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Nutrição

Influência da nutrição e dos métodos de aleitamento e desaleitamento na saúde, desenvolvimento do rúmen e desempenho das bezerras

Influência da nutrição e dos métodos de aleitamento e desaleitamento na saúde, desenvolvimento do rúmen e desempenho das bezerras

James K. Drackley - Department of Animal Sciences, University of Illinois at Urbana-Champaign, USA

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Introdução

Historicamente, os sistemas convencionais de criação de bezerras restringem a ingestão de leite ou sucedâneos durante as primeiras semanas de vida, em um esforço para estimular o consumo de alimentos sólidos e permitir o desaleitamento precoce. Entretanto, demonstrações de grandes aumentos no desenvolvimento e na eficiência alimentar que são obtidos com o fornecimento de maiores quantidades de dieta líquida têm renovado o inte-resse da pesquisa e das indústrias pela nutrição nas fases iniciais da vida das bezerras. Uma década de trabalhos nesse sentido permitiu o desenvolvimento de um sistema viável de criação de bezerras, que vem sendo denominado com vários nomes, incluindo “acelerado”, “intensivo” e “biologicamente apropriado”.

Apesar do grande interesse nesse novo sistema, a maior limitação para sua adoção tem sido o desconhecimento de seus benefícios econômicos. Para o desenvolvimento de um modelo econômico dos efeitos desse sistema na lucratividade dos sistemas de produção de leite é necessário incluir os efeitos nas taxas de ganho de peso e o custo por unidade de crescimento ou ganho, no crescimento subseqüente ao desaleitamento, na saúde, e na produção de leite futura.

 

Requisitos Nutricionais

O National Research Council (NRC), em sua mais recente publicação sobre os requisitos nutricionais de gado de leite (NRC, 2001) estabeleceu as exigências nutricionais de bezerros jovens em termos de energia metabolizável (EM). Recentes trabalhos desenvolvidos na University of Illinois e Cornell University forneceram dados para desenvolver modificações nas equações do NRC que as tornem melhores preditoras do desempenho de animais jovens sob condições de criação típicas dos EUA (Tabela 1).

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Muitos princípios importantes podem ser demonstrados à partir dos dados da Tab. 1. Em primeiro lugar, a quantidade de sólidos do leite necessária para suprir os requisitos de EM para mantença não é pequena. Os requisitos de EM para mantença, em condições termoneutras (15 a 25º C) é de aproximadamente 1,75Mcal/dia para um bezerro de 45kg. O leite integral contém, em média, 4,9 Mcal de EM/kg de MS, o que significa que um bezerro de 45kg necessita de aproximadamente 0,32kg de sólidos do leite, ou 2,5 litros de leite, apenas para sua mantença. Uma vez que a maior parte dos sucedâneos do leite possuem menores conteúdos de gordura que o leite integral, eles possuem menor quantidade de EM por kg de MS (4,6 a 4,7 Mcal/kg). Consequentemente, um bezerro de 45kg necessita de aproximadamente 0,39kg de MS de sucedâneos para sua mantença. As quantidades de MS consumidas, acima dos requisistos de mantença, é que serão utilizadas para o crescimento.

Como pode ser visto na Tab. 1, a quantidade de proteína bruta (PB) necessária para mantença, em porcentagem da MS, é muito baixa, mas aumenta conside-ravelmente com o aumento nas taxas de ganho de peso. Além da quantidade em si, é muito importante equilibrar os consumos de proteína e energia de acordo com o desempenho esperado dos bezerros. Por exemplo, o fornecimento de 950g/d (o equivalente a aproximadamente 8 litros) de um sucedâneo do leite com 20% de PB não suprirá os requisitos de proteína para um adequado crescimento e desenvolvimento dos tecidos do organismo, e o excesso de energia será convertido em gordura. Por outro lado, o fornecimento de um sucedâneo com altos níveis de proteína (28%, por exemplo) nas quantidades utilizadas convencionalmente (450 a 600g/dia, o equivalente a 4-5 litros) irá levar a um excesso de proteína no organismo do bezerro, que não poderá ser utilizado para um maior crescimento, porque os níveis de energia serão limitados. Nesse caso, o excesso de proteína será degradado em nitrogênio e excretado na urina.

Até esse ponto, os requisites nutricionais estão sendo discutidos com base em condições termo-neutras, nas quais o bezerro não precisa gastar energia para manter a temperatura corporal. Como dito anteriormente, a zona termo-neutra para bezerros com menos de 21 dias de idade é de 15 to 25°C (NRC, 2001).  Consequentemente, a maior parte dos bezerros criados no Brasil irão passar uma parte considerável de suas vidas fora dessa zona de conforto térmico. Acima ou abaixo desses limites, os bezerros têm que gastar energia para manter sua temperatura corporal; em altas temperaturas eles irão aumentar a freqüência respiratória e a transpiração, e em condições de frio eles irão tremer e utilizar outros meios para aumentar a produção de calor.  Esse gasto energético passa a ser computado como aumento nas exigências energéticas de mantença. Para bezerros com mais de 21 dias, o limite crítico inferior de temperatura passa a ser de 5°C, o que indica que eles se tornam mais capazes de suportar o frio, em função do aumento do conteúdo corporal de gordura e da cobertura de pêlos.

O estresse calórico é responsável por aumentos significativos nos requisitos energéticos de mantença dos bezerros. Estimativas baseadas em dados do NRC (2001) indicam aumentos de 20 a 30% (aproximadamente 70 a 115g de sucedâneo) nas exigências de mantença. O acesso irrestrito a água e a disponibilidade de sombra são pontos críticos para a manutenção da temperatura corporal em bezerros jovens. Camas de areia são mais eficientes que madeira ou palha para auxiliar os bezerros na dissipação do calor.

Estudos conduzidos em Israel indicam que o estresse causado pelo transporte dos animais também gera um aumento nos re-quisitos de mantença. Em média, deve-se fornecer 90g a mais de sucedâneo/dia durante 14 dias após a data do transporte.

 

Alimentação convencional ou “acelerada”

O programa de alimentação convencional tem como base o fornecimento de pequenas quantidades de leite (aproxima-damente 8 a10% do peso vivo ao nascimento ou 4 litros de leite/dia). A idéia é que a ingestão limitada de leite irá estimular o consumo precoce de concentrado, facilitando o desaleitamento precoce, e reduzindo os custos da fase de criação. Esse programa permite apenas o suprimento dos requisitos de mantença e um ganho de peso de aproximadamente 225g/dia, em condições termo-neutras (Tabela 1). Com o início do consumo de concentrado, que normalmente dobra a cada semana, os bezerros conseguem consumir nutrientes que permitam o início de um rápido crescimento.

Em contraste, o sistema “acelerado” permite aos bezerros maiores consumos de dieta líquida durante os primeiros dias de vida, assemelhando-se muito às condições que ocorrem na natureza, onde o bezerro tem livre acesso ao leite de sua mãe. O consumo de leite ou sucedâneo é aproximadamente o dobro daquele permitido no sistema convencional – 1,5% do peso vivo (de MS de leite ou sucedâneo) na primeira semana de vida, e 2% da segunda até a semana anterior ao desaleitamento, quando inicia-se o desaleitamento gradual (step-down). Os sucedâneos utilizados nesse programa devem conter entre 24-26% de PB. O consumo de concentrado será menor em relação ao sistema convencional, mas aumenta aproximadamente nas mesmas taxas com o desaleitamento.

Como pode ser visto na Fig. 1, a maior diferença no crescimento é observado nas primeiras 2-3 semanas de vida, a partir de quando as taxas de ganho tornam-se semelhantes.

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Benefícios do programa “acelerado”

 

Maior crescimento e menor idade ao primeiro parto

O maior desenvolvimento inicial das bezerras pode ser traduzido em uma redução de 2 semanas na idade ao primeiro parto se forem mantidos os níveis recomendados de crescimento e ganho de peso após o desaleitamento.

 

Mais saúde

Além dos efeitos imediatos na morbidade e mortalidade durante a fase de aleitamento, a inadequada nutrição durante as fases iniciais de vida das bezerras parece ter efeitos negativos de longo prazo na produção futura de leite e longevidade.

Embora os estudos que avaliaram os efeitos da nutrição inicial sobre funções e características do sistema imune tenham encontrado poucas diferenças entre bezerros alimentados de forma convencional ou “acelerada”, nenhum deles avaliou os impactos de diferentes planos nutricionais em animais submetidos a desafios sanitários, à fim de determinar a capacidade de resistir e de se recuperar das doenças.

A saúde dos bezerros jovens é afetada pela interação entre a nutrição inicial e o ambiente. As deficiências nutricionais são mais problemáticas para o sistema imune quando os animais estão submetidos a estresse calórico ou por frio, aumentando a incidência de doenças e a mortalidade.

 

Maior produção futura de leite

Um dos pontos mais excitantes da pesquisa relacionada à nutrição inicial das bezerras diz respeito aos seus efeitos de longo prazo, na produção futura de leite. Com a disponibilização de mais e mais dados de lactações de bezerras alimentadas em diferentes programas iniciais, torna-se cada vez mais claro que a nutrição inicial pode impactar a produção de leite futura. Os trabalhos mostram aumentos de produtividade variando de 500 a 1500 litros de leite na lactação.

Os dados da Tab. 2 sumarizam alguns dos efeitos relacionados ao programa “acelerado”, como aumento no ganho de peso diário (GPD) e na produção de leite. Análises de correlação indicaram que o GPD correlacionou-se negativamente com a produção futura de leite no tratamento “convencional”, mas positivamente no “acelerado” (dados não publicados de M. E. Van Amburgh & J. K. Drackley).

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Manejo para o sucesso do programa “acelerado”

Um grande número de fatores de manejo têm sido identificados como responsáveis pelo sucesso ou fracasso na implementação do programa “acelerado” de alimentação, incluindo a colostragem, disponibilidade de água e forma de desaleitamento.

Uma colostragem adequada é essencial para se alcançar os melhores resultados com o programa “acelerado”. Bezerros que tiverem falha na transferência de imunidade passiva não apresentarão os mesmos desempe-nhos daqueles com colostragem adequada (Tabela 3). Isso pode ocorrer, em parte, devido à maior predisposição às doenças, mas parece estar relacionado também à insuficiente ingestão de nutrientes, hormônios e fatores de crescimento presentes no colostro.

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Uma das grandes frustrações nos programas “acelerados”, incluindo em nossos próprios estudos, é a pronunciada queda no ritmo de crescimento no pós-desaleitamento. Parte dessa queda ocorre porque os concentrados contém apenas 65 a 70% da EM presente no leite ou sucedâneos (NRC, 2001). Esse fato indica que o consumo de concentrado tem que ser consideravelmente maior do que o comumente utilizado para manter as taxas de ganho observadas durante a fase de aleitamento (Tabela 4). 

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O consumo de concentrado aumenta rapidamente quando o fornecimento de leite ou sucedâneo diminui. Entretanto, quando o desaleitamento é feito antes que o rúmen esteja desenvolvido para digerir eficientemente o amido e absorver os AGV resultantes, pode haver uma grande queda no desempenho dos bezerros.

O desaleitamento gradual (Figuras 2 e 3), no qual a quantidade de leite fornecida é lentamente reduzida após a 3ª semana de vida, estimula o consumo de concentrado, mantendo as taxas de crescimento após o desaleitamento. Outros métodos para reduzir os impactos negativos do desaleitamento são a diluição do leite ou sucedâneo com água (Figura 4 e 5), e o fornecimento de água morna (Figura 5), no mesmo horário de fornecimento do leite, por 2 a 3 dias após o desaleitamento. •

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