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Nutrição

O que os olhos não vêem

Os microrganismos antinutricionais presentes nas dietas são como inimigos ocultos, responsáveis por perdas consideráveis de desempenho e saúde dos animais.

O que os olhos não vêem

Edição #94 - Janeiro/2017

O QUE OS OLHOS NÃO VÊEM

Os microrganismos antinutricionais presentes nas dietas são como inimigos ocultos, responsáveis por perdas consideráveis de desempenho e saúde dos animais. 

Embora a consultoria nutricional em fazendas leiteiras venha progredindo, significativamente, ao longo da última década, às vezes, nos deparamos com desafios, como problemas relacionados à digestão e saúde intestinal e respostas diferentes daquela que esperávamos com determinada dieta. Isso, sem falar em alguns casos graves, como hemorragias do aparelho digestivo, levando à morte, sem nenhuma causa aparente.

COISAS ESTRANHAS ACONTECEM

Não é raro observarmos vacas respondendo de forma diferente do que seria esperado para uma determinada dieta. Algumas vezes, essa observação coincide com transições para novas dietas ou alimentos provenientes do fundo (parede) de um silo (conhecida como "doença do fundo do silo"). Nessas duas situações, as vacas experimentam, frequentemente, variação no padrão de digestão e das fezes, oscilação na ingestão de matéria seca e, em algum grau, problemas digestivos ou outros sinais clínicos estranhos, não relacionados à doenças. Em muitos casos, não é possível diagnosticar os fatores causadores desses sintomas. Isso indica que nós ainda temos muito o que aprender, tanto de uma perspectiva nutricional, quanto veterinária, para que possamos entender melhor essas ocorrências.

Na tentativa de solucionar esses problemas, muitas vezes, começamos por avaliar, criticamente, a dieta formulada e a coletar novas amostras de forragem para análise de composição. Mas, em geral, as análises de forragem são precisas e as formulações de dietas estão adequadas. Com isso, podemos concluir que a proteína, a fibra e o amido na forragem estão nos níveis esperados e que a dieta formulada não apresenta qualquer falha óbvia.

No entanto, a saúde e o desempenho das vacas leiteiras estão aquém do esperado, indicando que algo mais está prejudicando os animais. Em situações como esta, devemos começar a avaliar os microrganismos "antinutricionais" nos alimentos e dietas.

DESVENDANDO O MISTÉRIO

A contagem de fungos e leveduras, juntamente com uma análise de micotoxinas (vomitoxina, desoxinivalenol - DON) da dieta fornecida, muitas vezes, poderia desvendar o mistério.

Tanto os fungos quanto as leveduras degradam os açúcares e proteínas da dieta, reduzindo seu valor nutricional, além de interferirem no funcionamento normal do rúmen e do aparelho digestivo inferior.

Algumas leveduras agem dificultando o metabolismo dos nutrientes no rúmen, como mostrado nas pesquisas dos Professores Limin Kung, da University of Delaware/EUA, e Adam Lock, da Michigan State University/EUA.

A vomitoxina pode ser um indicador de muitas outras micotoxinas presentes na dieta, responsáveis por problemas de saúde e desempenho das vacas.

Assim, apesar da dieta formulada e fornecida ser de alta qualidade, esses microrganismos antinutricionais podem jogar por terra todo o trabalho nutricional bem feito, já que os nutrientes não serão absorvidos pela vaca.

Além dos fungos e leveduras mais comuns, existem também bactérias que afetam a nutrição, as chamadas "enterobactérias", e um fungo específico (Aspergillus fumigatus), que também tem sido envolvido como causador de problemas de saúde associados com transições de dietas ou “doença do fundo do silo".

O fungo Aspergillus spp., bem conhecido por afetar humanos imunocomprometidos, também tem sido implicado como causador de transtornos digestivos e síndrome do intestino irritável em vacas leiteiras. Este fungo pode ser considerado como a "gota que faz transbordar o copo”, pois embora seja facilmente eliminado por um sistema imune ativo, pode penetrar, colonizar e causar lesões intestinais em animais imunologicamente debilitados. Por essa razão, o ideal é que nunca esteja presente em alimentos e dietas de rebanhos leiteiros.

Estes microrganismos antinutricionais, certamente, serão mais bem entendidos e avaliados no futuro, semelhante à forma como atualmente avaliamos e entendemos as micotoxinas, leveduras e fungos mais comuns.

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ENTENDENDO AS ENTEROBACTÉRIAS

Coliformes ou enterobactérias são "bactérias intestinais", que podem estar presentes, em grandes quantidades, na silagem fresca.

As enterobactérias são indesejáveis na silagem, e há várias espécies altamente tóxicas para os animais.

Os clostrídios (Clostridium spp.) são as bactérias intestinais mais comumente citadas, mas outras enterobactérias importantes incluem a Salmonella (Salmonella typhimurium), Listeria (Listeria monocytogenes)  e Coliformes (Escherichia coli ou E. coli).

Estes microrganismos antinutricionais têm o potencial de crescer em culturas que foram fertilizados com esterco, em alimentos ou dietas nas quais pequenos animais  (por exemplo, gatos selvagens ou guaxinins) defecaram ou naquelas que entraram em contato com carcaças de animais mortos, ou ainda quando as mesmas sofreram contaminação com partículas do solo.

A Salmonella pode causar febre, diarreia, desidratação e queda no desempenho, enquanto a Listeria pode afetar negativamente o sistema nervoso. Já os clostrídios afetam negativamente a ingestão de energia, em função da produção de aminas biogênicas que deprimem o consumo de matéria seca e têm sido relacionadas à síndrome do intestino irritável.

Esses microrganismos devem ser pesquisados nas fazendas que convivem com esses sintomas, sem um diagnóstico clínico de doenças que possam causá-los.

O QUE FAZER?

As contagens destes microrganismos nos alimentos e nas dietas variam de zero a dezenas de milhares de unidades formadoras de colônias por grama de forragem (UFC/g). O objetivo deve ser a menor contagem possível (<100 UFC/g) destes microrganismos na dieta fornecida aos animais.

O controle da presença de enterobactérias nas dietas passa pela redução na aplicação de esterco em culturas já germinadas ou em crescimento ativo. Outra forma de controle é evitar a entrada de pequenos animais nos silos, vedando bem as bordas e substituindo ou vedando lonas furadas o mais rápido possível.

Esteja sempre atento aos padrões de fermentação das silagens e à estabilidade das dietas no cocho, para prevenir o crescimento de enterobactérias e fungos. A ensilagem de forragens de alta qualidade, com quantidades adequadas de açúcar, para garantir uma fermentação eficiente (pH <5,0), combinada com a aplicação, se necessária, de inoculantes, tem o potencial de mitigar ainda mais estes microrganismos indesejáveis. Mais importante ainda, avalie com a sua equipe de consultores se estes microrganismos são um risco potencial para a saúde e desempenho em sua propriedade.

Ainda temos muito o que aprender a respeito das misteriosas respostas clínicas que, às vezes, aparecem nas fazendas leiteiras. Por hora, uma melhor identificação e conhecimento dos principais microrganismos antinutricionais presentes em alimentos e dietas podem nos ajudar a reduzir os prejuízos causados por eles.

Por: John Goeser

John Goeser é o diretor de pesquisa nutricional e inovação do Rock River Lab Inc., Watertown, Wisconsin/EUA, e professor assistente adjunto da University of Wisconsin-Madison/EUA.

Republicação autorizada da edição de 25 de outubro de 2016 da Hoard's Dairyman. Copyright by the W.D. Hoard and Sons Company, Fort Atkinson, Wisconsin, US.

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