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O leite no mundo

Holanda: alta produtividade, longevidade e automatização

Holanda: alta produtividade, longevidade e automatização

Texto: Maria Beatriz T. Ortolani

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Introdução

No final do mês junho, o MilkPoint participou de uma viagem técnica, a convite da CRV Lagoa, para conhecer alguns sistemas de produção de leite da Holanda. O país é tido como o berço da produção de leite, sendo também o local de origem da raça Holandês.

Atualmente, o rebanho bovino leiteiro da Holanda é de cerca de 1,5 milhão de cabeças, distribuídas em 20.746 fazendas, e com produção anual de 12 bilhões de litros de leite e 600 mil toneladas de queijo. Os rebanhos possuem, em média, 73 vacas, produzindo cerca de 580.000 kg de leite/ano. O crescimento da produção de leite tem sido de 2,2% ao ano, acima da média da União Europeia.

O rebanho do país dos pôlders (os pôlders são áreas drenadas situadas abaixo do nível do mar, que constituem hoje, aproximadamente, 40% da área do país) busca as seguintes características genéticas: boa conformação funcional, longevidade e leite com alto teor de sólidos, fruto de anos de melhoramento genético e desenvolvimento de tecnologias. Para o produtor Holandês é motivo de orgulho ter vacas que atingiram a marca de 100.000 kg de leite, e não são poucos que possuem tal mérito. No entanto, os Holandeses reconhecem que 70% do resultado vem do manejo, com a nutrição sendo responsável por mais da metade dos bons resultados.

 

Sistema de produção e mercado

O país possui 1.204 mil hectares destinados à produção de leite, sendo que a maior parte das fazendas adota o sistema de produção em free stall, ou semi-confinado com pastagens de azevém. O gado é predominantemente Holandês Preto e Branco, e Vermelho e Branco.

Para podermos fazer qualquer tipo de comparação com o Brasil é preciso conhecer melhor a pecuária leiteira e o mercado local. Então vamos lá!

O primeiro ponto que chama atenção é o sistema de cotas de produção. No pós-guerra, a necessidade de garantir alimentação estimulou a política de subsídios agrícolas que, por sua vez, resultaram em superprodução de leite. A solução que já perdura por décadas foi a aplicação de cotas de produção. A cota é a maneira do governo de controlar a oferta e, assim, evitar a superprodução, de forma que os preços mantenham-se, em tese, menos voláteis e remuneradores. O produtor pode comprar uma cota compatível com a sua produção, o que não é barato, custando em em torno de €$ 0,03 (R$ 0,075) por kilo de leite produzido, ainda que tenha subsídios de aproximadamente €$ 0,05 (R$ 0,125) por kilo. Caso a produção seja maior que a cota, o produtor terá que pagar altas multas pelo excedente. Mas, se por algum motivo a produção não atingir o valor da cota, ele pode vender essa diferença para outro produtor. Em 2015, as cotas deixarão de existir e os produtores já estão se preparando para esse novo momento. Ainda é incerto o que vai acontecer, mas os Holandeses acreditam que, sem as cotas, eles poderão vender seu leite de forma mais competitiva e o país poderá ampliar o seu mercado.

Há variações no preço base do leite entre o inverno e o verão, com o valor médio girando em torno 30 centavos de euro (R$ 0,75/kg). Quando se fala em produção de leite na Holanda, é impossível não falar na Royal FrieslandCampina, cooperativa resultante da fusão, em 2008, da Friesland Foods e Campina. Só essa mega-cooperativa Holandesa é responsável por cerca de 74% da captação de leite do país. Segundo o site da empresa, atualmente o preço ao produtor é 32 euros para 100 kg de leite (cerca de R$ 0,80/kg) com 4,41% de gordura e 3,47% de proteína, níveis bem acima dos nacionais.

Para atingir a excelência, os produtores Holandeses trabalham duro e investem pesado em tecnologia e eficiência.

A produção inicia-se com a escolha de uma boa genética, adequada para o sistema de produção e objetivo do produtor, e muitas fazendas acabam utilizando programas de acasalamento para corrigirem e otimizarem as características desejadas.

 

A tecnologia a favor da produção

A maioria das fazendas Holandesas conta com mão de obra familiar, com divisão igualitária de todas as funções. Em função do baixo número de pessoas que trabalham nas fazendas e das características do sistema de produção, muitas tarefas foram mecanizadas, como é o caso do uso das ordenhadeiras-robôs, presentes em 15% das propriedades.

A ordenhadeira-robô fica dentro do estábulo, com livre acesso às vacas. Assim que a vaca entra no robô é reconhecida por meio de um chip, e a ordenha é feita de forma “personalizada”. O robô sabe ainda quanto deve fornecer de ração, se a vaca está com problemas na glândula mamária (o colostro ou o leite de descarte é separado e não vai para o tanque), qual é a média de produção, quantas vezes a vaca pode ser ordenhada por dia, dentre outros parâmetros. O robô faz a limpeza dos tetos antes de iniciar a ordenha e as teteiras são acopladas por meio de localização dos tetos por luz infra-vermelha. Todos os dados, como número de ordenhas e passagens, parâmetros de qualidade por teto (condutividade, cor, CCS), volume ordenhado, dentre outros, ficam armazenados em uma central, constituindo base importante para decisões no gerenciamento.

Outra tecnologia muito utilizada é o detector de cio. O animal usa um aparelho na perna (pedômetro) que mede a intensidade da movimentação física, avaliando o aumento do número de passos dados. Quando uma vaca entra no cio, o responsável é avisado via sms no celular.

A automatização também está presente no manejo da alimentação, sendo utilizados alimentadores automáticos para vacas e bezerras, e vagões misturadores autocarregáveis.

A limpeza dos estábulos é feita com raspadores puxados por correntes ou robôs raspadores.

O bem-estar também conta com o auxílio da tecnologia, como cortinas que se fecham automaticamente e protegem os estábulos na presença ventos fortes ou caso a umidade ambiente aumente muito, a fim de proteger os animais e as camas. Além disso, todos os estábulos visitados apresentavam sistemas de ventilação e escovas para os animais se coçarem.

Ainda que a maior parte dos sistemas de produção sejam confinamentos, o governo paga uma bonificação para os produtores que criam seus animais a pasto, por pressão da própria sociedade, a fim de promover uma melhor imagem para o país.

A preocupação com o meio ambiente não é assunto recente; muitas fazendas fazem a separação do esterco para utilização como fertilizantes, cama (utilizado junto com areia e palha) e energia. Ainda há poucos estudos sobre a utilização dessa cama de esterco em clima tropical, mas já é realidade em alguns países do Hemisfério Norte. Chamada de Bedded-Pack, a cama é uma alternativa sustentável para quem quer investir em conforto e redução de custos.

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Conclusões

Em um primeiro momento, tantos equipamentos e tanta automatização podem soar distantes da realidade brasileira, mas todos esses aparatos tecnológicos são necessários para suprir o déficit de mão-de-obra e responder com eficiência ao alto custo da terra de um país que precisou conquistá-la drenando o mar. Até aqui, a pecuária Holandesa tem tido sucesso em desenvolver animais de alta qualidade, longevos e criados em um sistema de produção eficiente para os padrões do Continente. Resta saber como as modificações que afetarão a União Europeia após 2015 serão assimiladas pelos produtores do país que é sinônimo de leite.

 

 

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