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Pastagens

Manejo de pastagens pré-inverno

Manejo de pastagens pré-inverno

 

Texto: João Paulo V. Alves dos Santos e Paulo F. Stacchini

 Na presente época do ano, que classificamos como período “de transição” entre estação chuvosa e seca, os cuidados devem ser redobrados. Apesar de ainda haver disponibilidade de forragem, de abril em diante a qualidade dos pastos tende a diminuir substancialmente. Logo, o produtor atento deve avaliar a qualidade da sua forragem nessa época do ano, mesmo que ainda esteja verde.

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Com o fim do período chuvoso, as pastagens, em muitas regiões do Brasil, sofrem transformações. A produção começa a reduzir, a qualidade do pasto piora e não é possível mantermos mais as mesmas taxas de lotação do verão. Para que uma gramínea tropical se desenvolva, três fatores associados precisam estar em equilíbrio: água, luz e temperatura. De um modo geral, quanto maior for a oferta de água, o fotoperíodo (número de horas de brilho solar) e temperaturas elevadas, maior deve ser a produção de um pasto. Além dos fatores climáticos, a produção de pastos sofre impacto das condições de fertilidade do solo (disponibilidade de nutrientes) e espécie manejada.

 

Produção e qualidade

Muitos produtores acreditam que uma determinada espécie de planta é mais produtiva ou pode produzir mais que outra pelo seu potencial genético produtivo. Este raciocínio está parcialmente correto, uma vez que, além dos fatores edafoclimáticos (relação: terra, planta, atmosfera/clima), a produtividade de pastagens é muito dependente das condições de manejo empregadas numa propriedade. Não basta corrigir solo, oferecer água via irrigação, adubar adequadamente o pasto e não conseguir trabalhar corretamente um dado módulo rotacionado, por exemplo. Geralmente, erros de manejo são simples de ser corrigidos. Entretanto, na prática, nem sempre conseguimos atingir bons resultados, pois dependemos de treinamento e capacitação da mão de obra para condução adequada de um sistema de pastejo rotacionado.

Apesar de básico, o controle de altura de entrada e saída de piquetes ainda é um desafio para muitas propriedades. Cada espécie forrageira tem uma altura ótima de entrada e de saída dos piquetes, de acordo com o projeto delineado em dias de ocupação e período de descanso. O objetivo de colocarmos animais dentro de piquetes com altura adequada é o fornecimento de uma forragem de qualidade. Quanto maior for a altura de uma planta, e quanto mais massa é acumulada num módulo de produção, menor tende a ser a qualidade da forragem disponível. Infelizmente, quanto mais massa uma planta acumula com o passar do tempo, menor é o seu valor nutricional. O ponto de corte ou pastejo de uma dada forrageira é sempre no ponto de intersecção entre o maior valor nutricional e maior produtividade. O gráfico 1 ilustra esse raciocínio.

 

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Um conceito muito importante de ser avaliado é a diferença entre oferta de forragem (ou disponibilidade) e consumo animal. Muitos produtores associam uma produção elevada no pasto ao sucesso no manejo do seu sistema. Essa análise está errada, pois a nossa preocupação é direcionada ao consumo efetivo de matéria seca (MS) em sistemas rotacionados. A tabela 1 apresenta a altura de entrada e saída de diferentes forrageiras.

Os motivos que levam ao descontrole e erros de manejo em pastagens são diversos. Nossa experiência prática, no campo, acompanhando diferentes sistemas de produção, tem demonstrado que o sucesso no manejo de pastagens depende muito da capacitação da mão de obra responsável pela condução de um módulo de produção.

 

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Suplementação alimentar

Um fator muito importante que interfere muito na qualidade do manejo de sistema de pastejo é a presença e emprego de diferentes formas de suplementação. A suplementação geralmente é realizada com ração comercial pronta, comprada em lojas, cooperativas, fábricas, ou concentrados com formulação própria, produzidos na própria fazenda, quando esta compra diretamente insumos de fornecedores de matéria-prima. A suplementação geralmente é realizada o ano todo para fazendas de leite a pasto com melhores produtividades e condições de manejo. A suplementação se faz necessária ao conduzirmos sistemas de produção a pasto, pois o consumo de forragem é limitado pelo teor de fibra (mensurada em % fibra em detergente neutro ou FDN) em relação ao peso vivo de um dado animal. Logo, mesmo que fosse nosso objetivo, não conseguiríamos atender a demanda de nutrientes para produção de leite, com boa rentabilidade, sem fornecimento de concentrados.

Existem diferentes formas de suplementarmos animais em produção a pasto. A mais empregada é o fornecimento somente de ração ou concentrado em cochos individuais durante a ordenha ou cochos coletivos em alguns casos com canzis, pós-ordenha. Em algumas propriedades, além do fornecimento de concentrado, é fornecido volumoso e concentrado no cocho, também pós-ordenha. Logo, precisamos tomar cuidado quando classificamos sistemas de produção como: “sistemas de produção a pasto”. A nomenclatura mais correta seria, talvez, “sistemas de produção a pasto com suplementação”, ou “sistemas mistos” quando temos uma combinação de situações, como lotes sendo suplementados apenas com concentrados e lotes suplementados com concentrado e volumoso. Em muitos casos, o fornecimento de volumoso no cocho atende uma demanda importante no manejo nutricional associada à saúde animal e manutenção de pH ruminal, essencial para boa digestão. Para sistemas mais intensivos e com animais mais produtivos a pasto, a quantidade fornecida de concentrado tende a ser maior. Nestes casos, não recomendamos o fornecimento, de uma única vez, de maiores quantidades de concentrado no cocho, sem pré-mistura com alimentos volumosos.

No caso de sistemas mistos, a demanda de volumoso predicada em dietas é repartida entre a forragem fornecida no cocho, misturada ao concentrado, e o consumo de pasto. O desafio sempre está na quantidade de pasto consumida, diariamente. Em termos práticos, mensurar a quantidade fornecida e consumida de alimento no cocho (manejo de pesagem de sobras) é, relativamente, fácil. O mesmo não é possível em relação ao consumo de pastagem. A tabela 2 resume os tipos de manejo de pasto com fornecimento de suplementação.

Em termos práticos, o consumo de pastagem sofre interferência direta da quantidade fornecida de suplemento (independentemente do tipo de suplementação, se apenas concentrado ou concentrado e volumoso). Quanto maior for a quantidade fornecida de suplementos no cocho, menor tende a ser o consumo de pasto.

 

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Quem maneja pastagens, no verão, enfrenta um grande desafio: o estresse térmico. Mesmo trabalhando com animais cruzados com sangue zebu, como vacas girolandas, tradicionalmente reconhecidas como animais mais resistentes e adaptados as condições tropicais do nosso país, não podemos negar o impacto negativo em termos produtivos, causado pelo calor. É neste período que nos deparamos com os maiores erros de manejo. Em função do estresse térmico, muitos produtores acabam fornecendo quantidades maiores de suplemento no cocho, sob a prerrogativa de que “com o calor, as vacas ficam deitadas debaixo da árvore e consomem pouca forragem, e que é melhor ‘garantir’ a produção no cocho”. Essa atitude pode agravar ainda mais o consumo de pastagem via efeito substitutivo. 

De fato, em qualquer sistema de produção, e pela natureza do comportamento animal de ruminantes (atavismo), temos uma tendência de queda no consumo de MS entre 10:00 e 16:00 horas, diariamente. Em condições de estresse térmico e muito calor, esse efeito comportamental é ainda mais pronunciado. É comum, em fazendas, não encontrarmos atividade de pastejo nesse intervalo, em dias de verão e calor intenso. Em termos práticos, a realidade que encontramos são fazendas com animais ordenhados logo cedo. Saem da ordenha e são suplementados. Por efeito substitutivo e calor atenuante, tendem a se deitar entre às 9:00 e 10:00 horas, após o consumo de suplemento, permanecendo em baixa atividade até o meio da tarde.

Muitas ordenhas acontecem a partir das 15:00 horas, ou seja, no momento em que poderíamos começar a ter uma melhoria na atividade de pastejo. No entanto, em muitos sistemas, a partir desse horário os animais são conduzidos, novamente, para a ordenha. Após a ordenha, recebem nova dose de suplementação. Nestes casos, temos um efeito substitutivo que pode inibir atividade de pastejo. Notadamente, esse efeito é menor no período da tarde. Logo, é importante que o pecuarista esteja atento às possibilidades de mudanças em seu manejo para ter melhor rendimento.

Se durante o período da manhã os animais costumam comer bem a suplementação e depois descansar, uma estratégia pode ser oferecer uma maior quantidade de suplemento neste período. Com o pôr do sol e chegada da noite, e consequente redução na temperatura, o que notamos é uma melhor atividade de pastejo e consumo. Logo, uma estratégia interessante de manejo no período da tarde é o fornecimento de uma “alimentação rápida”, para “convidarmos” as vacas para um pastejo mais eficiente no período noturno.

Dessa forma, o produtor que trabalha com pasto e suplementação deve estar atento às mudanças que acontecem ao longo do ano e às possibilidades de mudança em seu manejo de acordo com cada cenário e desafio prático a ser enfrentado. O primeiro cuidado é com a quantidade de concentrado fornecida, e teores desse concentrado quando este é o único suplemento. O uso de rações comerciais compradas, com formulações “travadas”, nem sempre é a melhor opção ou opção adequada para uma dada qualidade de pastagem. O pecuarista deve estar atento sempre ao teor de energia e proteína, em média, que seu pasto produz numa situação de verão. Ao mesmo tempo, precisa ter consciência que a demanda de alimento varia de acordo com a produção de leite e estágio de lactação.

 

Demandas sazonais

A qualidade do concentrado para animais mantidos a pasto no inverno, mesmo que com menor lotação, deve ser bem diferente do concentrado usado no verão. Concentrados para animais a pasto, no verão, precisam ser mais energéticos que proteicos. Muitos vendedores que comercializam rações e suplementos costumam fazer da “concentração proteica” (teor de proteína bruta) a “moeda de valor” ao abordarem produtores. No verão, com pastagens bem manejadas e adubadas, a preocupação com o teor de proteína da ração ou concentrado fornecido não é tão importante quanto o de energia. O contrário ocorre no inverno, ocasião em que o teor de proteína das pastagens cai abruptamente e, para animais mantidos em pastejo nessa época (menor lotação), devemos fazer uso de rações e concentrados ricos em proteína.

Animais no terço médio e final de lactação tendem a consumir mais alimento com menor demanda por nutrientes (menos energia e proteína), ou seja, dietas menos densas. O contrário acontece com vacas em início de produção. Logo, por mais interessante que seja fazer uso de apenas um concentrado misturado na fazenda ou ração comprada, o produtor deve checar se não vale a pena segregar seus animais, qualificando melhor seu manejo. Um “concentrado padronizado” em determinadas condições de manejo pode ser muito pouco eficiente. Para propriedades menores, com menos animais em produção, a subdivisão em vários lotes pode ser uma medida pouco prática. Todavia, para maiores quantidades de vacas em produção, essa subdivisão é mais do que necessária, e conseguimos facilmente justificar manejos mais elaborados com uso de produtos direcionados.

Em sistemas de produção que trabalham com suplementação de volumoso é necessário cuidado ainda maior, pois o efeito substitutivo pode ser maior. A COWTECH, como consultoria especializada na área, procura orientar seus clientes sempre a otimizar as vantagens comparativas de cada estação no decorrer do ano. Durante o verão, recomendamos a máxima exploração da pastagem, sem uso de suplementação com volumosos, se possível, visando a redução de despesas. A média individual pode ser menor nesse período, mas nossos esforços são direcionados visando a maior taxa de lotação possível e produção por área. No inverno, se necessário, optamos até pelo confinamento total de determinados lotes, e nosso objetivo se volta para a suplementação no cocho que promova a melhor média de produção. Esse raciocínio se aplica para as áreas do Brasil de maior latitude e maior estacionalidade de produção.

 

Estação de “transição”

Na presente época do ano, que classificamos como período “de transição” entre estação chuvosa e seca, os cuidados devem ser redobrados. Apesar de ainda haver disponibilidade de forragem, de abril em diante a qualidade dos pastos tende a diminuir substancialmente, traduzida na queda do teor de proteína (%PB) e com aumento no teor de FDN, ou seja, uma pastagem com menor digestibilidade e palatabilidade. O reflexo direto é a queda da produção, mesmo com animais não apresentando nenhum sintoma físico aos nossos olhos (continuam “gordos e bem”). Logo, o produtor atento deve avaliar a qualidade da sua forragem nessa época do ano, mesmo que ainda esteja verde. Deve se preparar para a redução da lotação dos seus pastos, decidir qual silagem vai abrir e qual lote passará a consumir um pouco de forragem, confinamento parcial ou integral, para que a produção seja mantida.

Outro detalhe importante que deve ser analisado é o período médio de lactação (DEL: dias em lactação) de cada lote em produção. É importante que os lotes sejam segregados pelo critério de produção de leite sem que o DEL seja esquecido. Se possível, toda propriedade deve ter um lote de vacas em início de lactação separado dos demais. A separação de multíparas e primíparas é muito importante, mas para sistemas a pasto, em muitos casos podemos criar um manejo complexo e pouco prático.

A separação de vacas em início de lactação das demais deve ocorrer sempre que possível, lembrando que o manejo de apartação e segregação de lotes em produção é muito mais importante de ser realizado no cocho, no ato da suplementação, do que em situação de pastejo. Nossa recomendação técnica é sempre o delineamento de módulos de produção, de modo que cada lote seja, integralmente, manejado num módulo produtivo. Quando não é possível, optamos pelo manejo e segregação na linha de cocho.

A mensagem final para produtores e técnicos envolvidos com manejo de pastagens e sistemas de produção a pasto é sempre estar atento aos detalhes de cada propriedade e fatores que possam afetar o consumo individual e, consequentemente, de um lote em produção. Pequenas medidas práticas, como: troca de concentrado (ao mesmo preço que o atual fornecido) de acordo com a qualidade da pastagem, apartação adequada de lotes, ou mesmo uma mudança no horário de ordenhas, pode fazer a diferença, sem impacto nos custos. O mesmo podemos dizer quanto a uma nova proposta de repartição de nutrientes (quantidade) nos horários de trato, sem se esquecer de focar, sempre, no treinamento e capacitação da mão de obra responsável pela condução de um módulo de produção, para que a realidade prática se aproxime ao máximo da idealizada.

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