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Parceiros do leite

Parceiros do leite

Texto: Marcelo de Rezende – Eng. Agrônomo, Cooperideal – Londrina, PR

 Os resultados obtidos através da parceria da Cooperideal com o município e os produtores de Dois Vizinhos, Paraná, demonstram que investimentos direcionados para a inovação e o conhecimento tecnológico são a melhor forma de desenvolvimento, e que a atividade leiteira, em todo momento, mostra sua enorme capacidade de geração de trabalho e renda.

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 O Estado do Paraná é um tradicional produtor de leite no Brasil, tendo como seu principal destaque a região Sudoeste, que hoje mais cresce e produz leite no Estado. Nessa região foram ordenhados quase 1,1 bilhão de litros de leite em 2013. No sudoeste paranaense, onde a atividade rural é a base para a riqueza da maioria das cidades, está localizado o município de Dois Vizinhos, referência pela alta qualidade de vida de sua população e também por ser um tradicional exportador de aves e suínos. O leite também é uma atividade com destaque no município, que hoje produz ao redor de 50 milhões de litros por ano, colocando-se como o 14º maior produtor paranaense.

Apesar de conviver com o alto nível tecnológico aplicado às atividades de aves e suínos, ainda são poucos os produtores que aplicam esse mesmo nível tecnológico à produção de leite, o que imprime à atividade leiteira um desenvolvimento técnico incipiente, responsável por um crescimento muito mais quantitativo que qualitativo da produção.

 

O trabalho técnico

Em 2009, buscando estabelecer um trabalho que pudesse se firmar como referência para a atividade no município, o poder público e os produtores de Dois Vizinhos se organizaram e estabeleceram uma parceria com a Cooperideal, que designou um de seus técnicos para atuar exclusivamente junto aos produtores de leite do município. Desde então, o técnico Judinei Reino de Moraes atende as propriedades locais, trabalhando na aplicação de técnicas e conceitos que visam a intensificação do sistema produtivo das fazendas, levando aos produtores de leite conhecimento tecnológico capaz de ajudar na adequada manipulação dos fatores produtivos disponíveis. Atualmente são 28 produtores acompanhados através de visitas técnicas mensais, momento em que o técnico avalia a execução de ações anteriormente acordadas e define novas ações a serem realizadas até a visita seguinte.

Pela parceria ficou definido que o poder público arcaria com 40% e os produtores com os outros 60% dos custos do acompanhamento técnico, e atualmente o valor desembolsado por cada visita, somadas as partes pagas pela prefeitura local e pelos produtores assistidos, representa menos que a metade de um salário mínimo vigente. Um dos critérios utilizados pela Cooperideal na avaliação dos resultados obtidos com o trabalho técnico aplicado é o retorno que os parceiros obtêm, em termos de aumento de renda, em relação ao valor que é investido no trabalho realizado pela empresa. O aumento de produção e renda obtido pelos produtores acompanhados tecnicamente, quando comparados com os investimentos realizados, permitem quantificar esse retorno.

No caso do município de Dois Vizinhos, os vinte produtores que ainda hoje permanecem no trabalho técnico desde seu início produziam juntos, nos 12 meses de trabalho de 2010, o volume de 2.409.000 litros (em média 330 litros/propriedade/dia), o que, em valores atualizados, correspondia a uma receita anual de R$ 2.264.460,00 (o preço médio do leite recebido pelos produtores do grupo em 2015 foi R$ 0,94/litro, valor usado para calcular e atualizar a receita de 2010). Nos 12 meses de 2015, já com os resultados da atuação técnica consolidada nessas 20 propriedades, esse mesmo grupo de produtores produziu 3.983.245 litros (em média 545 litros/propriedade/dia, aumento de 65% em relação ao ano de 2010), respondendo por uma renda anual de R$ 3.744.250,30 em 2015. Houve, portanto, um acréscimo de renda de R$ 1.479.790,30 no leite produzido em 2015 em relação ao que era gerado em 2010.

Certamente esse acréscimo anual de renda foi gasto na compra de insumos para a atividade, na manutenção das necessidades das famílias e na aquisição de bens de consumo, o que ajudou sobremaneira na movimentação do setor de comércio e serviços local. Para o município, o impacto desse aumento de renda é grande, pois possibilitaria, por exemplo, que fossem adquiridos no comércio do município 1.000 refrigeradores no decorrer do ano, evidenciando a enorme capacidade de geração de renda e de melhoria de qualidade de vida que a atividade leiteira possui. É importante ressaltar que esse aumento de renda foi conseguido considerando o trabalho realizado em apenas 20 fazendas que, em sua maioria, passavam por dificuldades econômicas em 2010 e que tinham, portanto, pouca capacidade de realizar investimentos. Quando dividimos o acréscimo de renda obtido em 2015 (R$ 1.479.790,30) pelo valor investido em assistência técnica pelos produtores e pelo município nesse mesmo ano (R$ 90.000,00), temos como resultado um retorno de R$ 16,44 de renda gerada para cada real investido no trabalho técnico, demonstrando o quanto é vantajoso o investimento em conhecimento tecnológico. Esse retorno pode ser ainda maior, pois os produtores do grupo podem crescer muito mais, de maneira a gerar ainda maiores benefícios para o município. Os índices econômicos e zootécnicos médios do grupo de produtores assistidos em Dois Vizinhos estão disponíveis na Tabela 1.

 

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Números da evolução

O grupo de propriedades assistidas em Dois Vizinhos possui 12,7 ha como área média utilizada para a produção de leite, e essa área se refere à soma de todas as áreas, próprias ou arrendadas, de produção de alimento volumoso, tanto de verão como de inverno, de produção de grãos utilizados na atividade, além das áreas utilizadas por instalações e de manejo dos animais. A produção média dessas fazendas cresceu 65% entre os anos de 2010 e 2015, saindo de 330 para 546 litros/dia, o que resultou em ganhos de produtividade com equivalente leite, elevando o volume obtido de 11.784 para 18.084 litros/ha/ano; vale lembrar que, para o cálculo desse índice, todas as receitas anuais do leite são convertidas em litros, e a quantidade obtida é dividida pela área utilizada pela atividade.

Com o aumento da produção dessas fazendas, o fluxo de caixa — valor médio efetivamente embolsado por cada produtor do grupo — dobrou, saindo de R$ 28.786,40 em 2010 para R$ 56.635,24 em 2015. O fluxo de caixa representa o valor que efetivamente fica com o produtor, sendo calculado pela diferença entre o valor de todas as receitas (venda de leite, venda de animais, etc.) e todos os desembolsos (pagamento de despesas de custeio e pagamento de investimentos) da atividade na fazenda. O aumento do número de vacas em lactação por área (de 2,08 para 2,5 VL/ha) e da produção média das vacas em lactação (de 15,06 para 18,80 l/vaca/dia) teve como consequência o aumento da produção diária das fazendas (de 331 para 546 litros/dia), em uma área disponível para a atividade que pouco se alterou (de 11,3 para 12,7 ha), demonstrando a correta manipulação dos fatores produtivos.

A eficiência no uso da terra, através da maior produção de forragem na área disponível para a atividade, juntamente com a melhoria da eficiência econômica do negócio e com os ganhos de escala da produção, tem como reflexo a obtenção de bons resultados nos índices relacionados aos ganhos/área, cuja finalidade é demostrar a competitividade da atividade leiteira em relação às demais opções de negócio no campo. No caso do grupo de produtores de Dois Vizinhos, o índice “Lucro/ha/ano”, fruto do resultado obtido com a divisão da diferença entre as receitas totais (venda de leite e animais) e as despesas totais (operacionais, depreciações e remuneração do capital investido) pela área utilizada, que em 2010 era de R$ 854,19, subiu para R$ 3.149,94 em 2015, colocando o leite produzido de maneira intensiva como atividade capaz de competir com as principais atividades tecnificadas da região. Ao aplicar conhecimento técnico na produção, os produtores que trabalham nessas propriedades passam a colher os frutos do próprio trabalho e a enxergar o efetivo potencial econômico do seu negócio.

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Foco na produção leiteira

Deste grupo de produtores analisados, destacaremos o Sítio Zago, cuja evolução nos ajudará a compreender melhor o caminho de sucesso trilhado por esses produtores. A família Zago, composta pelo pai, Nelson Zago, pela esposa Noeli e pelos filhos Janderson, Suelen e Jeverton, representa bem a estrutura familiar predominante na área rural da região. Os filhos, entrando na idade adulta, certamente deixariam a propriedade caso não houvesse renda suficiente que os possibilitasse continuar no campo. Pais e filhos trabalhavam incansavelmente, mas somente o esforço físico não era suficiente para que a renda gerada na propriedade pudesse atender as necessidades da família; era preciso conhecimento técnico para que a situação pudesse ser alterada.

Na propriedade de 60 ha de área útil, a família trabalha hoje com o plantio de lavouras em 45 ha, deixando a área restante para a produção de leite. Mas nem sempre foi assim. Até alguns anos atrás o produtor tinha várias outras atividades na propriedade. Além de leite, milho e soja, era feito também o cultivo de fumo, a criação de gado de corte e a suinocultura, e com tantas atividades ocupando toda força de trabalho disponível, não havia espaço para que a família se especializasse em alguma delas, resultando no fraco desempenho econômico de todas.

A família procurava uma maneira de diminuir as tarefas diárias da propriedade, de modo a concentrar o trabalho em alguma atividade que servisse como base econômica. Em 2009, com a chegada do técnico Judinei Reino de Moraes ao município, o patriarca da família, Sr. Nelson Zago, percebeu que aquela poderia ser uma boa oportunidade de desenvolver a atividade leiteira, que até então era só mais uma entre tantas outras atividades da propriedade. Mesmo antes de iniciar o trabalho técnico, o produtor já havia comprado um lote de 30 novilhas, mesmo sem saber muito bem que rumo dar à propriedade. Nessa época a produção no sítio era de 180 litros/dia. A partir de então, as visitas foram iniciadas e, aos poucos, o trabalho de estruturação foi sendo estabelecido. No primeiro ano de trabalho foi formado 1,0 ha de Tifton 85, que corrigido, adubado e dividido em piquetes, passou a ser manejado intensivamente e começou a abrigar as vacas em lactação da propriedade. Em seguida, mais uma área, dessa vez com 1,5 ha também com Tifton 85, começou a ser formada com o objetivo de abrigar o número de vacas em lactação que crescia.

Em 2011 a fazenda tinha a segunda área de Tifton 85 em operação, e as duas áreas já abrigavam as 22 vacas em lactação da época. Pensando na expansão do rebanho, foi formado mais um sistema de pastejo intensivo, desta vez com 2,5 ha de capim Mombaça. Em 2012 a propriedade totalizava 5,0 ha com área intensificada para pastejo no verão, responsável por manter em pastejo todas as vacas do rebanho. A irregularidade e a má distribuição das chuvas fizeram com que o produtor optasse por implantar irrigação em todos os módulos de pastejo intensificados, o que ajudou no aumento da produção e na melhoria das condições de manejo, tanto das pastagens tropicais como também no resultado obtido com as plantas de inverno sobressemeadas nessa mesma área no período frio do ano. Nesse período foi também implantado um canavial com área de 1,2 ha, responsável por fornecer parte da forragem utilizada no período de inverno no sítio. Outra parte da forragem usada no inverno vem atualmente do plantio de 3,0 de milho para silagem, e outros 3,0 ha de milho são usados na confecção da silagem de grão úmido, também utilizado na dieta dos animais. A Tabela 2 detalha os índices zootécnicos e econômicos do Sítio Zago.

 

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Os investimentos em fertilidade do solo e o estabelecimento e manejo de plantas de alto potencial produtivo possibilitou que o Sítio Zago aumentasse a quantidade de vacas em lactação na propriedade. Em 2010 eram 14,8 vacas em lactação, contra 38,6 mantidas em média em 2015 na mesma área de 15 ha inicialmente utilizada. Tal crescimento é observado pela evolução do índice “Vacas em Lactação/ha”, que saiu de 0,98 para 2,57, e que retrata com precisão a melhoria de eficiência nos fatores produtivos da fazenda. Com isso, a produção inicial média da propriedade, que era de 251 litros/dia em 2010, saltou para 826 litros/dia em 2015, caracterizando um aumento de mais de três vezes na produção entre um período e outro. 

O aumento na escala de produção deve caminhar junto com a eficiência econômica do sistema de produção, promovendo não só o aumento de receitas, mas principalmente de sobras financeiras efetivamente embolsadas pelo produtor. Em 2010, o total de receitas do Sítio Zago era de R$ 60.072,26, mas com as melhorias e aumento da produção esse valor subiu para R$ 281.945,50 em 2015, demonstrando a capacidade de geração de renda da atividade leiteira tecnificada. Mais importante que isso foi o volume de recursos que sobraram no bolso do produtor, nesse caso representado pelo fluxo de caixa da atividade, que aumentou quase dez vezes, saindo de R$ 11.517,78 no primeiro ano de trabalho, para R$ 106.540,50 em 2015. Quando relacionamos esse valor embolsado com a área utilizada pela atividade, temos como resultado R$ 7.102,70 de sobra para cada hectare de terra trabalhado em 2015, valor certamente muito superior ao obtido com as demais atividades do meio rural.

A produtividade do sistema, fruto da divisão da produção pela área utilizada, atingiu 20.834 litros/ha/ano em 2015, superando produtividades de países desenvolvidos na produção de leite, colocando a atividade praticada nessa propriedade em um patamar considerado de grande eficiência. As melhorias promovidas no Sítio Zago garantiram melhorias significativas na condição de vida família, que além de se beneficiar da maior renda disponível, puderam também reduzir o número de atividades praticadas na propriedade, abandonando a produção de fumo, de suínos e de gado de corte.

Os resultados obtidos através da parceria da Cooperideal com o município e os produtores de Dois Vizinhos demonstram que investimentos direcionados para a inovação e o conhecimento tecnológico são a melhor forma de desenvolvimento, e que a atividade leiteira, em todo momento, mostra sua enorme capacidade de geração de trabalho e renda. Os produtores de leite de Dois Vizinhos souberam agarrar a oportunidade que receberam e, através da aplicação do conhecimento técnico, estão trabalhando na busca de dias melhores, direcionando seus esforços no sentido da geração de renda, que resulta no atendimento das necessidades pessoais dos envolvidos e na motivação dos filhos que passam a ser interessar pelo negócio da família.

O trabalho desses produtores promove, também, a efetiva contribuição com o desenvolvimento do local em que vivem e trabalham, gerando emprego, movimentando a economia e preservando o meio ambiente.

3 Sistema de pastejo de Tifton 85.jpg (102 KB)

 

 

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