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Fazendas

O mineiro e o queijo

Granja Leiteira instalada na região do Cerrado em Minas Gerais produz uma tonelada de queijo artesanal por dia

O mineiro e o queijo

Granja Leiteira instalada na região do Cerrado em Minas Gerais produz uma tonelada de queijo artesanal por dia. Trajetória profissional de Eudes Braga, idealizador do negócio, é inspiração para quem busca superar adversidades e ter sucesso

 

DIVULGAÇÃO MRC METÁLICA2.JPG (6.86 MB)

Crédito foto: Divulgação MRC Metálica.

 

CLÁUDIA RIBEIRO

Qual seria a atividade profissional de um filho de produtor de café, nascido em uma região que produz os melhores cafés do Brasil e do mundo? Acertou quem respondeu produtor de leite e de queijo. Proprietário da Granja Leiteira que leva seu nome, Eudes Braga começou a ajudar o pai na cafeicultura desde muito jovem, em Carmo do Paranaíba/MG. No ano de 2001 a atividade passou por momentos difíceis e ele decidiu procurar novos ares.

Esse período marcou o início da ligação de Eudes Braga com a pecuária leiteira. Ele começou a comprar queijo artesanal na região e comercializar em Belo Horizonte/MG. O pecuarista lembra bem das dificuldades que passou nesse processo de transição do café para a compra e venda desse derivado do leite. “Eu não conseguia custear as despesas, vendia o queijo abaixo do valor que eu comprava”, conta.Mas apesar dos apertos financeiros da época, ele tomou gosto pelo negócio de queijos, o que despertou nele o sonho de fabricar o produto e colocar nele sua marca, ainda que soubesse da falta de recursos para impulsionar a atividade naquele momento.

Em 2004, já com a comercialização do queijo mais estabilizada, comprou o primeiro animal, uma bezerra. Arrendou terras e em 2006 já estava com 30 bezerras e um touro da raça Jersey. Um ano depois seu sonho começou a se tornar realidade, com a primeira novilha em lactação. Porém, como as terras arrendadas não tinham instalações para ordenha e manejo, alugou um hectare (ha) da propriedade de seu pai, levando para lá a novilha recém-parida. Eudes conta que seu pai fazia a ordenha, manual, e a sua mãe ficava responsável pela queijaria, mesmo sem nenhuma estrutura, à época para fabricar o produto. “Contávamos com um fogão a lenha e uma forma de bolo”, lembra. A modesta quantidade de queijos era comercializada junto com os demais que Eudes comprava na região para vender na capital.

A PRODUÇÃO DIÁRIA ATUAL É DE 8.000 LITROS DE LEITE, VOLUME SUFICIENTE PARA PRODUZIR UMA TONELADA DE QUEIJOS ARTESANAIS TODOS OS DIAS

A produção começou a crescer e a demanda por instalações, terras e animais também aumentou. Em 2008, um tio ofereceu a ele uma propriedade de 14 ha em Carmo do Paranaíba, já com estrutura para o rebanho e para a produção tão sonhada. “Era tudo o que eu precisava”, conta Eudes. Porém, ele ainda não dispunha de recursos suficientes para a aquisição do terreno, mas mesmo assim decidiu fazer uma oferta que de imediato não foi aceita pelo tio. Alguns meses se passaram e o negócio se concretizou. Para Braga, naquele momento as sensações eram distintas, reunindo a euforia pela aquisição de uma área e a preocupação para arcar com o compromisso. Nesse contexto, decidiu vender 8 ha da propriedade que eram destinados a produção de café para quitar parte do investimento e seguir com a produção de queijos, utilizando o restante do terreno.

Nessa época, eram produzidos 20 queijos por dia, com vacas de 18 litros/dia em média. E assim, com o negócio começando a tomar rumo, resolveu procurar os órgãos que regulamentam e inspecionam a produção de queijos no estado e no município para obter a certificação do produto que atesta a segurança alimentar dos processos produtivos e a qualidade do produto final, consequentemente, agregando valor aos queijos ali produzidos.

No ano de 2009 a Granja Leiteira Eudes Braga decidiu direcionar o processo de seleção dos animais para aumentar a produção de leite, investindo no gado Holandês. Em 2015, a produção alcançou 200 kg de queijo/dia e as vendas de Eudes em Belo Horizonte passaram a ser apenas do queijo artesanal de sua marca.

A produção diária atual é de 8.000 litros de leite, volume suficiente para produzir uma tonelada de queijos artesanais todos os dias. Segundo o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), a Granja Leiteira Eudes Braga é a maior produtora de queijo minas artesanal de leite cru de Minas Gerais. Ao todo, 24 colaboradores executam as atividades na Fazenda, desde a produção de leite, fabricação de queijos, logística e comercialização.

Hoje, o custo do litro de leite produzido na fazenda está em torno de R$ 1,59, tendo em vista todos os custos de produção, gastos com recria e depreciação dos equipamentos.

 

REBANHO

O plantel da fazenda conta com 600 animais registrados na Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais, com classifi cação linear e participantes do programa de controle leiteiro. São 200 vacas em lactação, 40 vacas secas e 360 animais de cria e recria. A propriedade possui ainda 30 receptoras utilizadas para reprodução.

O elevado número de animais na cria e recria, quando comparado às demais categorias, se deve à produção de tourinhos selecionados para comercialização, contribuindo com a receita da fazenda. A venda de animais (vacas, novilhas, tourinhos e prenhezes) na Granja Leiteira Eudes Braga representa 30% da receita.

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NUTRIÇÃO

As fêmeas em lactação são alojadas em um galpão compost barn e ordenhadas três vezes ao dia em um sistema de ordenha tipo paralela duplo 8. Cada vaca produz em média 40 litros de leite/dia. A dieta dessa categoria é composta por silagem de milho (planta inteira), grão úmido, pré-secado de alfafa, feno de Tyfton-85, caroço de algodão, casquinha de soja, farelo de soja e núcleo mineral adquirido de uma empresa parceira que faz o balanceamento dos nutrientes de acordo com a produção de leite, visando também uma boa produção de sólidos. E os resultados dessa nutrição centuais de gordura e proteína, 3,9% e 3,47%, respectivamente. A Granja Leiteira Eudes Braga empenha esforço diário para, cada vez mais, aprimorar a qualidade do leite, tendo um médico veterinário responsável exclusivamente por esse setor.

Os animais da propriedade são divididos em 4 lotes: pós-parto, novilhas, multíparas de alta produção e multíparas de menor produção. O lote de alta produção consome atualmente 28 kg de matéria seca (MS), sendo 44% de volumoso e 56% de concentrado. Já para o lote de novilhas são 22,5 kg de MS diários com uma proporção de volumoso e concentrado de 65% e 35%, respectivamente. As fêmeas lactantes de menor produção consomem 21,5 kg de MS, sendo 65% de volumoso e 35% de concentrado. Animais pós-parto recebem 19 kg de MS, com uma proporção de 40% de volumoso e 60% de concentrado. Essa categoria é monitorada diariamente com relação ao consumo e comportamento, além de, semanalmente, passar por teste para detecção de cetose clínica e subclínica.

 

SANIDADE

A saúde dos animais é uma grande preocupação da Granja Leiteira Eudes Braga. Desde 2009, a propriedade é certificada como Livre de Brucelose e Tuberculose. O casqueamento preventivo é realizado em todos os animais três vezes ao ano e pedilúvio três vezes por semana para evitar afecções podais. Eudes destaca ainda que quando as fêmeas em lactação apresentam mastite, a fazenda oferece todo o suporte necessário para estimular o sistema imune da vaca e a cura da enfermidade. Atualmente, 70% dos animais recebem esse manejo com bons resultados. O uso de antibióticos fi ca restrito às demais vacas doentes (30%) que não respondem à estimulação do sistema imune. Animais que apresentem mastite causada por Staphylococcus aureus são descartados imediatamente. A taxa de descarte da propriedade está em torno de 30%, percentual que representa o chamado descarte involuntário somado a venda de animais selecionados (descarte voluntário) O lote pré-parto, também alojado no compost barn durante os 30 dias que antecedem ao parto, passa por monitoramento diário, recebe dieta acidogênica, medição do pH de urina semanalmente, além de resfriamento por aspersão e ventilação duas vezes ao dia. Todo esse cuidado tem reflexo quando as fêmeas parem, atingindo baixos índices de doenças, por exemplo, retenção de placenta (2%). Os animais próximos ao parto são monitorados 20 horas por dia. Dessa forma, todas as parições que ocorrem entre as 5h da manhã até 1h da manhã do dia seguinte são assistidas.

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CRIA E RECRIA

Após o nascimento, a cria é separada imediatamente da mãe e levada para o berçário, onde é realizada a cura de umbigo com iodo 10% e a colostragem com colostro natural, do banco de colostro ou colostro industrial, fornecido via mamadeira ou sonda, quando necessário. “Como a fazenda cria todos os machos nascidos, temos grande demanda de colostro, pois eles recebem os mesmos cuidados que a fêmea”, destaca Eudes Braga que ressalta também que todos esses cuidados refletem em bons índices. “A mortalidade de bezerros na fazenda é inferior a 2%”, ressalta.

Nos três primeiros dias de vida, o bezerro recebe leite de transição da mãe e após esse período inicia o aleitamento com o leite da própria fazenda, não sendo utilizado sucedâneo e nem leite de descarte no aleitamento dos animais jovens. Concentrado (tipo farelado) e água à vontade estão disponíveis desde o primeiro dia de vida dos animais. Até os 30 dias de vida, os bezerros são aleitados três vezes ao dia e recebem, no total, 9 litros de leite. O ganho de peso médio diário (GMD) nessa fase é de 690 gramas. Dos 30 aos 60 dias de vida, são ofertados 6 litros de leite, e o aleitamento é realizado duas vezes ao dia, com um GMD de 900 gramas. Dos 60 a 63 dias de vida, o leite é fornecido uma vez ao dia no volume de 3 litros e aos 65 dias, retira-se todo o leite para estimular maior consumo de concentrado. O GMD nessa fase é de 1.100 gramas e o peso médio no momento do desaleitamento é de 115 kg. O desmame sempre é realizado em grupos para facilitar a adaptação. As bezerras permanecem até os 70 dias de vida em gaiolas individuais, passando após esse período para o pós-gaiola, onde ficam em bezerreiro argentino por 10 dias para posteriormente irem para piquetes em lotes, onde recebem dieta composta por milho moído, farelo de soja, farelo de trigo, feno e núcleo mineral.

As novilhas são inseminadas aos 13-14 meses quando alcançam 260 kg de peso vivo. Utiliza-se sêmen sexado de fêmea por duas inseminações. Caso a novilha não emprenhe, a partir da terceira inseminação é utilizado o sêmen convencional. A taxa de concepção das novilhas é de 49% e o primeiro parto ocorre por volta dos 23 meses.

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Toda a produção de leite da Granja Eudes Braga é destinada à fabricação de queijos minas artesanal

 

RECONHECIMENTO

Considerado o maior produtor de queijo minas artesanal de leite cru do Estado, Eudes orgulha-se do patrimônio empresarial e social construído ao longo desses anos, contribuindo para o desenvolvimento da região e das famílias dos colaboradores da fazenda e da fábrica de laticínios. O foco e a persistência foram determinantes para a concretização do sonho do produtor de Carmo do Paranaíba. Além disso, Braga enaltece o apoio da família, das empresas parceiras e dos funcionários na concretização do projeto. “Tudo é fruto do esforço diário de uma equipe bem engajada e que veste a camisa”, comenta revelando ainda a expectativa das fi lhas Andressa, de 12 anos, e Júlia, de 4 anos, no futuro, tomarem gosto pelo negócio. “Desde cedo já incentivamos as duas a virem à fazenda e viverem o dia a dia da nossa atividade”, conclui.

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Consolidação de um sonho: Eudes Braga produz diariamente 1.000 kg de queijo

 

METAS FUTURAS

Para o próximo ano a intenção do produtor é chegar a 250 animais em lactação e produção de 10.000 litros de leite por dia, o que vai possibilitar o incremento na produção de queijo, chegando a 1250 kg/dia. Para isso, será necessário ampliar as estruturas de compost barn e duplicar o tamanho da queijaria. O produtor espera ainda levar o queijo de Minas Gerais para o mercado externo. O processo que visa a exportação já foi protocolado junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, mas para chegar a esses mercados é preciso o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF), condição que a Granja Leiteira Eudes Braga vai cumprir quando maturar 100% da produção de queijos, o que segundo o proprietário deve ocorrer em breve.

 

 

CLÁUDIA RIBEIRO
Médica veterinária

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