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Qualidade do Leite

Da 51 a 62: Onde estamos e para onde vamos ?

Da 51 a 62: Onde estamos e para onde vamos ?

Texto: Laerte Cassoli

A IN-51 previa que, a partir de 01 de julho de 2011, os limites para CBT (contagem bacteriana total) e para CCS (contagem de células somáticas) deveria ser de, no máximo, 100 mil UFC/mL e de 400 mil cels/mL, respectivamente. Às vésperas desta nova etapa (30 de Junho de 2011), o MAPA publicou uma portaria prorrogando por 6 meses os limites atuais de 750 mil para CBT e para CCS (região sul, sudeste e centro-oeste). Ao mesmo tempo, foi criado um grupo de trabalho, com representantes de toda cadeia láctea, que se reuniria nos meses seguintes para analisar a situação e fazer uma proposta de quais deveriam ser os novos limites. No final de novembro e início de dezembro, último mês antes do prazo final, a EMBRAPA fez uma proposta, que foi aceita e implementada pelo MAPA, com a publicação da IN-62 em 30 de dezembro/2011, substituindo a IN-51.

No final do ano passado, iniciou-se a parceria Clínica do Leite e Revista Integral/MilkPoint. Com isso, a cada edição teremos uma seção de autoria da Clinica, que abordará temas ligados à gestão de fazendas e à qualidade do leite.  Na edição anterior, inciamos com o tema de gestão aplicado a fazendas leiteiras, e nesta iremos discutir aspectos relacionados à qualidade do leite. Vale lembrar que, cerca de 1.500 fazendas que realizam análise na Clínica do Leite passam a receber um exemplar de cada edição da revista, gratuitamente, graças a esta importante parceria.

 

Um breve histórico da IN-51 e a nova IN-62

Ao pensarmos em qualidade do leite não poderíamos deixar de lembrar da intensa e talvez “calorosa” discussão em torno da Instrução normativa 51 que se iniciou em meados de 2011 e que voltou à pauta no mês de dezembro.  A IN-51 previa que, a partir de 01 de julho, os limites para CBT (contagem bacteriana total) e para CCS (contagem de células somáticas) deveria ser de, no máximo, 100 mil UFC/mL e de 400 mil cels/mL, respectivamente. Conforme muitos puderam acompanhar nas matérias veiculadas no MilkPoint, iniciou-se um debate sobre o tema, questionando se estes limites realmente deveriam entrar em vigor, visto que algumas fontes apontavam que cerca de 60 a 80% dos produtores estariam fora dos novos padrões. Em conversas com técnicos e pessoas ligadas ao setor, muitos nos perguntavam se esta “lei” iria mesmo “entrar em vigor” em 01 de julho de 2011. Vale a pena ressaltar que, a IN-51 foi publicada em 2002, nove anos atrás, e previa os limites máximos para CCS e CBT a partir de julho de 2005. Este limites seriam reduzidos de tempos em tempos, chegando à sua fase final a partir de julho de 2011. Portanto, a IN-51 já estava em vigor há alguns anos, e o que iria acontecer era “simplesmente” uma redução dos limites máximos permitidos.

Às vésperas desta nova etapa (30 de Junho de 2011), o MAPA publicou uma portaria prorrogando por 6 meses os limites atuais de 750 mil para CBT e para CCS (região sul, sudeste e centro-oeste). Ao mesmo tempo, foi criado um grupo de trabalho, com representantes de toda cadeia láctea, que se reuniria nos meses seguintes para analisar a situação e fazer uma proposta de quais deveriam ser os novos limites. No final de novembro e início de dezembro, último mês antes do prazo final, a EMBRAPA fez uma proposta, que foi aceita e implementada pelo MAPA, com a publicação da IN-62 em 30 de dezembro/2011, substituindo a nossa famosa IN-51.

A IN-62 estabeleceu, portanto, um novo cronograma para a implementação dos limites de CCS e CBT, como mostra a Tabela 1. Em resumo, a partir de 01 de janeiro de 2012, o limite passou a ser de 600 mil, tanto para CCS quanto para CBT. Os limites de 100 mil (CBT) e de 400 mil (CCS) irão entrar em vigor somente em 2016.

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A IN-62 também traz alguns pontos interessantes, e que não estavam contemplados na IN-51 como, por exemplo, a obrigatoriedade da coleta de amostras  e análises do leite de cada produtor ligado a um tanque comunitário. Até então, a indústria era obrigada a coletar somente uma amostra do tanque. Com esta alteração, será possível conhecer de fato a qualidade do leite de cada produtor, seja ele independente ou ligado a um tanque comunitário. Além disso, a IN-62 deixa bem claro que os laboratórios da RBQL, responsáveis pelas análises laboratoriais, deverão disponibilizar os resultados para o MAPA, indústrias e também para os produtores. Até o momento, era comum o relato de produtores que nunca tinham recebido um documento que informasse a qualidade do seu leite. Ou seja, o maior interessado, muitas vezes, não tinha acesso à informação.

 

Mas qual a qualidade do nosso leite ?

Esta, sem dúvida alguma, foi a pergunta mais feita no ano passado, ao se discutir quais deveriam ser os limites para CBT e CCS. Em função disso, resolvemos apresentar aqui o panorama da qualidade do leite que vem sendo monitorado pela Clínica do Leite da ESALQ/USP.

Os dados que serão apresentados, são provenientes de 366 indústrias localizadas principalmente nos estados de São Paulo e Minas Gerais, mas também em Goiás, Paraná, Mato Grosso do Sul e Bahia, como mostra o mapa.

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Estas 366 indústrias enviam amostras de 34.509 “tanques”. Como não são amostrados todos os produtores dos tanques comunitários, estimamos que o número de “produtores” seja da ordem de 40 a 45 mil.  Além disso, algumas empresas passaram a infomar o volume entregue por cada produtor, o que nos permite caracterizar as indústrias quanto ao volume de captação e perfil do produtor. Como mostra a tabela 2, das 366 indústrias, 143 informam a produção de leite de cada fornecedor, o que representa 14.230 “tanques” do total de 34.509. As indústrias captam, em média, 30 mil litros dia cada uma, o que representa mais de 4 milhões de litros, com média de 307 litros/produtor dia.

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Outra característica que avaliamos foi a prática de remunar ou não o leite em função da qualidade. De um total de 364 indústrias avaliadas, apenas 48 delas possuem um programa de valorização da qualidade (PVQ). Apesar desse número representar somente 13% das indústrias com PVQ, ao analisarmos o perfil dos produtores, observamos que cerca de 34% deles recebem por qualidade. Isso mostra que as empresas com PVQ são maiores, com mais produtores.

Será com base nesta população de indústrias e de produtores que iremos responder algumas questões comuns e que sempre são feitas quando se discute qualidade do leite:

a) Qual a porcentagem de produtores que não estavam atendendo os limites da IN-51?

b) Se tivéssemos os limites de 100 mil para CBT e de 400 mil para CCS, quantos produtores não atenderiam a IN-62 em 2016?

c) Indústrias que pagam por qualidade possuem produtores com CBT e CCS menores?

d) Pequenos produtores, por terem menos recursos e assistência técnica, produzem leite de pior qualidade?

 

Na Tabela 3 apresentamos resultados consolidados destes 34 mil “produtores”, durante o ano de 2010 para CCS e CBT.  Observe que são apresentadas as médias aritméticas e geométricas, sendo que a geométrica é a ideal para representar, de forma mais fiel, a população de produtores.

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Respondendo a primeira pergunta, os dados nos mostram que 16% e 20% dos produtores são considerados não conformes para CCS e CBT, respectivamente, considerando o limite máximo de 750 mil para CCS e CBT previstos na IN-51 e que eram válidos até 31 de dezembro de 2011.

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A IN-51/62 define que, se a média geométrica de todos os resultados do período de 3 meses for superior ao limite máximo, o produtor é considerado não conforme. Portanto, um único resultado acima de 600 mil para CBT não quer dizer que o produtor é não conforme. Veja no quadro 1 o exemplo de um produtor com 2 resultados de CBT por mês. Se estivermos no mês de março e perguntarmos se o produtor é não conforme, calculariamos a média geométrica que seria de 365 mil e abaixo do limite máximo, apesar dos dois últimos estarem acima de 600 mil.

Na tabela 3 apresentamos também as médias aritméticas e geométricas para CCS e CBT. Observe que a média artimética é de 885 mil para CBT e de 544 mil para CCS, valores muito superiores ao que é observado, por exemplo, nos EUA, onde a CCS é de aproximadamente 300 mil, e a CBT é de 25 mil.

Mas e se considerarmos os novos limites de 2016, de 100 mil para CBT e 400 mil para CCS? Qual seria a porcentagem de produtores não conformes? No gráfico 1 e 2 simulamos esta porcentagem, considerando  todos os produtores (“Todos”), os que recebem por qualidade (“PVQ”) e os que não recebem por qualidade (“SPVQ”).

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No caso de CBT, ao compararmos produtores com (PVQ) e sem pagamento por qualidade (SPVQ), obsevarmos uma diferença significativa. Para produtores sem pagamento por qualidade 70% deles são não conformes, enquanto que entre os que recebem por qualidade essa porcentagem é de apenas 32%.

Já no caso da CCS, observamos uma situação inversa. A porcentagem de não conformes é maior em produtores que recebem por qualidade (49%) do que entre os que não recebem (44%).  Poderíamos imaginar que, recebendo por qualidade, estes produtores seriam incentivados e motivados a reduzirem a CCS, mas não é isso o que os dados mostram.

Para responder a última questão da lista, faremos uso da informação de produção em litros/dia das propriedades. Como apresentado inicialmente, dos 34 mil “produtores”, temos informação de volume de leite de 14 mil, um número já considerável e robusto para este tipo de análise. Durante a discussão sobre os limites da IN-51 um tema sempre levantado é a capacidade das fazendas em produzir um leite de qualidade, em especial os  “pequenos” produtores que, em geral, teriam menos infra-estrutura, pouco/nenhum acesso a assistência técnica, e menor disponibilidade de recursos/investimentos. Desta forma, estas fazendas menores seriam as que apresentariam maiores problemas de qualidade do leite, em teoria. Mas será que realmente é isso o que ocorre ? Para elucidar essa questão, separamos as fazendas em 4 faixas, de acordo com a produção de leite diária, de tal forma que temos o mesmo número de produtores por classe (cerca de 3.800). No gráfico 3, são exibidas as médias geométricas de CBT em função do tamanho da fazenda.

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Como podemos observar, realmente as fazendas “pequenas” (menos de 75 litros/dia) apresentam uma média estatisticamente superior àquela dos produtores “grandes” (acima de 405 litros/dia) para CBT. A falta de infra-estrutura  e deficiências na refrigeração podem ser os responsáveis por essa ocorrência.

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No gráfico 4 observamos uma situação totalmente oposta, ou seja, as fazendas “grandes” possuem uma CCS 40% superior à das “pequenas”. As fazendas maiores não teriam maior acesso a informação, assistência técnica, recursos, etc ? Como isso pode ocorrer?

Os dados mostram, portanto, que o controle da mastite não é algo simples e matemático e requer ações realmente eficazes. Em artigos posteriores discutiremos em detalhes um programa efetivo de controle de mastite e redução de CCS.

Em resumo, as análises mostram que temos um grande e arduo caminho pela frente em relação à qualidade do leite no Brasil. Sabemos que existem dificuldades, mas também que existem fazendas com leite de excelente qualidade e, eventualmente, com baixíssimo investimento, mas com alta dedicação e comprometimento do produtor. Da mesma forma, temos algumas industrias com mais de 300 produtores e CBT média ao redor de 20 mil UFC/mL, e com apenas 5% dos produtores não conformes para o limite de 100 mil.

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