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O leite no mundo

Nova Zelândia: Estação de vacas secas

Nova Zelândia: Estação de vacas secas

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O clima da Nova Zelândia é favorável à produção de forrageiras de clima temperado com alto valor nutritivo, mas ao mesmo tempo é desfavorável à alta produção de matéria seca por área devido à baixa temperatura. Por isso aqui a produção de leite é estacional. O pico de produção das vacas é sincronizado com o pico de produção do pasto e o excedente é estocado e ofertado durante o inverno, sobre a neve ou sobre o pasto baixo. Algumas fazendas, principalmente na Ilha Sul, arrendam outra propriedade que eles chamam de “run-off” para deixar as vacas secas no inverno. Os “run offs” são especializados em prestar esse tipo de serviço para produtores de leite. Não só na mantença de vacas secas como também na recria de bezerras leiteiras. Em geral uma unidade de produção de leite só possui vacas leiteiras. Como a produção de leite é estacional, cada estação tem a sua particularidade de acordo a produção de pasto, clima e fisiologia da vaca. Nessa oportunidade iremos falar sobre a estação de vacas secas que os Kiwis chamam de “dry season” ou “dry off”.

O “dry off” vai de junho a julho e se inicia com o processo de secagem das vacas. A grande maioria das fazendas faz terapia da vaca seca que consiste na secagem de vacas com o uso de antibióticos intramamários de longa ação, próprios para esse fim. Essa prática é muito importante principalmente na Ilha Sul, pois aqui temos um inverno úmido e a lama nos piquetes favorece a contaminação dos tetos e, portanto, a mastite. Para a aplicação do antibiótico as fazendas fazem mutirões reunindo vizinhos e amigos. É um processo muito trabalhoso e todos os produtores ajudam uns aos outros. Após a ordenha, a vaca permanece na plataforma para o protocolo. É importante que seja nesse momento, pois a vaca permanece com o esfíncter do teto aberto por até 10 minutos após a ordenha. Primeiro vem uma pessoa limpando a ponta dos tetos com lenço descartável umedecido com álcool próprio para esse fim, chamado de “teat wipe”. Usa-se um “teat wipe” para cada teto. Não se faz a limpeza do teto inteiro para não correr o risco de levar sujeira para o esfíncter onde a cânula será introduzida. A limpeza é feita dos tetos anteriores pra os posteriores caso contrario o braço da pessoa que esta limpando pode encostar aos tetos limpos e sujá-los novamente.

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Após a limpeza dos tetos deixam-se os lenços usados debaixo da vaca para identificar que a mesma está pronta para aplicação do antibiótico. A aplicação é feita tomando o cuidado de não introduzir a cânula completamente para evitar que a seringa leve sujidades para dentro do teto. Em geral, não é comum nas propriedades o ato de massagear o teto empurrando a medicação para dentro do úbere, para não empurrar também possíveis contaminantes, contudo, vi algumas fazendas realizando o procedimento. Ao contrário da limpeza dos tetos, a aplicação do intramamário deve ser feita no sentido dos tetos posteriores para os anteriores, pois quando o braço da pessoa encostar aos tetos estes já estarão tratados.

Após a aplicação do antibiótico intramamário, as seringas são deixadas debaixo da vaca junto com os lenços para identificar as que já foram tratadas. Ao completar o tratamento em uma plataforma, todo o lixo é recolhido enquanto a mesma vai girando e as vacas vão saindo. Contudo, antes de sair as vacas recebem um pour-on contra ectoparasitas e só irão ser ordenhadas novamente quando parirem.

Para economizar na compra de medicamentos, vi algumas fazendas dividirem as vacas em dois grupos, onde as vacas que iriam parir nos primeiros 50 dias da estação de parição recebiam um produto de ação de 56 dias, mais barato que o medicamento de 90 dias de ação usado nas vacas que tinham previsão de parto superior a 50 dias. Também constatei muitos produtores usando “teat Seal” para o segundo grupo de vacas e também para novilhas no terço final de gestação. Inclusive já tem algumas fazendas usando uma estrutura móvel para aplicação do “teat Seal” em novilhas no piquete mesmo.

Depois da secagem, as vacas vão para o “run-off”. Esta estratégia é muito importante, pois a vaca seca é menos exigente e a rotação no pasto deve ser mais lenta, sendo estes dois fatores que possibilitam o produtor adensar mais os animais na área de pastejo, manejo que danificaria o piquete da fazenda de origem durante o inverno. Além disso quando os animais retornam os piquetes estão com uma boa disponibilidade de pasto.

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Geralmente o “run off” é realizado com pastejo em faixas de couve, “fodder beet”, “italian Grass”, aveia e/ou fornecimento de silagem. No pastejo, essas forrageiras permitem uma altura de manejo bem maior do que o azevém, uma maior produção de matéria seca, sem prejudicar a qualidade da forragem consumida, como também eficiência de colheita. Em uma pesquisa feita em 31 fazendas do estado do Canterbury-NZ, constatou-se uma produção média de 10,9t/ha de couve com 95% de colheita pelas vacas (EDWARDS, et. al 2008).

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A couve é a principal forrageira de inverno no país. Apesar da alta produtividade por área e excelente índice de colheita, a couve possui saponina, um fator anti-nutricional também encontrado na soja e alfafa que impossibilita pastejo exclusivo. Na primeira semana de pastejo os produtores fazem uma adaptação no gado fornecendo 50% da dieta com o pasto original de azevém e trevo mais, 25% de couve e mais 25% de feno de resíduo de lavoura de trigo que os kiwis chamam de palha. O uso da palha serve para diminuir o valor nutricional da dieta, para diminuir a produção de leite das vacas, além aumentar o teor de fibra e matéria seca já que a couve tem baixos teores destes. Gradativamente, os produtores vão diminuindo o acesso ao pasto até fornecer somente couve mais,silagem e/ou palha, onde a couve passa a representar em média 85% da dieta. Outras forrageiras têm sido usadas como opção de forragem de inverno. O importante é que seja altamente produtiva sem prejudicar o consumo e a qualidade do material ofertado. Uma forrageira que também chama a atenção é a “fodder beet”, uma espécie de beterraba que as vacas consomem a parte exposta na superfície e a raíz. Ambas são de muita aceitabilidade pelos animais e é uma cena interessantíssima ver as vacas consumindo a raiz.

Quando falo raiz de beterraba assumo que a planta possui raiz tuberosa, embora existam fontes que dizem que o principal órgão de reserva da beterraba é o colo do caule da planta. Enfim, raiz ou caule a “fodder beet” é altamente produtiva produzindo em média de 18 a 22 toneladas de matéria seca por hectare chegando a 30 toneladas, com resíduo menor que o da couve. É uma excelente opção para o inverno, inclusive só pode ser usado nessa época devido ao alto teor de oxalato, fator anti nutricional que indisponibiliza o cálcio. Já a couve possui alto teor de cálcio. O uso estratégico da “fodder beet” se dá nos primeiros 45 dias de “dry season” no intuito de promover ganho de peso das vacas que geralmente saem da lactação com escore de condição corporal (ECC) um pouco baixo.

O ECC na NZ vai de uma escala de 1 a 10. Qualquer ECC abaixo de 3 é um animal magro. Acima de 6 é considerado obeso. Na média, as vacas secam com o ECC 3 e a meta é parir com um ECC 5 para vacas e 5,5 para novilhas. Cada ponto de ECC equivale a 6,58% do peso corporal. Nesse caso a vaca precisa ganhar 13,16% de peso corporal em 60 dias. Na prática, é aceitável até 15% do rebanho com ECC abaixo da meta.

O período “dry off” não demanda muito esforço operacional. No entanto é preciso ter um bom planejamento, pois o intervalo de tempo é muito curto e qualquer erro pode refletir na lactação. Além disso, o excesso de alimentação custa caro principalmente nesse período em que não se tem receita de leite. Portanto, é preciso alimentar os animais com a quantidade correta. Animais obesos ou magros não são desejáveis para o período de parição. Vacas magras perdem mais peso no início da lactação, o que leva a uma série de problemas decorrentes do baixo ECC. Por isso, os produtores Kiwis têm sempre acurado o tamanho dos piquetes, produtividade da forrageira bem como a qualidade. Além disso, deixam todo plano de rotação e manejo definidos para que o desenvolvimento das atividades fiquem o mais simples possível de o funcionário realizar.

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Resumidamente, o que tem para se dizer da dry season da “porteira pra dentro” foi dito, contudo creio que a maior interrogação do produtor brasileiro é em relação à “porteira para fora”. É difícil imaginar uma fazenda leiteira sem produzir leite. Todavia uma fazenda de corte também não produz carne o ano inteiro. A produção de leite na NZ também tem safra. O leite se comporta da mesma maneira que qualquer outro produto na safra e na entressafra. Quem se beneficia com isso é quem tem condições de produzir na entressafra. A Fonterra Co-Operative Group Ltd, responsável por 81% da captação nacional, opera o ano inteiro no mercado mundial de lácteos, mas na linha de produção, a dry season é um bom momento para se concentrar férias, manutenções de equipamentos, treinamento de pessoal, planejamento anual, etc. Na fazenda não é diferente. Alguns produtores produzem sem parar para abastecer o mercado interno e aproveitam da melhor remuneração, apesar do custo também se elevar.

No Brasil, temos uma demanda interna muito alta fazendo com que os laticínios pressionem o produtor a produzir o ano inteiro. Contudo, se o Brasil continuar evoluindo em breve, além de atender o mercado interno, estará exportando muito leite em pó. Isto viabilizaria a produção estacional, que, por sua vez, facilita muito o planejamento estratégico do produdor.

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