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Fazendas

Compost Barn em túnel de vento

Uma nova alternativa para confinamento de vacas leiteiras

Compost Barn em túnel de vento

Edições #95 e 96 - Fevereiro e Março/2017

COMPOST BARN EM TÚNEL DE VENTO

Uma nova alternativa para confinamento de vacas leiteiras 

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Foto: Primeiro galpão do projeto da 2N Agronegócios em fase intermediária de construção, com capacidade para alojar 285 animais.

O que é necessário para uma produção sustentável de leite? Quais pontos críticos não podem ser negligenciados? É possível que o produtor tenha controle sobre as principais variáveis que afetam a viabilidade de um sistema de produção de leite?

Sob a ótica da produção pecuária, estamos em um país tropical, em sua maioria caracterizado por um verão quente e chuvoso e um inverno seco com temperaturas um pouco mais amenas. As exceções seriam o clima equatorial amazônico com temperatura e umidade altas durante todo o ano e o clima subtropical que abrange as áreas abaixo do trópico de capricórnio, com temperaturas mais amenas e chuvas mais bem distribuídas durante o ano. Temos que lembrar também do importante ecossistema do semiárido, com poucas chuvas e temperaturas elevadas.

Considerando estas condições, podemos dizer que os pontos críticos de um sistema de produção de leite são: Produção de alimentos em quantidade e qualidade satisfatórias, que permitam suprir as necessidades nutricionais dos animais durante todo o ano – em especial os alimentos volumosos; Local adequado que ofereça conforto aos animais, que permita que os mesmos se deitem, se alimentem e se desloquem em piso confortável e seco, preservando sua saúde, principalmente de seus cascos e úberes, durante todo o ano; Controle do estresse calórico, lançando mão de mecanismos que permitam ao animal trocar calor com o ambiente e assim não se aquecer excessivamente, durante todo o ano; Pessoal técnico e operacional consciente e bem preparado para desempenhar suas funções e assim permitir aos animais expressarem seu potencial de produção e; Controle sanitário rigoroso.

Não entraremos aqui nos aspectos mercadológicos e comerciais de insumos e do leite, mas temos plena consciência que este é outro fator que deve ser minuciosamente estudado antes de se investir tempo e recursos na implantação de um sistema de produção de leite, seja ele qual for.

Sabemos que existem diferentes modelos de sistemas de produção de leite que permitem termos controle sobre estes pontos críticos, com maior ou menor eficiência. Sabemos também que não existe um sistema ideal e que a escolha de um sistema deve ser muito criteriosa, embasada em informações técnicas confiáveis, com o auxílio de pessoas gabaritadas e responsáveis, pois essa escolha terá, necessariamente, que funcionar e ter viabilidade por muito tempo! Todas as variáveis devem ser consideradas, além de se ter muita clareza sobre onde se quer chegar. Sem um objetivo claro, traduzido em números e prazos, não se chega a lugar algum!

O sistema de Compost Barn – onde as vacas ficam alojadas sobre uma cama de material orgânico (frequentemente serragem) e são alimentadas durante todo o ano em uma pista de trato – vem ganhando espaço e sendo implantado em diversas regiões do Brasil. O Compost Barn em túnel de vento seria um passo adiante, pois permite melhor controle do ambiente, em especial da temperatura, com menor gasto de energia.

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Para apresentarmos esse sistema, acompanhamos o Médico Veterinário Adriano Seddon em três de seus projetos: A 2N Agronegócios, em Candeias, MG, a Fazenda Carmolac, em Itabira, MG e a Fazenda Moreira, localizada no município de Gameleira de Goiás, na Região de Anápolis.

São os primeiros projetos de Compost Barn em túnel de vento do mundo. Os princípios básicos destes projetos são os mesmos, mas obviamente cada um tem suas peculiaridades e diferenças. “Não existe receita de bolo. Apesar de semelhantes, cada projeto tem que ser adaptado segundo as condições locais e requisitos de cada proprietário”, diz Seddon.

É um galpão totalmente fechado, com pé direito baixo de aproximadamente 3,5 metros, com exaustores em uma das extremidades e placas evaporativas na outra. Existe uma pista de trato e uma pista para circulação das máquinas que alimentam os animais. Bebedouros são colocados nesta pista de trato e as vacas não têm acesso aos mesmos pelo lado da cama. O galpão é dimensionado para oferecer 12 metros quadrados de cama de serragem por vaca. Na lateral oposta à pista de trato temos um corredor de manejo para os animais de cada lote irem e voltarem da ordenha, de forma independente. As laterais são fechadas por cortinas que podem ser abertas em casos emergenciais de falta de energia para funcionamento do sistema. Um conjunto de geradores de energia é indispensável para que se garanta o funcionamento do sistema em tempo integral.

A cama é composta por uma camada de aproximadamente 40 centímetros de material orgânico, geralmente serragem, onde os animais defecam e urinam. Assim, fornecemos o carbono, o nitrogênio e demais nutrientes para que as bactérias fermentem o material. Essa cama é revirada duas vezes por dia, usando-se equipamento próprio acoplado ao trator. O revolvimento da cama é indispensável para que o material perca a umidade excessiva e incorpore ar ao material, uma vez que a compostagem é um processo aeróbico. A disponibilidade do carbono e a capacidade de absorção de água são as principais características a serem consideradas na escolha do material a ser usado como cama.

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Foto:  A cama deve ser revolvida ao menos duas vezes por dia, para que a mesma se mantenha com umidade adequada e aerada. Essa rotina deve ser rigorosamente seguida e realizada com equipamento adequado e por pessoal capacitado – Fazenda Carmolac.

Um ponto de preocupação no sistema de Composto em Túnel de Vento é a umidade na cama, uma vez que a umidade relativa do ar no interior do galpão estará sempre alta. Porém, como todo o ar do galpão é trocado a cada minuto, o excesso de umidade será removido pela corrente de ar. Para que não tenhamos problemas de cama úmida, a taxa de lotação deve ser rigorosamente respeitada. Tanto o corredor de manejo, quanto as pistas de trato e de circulação de máquinas são de concreto. A pista de circulação de máquinas não exige limpeza diária. Já a pista de trato e corredor de manejo dos animais devem ser limpos constantemente, principalmente a pista de trato, pois aproximadamente 40% das fezes e urina dos animais se acumulam neste local. A limpeza dessa pista pode ser feita por flushing, por raspadores automáticos ou por equipamento adequado acoplado a um trator. Os bebedouros devem ser projetados respeitando-se as dimensões tecnicamente recomendadas, de maneira a permitir sua limpeza eficiente sem muito esforço, pois devem ser mantidos totalmente limpos. Os animais são alimentados com dieta total devidamente balanceada, duas ou três vezes ao dia. Quanto maior o número de fornecimentos de alimento novo, melhor, pois estimula o consumo. As sobras devem ser retiradas e o cocho, limpo pelo menos uma vez por dia. Nos intervalos de fornecimento do alimento é importante que a comida seja empurrada para as vacas para estimular o consumo e posicionar melhor o alimento.

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Foto: Os exaustores, localizados em uma das extremidades do galpão sugam o ar interno. Como o galpão é todo vedado, o ar entra através das placas evaporativas na outra extremidade, formando uma corrente de ar fresco dentro do galpão – Fazenda Moreira.

”QUANTO MAIOR A TEMPERATURA E MENOR A UMIDADE EXTERNA AO GALPÃO, MAIOR A EFICIÊNCIA DO SISTEMA”

Como o galpão é todo fechado, quando os exaustores são ligados, forçamos o ar externo a entrar no galpão através das placas evaporativas. Essas placas possuem uma lâmina de água escorrendo por suas cavidades. Quando o ar passa por essas placas (a aproximadamente 2 metros por segundo) ele absorve umidade e com isso perde calor. Assim, forma-se uma corrente de ar mais fria que o ar externo ao galpão, desde a parede de placas evaporativas até os exaustores, passando pelos animais, roubando assim o calor para que eles se mantenham confortáveis. Defletores são instalados no teto do galpão a cada 12 metros para forçar o ar para baixo e causar uma turbulência nessa corrente de ar. Isso aumenta a eficiência da refrigeração na altura dos animais e eleva a velocidade da mesma para 3 metros por segundo. É importante lembrar que se deve evitar a entrada de ar no galpão por qualquer outro ponto, que não as placas evaporativas, pois isso irá diminuir a eficiência do sistema. Sempre que os portões são abertos para entrada e saída de máquinas ou animais, permitimos a entrada de ar quente no galpão e temos picos de aumento de temperatura. Por isso é necessária uma rotina bem programada e executada com muito critério. Dione Moresco, Diretor da Equipaves, empresa responsável pela instalação das vedações e sistema de climatização por placas evaporativas e exaustores nestes três projetos, alerta que “a eficiência da diminuição da temperatura do ar interno do galpão em relação ao ar externo, depende da temperatura e umidade relativa externas. Quanto maior a temperatura e menor a umidade externa ao galpão, maior a eficiência do sistema”.

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Foto: Este é o aspecto normal de uma cama de composto, sem formação de torrões. Animais limpos, sem sujeira grudada nos pêlos, demonstram a qualidade do manejo da cama na Fazenda Moreira.

Voltando à pergunta inicial e considerando o exposto até aqui, sim, podemos concluir que é possível que o produtor tenha controle sobre as principais variáveis que afetam a viabilidade de um sistema de produção de leite. Pelo menos as variáveis da porteira pra dentro. Com exceção do semiárido em alguns anos críticos de falta de chuva, todos os sistemas climáticos encontrados no Brasil permitem a produção de volumosos adequados à alimentação de rebanhos leiteiros. 

”UM BOM SISTEMA DE PRODUÇÃO DE LEITE É AQUELE QUE OFERECE CONFORTO E CONDIÇÕES ADEQUADAS DE TRABALHO, COM VIABILIDADE ECONÔMICA E DE FORMA SUSTENTÁVEL”

Com a implantação do sistema de Compost Barn em Tunel de Vento (ou outros - cross ventilation sobre camas de free stall, por exemplo) conseguimos dar conforto aos animais através de uma cama adequada para se deitarem e se deslocarem, além de controlarmos a temperatura, principalmente nos períodos críticos de picos de calor. Além destes pontos, como estaremos trabalhando num sistema controlado e previsível, poderemos programar detalhadamente rotinas diárias e esporádicas e dar condições e treinamento aos colaboradores para poderem executá-las com qualidade. Assim, teremos melhores resultados e pessoas mais felizes em suas rotinas de trabalho, tornando o sistema zootécnica, ambiental, social e economicamente sustentável.

A seguir, teremos a continuação deste assunto. Apresentaremos a realidade dos três primeiros Compost Barns em Túnel de Vento do mundo. Produtores que estão à frente do nosso tempo. Serão apresentados os históricos, motivos que levaram à implantação do sistema, os pontos positivos e as dificuldades pelas quais passaram e, por fim, os resultados alcançados até agora.

Conheça as três primeiras fazendas do mundo a utilizar esse tipo de instação

RESULTADOS PRÁTICOS

Dando continuidade ao assunto Compost Barn em Túnel de Vento, iniciado na edição de fevereiro, iremos apresentar a seguir os três primeiros projetos do mundo a utilizar esse tipo de instalação. São eles: A 2N Agronegócios, em Candeias/MG, a Fazenda Carmolac, em Itabira/MG, e a Fazenda Moreira, localizada no município de Gameleira de Goiás, na Região de Anápolis/ GO. Os três projetos são semelhantes, mas implantados em condições específicas e com todas as adaptações necessárias para o sucesso em cada situação.

2N AGRONEGÓCIOS

A 2N Agronegócios é uma propriedade de 1.200 ha, localizada em Candeias/MG. Produz entre 4.350 (auge do verão) e 7.500 (no inverno) litros de leite por dia, com aproximadamente 290 vacas em lactação.

Além de produzir todo o volumoso necessário para o rebanho, a fazenda cultiva soja, milho e Tifton 85 para consumo próprio e comercialização. O excesso de milho é vendido na forma de fubá, e a soja é extrusada para produção de farelo e óleo degomado. Esses processos permitem agregar valor aos grãos produzidos e geram insumos para a pecuária, o que diminui a dependência do mercado. A prestação de serviço com máquinas agrícolas de grande porte é uma outra atividade dentro do negócio da 2N.

Como na maioria das propriedades que produzem leite em sistema de confinamento em piquetes, existia uma grande variação na produção leiteira durante o período seco e durante o período chuvoso. Na época das águas, além da produção cair significativamente, os problemas de casco e mastites aumentavam drasticamente pois, além do calor, a lama tomava conta dos piquetes e corredores, e os animais não tinham lugar adequado para se deitarem, chegando sujos na sala de ordenha, o que dificultava o trabalho dos colaboradores e diminuía, significativamente, a qualidade do leite produzido.

Acreditando nas argumentações do Médico Veterinário e Consultor Adriano Seddon, para melhorias do sistema de produção da fazenda, o Sr. Nenê Sena, Zootecnista e proprietário da 2N Agronegócios, resolveu instalar em sua propriedade um galpão no sistema de Compost Barn em Túnel de Vento. Essa foi uma decisão baseada em muita discussão e projeções, pois seria um dos primeiros Compost Barns em Túnel de Vento do mundo, gerando expectativas, dúvidas e riscos, pois ainda não se têm dados e experiências com este tipo de sistema de produção para se embasar. Mas, como diz Seddon, “precisamos de pessoas corajosas e de visão para que os negócios evoluam”.

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Foto: Apesar dos animais estarem alojados no galpão, ainda sem o sistema de resfriamento, nota-se a melhoria no conforto, o que é confirmado pelo aumento na produção.

Com a chegada do Médico Veterinário Nélio Camargo, em 2012, iniciou-se um trabalho com metas audaciosas. Ele é responsável por toda a instalação do projeto e definição do perfil das vacas. Hoje, o rebanho é composto por animais de alto padrão, oriundos de vacas girolandas inseminadas com touro holandês, em um esquema de apuração da raça. A meta é ter um rebanho de vacas holandesas de alta produção.

Para acelerar esse processo, foram produzidas bezerras pela técnica de FIV, a partir de doadoras holandesas puras. Assim, o principal fator limitante para o aumento de produtividade seria o conforto para os animais.

O projeto da 2N Agronegócios consiste de 2 galpões, no sistema de Compost Barn em Túnel de Vento, para 285 vacas cada, um terceiro galpão para vacas secas, no sistema de composto aberto, uma nova sala de ordenha duplo 16 (32 vacas ordenhadas simultaneamente) e um sistema de tratamento de dejetos, que inclui separador de sólidos, biodigestor e queimadores de gás. O projeto inclui ainda a captação de água de chuva para uso no flushing da pista de trato.

Além dos motivos citados acima, o primeiro fator a influenciar a busca por uma nova alternativa para o confinamento total dos animais foi a baixa disponibilidade de energia elétrica na propriedade, insuficiente para se instalar um sistema de resfriamento tradicional em galpões abertos, tanto Free Stall quanto Compost Barn aberto. O consumo de energia com o sistema Compost Barn em túnel de vento pode ser até 50% menor que nos sistemas de resfriamentos tradicionais. Assim, a energia disponível é suficiente para o funcionamento da refrigeração, e uso dos demais equipamentos, simultaneamente.

Como a produção de leite é uma atividade totalmente integrada à agricultura, pois é necessária a produção de alimentos, em larga escala, para os animais, outro ponto que motivou a escolha pelo sistema foi a produção de material compostado de alto valor, que será usado na adubação das lavouras. Segundo projeções feitas por Sena e Seddon, com os dois galpões funcionando plenamente, será possível adubar, aproximadamente, 400 ha de lavoura, suprindo 100% do fósforo, 100% do potássio e 50% do nitrogênio, além de terem o efluente do biodigestor para fertirrigação das áreas de produção de feno. Para isso, as bombas serão alimentadas pelo gás produzido, demonstrando, claramente, a sustentabilidade ambiental do sistema, além da diminuição dos gastos com energia elétrica.

Por decisão administrativa, o cronograma de implantação do projeto foi alongado, e abandonouse a ideia de financiamento externo. Assim, foi feita uma programação de fluxo de caixa de toda a propriedade para os próximos anos, a partir de 2015, e a implantação foi escalonada. A primeira fase teve início em maio de 2016, com a implantação do primeiro galpão para 285 vacas, construção do sistema de tratamento de dejetos e captação de água das chuvas (já dimensionados para o projeto completo).

Atualmente, o primeiro galpão está em fase final de acabamento, e os animais já fazem uso das instalações, mesmo antes de finalizado o sistema de resfriamento (vedação do galpão e instalação dos exaustores e placas evaporativas). Tomou-se essa decisão porque, com o início das chuvas e do período quente, as condições do antigo sistema de produção se mostraram piores que as de dentro do galpão. Ou seja, embora os animais ainda não estejam sendo resfriados, eles saíram do barro e têm um local seco para se deitarem, além de uma pista de trato limpa para se alimentarem. Apenas essas melhorias elevaram a média de 15 para 22 litros/vaca/dia, se compararmos dezembro de 2015 com dezembro de 2016, e a expectativa é de se conseguir uma média de 30 litros por vaca/dia, durante todo o ano. Além disso, espera-se uma diminuição significativa de gastos com medicamentos e uma baixa incidência de problemas de casco e mastite.

Nenê Sena termina seu relato dizendo que “não valeria a pena fazer tamanho investimento, com tantos riscos, se não tivesse um dos filhos já envolvido na sucessão”. Leandro, um de seus filhos, é administrador, e já faz parte do projeto.

O CONSUMO DE ENERGIA COM O SISTEMA COMPOST BARN EM TÚNEL DE VENTO PODE SER ATÉ 50% MENOR QUE NOS SISTEMAS DE RESFRIAMENTOS TRADICIONAIS

FAZENDA CARMOLAC

Situada em Itabira/MG, a Carmolac é uma fazenda familiar tradicional, que sempre produziu leite. São 350 ha, sendo 180 ha utilizados na atividade leiteira. Atualmente, o plantel da fazenda é formado a partir de cruzamentos absortivos para o holandês com alto potencial de produção, mas a propriedade começou com uma produção modesta, de 120 litros por dia, entrando em um ciclo virtuoso de crescimento desde 2011.

Porém, o sistema de confinamento em piquetes vinha apresentando todos os problemas de barro e estresse calórico já mencionados anteriormente. A produção de leite chegava a 5000 litros por dia no inverno, mas caía para 3000 litros no verão, sem grande variação no número de vacas. Foi então que, também com a consultoria de Seddon, os proprietarios da fazenda, João Carlos de Oliveira e seu irmão Geraldo Magela, juntamente com o Médico Veterinário Inael Fagundes, que assiste a propriedade, sentiram a necessidade de se implantar um sistema de confinamento total, em situação muito parecida com a da 2N.

A fazenda tem solos de boa qualidade, mas a topografia dificulta a mecanização e, por isso, o limitante ao crescimento do rebanho é a produção de volumosos em quantidade suficiente. Este fator determinou o tamanho do projeto, que é para 300 vacas em lactação. A opção de construir dois galpões menores, ao invés de um maior, também foi determinada pela topografia.

Após definição do tamanho do projeto, eles decidiram, então, aproveitar algumas instalações do sistema já existente. Hoje, os proprietários dizem que, após a construção acabada e os animais instalados, esse aproveitamento não se mostrou eficiente, pois causou um problema sério na limpeza da pista, já que o galpão não tem o desnível necessário para o bom funcionamento do flushing. Eles afirmam que não repetirão esse erro na construção do próximo galpão.

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Essas fotos, feitas no mesmo dia, contrastam bem as condições de conforto dos animais no sistema de piquetes e dentro do galpão da fazenda Carmolac.

No final de 2015, teve início a implantação do primeiro galpão. Em maio de 2016, as primeiras vacas foram alojadas no primeiro Compost Barn em Túnel de Vento do mundo. O galpão em uso foi projetado para 140 vacas, sendo 20 delas no pré-parto. Até que se conclua a obra do segundo galpão, 120 vacas em lactação continuarão no sistema antigo de piquetes, com barro e calor.

Os proprietários relatam que, além de alguns problemas com prestadores de serviços durante a obra civil, a construção deste primeiro galpão aconteceu com os animais no local, o que dificultou ainda mais seu andamento. O fato dos animais terem sido alojados antes de se colocar toda a cama, aliado à baixa qualidade da serragem, levou a um sério problema de manejo da cama.

OS CUIDADOS COM A CAMA DE COMPOSTO NÃO PODEM SER NEGLIGENCIADOS, E NÃO SE DEVE TRABALHAR COM MENOS DE 12 METROS QUADRADOS POR VACA

Após o parto, as vacas são divididas em dois lotes, um de primíparas e outro de multíparas. Como o primeiro galpão está com sua lotação máxima, desde o início, sempre que uma vaca pare, outra deve ser retirada. Portanto, outra dificuldade encontrada, era ter coragem de tirar do galpão uma vaca saudável e com alta produção e colocá-la no barro e no calor. Assim, a retirada de animais foi sendo protelada, e a superlotação gerou, novamente, um sério problema de cama excessivamente úmida. A lotação chegou ao extremo de apenas 8 metros quadrados de cama por vaca, o que gerou a necessidade de adição mensal de mais material e maior frequência de revolvimento da mesma.

Inael acredita que estes foram os maiores desafios do sistema até o momento. João Carlos relata que, nos pequenos períodos em que a lotação foi respeitada, a umidade da cama estava boa e não tiveram problema. Vale destacar que, os cuidados com a cama de composto não podem ser negligenciados, e não se deve trabalhar com menos de 12 metros quadrados por vaca.

Os resultados positivos da implantação do sistema podem ser demonstrados comparando a produção diária de leite antes do Composto em Túnel de Vento, em dezembro de 2015, que foi de 3900 litros, com a produção em dezembro de 2016, já com metade das vacas em lactação alojadas no galpão, que foi de 6200 litros. A média de produção das vacas dentro do galpão é, atualmente, de 36 litros/vaca/dia. É importante lembrar que os animais de DEL (dias médios em lactação das vacas) mais baixo estão dentro do galpão.

Inael espera ainda uma diminuição significativa na incidência de problemas de casco e uma melhoria nos resultados reprodutivos, mas ainda não tem números que comprovem isso.

Na sala de ordenha, ganhos com o Compost Barn em Túnel de Vento, também podem ser observados. A limpeza dos animais do galpão contrasta com a situação daqueles que estão nos piquetes, e a qualidade do leite obtido das vacas confinadas reflete, claramente, essa diferença.

Outro ponto que chamou atenção durante nossa visita à Carmolac, foi a satisfação e aprovação do novo sistema por parte dos funcionários. Inicialmente, houve uma desconfiança natural sobre como funcionaria mas, agora, todos querem trabalhar com os animais do galpão. Como metade das vacas em lactação se encontra confinada e a outra metade ainda está nos piquetes, a diferença de satisfação por parte dos funcionários é visível.

O melhor aproveitamento dos dejetos é outra vantagem do sistema. No futuro, o material compostado irá para as lavouras, e um sistema de fertirrigação será instalado para o aproveitamento dos dejetos oriundos da limpeza da pista de trato por flushing. Inael explica que o sistema possibilitou a implantação de um programa de luz, no qual as vacas no pré-parto recebem 8 horas de luz por dia, enquanto os animais em lactação recebem 16 horas de luz. Este manejo é importante, já que a diminuição de incidência de luz sobre os animais no período pré-parto estimula a produção de receptores de prolactina, enquanto que a maior incidência, durante a lactação, estimula a produção de prolactina. Essa combinação aumenta, significativamente, a produção de leite total na lactação.

A contratação do segundo galpão já foi feita, e as obras serão iniciadas. No próximo verão, os proprietários esperam ter todas as vacas alojadas. O barro e o calor do verão ficarão somente nas fotografias e lembranças.

A meta da fazenda é produzir 10.000 litros de leite por dia, com 300 vacas em lactação, atingindo, assim, médias acima de 33 litros/vaca/dia.

Embasados nos resultados econômicos até o momento, os proprietários estimam amortizar todo o investimento em 2 ou 3 anos. A atual satisfação de toda a equipe da Carmolac é contagiante, inclusive dos membros da família que, inicialmente, eram céticos quanto à viabilidade do investimento.

FAZENDA MOREIRA

Outro produtor inovador, que implantou um Compost Barn em Túnel de Vento, é o Sr. Eucimar Moreira, que há 15 anos é proprietário da Fazenda Moreira, localizada em Gameleira de Goiás, na Região de Anápolis/GO.

Sua propriedade tem 67 ha, apresenta boa aguada e topografia para a mecanização. A atividade da fazenda sempre foi a produção de leite, que começou bem modesta, com média de 200 a 300 litros/dia, e de queijos, que eram comercializados nas próprias padarias do Sr. Eucimar.

Em 2012, ele tomou a decisão de aumentar a produção, adquirindo 15 novilhas 7/8 holandês, prenhes. Mas, já no parto, duas delas morreram, e das bezerras nascidas, só sobrou uma. As novilhas que sobraram eram muito boas, e produziam uma média de 20 a 25 litros/dia, cada. Aos poucos, os funcionários foram se adaptando, e a produção chegou a 500 litros diários, motivando a contratação de um casal de funcionários com experiência na área, a compra de um conjunto de ordenha moderno e um tanque de expansão, além da construção de um galpão para fábrica de ração e estocagem de alimentos.

Com isso, a produção chegou a 1000 litros/dia, mas a conta não fechava. Após outra adequação na equipe de colaboradores, algumas novas melhorias e compra de outras vacas, a produção diária foi para 2800 litros e a fazenda atingiu o equilíbrio financeiro. Porém, ao chegar o verão, com um número elevado de vacas em um sistema de confinamento em piquetes, o calor e o barro levou a atividade ao caos completo. Mastites, problemas de casco e vários outros quadros clínicos geraram descartes forçados e a morte de animais. “Não tinha funcionário bem preparado que desse jeito naquela situação. Tínhamos quase que dar um banho nas vacas antes de serem ordenhadas. Eu não tinha nem vontade de ir à fazenda”, desabafa Moreira.

Foi, então, que ele resolveu procurar assessoria profissional, e juntamente com Leonardo Marçal, Diretor da Campo Rações e Minerais, seu consultor na área de nutrição animal, visitou várias fazendas bem sucedidas, para avaliar qual seria a melhor opção para implantar um sistema de confinamento total do rebanho.

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Fotos: Na Fazenda Moreira foi instalado um conjunto gerador, com capacidade para alimentar todo o projeto. Isso é indispensável nos sistemas de galpões de túnel de vento ou ventilação cruzada pois, sem o funcionamento do sistema de refrigeração, o galpão se torna uma estufa.

Naquele momento, as opções eram um Free Stall ou um Compost Barn aberto. Após várias viagens técnicas, optaram pelo composto e contrataram uma consultoria de Adriano Seddon, por sua larga experiência com sistemas de composto. Assim, o projeto da Fazenda Moreira se entrelaçou ao da 2N Agronegócios e da Fazenda Carmolac. Esta simultaneidade de implantação foi citada pelos proprietários das três fazendas como um ponto que melhorou, sensivelmente, todos eles. “O respeito e admiração mútuos entre esses produtores inovadores são claros para todos”, afirma Seddon.

Como sua estrutura de ordenha e demais instalações já eram bastante adequadas ao projeto, definiu-se a construção de um galpão de 180 x 27 metros, com cama de serragem, e túnel de vento, com exaustores e placas evaporativas.

Atualmente, a limpeza da pista é feita mecanicamente, e já está preparada para a instalação de um raspador automático de dejetos.

Toda a rede elétrica da fazenda foi renovada, inclusive com instalação de um novo transformador. Foi instalado um conjunto gerador elétrico, capaz de alimentar toda a propriedade, para garantir o funcionamento do projeto em momentos de falhas de fornecimento pela rede, o que acontece com frequência.

O modelo do galpão é muito similar ao apresentado na matéria da edição de fevereiro, em desenho esquemático, com capacidade de alojar até 270 vacas.

A construção, da terraplanagem à finalização total do galpão, demorou 7 meses. No início de novembro de 2016, foram alojadas todas vacas da fazenda.

A média de produção de leite em outubro, último mês fora do galpão, foi de 19 litros/vaca/dia, considerando o leite vendido. Nos primeiros 15 dias no galpão, essa média não se alterou, o que gerou uma apreensão natural, mas a incidência de novos casos de mastites e de problemas de casco diminuiu drasticamente, praticamente desaparecendo. Os problemas de casco e glândula mamária crônicos também têm apresentado melhoras. A partir de 15 dias dentro do galpão, a média de produção das vacas começou a subir gradativamente, atingindo 27 litros/vaca/dia e estabilizando neste patamar.

A saúde, o conforto e a limpeza das vacas, a melhoria nas condições de trabalho e a satisfação geral de todos os envolvidos no projeto, demonstram o sucesso, resultante de muito trabalho.

O principal ponto de atenção, segundo Moreira, é o manejo da cama, mas ele diz que “a realidade está mais tranquila do que pensávamos, e seguimos rigorosamente as recomendações”. É importante ressaltar que o número de vacas alojadas, aproximadamente 120, está bem abaixo da capacidade do galpão, e a lotação de alguns grupos está folgada. Os lotes de vacas de maior produção e de pré-parto já estão sendo mantidos com a lotação recomendada (12 metros quadrados por vaca), desde o início do uso do galpão, e a cama apresenta as características esperadas.

Assim como em qualquer sistema de produção de leite, a nutrição é um ponto crítico, e Leonardo Marçal ressalta que “atenção especial deve ser dada à suplementação de vitaminas, principalmente a vitamina D, uma vez que os animais têm pouco ou nenhum contato com o sol”.

Com a parição de, aproximadamente, 70 novilhas nos próximos meses, e o planejamento de aquisição de outras 50 vacas ou novilhas prenhes, a capacidade do galpão será atingida ainda em 2017. A expectativa de produção média por animal, em 2018, é superior a 32 litros/vaca/dia, considerando apenas o leite vendido.

Outros planos futuros incluem a compra de um trator e a construção de um galpão para máquinas e insumos. Moreira finaliza seu relato dizendo que “não é fácil, o investimento é alto e os riscos existem. Quem acha que é só construir um galpão e colocar vaca dentro, vai dar com os “burros n’água”. É preciso contar com pessoas competentes e comprometidas, além de muita persistência”.

CUSTO DE IMPLANTAÇÃO

Fazer uma comparação dos custos de implantação destes três projetos não é simples. A seguir, iremos apresentar alguns números mas, antes, é importante ressaltar que, apesar dos projetos seguirem os mesmos princípios, eles foram projetados para as condições específicas de cada propriedade, e as metodologias construtivas e de gestão são peculiares a cada um. Seddon alerta para o perigo das “receitas de bolo” ou cópias de projetos. “O que funciona em determinada condição pode não ser o mais recomendado em outra”, diz ele.

Outro fator que torna insensata a comparação direta de investimento por vaca alojada, é a inclusão, ou não, de instalações e facilidades acessórias ao galpão, como transformadores, sistemas de tratamento de dejetos, dentre outros.

Na 2N, a primeira etapa de implantação incluiu um galpão para 285 vacas, sistema de coleta, armazenamento e utilização de água das chuvas; sistema de separação de sólidos dos dejetos e conjunto biodigestor; e queimadores de gás. Todas essas instalações acessórias já foram planejadas para suportarem o projeto como um todo, que está dimensionado para aproximadamente 570 vacas em lactação. Esta primeira etapa, foi concluída em fevereiro de 2017, ao custo de R$1.400.000,00, representando um valor aproximado de R$4.900,00 por vaca alojada.

A Fazenda Carmolac, investiu R$438.500,00, somente na construção do galpão para 140 vacas e um reservatório de dejetos líquidos, resultando em R$3.132,00 por vaca alojada.

Já a Fazenda Moreira fez um investimento total de R$1.240.000,00 para alojar, aproximadamente, 270 vacas, ou seja, aproximadamente R$4.600,00 por vaca, incluindo todo o galpão e seus equipamentos, uma nova rede de alimentação de energia para a fazenda, um conjunto gerador e as construções civis necessárias para a integração do galpão às benfeitorias já existentes, como o caminho do galpão até a sala de ordenha.

EVOLUÇÃO DO SISTEMA DE COMPOST BARN EM TÚNEL DE VENTO

Um ponto importante a ser ressaltado é que todos estes projetos foram implantados em propriedades que já apresentavam sala de ordenha instalada. Por isso, as vacas têm que sair do galpão e, consequentemente, do ambiente resfriado, para serem ordenhadas, o que leva a uma queda de eficiência do sistema quanto ao conforto térmico. Sempre que os animais saem do galpão, ficam expostos à temperatura externa, e o ar quente entra no galpão. Quando o projeto é implantado do zero, recomenda-se que a sala de ordenha também seja atendida pelo sistema de resfriamento e integrada ao galpão. Assim, os animais ficam alojados em ambiente controlado 24 horas/dia.

Outro ponto relevante é a sinergia desse sistema de resfriamento com as ordenhas robotizadas, já que em modelos convencionais de resfriamento as vacas devem ser contidas em um determinado local para serem molhadas, e isso interfere na ordenha voluntária. Atualmente, um sistema de Compost Barn em Túnel de Vento com ordenha robotizada já se encontra em implantação em Brasília. Aguardem!

Texto e fotos:
OITI DE PAULA Professor no IFMG 

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