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Animais Jovens, Nutrição, Sanidade

Práticas de manejo, sanidade e nutrição desde o nascimento contribuem para a produtividade futura

Descubra como práticas fundamentais de manejo, sanidade e nutrição nos primeiros dias de vida das bezerras contribuem para a produtividade e promovem a longevidade do rebanho.

Práticas de manejo, sanidade e nutrição desde o nascimento contribuem para a produtividade futura

Compreender a importância do manejo desde a fase de bezerra até a maturidade é essencial para garantir uma produção leiteira de qualidade. Os animais recém-nascidos são o futuro do rebanho produtivo, e cuidados adequados nessa etapa inicial impactam diretamente a eficiência e a sustentabilidade da atividade. Entre as práticas indispensáveis ao nascimento, destacam-se a cura do umbigo e a colostragem. A atenção criteriosa a esses procedimentos promove o desenvolvimento saudável das bezerras, reduzindo os custos com medicamentos e minimizando o descarte precoce de animais, com reflexos positivos ao longo de toda a vida produtiva.

Além desses cuidados iniciais, é fundamental monitorar o ambiente para assegurar conforto, implementar rigorosos padrões de higiene e oferecer dieta balanceada desde os primeiros dias de vida. A negligência em qualquer uma dessas áreas pode elevar os índices de morbidade e mortalidade de bezerras para patamares superiores a 8%, resultando em significativas perdas econômicas para diversas propriedades leiteiras.

De acordo com o Padrão Ouro do Programa Alta Cria, a meta ideal é uma taxa de mortalidade inferior a 3% até os 60 dias de vida. Quando os cuidados iniciais falham, o impacto é severo: criam-se bezerras com saúde fragilizada, mais suscetíveis a doenças, o que compromete a futura produtividade e longevidade no rebanho.


Cuidados durante o pré-parto

A vaca prenhe requer atenção especial, uma vez que os eventos durante a gestação influenciam diretamente o desenvolvimento fetal e o desempenho futuro da bezerra. Detalhes relacionados ao conforto, nutrição e sanidade da vaca gestante devem ser cuidadosamente monitorados para garantir um manejo eficiente.

A secagem, que marca o início do período de descanso da glândula mamária, deve ser realizada com rigor quanto à higiene e ao cuidado. Essa prática é importante para prevenir problemas nos quartos mamários, como a mastite no pós-parto imediato. No período pré-parto, a vaca deve ser transferida para um ambiente tranquilo, livre de estresse térmico, com boa ventilação, sombra adequada, acesso fácil a água e alimentação, além de condições de higiene adequadas. Essas medidas criam um ambiente ideal para o nascimento saudável da bezerra.

O fornecimento de dietas balanceadas nesse período é indispensável, pois ele é caracterizado por mudanças metabólicas significativas. A vaca passa a direcionar parte substancial de sua energia para a produção de colostro e para o desenvolvimento final do feto. Dietas mal formuladas ou deficiências nutricionais podem comprometer a saúde tanto da vaca quanto do neonato.

Vacinas específicas disponíveis no mercado também desempenham papel importante no fortalecimento da imunidade da vaca e, consequentemente, da bezerra. Por exemplo, imunizações contra patógenos como Escherichia coli (mastite ambiental e diarreia bacteriana em neonatos), Rotavírus (diarreia viral em neonatos), pneumonias e clostridioses podem ser extremamente benéficas. Para máxima eficácia, essas vacinas devem ser aplicadas pelo menos 30 dias antes do parto. Esse intervalo permite que a resposta imunológica se estabeleça e que os anticorpos produzidos sejam incorporados ao colostro, garantindo eficiente transferência de imunidade passiva para a bezerra.


Colostragem

O colostro, a primeira secreção da glândula mamária pós-parto, é essencial para os recém-nascidos bovinos, pois fornece imunoglobulinas (anticorpos) e nutrientes fundamentais. Devido à estrutura sindesmocorial da placenta, que impede a passagem de proteínas de maior peso molecular, os anticorpos não são transferidos durante a gestação. Assim, é indispensável realizar a ordenha imediatamente após o parto e avaliar a qualidade do colostro utilizando um refratômetro de Brix, seja ele óptico ou digital.

O refratômetro de Brix é uma ferramenta prática e precisa, não afetada por variações de temperatura, e oferece excelente relação custo-benefício para os produtores. A medição é realizada em porcentagem, após a calibração do aparelho com água destilada. Para a análise, é necessário coletar uma amostra do colostro homogeneizado e aplicar uma gota na lente do refratômetro. Leituras abaixo de 25% indicam colostro de baixa qualidade, enquanto valores iguais ou superiores a 25% indicam colostro de excelente qualidade, ideal para fornecimento às bezerras.

Uma prática altamente recomendada é a criação de um banco de colostro, que consiste em congelar o excedente de colostro de alta qualidade em porções de 1 litro, utilizando sacos plásticos ou frascos limpos. Essa estratégia supera o uso de colostro em pó, pois o colostro armazenado da própria fazenda contém anticorpos específicos para as doenças prevalentes na propriedade. Durante o descongelamento, é fundamental utilizar o método de banho-maria, mantendo a temperatura da água abaixo de 50°C para evitar a desnaturação das imunoglobulinas, que são proteínas sensíveis ao calor (Figura 1).



Para a bezerra recém-nascida, recomenda-se que a primeira mamada, realizada em até 2 horas após o nascimento, corresponda a 10% do peso vivo, cerca de 4 litros em média. Uma segunda mamada, entre 8 e 10 horas após a primeira, deve fornecer mais 5% do peso vivo. Caso a bezerra não mame espontaneamente, é possível utilizar a sonda esofágica para garantir a ingestão adequada do colostro. No entanto, é fundamental garantir a higiene do equipamento e tomar cuidado durante a sondagem para evitar falsa via, que poderia direcionar o colostro aos pulmões em vez do rúmen.

Entre 24 e 48 horas após a ingestão do colostro, deve-se avaliar a eficácia da transferência passiva de imunidade por meio de coleta de soro sanguíneo da bezerra e medição com o refratômetro de Brix (Figura 2). Leituras maiores ou iguais a 9,4% indicam excelente transferência; entre 8,9% e 9,3%, boa transferência; de 8,1% a 8,8%, transferência aceitável; e abaixo de 8,1%, transferência insuficiente. A meta ideal é que mais de 50% das bezerras estejam na categoria excelente, cerca de 30% na categoria boa, aproximadamente 15% na categoria aceitável e menos de 5% na categoria ruim. Bezerras classificadas como de transferência ruim devem ser monitoradas com maior atenção, pois são mais vulneráveis a doenças.



Figura 2. Colostragem e avaliação do colostro por meio do refratômetro de Brix A. Fornecimento de colostro à bezerra por meio da mamadeira B. Refratômetro óptico de Brix C. Escala graduada em Brix, vista através do visor do refratômetro de Brix D. Sonda esofágica

Cura de Umbigo

O coto umbilical dos recém-nascidos bovinos é uma via potencial de entrada para microrganismos, conectando a cavidade abdominal ao ambiente externo. Por isso, uma cicatrização adequada é essencial para impedir que microrganismos alcancem órgãos vitais, como o fígado, ou a circulação sistêmica.

A cura do umbigo consiste na imersão do coto em solução antisséptica e deve ser iniciada imediatamente após o nascimento (Figura 3). Para garantir a eficácia do procedimento, é necessário observar fatores como o tipo de antisséptico, que deve promover limpeza e desidratação do coto, a forma de aplicação, a frequência e a duração do tratamento, além do armazenamento correto da solução. Entre as opções mais indicadas está a tintura de iodo com concentração entre 7% e 10%.

A aplicação correta é determinante para o sucesso do manejo. Como as estruturas do coto umbilical são tubulares, é imprescindível garantir a imersão completa em solução antisséptica por, aproximadamente, 30 segundos. O procedimento deve ser repetido duas vezes ao dia, por um período de 3 a 5 dias, até que o umbigo esteja completamente cicatrizado.

Caso a cura de umbigo não seja feita de uma forma correta e eficaz, pode resultar em onfalopatias, caracterizadas por infecções ou inflamações dos componentes do umbigo, decorrentes de uma limpeza e cicatrização inadequadas. Essas condições podem evoluir para infecções bacterianas mais graves, como abscessos e septicemia, apresentando altas taxas de mortalidade caso não sejam tratadas de maneira adequada.



Figura 3. Cura de umbigo A. Copo aplicador de tintura de iodo sem retorno B. Exemplo do procedimento de cura de umbigo em bezerra

Aleitamento

O aleitamento é essencial para o desenvolvimento inicial das bezerras, que, por serem pré-ruminantes, dependem da dieta líquida para suprir suas necessidades nutricionais. Recomenda-se o fornecimento diário de, no mínimo, 6 litros de leite de boa qualidade, fracionados em 2 a 3 refeições, garantindo a ingestão adequada de nutrientes essenciais.

A forma de oferta do leite deve simular o aleitamento natural, de modo a estimular o reflexo nervoso que ativa a formação da goteira esofágica. Esse mecanismo é responsável por direcionar o leite ao abomaso, onde será digerido, evitando seu desvio ao rúmen, que pode resultar em fermentação indesejada e disfunções metabólicas. Para isso, podem ser utilizados baldes ou mamadeiras com bicos (Figura 4), que promovem a salivação e a produção de enzimas digestivas. É importante destacar que esses utensílios requerem rigorosos cuidados de higienização para prevenir contaminações.

Embora os baldes comuns sejam práticos, o consumo muito rápido do leite pode gerar menor saciedade e aumentar o estresse das bezerras. Assim, o manejo cuidadoso e a escolha de leite de alta qualidade são indispensáveis para o crescimento saudável dos animais.

O uso de leite de descarte, como aquele contendo resíduos de medicamentos, não é recomendado, pois pode ocasionar efeitos adversos, como o desenvolvimento de resistência bacteriana.


Figura 4. Aleitamento: baldes e mamadeiras são utilizadas na oferta de leite às bezerras, simulando o aleitamento natural A. Aleitamento realizado com o uso de mamadeira B. Aleitamento realizado com o uso de baldes.
 

Desaleitamento e dieta sólida

O desaleitamento de bezerras leiteiras é uma etapa crítica que impacta diretamente o desenvolvimento, a produtividade futura e o bem-estar. Esse processo, que envolve a transição da dieta líquida para a sólida (Figura 5), requer manejo cuidadoso para evitar impactos negativos. Desde o nascimento, é recomendável que as bezerras tenham acesso a alimentos sólidos, estimulando o consumo e preparando-as para essa transição.

Durante o período de aleitamento e desaleitamento, ocorre o desenvolvimento do rúmen. Inicialmente subdesenvolvido, o rúmen passa por mudanças anatômicas e fisiológicas que culminam na sua plena funcionalidade. Para minimizar o estresse durante o desaleitamento, é importante que as bezerras estejam consumindo entre 1,0 e 1,5 kg de concentrado por dia, por pelo menos três dias consecutivos, antes da interrupção da dieta líquida.

O fornecimento de alimento volumoso deve ser introduzido de forma controlada a partir da quarta semana de vida, para garantir que o consumo de concentrado continue sendo priorizado. Recomenda-se incluir até 5% de alimento volumoso, como feno de boa qualidade, ideal para o rúmen ainda em desenvolvimento. Alimentos com baixo teor de matéria seca podem provocar enchimento precoce do rúmen, reduzindo a ingestão de concentrado, o que pode atrasar o desenvolvimento ruminal.


Mochação

A mochação é o processo de remoção do botão cornual (Figura 6), realizado por meio de cauterização física (ferro quente) ou química (pasta cáustica), com o objetivo de prevenir o desenvolvimento dos cornos. Essa prática é fundamental para evitar complicações futuras, como acidentes ou dificuldades no manejo, beneficiando tanto o bem-estar animal quanto a segurança dos responsáveis.

O uso de anestésico local é fortemente recomendado durante o procedimento, visando minimizar a dor e o estresse nos animais.

Além disso, é indicada a aplicação de anti-inflamatórios não esteroides (AINES) por um período de três dias após o manejo, para controlar a inflamação e garantir melhor recuperação.

A mochação deve ser realizada o mais cedo possível, enquanto o botão cornual ainda está em estágio inicial de desenvolvimento. Isso evita a necessidade de intervenções cirúrgicas mais invasivas, reduzindo os riscos e o impacto no animal.


 Figura 6. Mochação com ferro quente A. Procedimento de mochação em bezerra utilizando ferro quente, realizado após a aplicação de anestésico local B. Bezerra imediatamente após a realização da mochação com ferro quente.

Sanidade

A sanidade é um pilar essencial para o sucesso na produção leiteira, abrangendo a identificação, a prevenção e o controle das principais doenças, além do manejo vacinal adequado e da higienização de instalações, que devem ser adaptadas para cada faixa etária dos animais.

Durante o período de cria, a diarreia é um dos maiores desafios sanitários. Com múltiplas causas, essa condição está frequentemente associada à falta de higiene das instalações. As doenças respiratórias também são comuns na fase inicial da vida das bezerras, exigindo atenção especial. Já na fase de pós-desaleitamento, a tristeza parasitária bovina (TPB) desponta como uma das principais causas de prejuízo econômico.

O diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso do tratamento e para o desenvolvimento de estratégias eficazes de controle e prevenção dessas enfermidades. A prevenção, no entanto, é mais eficiente e econômica do que a intervenção após a ocorrência de doenças.

Dessa forma, práticas preventivas como vacinação, manejo adequado, controle de parasitas, separação de animais doentes, higienização rigorosa de instalações e utensílios, nutrição balanceada e monitoramento constante da saúde dos animais são indispensáveis. Essas medidas não apenas otimizam a sanidade das bezerras, mas também promovem um desenvolvimento saudável, reduzindo perdas e maximizando a produtividade.

A SANIDADE É UM PILAR ESSENCIAL PARA O SUCESSO NA PRODUÇÃO LEITEIRA, ABRANGENDO A IDENTIFICAÇÃO, A PREVENÇÃO E O CONTROLE DAS PRINCIPAIS DOENÇAS, ALÉM DO MANEJO VACINAL ADEQUADO E DA HIGIENIZAÇÃO DE INSTALAÇÕES, QUE DEVEM SER ADAPTADAS PARA CADA FAIXA ETÁRIA DOS ANIMAIS

Conclusão

A criação de bezerras leiteiras exige atenção a diversos fatores que se interrelacionam, demandando cuidados especiais e monitoramento contínuo. Não há soluções mágicas, apenas a combinação de trabalho diligente, planejamento e execução criteriosa.

Sanidade, nutrição e manejo são pilares fundamentais, cujos resultados estão intrinsecamente conectados e impactam diretamente o desenvolvimento, o desempenho e o futuro das bezerras no rebanho. Estabelecer protocolos claros e rotina consistente de cuidados desde o primeiro dia de vida é essencial para garantir bezerras saudáveis e bem desenvolvidas.

Quando realizados corretamente, esses cuidados contribuem para a saúde e o bem-estar das bezerras e asseguram a formação de vacas mais produtivas e longevas, consolidando a base para uma produção leiteira eficiente e sustentável.


A CRIAÇÃO DE BEZERRAS LEITEIRAS EXIGE ATENÇÃO A DIVERSOS FATORES QUE SE INTERRELACIONAM, DEMANDANDO CUIDADOS ESPECIAIS E MONITORAMENTO CONTÍNUO. NÃO HÁ SOLUÇÕES MÁGICAS, APENAS A COMBINAÇÃO DE TRABALHO DILIGENTE, PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO CRITERIOSA 

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e à Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG pelas bolsas concedidas, bem como à FAPEMIG, processo RED-00132-22 e RED-00131-23, e à CAPES PROEXT-PG Processo 88881.926972/2023-01,pelo apoio financeiro.


Autores:
ANA CLARA DE SERPA CARVALHO - Graduanda do Curso de Medicina Veterinária do Departamento de Zootecnia e Medicina Veterinária, Universidade Federal de Lavras (UFLA)
ALICE GONÇALVES DOS REIS - Graduanda do Curso de Medicina Veterinária do Departamento de Zootecnia e Medicina Veterinária, UFLA
ESTELA PEDROSA DE ANDRADE - Graduanda do Curso de Medicina Veterinária do Departamento de Zootecnia e Medicina Veterinária, UFLA
EDUARDA MORAES MAGOSSI SILVA - Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias do Departamento de Zootecnia e Medicina Veterinária, UFLA
MARIANA MAGALHÃES CAMPOS - Pesquisadora da Embrapa Gado de Leite
SANDRA GESTEIRA COELHO - Professora Titular do Departamento de Zootecnia, Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
ANDREY PEREIRA LAGE - Professor Titular do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, Escola de Veterinária, UFMG
ELAINE MARIA SELES DORNELES - Professora Adjunta do Departamento de Zootecnia e Medicina Veterinária, UFLA


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LeiteInova

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