Este site utiliza cookies

Salvamos dados da sua visita para melhorar nossos serviços e personalizar sua experiência. Ao continuar, você concorda com nossa Política de Privacidade, incluindo a política de cookie.

Novo RLI
x
ExitBanner
Gestão

Um novo norte para a produção de leite

Um novo norte para a produção de leite

 

Texto: Marcelo Rezende

 Apesar de ainda abrigar grandes fazendas produtoras de leite, a região Norte do Paraná tem hoje nas pequenas e médias propriedades a base de sua produção, sendo que grande parte das famílias produtoras sofre com a pouca renda proporcionada pela baixa produção de leite. No entanto, o início de um trabalho consistente de assistência técnica tem mudado essa realidade. Os resultados obtidos no Sítio Araúna, em Tamarana, são exemplo disso.

Abertura.JPG (102 KB) 

 A região Norte do Estado do Paraná é um dos principais polos de desenvolvimento do país. O conhecimento tecnológico, oriundo de conceituadas universidades e centros de pesquisas localizados principalmente nas cidades de Londrina e Maringá, tem sido a base para o grande desenvolvimento do setor industrial e de serviços existentes na região. Além do alto nível de educação e de qualidade de vida do meio urbano, essa região possui um meio rural altamente desenvolvido e tecnificado, cujas atividades foram a base econômica para o atual nível de desenvolvimento das cidades.

Inovações como o plantio direto, que revolucionou a agricultura do país nos anos 80 e o trabalho pioneiro da Embrapa Soja, com sede em Londrina, com o desenvolvimento de variedades de soja adaptadas para as regiões de cerrado, colocaram o Brasil em outro patamar de desenvolvimento agrícola. As terras férteis dessa região também atraíram muitos produtores de outros estados nas décadas de 60 e 70, que se dedicavam principalmente à cultura do café, que foi sendo substituída pelo plantio de soja e milho nas décadas seguintes. Essa região já foi também uma das principais bacias leiteiras do Paraná, mas atualmente grande parte das fazendas produtoras de gado arrendaram suas terras para o plantio de cana-de-açúcar, principalmente aquelas localizadas na região de divisa com Estado de São Paulo, onde a cultura canavieira se estabeleceu no Paraná.

Apesar de ainda abrigar grandes fazendas produtoras de leite, a região Norte do Paraná tem hoje nas pequenas e médias propriedades a base de sua produção. Um exemplo dessa estrutura de produção existente atualmente é o município de Tamarana, localizado a 30 km de Londrina, que possui sua sustentação econômica diretamente ligada à atividade agropecuária, principalmente naquela praticada pelas pequenas e médias propriedades. Grande parte das fazendas leiteiras localizadas no município ainda se situa em uma faixa de produção média que não ultrapassa os 100 litros/dia. Apesar da importância da atividade leiteira para o município, grande parte das famílias produtoras sofre com a pouca renda proporcionada pela baixa produção de leite.

 Foto 1.JPG (107 KB)

Foto 2.JPG (102 KB)

Foto 3.JPG (90 KB)

Um trabalho consistente

Pensando em melhorar o desempenho da atividade nas propriedades, a Prefeitura Municipal de Tamarana, através de sua secretaria de agricultura, decidiu investir na capacitação e desenvolvimento dos produtores e, para isso, estabeleceu uma parceria com a Cooperideal, que já atuava atendendo alguns produtores do município de maneira particular. Pelo acordo estabelecido, um dos técnicos da cooperativa passaria a atuar exclusivamente com os produtores locais, selecionando e visitando mensalmente as propriedades participantes do programa de desenvolvimento criado pelo município. O técnico Valdeci da Luz Santos, da Cooperideal, iniciou o trabalho em Tamarana no ano 2013 a partir da seleção de 27 fazendas produtoras, cujo volume diário somado contabilizava apenas 1.050 litros (produção média de 39 litros/propriedade/dia). Inicialmente foram realizadas reuniões de sensibilização, visando difundir o programa, demonstrar a potencialidade das propriedades e apresentar técnicas de intensificação da produção e de gestão da atividade que estariam à disposição dos produtores interessados. Os produtores que aderiram ao programa receberam uma primeira visita, momento em que um diagnóstico inicial foi realizado e as condições de participação apresentadas. Inicialmente o produtor não pagaria pelo trabalho técnico recebido, porém se comprometeria a realizar anotações de eventos econômicos e zootécnicos da atividade e a realizar o controle sanitário do rebanho. O produtor também teria que executar as ações acordadas com o técnico do programa, sob pena de ser excluído do trabalho caso deixasse de cumprir com as tarefas acordadas.

No verão passado, dois anos após o início do trabalho no município, o volume de leite produzido pelas 27 propriedades que inicialmente aderiram ao programa já tinha alcançado 4.660 litros/dia (produção média de 173 litros/propriedade/dia), volume 4,5 vezes maior que a produção inicial do grupo; o número de produtores participantes também aumentou, e hoje 33 propriedades fazem parte do trabalho técnico oferecido pelo município. Alguns produtores do grupo, principalmente aqueles que já vinham sendo assistidos antes do estabelecimento da parceria e que, portanto, possuem mais tempo de acompanhamento técnico, cresceram mais e a produção é ainda maior.

Esse é o caso do Sítio Araúna, de propriedade do casal Israel e Rosângela de Souza, que com a ajuda do filho José, conseguiu mudar a realidade da atividade leiteira na propriedade. O Sítio de apenas 13,6 ha de área total começou a ser atendido em 2010, época em que a produção diária era de apenas 110 litros/dia obtidos a partir da ordenha de 14 vacas em lactação, de um total de 25 vacas existentes no rebanho. A propriedade era conduzida como a maior parte das propriedades de leite da região e, assim, a falta de planejamento e a dificuldade na produção de alimento em quantidade e qualidade para os animais do rebanho não permitia que a produção avançasse. As dificuldades na alimentação, além de impedir o aumento da produção, também impossibilitava melhorias na reprodução do rebanho; dessa forma, o rebanho produzia pouco (média de produção por vaca de apenas 8,0 litros/vaca/dia) e mal (apenas 56% de vacas em lactação no rebanho).

Diante de tal quadro, as primeiras ações prioritariamente seriam no sentido de se produzir alimento na quantidade necessária para que o rebanho fosse alimentado o ano todo e com a máxima qualidade possível, pois assim seriam reduzidos os gastos com alimento concentrado na fazenda, que também sofria com um custo elevado de produção. Uma área de 1,8 ha de Mombaça já existia na propriedade, porém, com a baixa fertilidade do solo e sem o manejo adequado, o capim não produzia o que o produtor esperava. Amostras de solo foram coletadas, a área foi medida e dividida em piquetes, sendo estabelecido ali o primeiro sistema de pastejo rotacionado da propriedade. Um canavial já existente na propriedade também foi recuperado, recebendo adubação de cobertura e controle de plantas invasoras. Assim, a propriedade entrava no período do inverno de 2010 com áreas de alimentação estabelecidas. O canavial seria utilizado para alimentação do rebanho no inverno daquele mesmo ano e a área de pastejo intensivo de capim Mombaça estaria pronta para o verão. O uso da cana-de-açúcar permitiu que a produção no inverno atingisse os 200 litros/dia, mas isso era só o começo.

No pastejo de verão 2010/2011 o salto de produção foi ainda maior, pois após um ano de trabalho na fazenda a melhoria na reprodução do rebanho começava a aparecer: com a parição de algumas novilhas, a fazenda chegava a 28 vacas, das quais 25 estavam em produção, fazendo com que o sistema de 1,8 ha de Mombaça produzisse média de 296 litros/dia em abril de 2011. Esse sistema de pastejo era pastoreado pelas 25 vacas em lactação do rebanho e, como ainda havia sobra de forragem na área, outras 3 vacas secas e 4 novilhas faziam o repasse dos piquetes. No total, 32 cabeças pastejavam a área nesse período, uma lotação de mais de 17,7 animais/ha (superior a 19 UA/ha no período do verão). Vale lembrar que essa área de capim Mombaça, recuperada e intensificada, havia recebido calcário e adubação com esterco de aviário no ano anterior. No inverno de 2011, essa mesma área foi sobressemeada com aveia e azevém e continuou sendo pastejada pelas melhores vacas em lactação do rebanho, as demais recebiam cana-de-açúcar corrigida com ureia e sulfato de amônio no cocho, além de alimento concentrado de acordo com a produção de cada animal.

Em 2013, a área de Mombaça passou a ser irrigada e um novo sistema de pastejo de 1,0 ha de Titon 85 foi estabelecido. A fazenda atingiu em 2013, seu ano de maior produção até agora, média mensal de 542 litros/dia, alcançando picos de produção de 600 litros/dia. Já nos últimos doze meses (Quadro 1), a produção mensal média foi de 370 litros/dia, garantindo ao Sítio Araúna um fluxo de caixa anual de R$ 75.009,83, obtido pela diferença entre o total de receitas de R$ 178.317,20 (venda de leite + venda de animais) e de desembolsos de R$ 103.307,37 (despesas + investimentos).

Captura de tela 2016-09-23 a?s 15.33.31.png (55 KB)

Com a melhoria na renda, oriunda do crescimento da produção e da venda do excesso de animais da propriedade, a família Souza, além de investir na melhoraria da qualidade de vida, também pôde melhorar a estrutura de produção da propriedade. A ordenha dos animais, que era feita em um galpão pequeno e acanhado, hoje é realizada em uma sala de ordenha adequada e que oferece conforto ao casal de produtores. A cana-de-açúcar é oferecida em uma quantidade reduzida no período do inverno, pois os animais se utilizam do pastejo de aveia e azevém, inclusive na área irrigada da propriedade, diminuindo trabalho e reduzindo o custo de produção da fazenda. O investimento no sistema de irrigação também foi viabilizado pelo aumento de renda da atividade. 

Os resultados obtidos no Sítio Araúna é que chamaram a atenção do poder público municipal para a necessidade de parcerias que pudessem oferecer aos produtores de leite do município um acompanhamento técnico sistemático e de qualidade, de maneira que mais famílias tivessem a oportunidade de trilhar pelo caminho do desenvolvimento. Muitos outros produtores de leite de Tamarana têm respondido positivamente ao desafio proposto, produzindo cada vez mais leite, gerando trabalho, renda e ajudando a desenvolver a economia local, demonstrando a fibra e o poder de superação do meio rural paranaense.

Compartilhar:


Comentários

Enviar comentário


Artigos Relacionados