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Negócio de família

Fazenda Bom Retiro, exemplo de sucessão e prosperidade

Negócio de família

Edição #103 - Outubro/2017

NEGÓCIO DE FAMÍLIA

Fazenda Bom Retiro, exemplo de sucessão e prosperidade

Quando chegamos a uma fazenda, a primeira impressão pode nos dizer muito sobre o local e seus donos. E na Fazenda Bom Retiro, não poderia ter sido melhor. É fácil notar o cuidado, carinho e capricho com cada detalhe. A casa e o curral são cercados com jardinagem e árvores floridas, os animais são bem cuidados, e o sorriso estampado no rosto das pessoas torna o ambiente ainda mais agradável. Talvez seja esta a razão que faz com que, geração após geração, as pessoas da família Piuzana escolham continuar na propriedade.

A Fazenda Bom Retiro é um exemplo de propriedade que conseguiu prosperar por gerações. Devido ao bom trabalho realizado, hoje ela é referência em genética na região de Rio Casca e Ponte Nova (MG). Confira um pouco da história desta família simples, mas que soube enfrentar as dificuldades e crescer com o leite.

COMO TUDO COMEÇOU

A história da Fazenda Bom Retiro começa em 1948, quando Luiz Piuzana, descendente de italianos, adquiriu a propriedade e começou a produzir milho, feijão, arroz e café. Ele e a esposa criaram os sete filhos com muito trabalho e dedicação, valores que foram passados também para os netos. Para enfrentar as dificuldades, que naquela época eram muitas, a exemplo da falta de luz e água encanada, a família já fez um pouco de tudo.

Antônio Piuzana, filho de Luiz, faz parte da primeira geração de herdeiros da fazenda. Com saudosismo, riqueza de detalhes e datas precisas, ele compartilha casos da época em que era menino e morava com os outros seis irmãos na antiga casa da fazenda.

Para melhorar a renda, Antônio já produziu carvão, com a madeira que tirava da propriedade, cana e trabalhou como intendente em usina, sem nunca deixar a fazenda de lado. A produção de leite começou em 1960, com poucos animais e baixa produção. O leite era usado para sustento próprio, e o excedente vendido para comerciantes da região. Com o tempo, a produção leiteira foi ganhando importância, e em 1970 já tinha se tornado uma das principais atividades da propriedade.

Em 1968, Antônio se casou com Hebe e teve três filhos, Admê, Ricardo e Raul. Admê, a única mulher, se formou em enfermagem e mora em Belo Horizonte. Ricardo e Raul moram cada um em uma parte da fazenda, com suas respectivas famílias, e dividem as obrigações com o pai e com a mãe.

Quando Luiz Piuzana faleceu, Antônio comprou as partes da herança de seus irmãos e continuou o trabalho na propriedade. Desde então, com a dedicação e suor do dia a dia, ele e seus filhos conseguiram prosperar na atividade e adquiriram outras áreas da vizinhança. Em 1993, compraram a fazenda Feijão Cru, em 2000, a propriedade Ipê, em 2008, a fazenda São José e, neste ano, a fazenda Bom Retiro. Com essas aquisições, totalizam uma área de, aproximadamente, 800 ha.

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Foto: Família Piuzana. Da esquerda para direita Antônio, Hebe, Raul e Ricardo

ADMINISTRAÇÃO

Hoje, toda a família possui alguma responsabilidade no gerenciamento do negócio. Antônio Piuzana é quem cuida da parte financeira, Ricardo administra a produção agrícola, Raul está à frente da produção de leite, do programa de reprodução e produção de novilhas para venda, e Hebe se dedica à suinocultura e avicultura.

A fazenda possui outros negócios, mas a maior fatia está com a produção de leite, que responde por mais de 60% da renda. A integração das atividades proporciona mais rentabilidade ao sistema, a partir do aproveitamento dos dejetos gerados pela suinocultura e avicultura, utilizados para adubação do pasto.

Ricardo sempre trabalhou na propriedade, mas seu irmão, Raul, fez um caminho um pouco diferente. Com 19 anos, foi eleito o vereador mais novo de Rio Casca e seguiu na vida política. Reeleito por outros dois mandatos, chegou a ser Presidente da Câmara, Secretário de Agricultura do município, Presidente da Associação Comercial e Presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Rio Casca, cargo que ainda mantém.

Ele conta que gostava da vida política e que teria continuado, se não fosse a necessidade de estar mais próximo do pai para auxiliar na administração da fazenda. Isto aconteceu há três anos e, graças à dedicação de Raul, a criação de animais para venda cresceu, e o negócio vem ganhando cada vez mais importância dentro da propriedade.

A sucessão familiar parece estar garantida por, pelo menos, mais uma geração. Antônio Piuzana Neto, filho de Ricardo, está terminando a graduação em Veterinária e pretende trabalhar na propriedade auxiliando, principalmente, na reprodução e criação dos animais provenientes de FIV (fertilização in vitro). Raul se casou há dois anos com Fabiana Romangnolli Piuzana, a responsável pelo inventário dos animais, registros e transferências. Eles têm um menino de 9 meses, também chamado Raul, que se seguir o desejo do pai, estará à frente da fazenda no futuro.

PRODUÇÃO E MANEJO

As 170 vacas em lactação produzem 2.600 litros de leite por dia, com média de 16,5 litros/animal/dia. Os animais estão distribuídos nas três propriedades - Bom Retiro, Feijão Cru e São José - e em todas elas é empregado um manejo muito simples. As vacas ficam a pasto durante todo o ano e recebem um pouco de concentrado na hora da ordenha. Na época das águas, além do fornecimento de concentrado após as ordenhas, é acrescida silagem de capim à dieta. Na seca, os animais consomem cana picada, silagem de capim ou milho misturada à ração, dependendo do lote de produção, e ficam no pasto somente à noite.

A maior parte das instalações foi aproveitada de currais antigos, então são simples e funcionais. Os animais são ordenhados duas vezes por dia com bezerros ao pé, aos quais é deixado apenas um teto. Esse manejo é realizado durante toda a lactação.

Atualmente, a maior parte do rebanho está prenhe de FIV, e a criação das bezerras tem ganhado uma atenção especial por causa da sua importância.

A VENDA DE GENÉTICA

A Fazenda Bom Retiro sempre investiu em melhoramento genético, fazendo uso do procedimento desde que a inseminação artificial surgiu, na década de 80. Antônio conta que comprou um botijão com nitrogênio e sêmen mesmo sem saber nada sobre a técnica. “Fui buscar um veterinário em Rio Casca para fazer a inseminação. Realizamos o procedimento em três vacas, duas com sêmen de Holandês, e a terceira, de Pardo-Suíço”, lembra. Com um plantel que sempre foi diferenciado na região, Raul promove, há 10 anos, um leilão anual, sempre muito aguardado.

A prática da inseminação, durante mais de duas décadas, também foi muito importante para começarem a produzir animais para venda com a técnica de FIV. Isso ocorreu quando Raul passou a se dedicar mais à propriedade, há três anos. Ele aproveitou a base genética do gado e comprou mais algumas vacas Gir para serem doadoras de embriões. “Decidimos começar a venda de animais fazendo a coisa certa, que é o que o mercado exige. Compramos, dos melhores criadores, vacas Gir com controles leiteiros. Se eu te vender uma bezerra, tenho certeza de que ela vai produzir muito leite”, afirma o produtor.

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Foto: Raul, sua esposa, Fabiana, e o filho na Expo Vale 2017

A fazenda tem clientes fiéis, inclusive em regiões mais distantes, como Patrocínio. Um exemplo, é o Laticínio Porto Alegre (LPA), por meio do projeto Laticínio Porto Alegre Mais Genética, e seu presidente, João Lúcio Carneiro que também são clientes assíduos.

Durante nossa conversa, Raul compartilhou comigo vários vídeos enviados por produtores que mostravam as vacas que adquiriram. Com voz de empolgação, filmavam o úbere e falavam da felicidade que sentiam com a produtividade e docilidade dos animais.

Neste ano, a Fazenda Bom Retiro já vendeu mais de 200 bezerras e 50 vacas. A maior procura é pela bezerra ½ sangue Holandês/Gir, com idade variando entre 10 a 15 meses, seguida pela ¾ Holandês/Gir. Raul conta que até vende vacas, “mas em proporção bem menor. Inclusive, meu pai até briga bastante quando vendo animais de produção, porque acredita que compromete o resultado da fazenda.”

A propriedade participa das principais exposições da região de Ponte Nova e já ganhou o prêmio de Melhor Plantel Girolando na Expo Vale 2017, entre outros individuais.

Hoje, aproximadamente 70% dos animais estão prenhes de embrião, mas Raul diz que a meta é chegar a 90%. Para atingir este índice, apenas as vacas que manifestam cio até 40 dias depois de paridas são inseminadas. Após este período, os animais são protocolados e, só então, recebem o embrião. Dependendo da vaca, podem ser feitas até três tentativas de implantação.

Para melhorar os índices reprodutivos, Raul implantou um sistema de gratificação. “Todos ganham. Quem observa o cio ganha R$ 5 por vaca prenhe e quem insemina, R$ 10”, explica. Todos os funcionários possuem WhatsApp, que é utilizado para fazer a comunicação.

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Foto: A marca AP (Antônio Piuzana) está cada vez mais conhecida nas regiões de Rio Casca e Ponte Nova (MG)

“DECIDIMOS COMEÇAR A VENDA DE ANIMAIS FAZENDO A COISA CERTA, QUE É O QUE O MERCADO EXIGE. COMPRAMOS, DOS MELHORES CRIADORES, VACAS GIR COM CONTROLES LEITEIROS. SE EU TE VENDER UMA BEZERRA, TENHO CERTEZA DE QUE ELA VAI PRODUZIR MUITO LEITE” Raul Piuzana

PRÓXIMOS PASSOS

As instalações da fazenda ainda limitam algumas mudanças de manejo, como a separação das vacas em mais lotes de produção e a implementação de um bezerreiro. Ciente deste gargalo, Raul pretende construir um galpão de Compost Barn em, pelo menos, duas propriedades. Isso permitirá a ampliação do plantel e irá melhorar a produtividade. A expectativa é que o primeiro composto seja instalado no ano que vem. Outras reformas programadas são a ampliação da sala de ordenha e a construção de um bezerreiro, para acabar com o manejo de bezerro ao pé.

Atento aos aspectos que podem ser melhorados, o produtor também está realizando um grande trabalho para melhorar a qualidade do leite, a partir da segregação de animais, linha de ordenha, CCS individual e cultura bacteriana dos casos de mastite. Essas ações começaram há pouco tempo, mas, pela dedicação e empenho de todos os envolvidos, o resultado não deve demorar a chegar.

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Foto: Novilha premiada na Expo Vale 2017, produzida a partir de FIV na Fazenda Bom Retiro

PROJETO LATICÍNIO PORTO ALEGRE MAIS GENÉTICA

A família Piuzana firmou uma parceria com o Laticínio Porto Alegre para fornecer parte do material genético utilizado no Projeto LPA Mais Genética, aprovado pelo programa de incentivo à produção leiteira “Leite Saudável”, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

O projeto busca disponibilizar aos produtores animais de maior mérito genético, provenientes de fertilização in vitro (FIV) e transferência de embrião (TE), a preços mais acessíveis. Ao todo, serão realizadas 4.600 transferências, e o objetivo é alcançar 1.850 prenhezes confirmadas por ano. O produtor só pagará o valor referente a 50% do preço da prenhez confirmada (R$ 325), sendo os outros 50% subsidiados pelo laticínio.

Todos os embriões são de animais ½ sangue ou 3/4 dos cruzamentos Girolando ou Jersolando. Os participantes do projeto também contam com a assessoria de um técnico do laboratório responsável por fazer o acompanhamento das receptoras e a implantação do embrião na propriedade. Após 60 dias, é feita a confirmação da prenhez.

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Foto: Bezerra produzida a partir de FIV na Fazenda Bom Retiro, em Rio Casca (MG)

 

Tiago Facury Moreira

Médico Veterinário e Editor-assistente da Revista Leite Integral

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