo chegar a 2.500 vacas, o que representaria o ápice da produção. “Já temos o projeto desenhado, o layout dos novos galpões de Free Stall, a expansão da recria e da ‘cozinha’, a construção de mais trincheiras. Com base nesse planejamento, começamos a sonhar com o futuro”, afirma Armando. A meta é dobrar o plantel até 2030, com um plano estruturado para acomodar esse crescimento de forma eficiente.
A ordenha rotatória, inaugurada em novembro de 2020, trouxe grandes avanços à operação. Antes, utilizava-se uma ordenha paralela dupla 8, capaz de ordenhar 650 vacas sem interrupção.
A transição para o sistema de carrossel, combinada com a aquisição de 150 vacas, elevou a produção para 31 mil litros diários logo nos primeiros meses. Desde então, o crescimento tem sido amplamente orgânico; hoje a fazenda atinge uma produtividade média de 52 mil litros por dia, chegando a picos de 55 mil litros.
“O crescimento até aqui foi orgânico, mas às vezes é preciso pensar em estratégias para otimizar a estrutura e diluir os custos fixos”, pondera Armando. Embora o foco seja o crescimento gradual, existe a possibilidade de novos investimentos para acelerar o avanço e preencher a capacidade total da fazenda. Esse plano estratégico vai garantir maior eficiência, permitindo que a Agropecuária Arkafla continue a prosperar e a expandir suas operações no setor leiteiro.
Próxima geração
Mais do que a união das iniciais de Armando, Karina e Flávio, a Agropecuária Arkafla carrega em sua essência uma história de amor, trabalho árduo e cumplicidade, que agora se prepara para atravessar gerações. Com o crescimento da família, Armando reconhece uma responsabilidade ainda maior: garantir que os valores e os sonhos plantados por seus pais se fortaleçam nas mãos dos filhos e dos sobrinhos.
Inspirado pelo exemplo de sua mãe, que conduziu a sucessão com maestria, Armando reflete sobre a importância desse processo para o futuro da fazenda. Ele e seus irmãos já estão planejando a expansão do negócio, assegurando que aqueles da próxima geração que desejarem se envolver encontrem espaço para contribuir e crescer. O grande desafio, segundo Armando, será ampliar a escala da fazenda, mantendo o equilíbrio entre o profissionalismo e o amor que sempre guiou a família. “É essencial termos uma visão técnica, mas o amor pelo que fazemos é o que nos guia”, afirma. O objetivo é garantir uma sucessão forte, bem-estruturada, criando oportunidades para que a nova geração possa prosperar no mesmo ambiente que os viu nascer. Afinal, não é só o leite que flui nos negócios; é o futuro que corre pelas veias de quem ama o que faz.
Os animais da Agropecuária Arkafla representam o legado de uma família e a missão das gerações que virão.
Autora - Adriana Vieira Ferreira / Equipe Revista Leite integral
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Adriana Vieira Ferreira
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