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Gestão

Do conceito à prática

Métodos de aprendizagem em gestão ganham formatos que se adaptam à realidade das fazendas produtoras de leite. Assim, conteúdo teórico e mão na massa andam juntos.

Do conceito à prática

Edição #103 - Outubro/2017

DO CONCEITO À PRÁTICA

Métodos de aprendizagem em gestão ganham formatos que se adaptam à realidade das fazendas produtoras de leite. Nessa jornada, conteúdo teórico e mão na massa andam juntos

Nos últimos dez anos, a pecuária de leite vem conquistando mais conhecimento em gestão, e esta transformação tem sido fundamental para melhorar os resultados do setor. Cientes de que a superação dos desafios enfrentados na atividade depende de fatores que vão além do mercado e das questões técnicas, cada vez mais produtores se dedicam a aprender conceitos, práticas e ferramentas gerenciais. Apesar da enorme disposição dessas pessoas em transformar seus negócios, por muitos anos a aplicação desse conhecimento esbarrou na distância entre a teoria e o cotidiano das propriedades.

Encurtar este caminho tem sido o foco de muitas organizações dedicadas à formação de recursos humanos para a gestão do agronegócio. Uma delas é a Clínica do Leite, instituição sem fins lucrativos, vinculada à ESALQ/USP e responsável pelo desenvolvimento do Sistema MDA (Master Dairy Administration), um modelo de gestão adaptado à pecuária leiteira. Reunindo conceitos e ferramentas clássicas da gestão de negócios, o Sistema MDA propõe práticas focadas no entendimento da empresa rural, na organização do trabalho, no engajamento das pessoas, na solução de problemas e no planejamento estratégico.

Desde 2002, cerca de mil pessoas já foram formadas pela Clínica do Leite para implantar o Sistema MDA em negócios agropecuários. Criado na década de noventa, pelo professor da ESALQ/USP Paulo Machado, o modelo de gestão passou por mudanças para se aproximar da realidade das fazendas. “Os conceitos clássicos de gestão são aplicáveis a qualquer negócio, mas a teoria está ancorada em modelos e exemplos relacionados ao universo das grandes empresas. Nosso desafio era aproximar esses conceitos da agropecuária, desenvolvendo ferramentas que fossem facilmente compreendidas por pessoas de diferentes funções, interesses e níveis de conhecimento”, relata Machado, diretor da Clínica do Leite.

A experiência compartilhada por produtores, consultores e funcionários de fazendas produtoras de leite, além de estudantes da área, foi essencial para que os métodos de aprendizagem fossem aperfeiçoados. “Nas primeiras edições dos cursos, percebemos que as turmas enfrentavam dificuldades para utilizar o conhecimento transmitido em aula. Passamos, então, a repensar a forma de apresentar o conteúdo e de estimular a aplicação efetiva do modelo nas fazendas. Era preciso simplificar, sem que isso representasse qualquer prejuízo ao aprendizado”, explica o professor.

UM PASSO DE CADA VEZ

Dessa busca, nasceu a Jornada MDA, uma espécie de roteiro proposto pela Clínica do Leite para facilitar tanto a aprendizagem quanto a implantação de práticas gerenciais. “Com a jornada, o aluno inicia o curso e recebe um mapa das etapas que deve cumprir para colocar o conteúdo em prática. Isso permite que ele transforme a implantação do sistema em um projeto e vá avançando, gradualmente, à medida que aprende os conceitos e os incorpora na rotina. Ao longo desse caminho, os primeiros resultados começam a surgir e reforçam o estímulo à aplicação”, destaca Machado.

Também como forma de aumentar o interesse e o entendimento dos participantes, a linguagem utilizada nos materiais didáticos e a apresentação das ferramentas trabalhadas durante a implantação passaram por revisão. “Nosso desafio permanente é falar a mesma língua de quem trabalha nas fazendas, ou se relaciona com elas, pois esse é o caminho para conectar os conceitos à realidade. Isso exige compreender quais formatos facilitam o entendimento dos conteúdos e impulsionam o aluno a agir”, explica Henrique Zaparolli Marques, gestor do Programa de Formação MDA.

Exemplo dessa evolução na metodologia é a representação lúdica da jornada desenvolvida pela Clínica do Leite para as turmas deste semestre. Aplicando recursos de gestão visual e da chamada gamificação – que utiliza dinâmicas de jogos para o aprendizado –, foi desenvolvido um painel ilustrado, no qual o aluno tem a visão geral do percurso de implantação do Sistema MDA. O painel foi entregue no primeiro dos cinco módulos do curso, com a recomendação de que o aluno voltasse à fazenda, o colasse na parede e passasse a utilizá-lo para administrar o projeto. “A linguagem lúdica incentiva o uso da ferramenta. A proposta é que, olhando para os campos em que é preciso avançar no jogo, ele passe a listar entregas, desdobrar tarefas, indicar responsáveis. Toda essa dinâmica ajuda a engajar as pessoas e aumenta a chance de sucesso no desenvolvimento do sistema”, afirma Marques.

ALÉM DA FORMA

O aperfeiçoamento da metodologia de ensino não se restringiu apenas à forma de apresentação. Ano após ano, muitos estudos foram desenvolvidos na Clínica do Leite para consolidar os fundamentos teóricos do modelo. Entre eles, ganhou cada vez mais espaço a filosofia Lean, com foco na redução de desperdícios e na solução de problemas, criando oportunidades para que as fazendas produzam mais, de forma mais rápida, barata e segura. “O Sistema MDA está entre os pioneiros nessa adaptação da filosofia Lean à agropecuária, especialmente no contexto brasileiro”, explica Machado.

O relacionamento com as turmas, formadas por produtores e consultores de fazendas de todo o Brasil, também permitiu à equipe da Clínica do Leite lapidar o Sistema, para que ele fosse aplicável a propriedades de diferentes portes e regiões. “Costumo dizer que aprendemos muito mais com nossos alunos do que eles conosco. Foi compartilhando experiências com eles que revisamos o próprio método e conseguimos fazer com que o Sistema MDA atendesse às demandas reais das fazendas e indústrias do setor, criando valor para as pessoas que se dedicam à atividade”, comenta o professor.

Neste sentido, o conteúdo sobre solução de problemas do negócio passou por alterações recentes. Uma experiência com produtores da Frísia Cooperativa Agroindustrial, no Paraná, mostrou que havia oportunidade para melhorar o método adotado para resolver problemas nas fazendas. Foi então, que o professor Paulo Machado propôs incorporar ao Sistema MDA uma metodologia muito utilizada pela indústria: o evento Kaízen. “O objetivo é entender mais profundamente os problemas, investigar suas causas raízes e executar um plano de ação efetivo. Por isso, o evento Kaízen faz sentido no ambiente das fazendas e tornou-se uma etapa fundamental da jornada”, afirma.

EVOLUÇÃO PERCEBIDA

O avanço da metodologia proposta pela Clínica do Leite é sentido por quem participou de edições anteriores do curso e tem voltado para atualizar conhecimentos. É o caso do produtor Marcelo Maldonado Cassoli, da Fazenda Capetinga, de São João Batista do Glória (MG), que participou do curso em 2014 e neste semestre está de volta ao Programa de Formação, na turma de Piracicaba (SP). “A evolução da metodologia, dos materiais e da aplicabilidade na realidade das empresas rurais, leiteiras ou não, é impressionante e permanente. Participar, por mais de uma vez, nos possibilita atualizar as informações e nos tira da zona de conforto, que pouco a pouco vai tomando conta sem que percebamos. Pretendemos colocar em prática muitas coisas que não foram implantadas em 2014 e, por isso, desta vez, trouxe um funcionário para fazer o curso comigo”, diz.

Também focados em resultados, mas de várias fazendas, os consultores percebem os avanços como facilitadores do trabalho. “A base dos conceitos, fundamentada na filosofia Lean, assim como a sistematização da jornada e o material de apoio disponível, fazem toda a diferença em nosso trabalho. Temos hoje um processo de orientação da implantação muito mais didático, com uma lógica conceitual alicerçada, simples e aplicável”, destaca o consultor Cassimiro Cesar de Castro.

 O reconhecimento dos alunos, aliado às conquistas das fazendas que vêm implantando o sistema, serve como combustível para a melhoria contínua do modelo. “Somos inquietos, inconformados por natureza. Enquanto houver espaço para melhorar, e sempre há, seguiremos aprimorando o Sistema MDA, empenhados em ajudar o setor a evoluir. É isso o que nos move”, destaca o professor Paulo Machado, sinalizando que vem muito mais por aí.

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Fotos: Produtores do Paraná utilizam painel ilustrado para facilitar a implantação do modelo de gestão nas fazendas
Crédito: Divulgação/Frísia Cooperativa Agroindustrial

CONHECIMENTO DISSEMINADO

A grande procura pelo curso demonstra o interesse crescente pelo tema entre os profissionais do setor. A lista de espera por vagas nas próximas edições, em Piracicaba, já contabiliza centenas de pessoas. E são constantes os pedidos recebidos pela Clínica do Leite para formar turmas em outras regiões do país, a exemplo do que ocorre no Paraná e no Ceará neste semestre. Na busca para ampliar o acesso ao conhecimento, a instituição prepara uma série de ações para levar conceitos e ferramentas do Sistema MDA a um maior número de pessoas.

Uma delas será o evento marcado para o próximo dia 8 de dezembro, em Piracicaba, quando serão apresentados os impactos trazidos a partir da adoção de práticas gerenciais adequadas para a agropecuária. Nas palestras, painéis e fóruns, serão compartilhados modelos, práticas e resultados alcançados por fazendas e indústrias, além de tendências técnicas e gerenciais para o crescimento do setor. Entre os destaques da programação está o lançamento do livro “Sucesso no Leite”, de autoria do professor Paulo Machado. Com foco nos conceitos, princípios e práticas do Sistema MDA, a publicação tornará o conteúdo-base do Programa de Formação acessível a um número maior de pessoas. As inscrições para o evento serão abertas em outubro, pelo site da Clínica do Leite (www.clinicadoleite.com.br).

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Foto: Turma de Carambeí (PR). Cerca de 180 pessoas estão cursando o programa de formação neste segundo semestre
Crédito: Divulgação/Clínica do Leite

“SOMOS INQUIETOS, INCONFORMADOS POR NATUREZA. ENQUANTO HOUVER ESPAÇO PARA MELHORAR, E SEMPRE HÁ, SEGUIREMOS APRIMORANDO O SISTEMA MDA, EMPENHADOS EM AJUDAR O SETOR A EVOLUIR. É ISSO O QUE NOS MOVE” Prof. Paulo Machado

DE OLHO NO FUTURO

Aos poucos, vai se criando no Brasil um grupo significativo de produtores, consultores e empregados de fazendas, bem como de profissionais da agroindústria, cada vez mais capacitado para conduzir negócios de forma eficaz. Integrada a essa tendência, a Academia do Leite, iniciativa da Fundação ROGE, confere à gestão um papel essencial na formação de jovens que atuarão na pecuária leiteira. Por meio de uma parceria firmada com a Fundação, a Clínica do Leite transferiu à Academia os conhecimentos do Sistema MDA, capacitou os professores e licenciou o material didático a ser utilizado pelos alunos.

“Contribuir com a formação dessa nova geração de profissionais, que em breve estará no campo fazendo a gestão agropecuária, fortalece o legado do Sistema MDA para a sociedade. É um investimento no futuro do nosso setor”, destaca o professor Paulo Machado.

DÉBORA HORN
BRUNA TOGNI
Assessoria de Comunicação Clínica do Leite

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