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Manejo

Impactos do resfriamento de vacas na rentabilidade de grandes sistemas

Impactos do resfriamento de vacas na rentabilidade de grandes sistemas

Texto: Israel Flamenbaum

 

Apresentamos aqui os resultados de um projeto de resfriamento de vacas em duas regiões no norte do México, caracterizadas por longos verões quentes e secos, com condições extremas para vacas leiteiras. A estratégia de resfriamento consistiu no uso de “áreas especiais de resfriamento”, colocadas próximas às áreas de espera e à sala de ordenha. Os resultados justificaram plenamente os investimentos.

 

As fazendas nas quais este projeto foi realizado são fazendas leiteiras de grande escala, com vacas da raça Holandesa de alto rendimento, no norte do México. Os produtores nessa região estão cientes da existência de efeitos negativos das condições de estresse calórico no verão na produção, reprodução e saúde das vacas, bem como das perdas econômicas causadas por eles, e mostram uma grande disponibilidade de fazer as ações necessárias e gastar o que for preciso, para lidar com esses problemas e resolvê-los.

 

O projeto

O verão de 2014 foi o primeiro do projeto, em que estudamos a melhor forma de ativar as condições de resfriamento nas fazendas. As descobertas a partir do primeiro verão nos ajudaram a estabelecer a “estratégia de resfriamento” para fazendas leiteiras na região, e a implementá-las no verão de 2015 em fazendas leiteiras de grande escala (1200 a 3600 vacas leiteiras por fazenda), onde as vacas são ordenhadas 3 vezes ao dia, num total de quase 21 horas. Uma das limitações para resfriar as vacas nessas fazendas é o fato de as salas de ordenha terem capacidade de ordenha de alta velocidade e, dessa forma, o tempo em que as vacas ficam na área de espera, a fim de serem refrigeradas antes de cada sessão de ordenha, é muito curto e não permite mantê-las por tempo suficiente e necessário para o resfriamento adequado. A capacidade de resfriar as vacas na linha de alimentação dessas fazendas é limitada, devido, principalmente, aos ventos laterais em um grande número de horas por dia, que afetam negativamente a função dos ventiladores e aspersores.

A “estratégia de resfriamento” que decidimos implementar nessas fazendas em 2015 consistiu do uso de “áreas especiais de resfriamento”, colocadas próximas às áreas de espera e à sala de ordenha. Essas áreas especiais de resfriamento foram usadas como “locais de resfriamento”, onde o tempo total do tratamento de resfriamento pode ser estendido para todas as vacas durante o período da ordenha (antes e depois de cada sessão de ordenha), bem como para resfriar as vacas entre as duas sessões de ordenha.

No verão de 2015, implementamos esse conceito, combinando o resfriamento de vacas por umidificação ou ventilação forçada nas áreas especiais de resfriamento e nas áreas de espera, em cinco fazendas leiteiras de grande escala na região. As vacas foram resfriadas por 6 horas cumulativas por dia, sendo 3 tratamentos de uma hora antes e depois de cada sessão de ordenha, e 3 vezes (de uma hora cada) após 4 horas de cada sessão de ordenha. Cada sessão de resfriamento consistiu de ventiladores operando continuamente, e aspersão de água por 30 segundos, a cada cinco minutos. Para monitorar a efetividade do resfriamento, usamos “registradores de dados vaginais” inseridos em uma amostra representativa de vacas, durante o verão.

As condições climáticas prevalentes durante o verão de 2015, expressas como o número de horas por dia com diferentes valores de Índice de Temperatura e Umidade (THI, da sigla em inglês), estão apresentados no Gráfico 1.

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Pelo apresentado no Gráfico 1, pode-se ver que nas regiões onde o projeto foi realizado, os valores do índice de temperatura e umidade ficaram acima do nível crítico registrado nas 24 horas do dia em quatro meses por ano (junho-setembro), enquanto que em março, abril e outubro, as condições de estresse calórico prevaleceram acima do nível crítico em parte do dia.

 

Produção de leite

O resfriamento intensivo de vacas nas fazendas do projeto, no verão de 2015, contribuiu para uma redução significativa na queda na produção, diferente do que ocorreu no verão dos anos anteriores, quando nenhuma forma de resfriamento foi fornecida às vacas.

O Gráfico 2 descreve uma curva de lactação típica (médias mensais da produção de leite diária por vaca) em 3600 vacas de fazendas leiteiras participantes do projeto. Como pode ser visto, as curvas de lactação para o período entre 2011 e 2014, onde não foi fornecido resfriamento, é significativamente inferior à de 2015, com resfriamento intensivo.

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A razão entre o leite produzido nos meses de inverno (janeiro-março) e de verão (junho-agosto) em 5 fazendas leiteiras do projeto foram apresentadas em separado para os anos 2011 e 2015, e estão apresentadas no Gráfico 3. Pelo apresentado nessa figura, pode-se ver que a diferença na produção entre o inverno e o verão ficou, em média, em 4,6 litros por vaca por dia em 2011, e caiu para somente 0,7 litros por vaca por dia em 2015. A razão média da produção entre verão e inverno foi de 0,87 em 2011, e aumentou para 0,98 em 2015, o que significa que a queda na produção de leite no verão quase desapareceu no ano em que as vacas foram intensivamente resfriadas.

Deve-se notar que os resultados obtidos no projeto do México são muito similares aos resultados obtidos em uma pesquisa conduzida pela Associação de Criadores de Bovinos de Israel (ICBA), e publicados internacionalmente em 2003. Em nossa pesquisa, comparamos a produção diária média de leite nas fazendas leiteiras com resfriamento mínimo em vacas no verão, com a produção nas fazendas que resfriaram suas vacas intensivamente. A produção de leite de vacas em fazendas com resfriamento mínimo no verão (julho-setembro) caiu em 3,5 litros por dia, comparado com os meses de inverno (janeiro-março), e a razão da produção de leite entre verão e inverno foi de 0,89. Em contraste, nas fazendas leiteiras com resfriamento intensivo no verão, a queda foi de apenas 0,6 litro por dia entre as duas estações, e a razão da produção entre verão e inverno alcançou 0,98.

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Fertilidade

A taxa de concepção foi escolhida como parâmetro representativo para avaliar o efeito do resfriamento no desempenho reprodutivo das vacas. A taxa de concepção para inseminações realizadas no verão de 2015, quando as vacas foram intensivamente resfriadas, foi significativamente maior em todas as fazendas do projeto, comparado com aquelas obtidas nos verões de 2011-2014, sem resfriar as vacas. As taxas de concepção de todas as inseminações feitas nos meses de verão, em uma fazenda típica, estão mostradas no Gráfico 4.

Manejo Fig 4.png (54 KB)Manejo Fig 5.png (50 KB)

Similar ao descrito para a produção de leite, também quando se fala de fertilidade, os resultados obtidos no projeto no México no verão de 2015 são muito similares aos resultados da pesquisa conduzida em Israel, onde também examinamos o efeito do resfriamento na fertilidade das vacas. As taxas de concepção das inseminações feitas nos meses de inverno em Israel não diferem entre fazendas com resfriamento mínimo ou intensivo no verão (quase 45%). Diferente das inseminações feitas no inverno, as taxas de concepção de vacas resfriadas intensivamente no verão de 2015 foram quase o dobro daquelas alcançadas em fazendas com resfriamento mínimo (34% e 17%, respectivamente). A razão da taxa de concepção entre verão e inverno foi de 0,72 e 0,40, respectivamente, em fazendas com resfriamento intensivo e mínimo no verão.

 

Que fatores contribuíram para os bons resultados do projeto?

Na minha opinião, no verão de 2015 foi a primeira vez na história dessa região que os procedimentos de resfriamento supriram as necessidades das vacas. Isso inclui o seguinte:

  • As vacas receberam ventilação forçada e foram umedecidas na intensidade e qualidade adequadas, de acordo com as recomendações.
  • O “espaço por vaca” nos locais de resfriamento foi suficiente para prevenir a aglomeração e permitir que as vacas tivessem o resfriamento adequado.
  • As vacas receberam “tempo de resfriamento” suficiente durante o dia, durante todo o verão.
  • As vacas foram resfriadas muitas vezes por dia (uma vez a cada quatro horas), incluindo o período noturno.
  • As medidas de temperaturas vaginais indicaram que as vacas estavam em “conforto térmico”, na maioria das horas do dia.
  • O tratamento de resfriamento começou gradualmente no final da primavera e terminou da mesma maneira no final do outono.
  • Alimentos frescos e água limpa suficiente foram oferecidos às vacas livremente durante todos os dias do verão.

 Foto--1.jpg (2.08 MB)

Aspectos econômicos do resfriamento de vacas

Nesse projeto, a implementação de métodos de resfriamento envolveu investimentos financeiros consideráveis, para instalação e execução de sistemas de resfriamento.

Em geral, o investimento para construção e instalação de equipamentos de resfriamento, em áreas especiais de resfriamento, vai de US$ 400.000 em fazendas leiteiras relativamente pequenas, a US$ 800.000 em fazendas grandes (os investimentos vão de US$ 200 a US$ 250 por vaca).

A execução do sistema de resfriamento durante 150 dias de verão custa cerca de US$ 45 por vaca, dos quais US$ 30 são para energia elétrica, US$ 10 para energia humana (seis funcionários adicionais foram contratados e trabalharam em três turnos por dia), com os custos restantes (principalmente manutenção) de US$ 5.

Usando um programa de computador especial que desenvolvi junto com um economista agrícola do Israel Dairy Board, examinei o custo-efetividade do resfriamento de vacas sob as condições mexicanas. O programa leva em consideração, por um lado, o investimento requerido para resfriar adequadamente as vacas (investimento em equipamentos e custos operacionais). Por outro lado, levamos em conta o leite anual adicional produzido por vaca, a redução nos “dias em aberto” e a melhora na “eficiência alimentar” (conversão de ração em leite), conforme obtidos nessas fazendas no verão de 2015.

Entre os benefícios obtidos em resfriar intensivamente as vacas, calculei um aumento de 10% na produção anual de leite por vaca, 5% de melhora na “eficiência alimentar”, para 150 dias de verão, e uma queda de 5 “dias em aberto” anualmente, com um valor de US$ 5 por dia, devido à melhora na taxa de concepção de vacas inseminadas no verão.

Conduzi o estudo para uma fazenda leiteira com 3000 vacas, investindo US$ 800.000 para instalar o sistema de resfriamento. Os resultados do meu cálculo mostram que, sob as condições mencionadas, e a preços atualizados de entradas e saídas no México, a receita adicional por fazenda devido à implementação do resfriamento de vacas alcançou US$ 200 por vaca por ano, e US$ 600.000 anualmente à fazenda. Sob essas condições, um retorno no investimento pode ser alcançado em menos de dois anos.

A indústria mundial de lácteos caminha em direção ao estabelecimento de grandes fazendas leiteiras, com alto mérito genético das vacas em novas regiões, principalmente em partes quentes do mundo, e próximas a centros de consumo. O conhecimento e a experiência que ganhamos nesse projeto no México, bem como projetos similares em Israel e outras regiões quentes do mundo, nos ajudarão a lidar com problemas causados pelo estresse calórico nessas regiões no futuro.

 

Israel Flamenbaum, Ph. D

Cow Cooling Solutions LTD

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