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Fazenda Barreiro: lugar de vaca e gente feliz!

Fazenda Barreiro: lugar de vaca e gente feliz!

Um bom lugar pra se esperar é o trevo de Boa Esperança. E foi no encontro de um carro com o outro que eu ouvi “segue a localização”! E uma voz madura lá de dentro disse: “se você se perder, basta perguntar pela Fazenda Barreiro, todo mundo conhece”

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ADRIANA VIEIRA FERREIRA

 

O serpenteio da estrada foi ladeado por pés de café. O dia nublado, ao contrário do que se possa esperar, tornou o verde ainda mais folha e só mudou o tom quando, no alto do morro, avistei o paredão de pedra e o gado bem alojado na Fazenda Barreiro.

O acolhimento que começou na estrada ganhou a forma de mesa farta. O café servido se juntou ao almoço e quase virou o da tarde, não fosse mesmo a necessidade da estrada de volta para casa. E foi no meio do jardim de dona Maria Helena que eu observei, à esquerda, resquícios do que um dia foi a produção de leite naquela fazenda e, à direita, o que é e o que será a produção, conduzida pelos seus filhos, Beatriz e Henrique.

 

COMO ERA A PRODUÇÃO

A estrutura construída pelo bisavô da Beatriz e do Henrique está ainda em pé, mas não intacta. Ela me explicou que aproveitou o espaço onde era a ordenha para fazer os galpões de armazenamento da ração dos animais. Foram adaptadas portas que facilitam o acesso dos caminhões para o desembarque e embarque dos ingredientes.

Do alto, os vagões são carregados, evitando a necessidade de descarregar manualmente. O próprio tratorista faz todo o trabalho. Ao fundo, os cochos antigos de pedra e de madeira, e o bezerreiro. História aproveitada, repensada e adaptada aos novos tempos.

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Beatriz, uma das responsáveis pela gestão da propriedade, afirma que a criação de bezerras merece atenção redobrada, já que a etapa impacta na rentabilidade da atividade

 

MUDANÇA MOVIDA A LEITE E GENTE

Foi a Beatriz quem me levou morro acima, para conhecer o compost barn. Ali, os olhos dela brilharam. Ela chama o Henrique e eles me contam que nem sempre foi assim.

“Antes era o sistema de piquete, com quatro pistas”. O projeto tinha a intenção de ampliar a produção para 6 mil litros de leite, com capacidade de abrigar 90 vacas em cada piquete. Quando a meta foi alcançada, os problemas não paravam de acontecer. Junto com o aumento da produção, os casos de mastite, os problemas de casco e de sanidade foram alavancados. Desafios, até então, inexistentes na fazenda. Por dois anos, a operação, buscando a produção máxima, levou a um desgaste tanto dos animais quanto das pessoas que lidavam com eles. De acordo com a Beatriz, não parava ninguém. “O espaço da ordenha estava muito apertado. Os funcionários ficavam 4 a 5 meses e pediam para sair”. O diagnóstico foi o de que os espaços estavam inadequados para todos.

 

O SISTEMA DE CASINHAS, ADOTADO RECENTEMENTE, ABRIGA AS BEZERRAS ENTRE 10 E 15 DIAS, ATÉ QUE APRENDAM A MAMAR. DEPOIS, ELAS SEGUEM PARA O COLETIVO FOTO: ADRIANA VIEIRA

 

No meio dessa crise, Beatriz e o irmão pensaram: "ou aumentamos a produção dentro de uma mudança radical das práticas de manejo, ou recuamos, reduzimos o rebanho e voltamos a ter uma produção pequena, como um retorno ao passado."

Abraçando o objetivo de crescimento e de modernização, o primeiro passo foi a ampliação da ordenha. O outro passo foi a construção do compost barn, com o objetivo de combinar a responsabilidade de proteger a saúde das pessoas envolvidas no manejo, a saúde e o bem-estar dos animais e, também, o respeito ao meio ambiente, onde todos estão inseridos.

Os barracões, cada um com capacidade para cerca de 160 animais, começaram a ser construídos antes de sair o dinheiro do financiamento. Um deles foi adaptado para acomodar o pré-parto, o outro, para as vacas de primeira cria e o terceiro para as multíparas em lactação, totalizando 360 animais.

Uma das principais vantagens do sistema compost barn está na forma de lidar com os resíduos. Beatriz diz que utiliza os dejetos nas áreas de milho e de café. Ela acredita que fez a melhor escolha, pois o sistema gera sustentabilidade no longo prazo. O sistema é muito simples: a água da aspersão, a que lava a ordenha e a urina segue, por gravidade, para a lagoa de dejetos. Uma vez por ano, a cama, feita de serragem e de palha de café, é retirada e aproveitada na lavoura.

O sistema de confinamento adotado gerou melhora nas condições de trabalho, nos indicadores zootécnicos e na qualidade do leite.

 

E COMO MELHOROU!

Depois da construção do compost barn, os números da fazenda melhoraram muito. No sistema de piquetes, que era adotado no passado, a média era de 22 litros de leite por vaca/dia, com uma grande diferença de produtividade no verão e no inverno. Atualmente, essa sazonalidade praticamente não existe. Agora, a média é de 31 litros vaca/dia.

 

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DO BEZERREIRO À ORDENHA

Foi o Sr. Zé que nos recebeu no bezerreiro e revelou todo o cuidado com o setor. Diz que tem que ter amor de pai pelos bichinhos e que quem não tem filhos não pode se ocupar do trabalho. Mostra, com orgulho, os alimentadores coletivos, que fazem com que as bezerras gastem mais tempo sugando. Com isso, evita-se que elas mamem umas nas outras.

O sistema de casinhas, adotado recentemente, abriga as bezerras entre 10 e 15 dias, até que aprendam a mamar. Depois, elas seguem para o coletivo. Elas mamam, em média, 6 litros por dia e o desaleitamento é feito em torno de 80 dias, quando atingem o peso mínimo de 90kg.

Uma preocupação no bezerreiro é fazer com que as bezerras recebam colostro de alta qualidade, o mais rápido possível após o nascimento. Beatriz salienta as inúmeras validações científicas de que esse procedimento garante que as bezerras cresçam mais saudáveis.

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Utilizando o colostrômetro, o colostro de cada vaca parida é avaliado, e, se o resultado for bom, utilizado para a alimentação da sua cria. Se não for bom, utiliza-se o colostro do banco, que fica congelado e armazenado no freezer. Depois de 7 dias, é feito o teste da orelhinha, para verificar se a colostragem foi adequada. Trata-se de um protocolo simples, mas que gera efeitos muito positivos.

Segundo Beatriz, é no bezerreiro que a atenção deve ser redobrada. Muitas fazendas não pensam na importância de se cuidar bem das bezerras. Trata-se de uma etapa fundamental na geração de matrizes leiteiras e, portanto, definitiva na rentabilidade da atividade.

O Sr. Zé, que cuida do setor, disse que “tudo tem que ter horário. Elas sentem”. E Beatriz completa, “são seres vivos. Sentem tudo.”

 

VACA E GENTE FELIZ

Chegando na ordenha, Beatriz cumprimenta os funcionários com um sorriso no rosto. Na sala, as paredes são decoradas por gráficos e indicadores, além de fotos que remetem à história da fazenda. “Antigamente, como o gado era cruzado, entravam muitas vacas com bezerro ao pé. A sala da ordenha tinha a metade do tamanho dessa”.

Faço um esforço para imaginar o que era, diante do que observo. As novas instalações acomodam dez extratores eletrônicos de cada lado. São duas duplas de funcionários trabalhando na ordenha, em horários alternados. Ao todo, são doze pessoas envolvidas na produção de leite. A turma toda mora na fazenda, em cinco casas que foram recentemente reformadas, todas com garagem e varanda. Toda a estrutura, que também conta com um refeitório, ajuda muito a manter os horários rígidos, típicos de uma fazenda leiteira.

A rotina da ordenha é minuciosamente avaliada, pois a equipe envolvida no manejo sabe bem o impacto dos procedimentos na qualidade do leite. Um dos indicadores utilizados é o escore do filtro, que é capaz de indicar se os procedimentos de limpeza da ordenha estão sendo realizados dentro dos padrões adequados. Diariamente, ao final da ordenha, os filtros são pendurados em um quadro, permitindo o acompanhamento, inclusive, por turno. Uma vez por semana, o gerente vai até o fosso, conta o número de vacas sujas e avalia a limpeza da ponta dos tetos. “Os funcionários estão muito alinhados com relação à busca da qualidade do leite e à importância dos indicadores”, conta Beatriz.

Os indicadores afixados mostram a evolução dos resultados e os eventuais problemas são sanados muito rapidamente. O controle da mastite, com redução do uso de antibióticos, é fruto da inovação. Os testes são feitos no mini laboratório que fica em uma sala junto da ordenha. Os kits das placas ficam armazenados na geladeira e, por serem bem embaladas, não correm risco de contaminação. A foto da placa é analisada por um software, no próprio celular, que faz a leitura. Os dados alimentam o sistema, e os indicadores ficam disponíveis para a análise de todos os envolvidos na produção.

Parece simples, mas não é. Todos os gráficos e indicadores são resultado de uma preocupação com as etapas da produção, desde o bezerreiro até a ordenha.

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SE TEM VACA FELIZ, IMAGINA QUEM CUIDA DELAS!

O gerente da Fazenda Barreiro, Ricardo Pereira, tem 24 anos e é estudante de Veterinária. Ele revela que cresceu na fazenda e que tem, por ela, amor. “Eles me dão suporte, tenho planos de trabalhar na reprodução. As mudanças melhoraram meu dia a dia. O volume de produção aumentou e o serviço diminuiu. Está mais fácil trabalhar.”

O veterinário Marcelo Bomtempo trabalha na fazenda todas as segundas-feiras, e conta como as mudanças no manejo geraram bons resultados. “O levantamento dos dados acontece sempre nos primeiros dias do mês. Nos últimos três anos, o crescimento foi de 32%, tanto no número de vacas em lactação quanto na produção.”

A Beatriz provoca, o lado da jornalista aparece, e ela pergunta ao Marcelo o que ele sente trabalhando na fazenda. A resposta vem fácil: “se eu pudesse resumir em uma palavra, seria confiança. A tríade formada pelos proprietários, colaboradores e técnicos, juntos, geram o sucesso da propriedade. Sempre que pedimos algo, eles nos atendem, desde infraestrutura até tudo que a gente necessita.”

A conversa deixa transparente a relação da Beatriz e do Henrique, em todos os setores da produção, com as pessoas envolvidas. A valorização das pessoas se reflete na condução de cada protocolo, o que gera os indicadores necessários para a boa gestão. “Boas condições para quem trabalha geram diferença na produção”, confirma Beatriz. “A empresa rural tem coração, tem um contexto diferente. A gestão da fazenda é mais desafiadora. Tem raiz. Não pode ser só colocar regras. Estamos mexendo com vidas – tanto animais quanto humanas.”

 

FAZENDA BARREIRO

A fazenda tem, impregnada nas suas paredes, história. E quando eu pergunto sobre ela, os três, Beatriz, Henrique e Dona Maria Helena olham para cima, como que pedindo permissão e, em seguida, para baixo, com respeito e com saudade. É que a fazenda foi comprada pelo esposo de Dona Maria Helena, o Seu Andreolo Vilela, das mãos de seu pai. Os três dão risada disso: imagina a dificuldade de se comprar uma fazenda do próprio sogro!

Seu Andreolo sempre gostou da produção de leite, a força da fazenda. Foi embora de forma prematura, aos 60 anos, em 2003. Henrique se graduou em Agronomia, trabalhou com seu pai por cerca de 4 meses, até a partida dele.

Nesse período difícil, a Beatriz trabalhava como jornalista, produzindo um jornal nas cooperativas de Varginha e de Boa Esperança. A irmã deixou tudo e se uniu ao Henrique para tocar a Barreiro. Uma outra fazenda, no norte de Minas, ficou com a irmã mais velha. Como família que são, se deram as mãos e seguiram. O Henrique ficou com a parte operacional e a Beatriz com a gestão das finanças. Para ele foi continuidade. Para ela foi tudo novidade. Os desafios foram muitos. Nem a situação econômica e nem a produtividade da fazenda estavam boas. Beatriz conta que, naquela época, a produção girava entre 10 litros/dia/vaca, com o gado, em sua maioria, Gir. Buscaram crédito junto a bancos para implementar as mudanças devidas. Não aconteceu tudo de uma vez. “O pai deles era muito inquieto, muito curioso”, interrompe a Dona Maria Helena. “Ele era uma pessoa especial. Era diferente. Ele tinha um coração bom e era muito prosa. Os meninos têm muito dele”. Henrique diz, com orgulho, que eles não deixaram o sonho do pai acabar. “Estamos na vanguarda, de novo.”

 

GESTÃO MAIS HUMANA

Como jornalista, a Beatriz sempre emprestou o olhar para as pessoas, como auxiliar na gestão da fazenda. Conheceu a parte fi nanceira, na época de mudanças, quando assumiu a gestão da fazenda. Estudou muito. Quis entender como tudo funcionava na atividade. Contou com uma consultoria que gerou um levantamento de todos os dados. E os resultados na administração começaram a aparecer. Das planilhas de Excel aos softwares de gestão, foram muitas horas de estudo, treinamento e dedicação. Todo esse esforço foi coroado com o segundo lugar no Prêmio Mulheres do Agro, anunciado no 4º Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, em outubro de 2019.

O seu espaço no agro foi sendo conquistado desde o início da carreira, quando criou os jornais dentro das cooperativas, numa época onde a presença feminina era bem menor. Dentro da Fazenda Barreiro, conduz buscando o bem-estar de todos os que estão envolvidos no manejo e na produção. Procura reverenciar o pai na condução dos negócios com a marca da humildade e da proximidade com as pessoas. E as pessoas, no negócio do leite, são fundamentais, pelas suas características de integração. A equipe do leite na Fazenda Barreiro anda unida!

 

ADRIANA VIEIRA FERREIRA
Equipe Revista Leite Integral

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