A união faz a força: conheça a história da Fazenda Retiro/Pompéu/MG
A jornada de Fernando Afonso Machado e sua família na Fazenda Retiro, em Pompéu/MG, é inspiradora e mostra a capacidade de transformar desafios em oportunidades.
A Fazenda Retiro, localizada em Pompéu/MG, carrega uma história de resiliência e união, marcada pela transformação de situações adversas em impulso e força para a mudança. Fernando Afonso Machado, o mais velho de quatro irmãos, assumiu a gestão da propriedade em 1996, logo após a morte prematura do pai. Ele relembra os desafios iniciais enfrentados com a coragem de quem sabe que a vida está em constante construção.
Os meninos do Seu Acir e da Dona Zilda
Para quem não sabe, em Minas Gerais, os filhos são carinhosamente chamados de meninos. É assim que, até hoje, Fernando e seus irmãos – Henrique, Hernane e Daniel – são chamados na cidade onde nasceram e cresceram: os meninos do Seu Acir e da Dona Zilda. A partida precoce do pai deixou a família devastada, como era de esperar. E, até hoje, toda lembrança é cercada por grande emoção.
“Eu era recém-formado como técnico em agropecuária pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Florestal/MG”, conta Fernando. “Meu pai teve um problema de saúde e, infelizmente, faleceu. A fazenda já tinha uma história, mas era desacreditada por todos devido à baixa fertilidade do solo e à escassez de água.”
Quando assumiu a Fazenda Retiro, Fernando tinha apenas 20 anos e encontrou uma propriedade em condições muito desafiadoras. A ordenha manual era a realidade da época, e a produção leiteira se baseava em um pequeno rebanho mestiço.
A vida na fazenda exigia uma rotina árdua e bem coordenada. Enquanto Fernando se dedicava integralmente às atividades na fazenda, seus irmãos, naquela época ainda menores de idade, se revezavam entre os estudos e o trabalho no pequeno comércio de máquinas agrícolas da família. “Nós quatro morávamos com a nossa mãe na cidade. Então, eles iam para a escola e para o trabalho no comércio e eu vinha para a fazenda todos os dias. O ‘arroz com feijão’ saía daqui, porque o comércio não tinha condição de sustentar a casa”, recorda Fernando, emocionado. Mesmo com todos os desafios iniciais, a união familiar se mostrou essencial. “Todos nós tínhamos a rotina de vir para a fazenda nos fins de semana para montar a cavalo, dirigir trator, ajudar a tratar dos animais e a ordenhar; dar folga a algum funcionário. Esse movimento foi fundamental para criarmos o conhecimento prático na área rural.”
Conhecimento, inovação e investimento
Com a responsabilidade de sustentar a família, Fernando decidiu investir em conhecimento e tecnologia. Em 1996, ele e o irmão mais novo, Daniel, fizeram um curso de inseminação artificial, um marco que transformaria a produção da fazenda. “Com a chegada da inseminação artificial e do sistema de ordenha mecânica com tanque de expansão, a produtividade começou a aumentar. Nosso rebanho, que produzia 10 litros de leite por animal, passou para 16 litros”, relata Fernando.
O apoio da cooperativa local, do sindicato e do Sistema de Cooperativas Financeiras do Brasil (SICOOB) foi fundamental para essa evolução. Essas instituições acreditaram no trabalho dos irmãos, oferecendo recursos financiados e assistência técnica. A introdução de pastagem rotacionada e melhorias na infraestrutura da fazenda contribuíram significativamente para o bem-estar animal e para a eficiência produtiva.
A partir de 2007, a Fazenda Retiro passou por uma fase de transformação, impulsionada pela busca incessante por conhecimento e inovação. Fernando e seus irmãos entraram no projeto Educampo, do Sebrae/MG, que tem como foco a gestão de propriedades leiteiras. “Começamos a dominar muito essa questão da gestão, analisar os números do negócio, planejar e executar dentro de uma previsão de caixa que suportasse os investimentos”, explica Fernando. Essa abordagem estratégica foi fundamental para o crescimento sustentável da fazenda.
Em termos de inovação, foi em 2010, com a implementação do primeiro pivô central, que a Fazenda Retiro deu um salto na produção. “Para isso, tivemos que fazer uma barragem, pois a propriedade tinha pouca água. Fizemos outorga e buscamos linha de crédito no SICOOB para financiar esse primeiro pivô”, recorda Fernando. A introdução do sistema de irrigação permitiu a produção de silagem de alta qualidade, essencial para alimentar o rebanho durante os seis meses de seca.
A eficiência do primeiro pivô levou à instalação de um segundo em 2011 e de um terceiro em 2016. Com esses investimentos, a fazenda conseguiu manter uma produção estável e de alta qualidade, mesmo em períodos de seca severa. A produção de silagem com excelente qualidade bromatológica permitiu uma menor dependência na compra de alimentos concentrados, o que, por sua vez, reduziu custos e impulsionou a produção de leite na propriedade.
O galpão de Compost Barn da Fazenda Retiro contribui para melhorar o conforto e o bem-estar dos animais
No entanto, o aumento do rebanho trouxe novos desafios, como a necessidade de proporcionar mais conforto aos animais. Em 2018, a fazenda instalou o primeiro galpão de Compost Barn, alojando inicialmente 200 animais. No outro ano, o galpão foi expandido para alocar 300 animais. O investimento contribuiu significativamente para o bem-estar dos animais, reduzindo problemas como mastite e doenças de casco.
“Sempre trabalhamos por etapas, conhecendo, endividando pouco e fazendo contas. Planejamos muito bem cada investimento para não ficarmos com uma dívida grande sem retorno”, ressalta Fernando. Esse cuidado com a gestão financeira permitiu que a fazenda continuasse a crescer de forma sustentável.
COMEÇAMOS A DOMINAR MUITO ESSA QUESTÃO DA GESTÃO, ANALISAR OS NÚMEROS DO NEGÓCIO, PLANEJAR E EXECUTAR DENTRO DE UMA PREVISÃO DE CAIXA QUE SUPORTASSE OS INVESTIMENTOS
Outro importante investimento foi em tecnologias sustentáveis para a gestão de dejetos, contribuindo significativamente para a melhoria do solo e para a produção agrícola. “Enquanto criávamos a estrutura do Compost Barn, visitamos muitas fazendas tecnificadas e sonhávamos em evoluir para aquele nível. Não investimos de imediato, mas, quando fizemos o sistema de ordenha, já estávamos prontos para investir nesse projeto”, relembra Fernando.
Hoje, a fazenda possui um sistema eficiente de captação e separação de dejetos. Todo o dejeto gerado pelas vacas é separado em sólidos e líquidos. O líquido fermenta em uma piscina de geomembrana e é aplicado nas áreas de pastagem e produção de volumoso por meio de uma máquina robusta e resistente à corrosão, semelhante às usadas em usinas de álcool. Além do dejeto líquido, o dejeto sólido também passa por um tratamento de fermentação e é aplicado nas áreas de produção de alimento volumoso junto com a cama do composto.
Com a implementação dessas tecnologias e práticas de gestão, a Fazenda Retiro transformou-se em um exemplo de eficiência e resiliência na produção leiteira. Hoje, a fazenda continua a buscar novas formas de inovar e melhorar, sempre com um olhar atento às necessidades dos animais e à sustentabilidade do negócio.
Expansão e modernização
Com animais estabulados, outro desafio se apresentou: a estrutura de ordenha existente já estava saturada, demandando uma nova instalação. Em 2022, com consultoria especializada em obras, construção e planejamento, foi criado um espaço capaz de atender às novas demandas. Hoje, são ordenhados 600 animais e a estrutura tem capacidade para até mil animais. Esse avanço garantiu um aumento na produção, alcançando 19 mil litros de leite por dia.
Além disso, a fazenda direcionou esforços para aprimorar a genética do rebanho. A decisão foi focar na raça Holandês, conhecida por sua alta produção leiteira. “Estamos trabalhando com animais genotipado, cerca de 120 até agora. Nossa aposta é no animal puro, pois as tecnologias existentes são desenvolvidas especificamente para essa raça; como a ordenha robotizada, um desejo nosso para o futuro”, explica Fernando.
Com a instalação de uma sala de resfriamento na pré-ordenha e melhorias na linha de alimentação do galpão de Compost Barn, a fazenda está bem equipada para manejar e analisar o desempenho dos animais. “Vamos comparar os resultados entre os animais mestiços e os puros. Nossa esperança está depositada na raça Holandês, devido ao seu potencial produtivo”, revela Fernando.
No sistema de Compost Barn, os animais têm liberdade para se movimentar dentro do galpão e dispõem de amplo espaço para se deitar, o que proporciona maior conforto e bem-estar.
As bezerras são o futuro
Com a mudança do foco para a apuração da raça Holandês, a reprodução e o cuidado com as bezerras se tornaram pilares ainda mais fundamentais para a Fazenda Retiro. A estrutura do bezerreiro foi cuidadosamente planejada para garantir a saúde e o desenvolvimento adequado dos animais desde o primeiro dia de vida. “Temos casinhas suspensas onde os animais nascem e recebem os primeiros cuidados, como a cura de umbigo e a colostragem nas primeiras horas”, esclarece Luana Santos Seara, gerente da Fazenda Retiro. Os animais recém-nascidos permanecem nas casinhas suspensas por cerca de 15 a 20 dias e recebem atenção especial. “Nos primeiros dias, as bezerras tomam 8 litros de leite por dia, divididos em duas porções, e já começam a receber ração desde o primeiro dia de vida.”
Depois desse período inicial, as bezerras são transferidas para o bezerreiro do tipo argentino, onde continuam seu desenvolvimento até o desaleitamento. “No bezerreiro argentino, elas recebem leite pasteurizado de alta qualidade e, a partir de 45 dias de vida, introduzimos silagem de milho junto com o alimento concentrado. O desaleitamento ocorre gradualmente aos 75 dias, e as bezerras são completamente desaleitadas aos 90 dias”, detalha Luana.
Perspectiva de futuro e sucessão familiar
A visão de futuro da Fazenda Retiro está intimamente ligada à sucessão familiar e à continuidade do trabalho transformador iniciado por Fernando e seus irmãos. “Quando nos reunimos, em 2017, para reestruturar a fazenda, sabíamos que precisávamos organizar e traçar nosso destino. Criamos uma holding familiar e definimos a sucessão para garantir a sustentabilidade do negócio”, diz Fernando.
Com investimentos planejados para durar muitas décadas, a família está determinada a manter a fazenda como fonte de sustento e qualidade de vida. “Nossa aposentadoria está aqui. Estamos colocando toda a nossa força de trabalho e nossos recursos em investimentos na fazenda”, afirma Fernando.
A sucessão já começou a ser preparada com o filho de Fernando, Gabriel. Ele estuda Agronomia e se prepara para assumir responsabilidades no futuro. “Além do Gabriel, o meu sobrinho Felipe planeja estudar Medicina. Valentina, Davi e Maria Eduarda ainda estão crescendo. Aguardamos a chegada de mais um membro da família: Luana e meu irmão Daniel estão esperando o primeiro filho! Estamos preparando tudo para que a próxima geração possa continuar o legado”, destaca Fernando.
A VISÃO DE FUTURO DA FAZENDA RETIRO ESTÁ INTIMAMENTE LIGADA À SUCESSÃO FAMILIAR E À CONTINUIDADE DO TRABALHO TRANSFORMADOR INICIADO POR FERNANDO E SEUS IRMÃOS
A diversificação dos negócios também faz parte da estratégia de futuro. Além do leite, a família investe em soja, eucalipto e no setor de manutenção de máquinas e tratores. Cada segmento é administrado por um dos irmãos, mas todos são sócios de todos os negócios.
Essa abordagem colaborativa e diversificada garantiu o sucesso e a sustentabilidade da Fazenda Retiro e das outras propriedades da família. Cada negócio é administrado com um caixa próprio, reinvestindo os lucros para continuar crescendo.
A história dos “meninos do Seu Acir e da Dona Zilda” é fonte de inspiração. A Fazenda Retiro é resultado da capacidade de transformação e da resiliência da família, que conseguiu superar adversidades e construir um legado de sucesso e inovação. Parece que há um olhar abençoado e de muito orgulho que vem lá de cima!
ADRIANA VIEIRA FERREIRA - Equipe Revista Leite Integral
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