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Pecuária de precisão no Brasil

Pecuária de precisão no Brasil

Edição #85 - Abril/2016

Pecuária de precisão no Brasil

Práticas de manejo e a utilização de tecnologias que permitam a automação e a intensificação sustentável dos sistemas de produção de leite são demandas atuais. Em parceria com o MilkPoint, fizemos um questionário com o objetivo de levantar quais tecnologias estão sendo utilizadas pelos TOP 100 produtores de leite do Brasil, qualificando e quantificando as motivações para a adoção, a importância e a utilidade das tecnologias em uso nessas fazendas.

  O aumento do número de vacas nas fazendas, visando o incremento na produção de leite, pode implicar em dificuldades operacionais em atividades rotineiras, como: observação de cio, identificação de animais com problemas de saúde, alimentação, ordenha e manejo na locomoção de animais. Nesse contexto, práticas de manejo e a utilização de tecnologias que permitam a automação e a intensificação sustentável dos sistemas de produção de leite passam a ser demandas atuais.

Neste contexto, o conceito de “Pecuária Leiteira de Precisão” pode ser definido como uma “postura gerencial, amparada em tecnologias da informação e comunicação, que permite a melhoria do controle da fonte de variabilidade animal e espacial, otimizando economicamente, socialmente e ambientalmente o desempenho da fazenda leiteira".

Atualmente, existem tecnologias de precisão comercializadas no Brasil, como: dispositivos para a mensuração de produção e composição diária de leite; sensores para detecção de animais com mastite; dispositivos de avaliação de atividade e ruminação, que permitem a detecção de cio e identificação do status da saúde animal e de aspectos relacionados à nutrição animal; sensores automáticos de avaliação de condição de escore de condição corporal; cochos, bebedouros e balanças automáticas, que permitem a mensuração do consumo, ingestão de água, peso corporal e avaliação do comportamento alimentar dos animais; dispositivos que permitem a determinação da hora do parto; e equipamentos que possibilitam o monitoramento da temperatura corporal dos animais.

 Utilização e percepção das tecnologias pelos produtores

As principais tecnologias disponíveis no mercado Brasileiro são importadas de países desenvolvidos, apresentando custo elevado, e podem ainda não serem adaptadas às condições brasileiras (raças, tipos de alimentação e sistemas de criação). No entanto, pouco se sabe a respeito da utilização pelos produtores brasileiros e da percepção das tecnologias que já vêm sendo adotadas no país. Elaboramos, em parceria com o MilkPoint, um questionário com o objetivo de levantar quais tecnologias estão sendo utilizadas pelos TOP100 produtores de leite do Brasil, qualificando e quantificando as motivações para a adoção, a importância e a utilidade das tecnologias em uso nas maiores fazendas produtora de leite do país.

 Tamanho médio do rebanho

Os resultados obtidos foram comparados com resultados de pesquisa similar realizado nos EUA, em 2015. O tamanho médio do rebanho (vacas em lactação e secas) dos produtores TOP100, que responderam o questionário, foi de 321 vacas, enquanto nas fazendas americanas esse número foi 230 vacas.

 Principais parâmetros mensurados

Na tabela 1, estão apresentados os principais parâmetros mensurados por tecnologias de precisão no Brasil e EUA.

No Brasil, os parâmetros mais comumente mensurados por tecnologias de precisão foram a produção diária de leite (58,7%), peso corporal (28,3%), atividade da vaca (28,3%) e mastite (26,1%). Já nos EUA, foram: produção diária de leite (52,3%), atividade da vaca (41,3%), mastite (25,7%) e composição do leite (24,8%).

O uso de sistemas de medição de leite, assim como a utilização de medidor de atividades, figura entre os parâmetros mais utilizados pelos produtores de leite brasileiros e americanos.

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Critérios para decisão de compra

Os critérios para decisão de compra de tecnologias de precisão encontram-se na Tabela 2. As respostas dos produtores TOP100 indicaram a relação custo/benefício como o critério mais importante na decisão de compra (4,64), seguido de disponibilidade de assistência técnica (4,61), simplicidade e facilidade de uso (4,39) e compatibilidade com as atuais práticas/sistemas de gerenciamento usados na fazenda (4,30). Na pesquisa com produtores americanos, o critério relação custo/benefício (4,57) foi também o mais importante, seguido do custo total de investimento (4,28), simplicidade e facilidade de uso (4,26) e tecnologia apresenta desempenho comprovado por pesquisas (4,24). A disponibilidade de assistência técnica foi mais relevante para os produtores brasileiros. Uma possível explicação é que a maioria das tecnologias de precisão disponíveis no Brasil ainda é importada e, por isso, a falta ou pouca disponibilidade de assistência técnica dos fabricantes é uma preocupação relevante entre os produtores brasileiros.

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Graus de utilidade das tecnologias

Os graus de utilidade dados pelos produtores brasileiros aos parâmetros que as tecnologias de precisão permitem mensurar encontram-se na tabela 3. Os parâmetros de maior utilidade considerados pelos produtores brasileiros foram: produção diária de leite (4,67), detecção de estro (4,43) e mastite (4,26). Já nos EUA, a ordem de importância foi mastite (4,77), detecção de estro (4,75) e produção diária de leite (4,72).

 Softwares de gerenciamento

No levantamento com os produtores TOP100 perguntamos também sobre qual o software de gerenciamento de rebanhos era utilizado na propriedade e os principais foram: Ideagri (30,0%), Dairy Plan (17,5%), Agenda 5.0 (12,5%), Prodap (7,5%), AfiFarm (7,5%) e Delpro (5,0%) (Gráfico 1).

 

 

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 Problemas prioritários

A última pergunta da pesquisa foi relacionada a problema prioritários enfrentados na fazenda leiteira. Os principais problemas elencados foram mastite, estresse calórico/conforto animal, elevado custo de insumos e mão de obra (Gráfico 2). Problemas esses, que podem ser solucionados ou minimizados com a adoção de tecnologias de automação e precisão. Para a mastite, a adoção de sensores que geram dados de condutividade elétrica do leite, característica relacionada a CCS, já é uma realidade nas fazendas leiteiras, e pode contribuir para o diagnóstico precoce e o estabelecimento de estratégias de manejo para a melhoria da qualidade do leite. Para o estresse calórico, os sistemas de ventilação, aspersão e resfriamento estão cada vez mais automatizados e têm sido determinantes para a melhoria da eficiência bioeconômica de produção de leite em condições tropicais.

A adoção de tecnologias de automação e precisão podem contribuir para a melhoria da eficiência de mão de obra e para a otimização do uso de insumos. Na pecuária leiteira, a adoção de sistemas automáticos de ordenha (AMS) é um exemplo clássico. O primeiro sistema de ordenha automático foi instalado na Holanda, em 1992. Desde então, tem se observado um crescimento significativo no número de fazendas ao redor do mundo que têm adotado o AMS. Atualmente, estima-se que mais de 10.000 sistemas de ordenha robotizados estejam operando, em aproximadamente 5.500 fazendas no mundo inteiro. A adoção dos sistemas robotizados de ordenha deve continuar crescendo ao redor do mundo, impulsionada pela escassez e encarecimento da mão de obra, associado à preferência por não empregar mão de obra não familiar e à demanda por mais flexibilidade do trabalho e qualidade de vida.

No Brasil, a primeira ordenha robótica foi instalada em Castro/PR e entrou em operação em 2012. Em 2015, aproximadamente 13 unidades encontravam-se em operação em 10 fazendas. Até o momento, duas empresas estão comercializando o equipamento no Brasil, e a estimativa é que em 2020, aproximadamente, 50 unidades estejam em funcionamento.

A pecuária leiteira de precisão é um conceito novo, mas que estará cada dia mais presente nas fazendas. As oportunidades podem surgir tanto dentro como fora da porteira. Do lado de dentro, os produtores podem se beneficiar nas áreas de automação e tomadas de decisões mais eficientes, ao fazer melhor uso dos escassos, e cada vez mais onerosos, recursos.

Do lado de fora da porteira, há também potenciais benefícios do uso das tecnologias de precisão entre os mais diversos stakeholders. O uso dessas tecnologias pode contribuir para garantir a qualidade e a segurança do alimento para as indústrias de laticínio, por exemplo. Os técnicos podem interagir com os sistemas de precisão para alimentar as suas próprias análises, e oferecer serviços sobre o uso das tecnologias de precisão e na capacitação dos produtores. Isso pode incluir, por exemplo, o monitoramento remoto de parâmetros de desempenho, como ganho de peso e produção de leite. 

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  As centrais de melhoramento genético podem se beneficiar do acesso aos dados diários de ordenha individual e outros dados armazenados. Os bancos de dados de cada sistema de produção poderão ser conectados aos da indústria, para permitir comparações entre sistemas e desenhar políticas de extensão.

Texto: Claudio AntonioVersiani Paiva; Thierry Ribeiro Tomich; Mariana Magalhães Campos; Fernanda Samarini Machado; Luiz Gustavo Ribeiro Pereira

 

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