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Nutrição

Manejo da alimentação em sistemas confinados - Parte II

Manejo da alimentação em sistemas confinados - Parte II

Durante o inverno, a suplementação no cocho com volumoso e concentrado pode ser parcial ou total, dependendo da região em que se encontra uma dada fazenda. Neste artigo, são apresentadas algumas particularidades e características do manejo da alimentação em sistemas confinados, por ser tema importante tanto para sistemas mistos como para regimes de produção em confinamento total.

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Na primeira parte deste artigo, publicada na edição de julho da Revista Leite Integral, falamos sobre o controle e monitoramento da matéria seca de forragens conservadas na forma de silagem, manejo do cocho e avaliação do teor de matéria seca (MS). Agora, veremos como mensurar a sobra de alimentos, quais os cuidados no carregamento de volumosos, mistura e distribuição da dieta, e como garantir que a dieta oferecida seja o mais fiel possível à formulação.

Como mensurar a sobra?

Do total de alimento fornecido, diariamente, devemos escolher uma hora fixa para a leitura do cocho e, posteriormente, o recolhimento da sobra. O cocho deve ser  “lido” uma hora antes do trato e a sobra recolhida minutos antes deste e pesada. O consumo deve ser medido em termos percentuais, de acordo com a fórmula:

 

Consumo = (sobra : fornecido) x 100

Considerando, como exemplo, um valor de 30% de matéria seca e um fornecimento equivalente a 44,7 kg de MO/cab/dia de dieta total, para um lote fictício de 100 animais, forneceríamos 4.470 kg de dieta/dia. Se a sobra for de 220 kg, numa dada manhã, temos:

 

Consumo = (220 kg : 4.470 kg) x 100 = 4,9%

Como medida prática, recomendamos trabalhar sempre com sobra máxima de 5% e, preferencialmente, valores próximos a 1% (mínimo de sobra possível). O cocho pode permanecer sem alimento ou com resíduos (restos não aproveitáveis) até uma hora antes do trato, caso contrário os animais podem estar passando fome.

Muitos são os fatores que podem afetar o consumo de MS num determinado lote em produção. Destacamos alguns na Tabela 1.

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O sucesso de um programa de alimentação, muitas vezes, é atribuído à capacitação do técnico/nutricionista. A adequação e formulação de uma dieta para uma determinada categoria é fundamental; entretanto, como podemos perceber pela descrição dos itens acima, o bom balanceamento é apenas um dos componentes para um bom manejo da alimentação. Na prática, devemos avaliar sempre o conjunto de fatores e não um único item, exclusivamente, para um correto diagnóstico.

 

Cuidados com o carregamento de volumosos

A forma como materiais conservados são carregados, diariamente, em sistemas confinados é fundamental para o bom resultado das dietas implantadas. Não basta colhermos a silagem em momento adequado, realizando boa compactação e fechamento (vedação de silos). Muitos erros são cometidos a partir da abertura da silagem como, por exemplo, o corte irregular do silo, com formação de “dentes” no painel da silagem, aumentando a superfície de exposição da mesma ao ar, contribuindo para sua deterioração.

Outro cuidado importante é referente ao cobrimento do painel com lona, evitando que chuvas venham a molhá-lo em períodos chuvosos. Silagem que toma chuva pode ter sua composição de MS alterada sim, e temos meios de evitar essa alteração.

Dentre diferentes problemas associados ao carregamento de volumoso, o mais importante, sem sombra de dúvidas, é a mensuração da quantidade carregada. É fundamental que, quando possível, o pecuarista trabalhe com equipamentos adequados para distribuição de dietas (vagões) ou, na falta de implementos adequados, que pelo menos faça o controle, por meio indireto, da quantidade carregada. Infelizmente, em muitas propriedades que visitamos o controle efetivo da quantidade de volumoso fornecida é falho, causando inúmeros problemas.

O excesso de volumoso gera perda financeira por diferentes motivos. Primeiramente, como a quantidade de concentrado misturada ao volumoso é controlada (essa quantia o pecuarista pesa na balança porque “pesa” em seu bolso) e fixa, a dieta com mais forragem acaba ficando mais “rala” via efeito: diluição. Com mais volumoso que o programado, os animais tendem a não responder em produção de leite e, nestes casos, é comum a incidência de sobras constantes e altas (acima de 10%). O extremo oposto ocorre quando a quantidade carregada de volumoso é menor que a predicada. O prejuízo, neste caso, também é acentuado, uma vez que os animais não consomem a quantidade necessária de MS para um dado desafio de produção, não havendo resposta. Além do prejuízo direto pela menor ingestão de alimento, ocorrem prejuízos indiretos como a alteração do ambiente ruminal com queda de pH. A redução do pH do rúmen propicia o desenvolvimento de bactérias láticas no rúmen (que acentuam ainda mais a queda) e depressão de bactérias celulolíticas (digestoras de fibra/celulose). Num primeiro momento, os animais tendem a consumir todo alimento que é fornecido até o momento em que a queda de pH promove depressão no consumo via acidose ruminal.

A acidose ruminal é um problema recorrente em sistemas confinados sem controle efetivo da quantidade carregada de alimento, e pode se manifestar de modo clínico ou sub-clínico, ou seja, deprimir o pH a ponto de impactar negativamente no consumo, sem criar condições para o que os animais deixem de consumir alimento (parar a digestão). Nestes casos, aos poucos a situação de cocho limpo vai mudando para a situação de sobras (mesmo com menor fornecimento diário de alimento por carregamento ineficiente/errado).

A melhor maneira para alimentarmos animais em confinamento é por meio do uso de vagões tipo total mix ration (TMR) ou vagões de ração total (Brasil). É fundamental, ao adquirimos equipamentos como esse, que os mesmos sejam providos de balança, para que seja possível pesarmos, justamente, a quantidade de alimento volumoso predicada. Concentrados e rações podem, previamente, ser carregados em balanças estacionárias, simples e mecânicas, em salas de ração. O mesmo não é possível ser feito com silagens, por exemplo. Dessa forma, quando uma propriedade não possui vagão misturador, devemos trabalhar com metodologia indireta como, por exemplo, pesarmos balaios e usarmos estes para transbordo.

Para efeito de cálculo e exemplo, vamos considerar uma dieta com 25 kg de MO de silagem de milho/cab/dia para um lote de 50 animais, com 2 tratos/dia, totalizando 12,5 kg/cab/trato. Serão 625 kg de silagem por trato. Em média, dependendo do teor de MS de silagens e tipos de balaios, temos pesos de 18 a 22 kg/balaio. Considerando 20 kg/balaio para o exemplo, chegamos ao valor de 31 balaios/trato. A unidade “balaio” (ou “jacá”) pode ser considerada como base para aumento ou redução da quantidade de trato, nesta fazenda hipotética, desde que acompanhada do aumento ou redução proporcional do concentrado fornecido (caso contrário alteramos a relação volumoso : concentrado que é indesejável).

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Cuidados na mistura, distribuição e carregamento de alimentos

Um dos grandes erros associado ao manejo da alimentação em sistemas confinados consiste na proposta de fornecimento de dosagens altas de concentrado sem a correta mistura da mesma. Toda vez que trabalhamos com a proposta de suplementação de volumoso com concentrados e subprodutos (resíduo de cervejaria, caroço de algodão, polpa cítrica, etc), devemos planejar a forma como essa dieta será misturada e fornecida. Apesar do conceito de TMR (total mix ration ou ração total, em português) ter sido bem difundido nos últimos anos, é possível encontrar uma grande quantidade de fazendas fornecendo misturas irregulares.

O erro mais comum que nos deparamos é a deposição de concentrado e subprodutos por cima do alimento volumoso, sem mistura. Dessa forma, os animais são capazes de selecionar e ingerir grande quantidade de concentrado, o que não é adequado em termos de pH ruminal (risco de acidose), além de proporcionar, em muitos casos, grandes sobras de volumoso. Logo, a recomendação da Cowtech é que haja mistura de todo e qualquer tipo de suplementação envolvendo volumosos e concentrados, quando fornecidos no cocho, independentemente do uso de vagão misturador ou não. No caso da ausência de vagão misturador, recomendamos a adoção criteriosa de mistura manual por meio com ferramentas como o garfo, usual no caso de propriedades com menor número de animais.

No campo, encontramos diferentes tipos de erro na aquisição de vagões. Em alguns casos, são adquiridos vagões grandes ou pequenos demais para uma determinada demanda, representando um investimento desnecessário ou causando problemas operacionais. No mercado, o produtor pode encontrar 4 diferentes opções, como mostrado na Tabela 2.

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Para as 4 opções, se o objetivo for agilizar a descarga, o produtor pode optar pela mais barata e, neste caso, certamente, encontrará solução mais econômica comprando a opção 1. Se o objetivo do pecuarista for agilizar a descarga e melhorar a qualidade da sua mistura, a opção 2 será mais viável em termos de investimento. Caso queira ter agilidade na descarga, melhoria na qualidade da mistura e maior precisão na dieta fornecida, ele deve pensar na opção 3. Se o objetivo for uma agilizar tanto o carregamento quanto a descarga, melhorar a qualidade da mistura e ter uma boa precisão quanto à qualidade da dieta misturada, deverá escolher a opção 4. A diferença de preços entre as 4 opções é bastante considerável, e o produtor deve avaliar bem os benefícios e vantagens de cada uma delas antes de adquirir o equipamento. Não existem regras que estabeleçam a melhor escolha, sendo que cada caso deve ser analisado com critério, de acordo com a demanda do sistema em questão. Tecnicamente falando, as opções mais indicadas são as 3 e 4, pois a qualidade, precisão da mistura (balança) e tempo de carregamento são fatores limitantes em sistemas com mais animais para serem alimentados. Outro dado importante é saber quantos lotes serão alimentados, os tipos de volumosos que o pecuarista irá trabalhar na propriedade e o tamanho médio de cada lote.

Em muitos casos é mais interessante a aquisição de um vagão completo (Opção 4) de menor porte e mais ágil, dentro de uma fazenda do que, propriamente, um vagão de capacidade maior e menos completo (com carregamento manual/garfos, por exemplo). Infelizmente, muitas compras são realizadas sem uma investigação criteriosa sobre as características da propriedade que trabalhará com o equipamento, como: acesso ao silo, fábrica de ração, distância percorrida entre silos, sala de ração e cochos de alimentação, bem como as condições de terreno e rodagem em que o equipamento irá trabalhar. Vale lembrar que um vagão TMR, por ser um equipamento de alto custo, para ser amortizado deve trabalhar o máximo de tempo possível, sendo desejável a possibilidade do mesmo realizar carregamentos o dia todo. Quem dita os horários de trato são os animais em produção, e o número de tratos, geralmente, acompanha o número de ordenhas (comida fresca no cocho sempre após cada ordenha). Respeitando o horário de trato das vacas em lactação, os demais lotes devem e podem ser tratados ao longo do dia.

Um erro muito comum encontrado em fazendas está associado à compra de um vagão TMR como a solução para os problemas de alimentação de um rebanho. O vagão TMR é uma peça fundamental dentro de um programa de alimentação, mesmo que a propriedade tenha o pasto como base da sua alimentação durante o verão. Para termos uma suplementação ou fornecimento de dieta total com qualidade, devemos sempre pensar em vagões misturadores como solução adequada, todavia existe um fator mais importante que o equipamento em si que é a capacitação e treinamento do operador do trato.

Impressiona a quantidade de fazendas bem equipadas, com problemas no manejo da alimentação por conta de carregamentos inadequados. Mesmo com equipamentos modernos como vagões auto-carregáveis, erros no carregamento são constantes. A maioria dos operadores tem o desejo de “fechar a carga” utilizando em 100% o rotor auto- carregável, sendo que a finalização de uma carga, na maioria dos equipamentos, deve ser manual (apenas os quilos finais, representando 10 a 20 garfadas, no máximo, que chamamos de “acerto de carga”). Como o rotor trabalha em alta rotação, caso o operador não tome cuidado, pode ocorrer o carregamento adicional de volumoso, alterando as características da dieta (relação V:C). Por mais que os estes equipamentos sejam providos de aviso (apito) sonoro para sinalizar o encerramento de uma carga programada, em muitos casos, quando o operador resolve desligar esse mecanismo, bom volume de carga adicional já foi carregada e são poucos os que despejam uma eventual carga adicional para correção. Outra limitação é a ordem de carregamento. Em muitos sistemas de produção com uso de fibra longa, recomenda-se a colocação desta em primeiro lugar, posteriormente é adicionado concentrado e por último a silagem. Neste caso, é impossível realizar uma descarga corretiva no silo, pois seria jogado para fora parte da dieta. A ordem de carregamento dos ingredientes e tempo de mistura são detalhes técnicos importantes e determinantes ao sucesso de uma TMR e deve ser avaliada, caso a caso.

Da mesma forma que o carregamento é importante, devemos atentar, em termos de manejo, como o alimento é distribuído numa fazenda. No caso do uso de vagões ou mesmo carretas, é necessário saber e controlar a quantidade fornecida de alimento para cada lote. É muito comum que a distribuição seja feita “a olho”, ou simplesmente, pelo método de “colocar um tanto bom” (essas são as palavras que mais ouvimos no campo) em cada cocho (ou linha de cocho). Até mesmo no caso do uso de vagões TMR providos de balança costumamos ouvir este tipo de colocação. Vale lembrar que vagões com balança permitem que a quantidade de cada ingrediente da dieta seja carrega e pesada com boa precisão, da mesma forma que é possível realizar uma programação correta de descarga (controle de saídas) para diferentes tipos de dietas e lotes. A Cowtech possui vasta experiência na programação de sistemas com balanças e comumente é acionada para a resolução de problemas e/ou implantação de programas automatizados de carregamento e distribuição.

Mesmo diante de bastante tecnologia disponível, temos nos deparados com problemas associados ao que chamamos de “cuidado e capricho do operador”. Em muitos casos, todas as operações são realizadas com critério, no entanto, no momento da distribuição cuidados não são tomados como: respeitar o controle de saídas de cada lote ou, em casos mais extremos, nos deparamos com excesso de alimento em partes da linha de cocho (distribuição irregular) e falta de alimento em outros locais da linha ou mesmo lotes superalimentados e lotes subalimentados, colaborando para consumo irregular, afetando a produção diária de leite.

 

Dieta predicada e dieta fornecida

Por fim, fechamos nossas considerações sobre manejo de tratos e alimentação de bovinos em sistemas confinados com a questão do desafio de fazer com que a dieta planejada e formulada no computador seja, de fato, a dieta consumida e digerida pelos animais. Há muito vem sendo difundido no meio técnico o conceito de que, numa propriedade, temos 4 tipos de dieta:

a) dieta formulada;

b) dieta carregada e misturada;

c) dieta distribuída;

d) dieta consumida e digerida pelos animais.

Quando avaliamos sistemas nutricionais em fazendas de leite, devemos realizar um diagnóstico global, envolvendo os critérios para divisão de lotes quanto a produção e DEL, a quantidade de animais por lote e respeito ao espaçamento mínimo de cocho/cabeça, as condições de conforto em cada linha de alimentação, a presença de oferta de água em quantidade e qualidade adequada, o horário de tratos e horário de ordenhas, tipo de equipamento usado para carregamento e distribuição. É fundamental saber se existe controle do consumo (sobras) e se a MS do principal volumoso fornecido é monitorada. Com base nestas informações, o técnico deve avaliar se há correlação entre a dieta oferecida e o volume de leite obtido com cada uma delas ou ganho de peso programado (no caso de animais em crescimento). Caso os números não sejam positivos, certamente, em alguma etapa do processo erros devem estar acontecendo.

A nossa experiência prática tem apontado para uma somatória de pequenos erros e falta de atenção a diferentes etapas do manejo como os principais motivos que levam a discrepâncias entre produção desejada e produção obtida, na prática. O produtor deve estar atento a cada detalhe do seu programa de alimentação, e sempre procurar trabalhar sob orientação de profissionais capacitados e com experiência prática de campo para a resolução dos seus desafios.

 

 

João Paulo V. Alves dos Santos

Paulo F. Stacchini

Engenheiros Agrônomos

Cowtech - Consultoria E Planejamento Ltda

www.cowtech.com.br

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