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Nutrição

Seis pontos importantes na escolha de híbridos de milho para silagem

Seis pontos importantes na escolha de híbridos de milho para silagem

 

Texto: Gilson Sebastião Dias Júnior

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Introdução

O avanço no mérito genético e produtividade de vacas leiteiras, ao longo dos anos, são fatores que contribuíram para o aumento na demanda por alimentos com alto valor nutricional. A silagem de milho pode ser considerada um alimento nobre, por apresentar alta capacidade de produção de matéria seca por unidade de área, com alto conteúdo energético. Mais de 80% dos rebanhos leiteiros do Brasil utilizam a silagem de milho em, pelo menos, alguma época do ano. Apesar da relevância desse alimento, existe grande variabilidade com relação à qualidade química, física e nutricional dessa forragem. São vários os fatores que podem afetar a qualidade nutricional da planta do milho, como: tipo de híbrido, condução da lavoura, práticas de ensilagem e a forma de descarregamento e uso da silagem. Nesse artigo, serão abordados alguns fatores a serem considerados na escolha de híbridos para confecção de silagem de milho, que podem afetar, direta ou indiretamente, o desempenho produtivo de vacas leiteiras.

 

  • Adaptação ao solo e condições climáticas locais

O Brasil possui uma vasta extensão territorial, com grande diversidade quanto aos tipos de solos, topografia, temperatura, regime pluviométrico, tecnologia utilizada, dentre outros. O sucesso na produção de milho para silagem depende do grau de adaptação dos diferentes genótipos, frente às características edafoclimáticas da região. Além disso, existem interações entre o tipo de híbrido (genótipo), práticas de ensilagem e as condições do ambiente. Não existe um híbrido superior que consiga atender, eficientemente, as características encontradas em todas as regiões do país. Nesse sentido, a escolha de híbridos deve ser realizada de forma criteriosa, observando as características ambientais específicas de cada região ou zona climática. O potencial de produção e tolerância a pragas e doenças pode ser considerado requisitos de grande relevância, permitindo ao material expressar ao máximo o seu potencial genético. A escolha deve ser baseada em híbridos testados por mais de um ano produtivo e em diferentes áreas, mas com mesmas características ambientais. Híbridos com desempenho satisfatório em uma determinada zona ambiental pode ser completamente ineficiente em outro ambiente. Além disso, os dados disponibilizados sobre o desempenho dos híbridos devem ser realizados ou acompanhados por entidades que possuem profissionais habilitados para essa avaliação, em centros de pesquisas idôneos, cooperativas, institutos e universidades. Um exemplo modelo de teste de híbridos é realizado pela Fundação ABC, no Paraná, e pelo APTA, em São Paulo (www.zeamays.com.br), onde os cultivos são conduzidos de maneira semelhante para todos os materiais; monitorados e avaliados por técnicos, e os resultados disponibilizados para os produtores com orientações sobre os melhores híbridos indicados para cada situação.

 

Sanidade

Assim como a adaptação às condições edafoclimáticas, informações sobre a resistência e/ou tolerância do híbrido a ser escolhido, com relação às principais pragas e doenças que ocorrem na região, são determinantes na escolha. Algumas pragas e doenças podem afetar a lavoura de várias formas, desde uma simples redução na produtividade até a destruição por completo da lavoura. Muitas vezes, essas perdas só se tornam visualmente detectáveis após sucessivos plantios, principalmente quando se utiliza a mesma área de forma contínua, sem a realização de rotação ou sucessão de culturas. A sanidade dos grãos também merece atenção na escolha dos híbridos. Portanto, devem-se relacionar as doenças mais comuns na região e optar por híbridos mais resistentes a esses agentes.

 

  • Textura do endosperma

O amido presente no endosperma do grão é a razão primária para a escolha do milho para a ensilagem, já que seu alto valor energético permite reduzir a inclusão de alimentos concentrados na dieta. O grão de milho é formado pelo endosperma, embrião e pericarpo. A camada mais externa do endosperma é composta por uma região vítrea, e mais internamente encontra-se o endosperma farináceo (Figura 1). A vitreosidade é um parâmetro importante na seleção de híbridos de milho, por estar correlacionado com a digestibilidade ruminal do amido. Ela é definida como a proporção de endosperma duro (vítreo) com relação ao endosperma total. Grãos com maior proporção de endosperma duro possuem maior vitreosidade e menor digestibilidade do amido, principalmente quando a colheita ocorre em estágios mais avançado de maturidade da planta. A proporção de endosperma vítreo e farináceo é o fator de definição da textura do grão. O milho cultivado no Brasil apresenta textura do grão, majoritariamente, do tipo vítreo, enquanto na maioria dos outros países há predomínio de grãos com textura farinácea. Nos grãos do tipo vítreo, grande parte do endosperma está envolto por uma densa matriz proteica, o que dificulta a digestão do amido pelos animais. Já os grãos farináceos, estão mais acessíveis ao ataque enzimático. Grãos do tipo duro foram priorizados no Brasil, devido à maior resistência ao ataque de pragas, como o caruncho, durante o armazenamento. Nesse sentido, a seleção de híbridos com textura farinácea do endosperma pode impactar diretamente a eficiência na utilização do amido das dietas, principalmente em situações de alto preço de concentrados, como verificado atualmente.

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  • Produção de matéria seca e proporção de grãos

Híbridos que possuem alta produtividade de massa seca e elevada proporção de grãos são desejáveis. Considerando que a digestibilidade da fração grãos da planta é maior do que a fibrosa, híbridos com maior proporção de grãos são caracterizados como de alto valor nutricional. Outro ponto importante é que diversas pesquisas, ao longo dos anos, demonstraram que a correlação entre produtividade e digestibilidade da matéria seca de híbridos de milho é baixa e fortemente influenciada pelas condições ambientais. Nesse sentido, pode-se dizer que nada impede que um híbrido com alta produção de matéria seca apresente também uma boa digestibilidade. Portanto, a escolha correta de híbridos, somada à aplicação de adequadas práticas agronômicas e de ensilagem, pode resultar em plantas com alto rendimento e qualidade nutricional.

 

  • Teor de fibra e digestibilidade da fração fibrosa da planta

Híbridos destinados à silagem devem possuir não apenas alta produção de matéria seca, mas também baixo teor de fibra e alta degradabilidade. Quanto maior o teor de fibra em detergente neutro (FDN), menor será a digestibilidade da planta. Como híbridos com menores teores de FDN não são adaptados às condições brasileiras, o menor teor de fibras pode ser obtido com materiais que possuem maior proporção de grãos na planta (maior diluição da porção FDN por amido). A digestibilidade da FDN é determinada por componentes genético e ambientais. Em outras palavras, além da escolha do material genético adequado, as práticas agronômicas e de ensilagem exercem grande impacto sobre a qualidade da fibra da silagem de milho. Muitos trabalhos já demonstraram que silagem de milho com maior digestibilidade possibilita a inclusão de maior proporção desse alimento na dieta de ruminantes sem, contudo, limitar o consumo. Além disso, menor será a demanda por alimentos concentrados, o que resulta em melhor eficiência produtiva, pois este é o item mais representativo do custo de produção de leite. A digestibilidade da fibra pode ser determinada por diferentes métodos disponíveis no Brasil e de domínio das empresas de nutrição, laboratórios de análises bromatológicas, dentre outros.

 

  • Híbridos com diferentes ciclos produtivos e escalonamento de produção

No Brasil, a operação de ensilagem é um processo demorado. Esse fato se deve, em parte, à predominância do uso de colhedoras de forragem com uma linha, adotada por 85% dos produtores de leite do Brasil. Esse tipo de máquina é adequada à pequena escala de produção das propriedades, mas possui baixo rendimento de colheita. A falta de planejamento operacional do processo, quebra das máquinas e ocorrência de chuvas na ocasião da colheita, são fatores que contribuem para elevar o tempo gasto para o processo de ensilagem. A escolha de híbridos deve ser focada em materiais com o ciclo vegetativo compatível com o manejo de corte da planta para ensilar. Quando o rendimento de colheita é baixo, uma forma eficiente de garantir o corte da forragem no ponto ideal é ampliar a janela de corte por meio do uso do Sistema de Combinação de Híbridos. Esse sistema consiste na opção pelo uso de híbridos que apresentam ciclos produtivos diferentes (curtos e tardios). Além da combinação de híbridos, o período de corte pode ser aumentado com o escalonamento do plantio, ou seja, semeadura dos híbridos em datas diferentes. Além de ampliar a janela de corte, a combinação de híbridos com diferentes ciclos e o escalonamento do plantio diminuem a susceptibilidade a intempéries climáticas, como as secas, ao longo do ciclo da cultura, e chuvas contínuas na ocasião da colheita. Dessa forma, a eficiência do processo de ensilagem é aumentada e a qualidade nutricional da planta é preservada.

Um aspecto importante a ser considerado é que, na maioria das vezes, o produtor rural (elo mais importante dessa cadeia) não sabe a magnitude ou poder de sua decisão, ou seja, o mercado de sementes só será modificado quando houver a exigência por híbridos que apresentem, dentre outras características, as características citadas acima. A melhoria da qualidade da forragem é uma estratégia para reduzir o uso de alimentos concentrados na produção de leite, sendo esses, os itens que mais impactam os custo de produção da maioria das fazendas leiteiras. Mesmo com grande disponibilidade de informações, a escolha de híbridos ainda é muito baseada em opiniões empíricas, preços de sementes mais acessíveis e resultados de testes que não são representativos da realidade de cada propriedade. A escolha de híbridos bem adaptados às condições ambientais locais permite a expressão do máximo potencial genético do material, aliando alta produção de forragem de alto conteúdo energético com boas características nutricionais.

 

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