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Profissão Plural

Desafios do mercado de trabalho no país geram oportunidades para todos os profissionais, inclusive para os médicos veterinários, que podem explorar as diversas áreas oferecidas pela profissão

Profissão Plural

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O mercado está em constante mudança, exigindo mais habilidades dos atuais e dos futuros profissionais. Esta é a realidade de várias profissões, e na área da medicina veterinária não é exceção. É nítida a atuação de médicos veterinários em setores diversos, desenvolvendo novas funções e competências. Em celebração ao Dia do Veterinário, comemorado em 9 de setembro, apresentamos algumas abordagens do exercício da profissão, mostrando profissionais que se destacam em áreas além do campo.

 

Hoje, o Brasil, conta com mais de 147 mil médicos veterinários registrados no Conselho Federal de Medicina Veterinária. A atuação desses profissionais tem desempenho primordial em mercados que representam fatias generosas do PIB do país, entre eles o agronegócio, o que alavanca a demanda por especialistas. Especificamente na pecuária leiteira as expectativas são de crescimento. Dados de janeiro a julho deste ano mostram incremento de 9,8% no Valor Bruto de Produção de leite se comparado com o ano passado.

Para conseguir um “lugar ao sol”, os atuais e, principalmente, os futuros profissionais precisam vencer alguns desafios. Entre eles, ter uma sólida formação técnica, desenvolver competências humanísticas, como liderança e gestão, administração, empreendedorismo, gerenciamento e educação permanente. Uma unanimidade entre os profissionais que entrevistamos é que a busca contínua pela atualização e conhecimento é o grande diferencial para seguir em qualquer área.

Para o presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária, Francisco de Almeida, o mercado de trabalho é promissor, mas o médico veterinário sai da universidade como um grande generalista e precisa desenvolver novas competências e especialidades para enfrentar os desafios da profissão. “Existe uma exigência cada vez maior de um profissional antenado, sempre conectado às novidades do mercado”, diz.

E diante dessa demanda do mercado, como ficam a formação nos cursos tradicionais de Medicina Veterinária? Francisco ressalta que as escolas precisam oferecer, além da formação teórica, a formação prática desde o início da vida acadêmica, entendida como um cenário que permite ao aluno vivenciar de forma controlada sua futura vida profissional. “O ambiente de aprendizagem prática deve obrigatoriamente fornecer condições para o desenvolvimento psíquico e motor dentro da profissão.

Isso porque o exercício da Medicina Veterinária depende da destreza adquirida, o que popularmente se denomina experiência, onde se precisa adquirir segurança com a experiência prática e a vivência simultânea dos vários aspectos envolvidos na sua atuação profissional.”

Veja exemplos de profissionais que venceram esses desafios e trilharam caminhos em diferentes áreas da medicina veterinária.

 

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO

Contrariando a visão romântica que muitas pessoas têm em relação ao exercício da profissão, a história de amor de Prhiscylla Sadanã não começou na infância, ou mesmo somente pelo amor aos animais. “Minha família nunca teve fazenda ou haras e até os meus 18 anos não tive sequer um cachorro”, confessa.

Nascida em Belo Horizonte e com perfil urbano, ela conta que a paixão pela profissão começou

pela convivência com o ambiente do agronegócio.

Frequentava eventos e exposições de animais, o que era a única coisa que a desviava dos estudos. “No meio de um leilão eu percebi que a única coisa que me tirava do foco deveria ser o meu motivo de estudar. Naquela época era o que eu conhecia da veterinária. Sei que fiz a melhor escolha da minha vida”, relembra.

Graduou-se na Universidade Federal de Minas Gerais e o medo e a apreensão sobre o futuro, comuns entre os acadêmicos, tornaram-se presentes. Continuou se dedicando aos estudos. Concluiu mestrado e doutorado em sequência à graduação. Pensou em trilhar o caminho da mãe, funcionária pública. Até chegou a passar em um concurso, mas resolveu abandonar a carreira para se dedicar à docência. Mas foi na graduação que encontrou um nicho ainda pouco explorado: empreendedorismo, inovação e startup.

Hoje, além da docência, é coach de carreiras, mentora de startup e curadora de conteúdo de cursos para profissionais. “Isso tem mais a ver com veterinária do que muita gente imagina... E são áreas extremamente carentes de profissionais”. Ela enxerga nesses setores uma grande oportunidade profissional.

“Principalmente pela necessidade por inovar processos e serviços relacionados ao agronegócio. E também pelo poder da descoberta. Fui tão transformada que me sinto na obrigação de compartilhar”.

Ela dá dicas para quem pensa em explorar essas áreas. “As pessoas devem estar atentas à realidade em que vivem e não se acomodar”.

 

ACADEMIA

A Educação também é uma área promissora para os médicos veterinários. João Carlos da Silva é professor da Universidade Federal de Viçosa há 41 anos e assumiu vários cargos, o mais recente como pró-reitor de graduação. Após se formar e concluir mestrado e doutorado, deu início a uma carreira que lhe rendeu prêmios e homenagens em reconhecimento ao trabalho desenvolvido para a profissão.

Toda essa trajetória lhe deu bagagem suficiente para ser membro de comissões nacionais e internacionais ligadas ao Ministério da Educação, quando pode contribuir para o desenvolvimento da educação superior do país. “Logo quando terminei o doutorado voltei e fui escolhido chefe do departamento veterinária, cargo que exerci pouco mais de um ano”. Foi apenas o começo.

Para ele, a profissão é promissora mesmo com a instabilidade econômica atual do Brasil. “O mercado de trabalho cresceu muito nos últimos anos e isso pode ser decorrente de duas coisas: desenvolvimento do mercado dos pets e também às possibilidades do agronegócio, especificamente o que envolve os animais de produção. “É um mercado cada vez mais competitivo e exportador que certamente tem boas perspectivas”.

 

CONSULTORIA

Outro profissional que se destaca fora do escopo regular da faculdade é o médico veterinário e Embaixador da Revista Leite Integral Régis José de Carvalho. Há quase 30 anos, desde sua formação, dedica-se ao trabalho na pecuária leiteira, focado principalmente nas áreas de reprodução e nutrição em 16 propriedades de Minas Gerais e São Paulo.

Ele presta consultoria a produtores de leite, oferecendo as melhores soluções para aumentar a eficiência e o bem-estar animal. "Atendo em torno de 4000 vacas em lactação que, juntas, produzem entre 130 mil e 140 mil litros de leite por dia”, conta.

Sobre a formação dos estudantes, sua percepção é de que o curso, focado na atuação da medicina, pode restringir o desenvolvimento do profissional no mercado de trabalho. “Sempre vai ter espaço para a área clínica, mas cada vez mais reduzido por causa da mudança nos sistemas de exploração, como a adoção de confinamento. E é aí que vejo que podemos ser diferentes”, destaca.

Para ele, o profissional deve ser cada vez mais focado em produção intensiva e em resultados de performance produtiva e reprodutiva. “Temos que saber produzir com resultado econômico saudável e sermos muito eficientes, seja em qualquer área da medicina veterinária”.

Para Régis, mais que a experiência, é preciso ter visão holística para alcançar a estabilidade na carreira. “O profissional que for atento às mudanças, se adaptar mais rapidamente ao seu trabalho e interagir com o todo do processo no qual se dedica supera os desafios”. Além disso, o sucesso vai além de exibir na parede diplomas das melhores universidades. “É preciso uma boa formação, vibrar com seu trabalho, lutar ao máximo para ter o melhor resultado e não trabalhar pelo salário”, recomenda.

 

INDÚSTRIA

Por gostar de bovinos de leite e equinos, Lara Bonfim iniciou o curso já decidida a atuar com grandes animais. Durante o curso foi se apaixonando pela área de produção animal. Ao acompanhar as primeiras aulas de tecnologia e inspeção de carnes e leite, teve a certeza que atuaria nessas áreas. Passou, então, a se dedicar e a realizar estágios específicos. Logo quando formada começou a trabalhar como Responsável Técnica e do Controle de Qualidade e, simultaneamente, deu início ao mestrado em tecnologia e inspeção de produtos de origem animal. “A minha transição para a área de tecnologia e inspeção de produtos de origem animal aconteceu, por sorte, ainda dentro do curso. Foi uma surpresa e não fazia parte dos meus planos”.

Logo após a defesa da dissertação de mestrado surgiu a oportunidade de lecionar as disciplinas de Tecnologia e Inspeção de Leite e Derivados e Tecnologia e Inspeção de Carne e Derivados, no curso de medicina veterinária da PUC Minas. Ingressou na carreira acadêmica, mas continuava atuando diretamente na indústria, o que permitia dar enfoque prático às suas aulas.

Como já estava lecionando, deu prosseguimento à sua formação e concluiu o doutorado, sempre atuando na academia e na indústria. “Como já havia dedicado durante todo o curso e feito todos os estágios em produção de bovinos, tanto de leite como de corte, teria que iniciar do “zero” praticamente, para poder me preparar para atuar na indústria. E assim fiz. Com o apoio de alguns professores, consegui bons estágios e logo depois de formada comecei a trabalhar na área”.

O futuro da profissão, para ela, é repleto de oportunidades já que existe espaço em toda a cadeia produtiva. “O médico veterinário é fundamental para garantir a sanidade dos rebanhos, a qualidade higiênico-sanitária do leite e a segurança alimentar, de maneira que a sua atuação é indispensável para um produto de qualidade em todos os seus aspectos, seja sensorial, nutricional ou higiênico-sanitário”.

A adaptação às inovações tecnológicas são alguns dos desafios atuais, segundo Lara, assim como atender às novas exigências dos consumidores, que buscam cada vez mais alimentos provenientes de sistemas sustentáveis e que respeitem o bem-estar animal. “A sociedade mudou, o mundo mudou, e o profissional precisa investir em conhecimento e demonstrar agilidade em se adaptar a essa nova realidade, em evoluir e desconstruir certos conceitos arraigados há muito tempo”, reflete.

Outras características e habilidades necessárias no mercado atual é lidar com gestão de pessoas e equipes, habilidade de comunicação, liderança, a capacidade de trabalhar em equipes multidisciplinares, a proatividade, a motivação e positividade, empatia, a capacidade de tomar decisões, de lidar com adversidades e conflitos. “Minha dica é: invista em sua capacitação e formação profissional e no seu crescimento e desenvolvimento pessoal”.

 

COMERCIAL E COMUNICAÇÃO & MARKETING

Uma área que dificilmente perde espaço e que possibilita a rápida inserção no mercado, com possibilidade de retorno financeiro acima da média, é a área Comercial. Saul Hatem afirma isso com propriedade, já que antes de assumir o cargo de diretor de Conteúdo da Integral Comunicação, iniciou e construiu uma carreira ascendente na multinacional alemã Bayer. “No passado, havia um preconceito com a área Comercial para o médico veterinário, o que mudou muito. Hoje, é uma das áreas que melhor remunera os médicos veterinários e mais emprega”, destaca.

Saul enfatiza que o profissional com esse perfil tem a oportunidade de se desenvolver por ampliar o networking e se relacionar com todos os públicos, entre eles, produtores, cooperativas, empresários e consultores. “Com isso, nos tornamos um profissional muito dinâmico”.

O período em que atuou na indústria farmacêutica foi importante para Saul, onde chegou a coordenar uma equipe de veterinários e o portifólio de serviços oferecidos por eles aos produtores. Foi, então, que migrou para o Marketing, sendo responsável por desenvolver a estratégia de curto, médio e longo prazo da empresa na pecuária de leite.

Com o olhar mais afiado para o Marketing, ele identificou uma fraqueza do mercado. A partir daí surgiu mais um desafio: ampliar suas habilidades na área da Comunicação. “Sabemos que a Comunicação é um gargalo para todos os setores. Fiz mais essa transição justamente para oferecer as melhores soluções para o mercado agro”.

Todas essas mudanças não foram planejadas e ele soube se adaptar para atender ao que o mercado necessitava. “É muito mais que ter apenas a formação, é necessário desenvolver um mapa de competência ao longo de nossa vida profissional”.

Hoje transitando por essas três áreas, Saul enumera as vantagens da profissão: não ter rotina, se relacionar com pessoas diferentes, conhecer novos lugares e, principalmente, ter visão 360º de todo o negócio.

Sobre o futuro da profissão, as expectativas também são positivas: “vai continuar expandindo”, afirma. “O médico veterinário hoje tem um papel muito relevante para a sociedade em assegurar o food safety. Existe uma demanda crescente por alimentos no mundo e o veterinário tem um papel central”.

No setor produtivo ele também vê espaço para crescimento, já que existe a necessidade de gerar mais eficiência nas fazendas e fazer com que os animais expressem seu potencial genético. “O futuro é muito promissor, já que o Brasil é um dos principais players produtores de proteína de origem animal do mundo”.

 

João Paulo Mello

Jornalista da Revista Leite Integral

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