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Dia Internacional da Mulher: a importância do feminino para a pecuária leiteira

A Revista Leite Integral celebra o Dia Internacional da Mulher e destaca, a partir de histórias únicas, a contribuição singular dos ritmos do feminino ao setor.

Dia Internacional da Mulher: a importância do feminino para a pecuária leiteira

Muito além das estatísticas, das concepções preconcebidas e das expectativas sociais, as mulheres assumem papéis cada vez mais centrais e bem-sucedidos na pecuária leiteira. Aprofundar-se nas suas histórias revela a complexidade e a singularidade de suas experiências, desafiando a ideia de que possam ser definidas ou limitadas por categorizações simplistas. Cada mulher narra a própria trajetória em um ritmo único, refletindo a diversidade e a riqueza de sua contribuição ao setor. É com esse espírito de reconhecimento e valorização que a Revista Leite Integral celebra a participação feminina na pecuária leiteira, evidenciando o papel indispensável das mulheres na atividade.

O ritmo da empatia

“Após seis anos administrando as redes sociais da empresa (todas logadas no meu celular) e responsável por gerar conteúdo diariamente, entendi que era o momento de ter uma nova pessoa se dedicando totalmente a essa atividade. Conheci uma mulher jovem, determinada, que atendia aos requisitos para a vaga. Organizei a contratação e estava tudo certo para ela começar logo depois do Carnaval. Eu estaria fora do Brasil e era um momento importante para começarmos a movimentar os perfis, especialmente por eu não estar na fazenda.

Logo após o Carnaval, recebi um e-mail do RH informando que a pessoa não conseguiu comparecer ao exame de admissão e que não conseguiria estar presente na fazenda na data combinada.

Reagendamos a data para alguns dias depois. Quando estava próximo do início, recebi outro e-mail, agora da contratada, me informando que também não conseguiria comparecer na segunda data combinada. O motivo era a dificuldade de adaptação do seu filho na creche. Ele não estava conseguindo ficar sozinho. Obviamente, a questão foi mais do que entendida e postergamos o início para 20 dias depois do combinado inicial. Essa empatia, tão natural para a maioria das mulheres, é claramente o que falta em muitas gestões masculinas. A famosa vivência e o ‘lugar de fala’ nos permitem uma outra concepção de realidade. E isso não é algo para ser celebrado. É preciso entender que o caminho para sermos mais inclusivos e termos mais representatividade nas empresas não é o mais curto nem o mais fácil. As lideranças devem estar dispostas a investir mais, a ter flexibilidade e jogo de cintura. Devem estar abertas para adaptações. A reparação histórica não acontece se não estivermos preparados para acolher diferentes realidades. A da mãe jovem sem rede de apoio é uma delas.

Sou a maior defensora de pararmos de perguntar para as mulheres o que estamos agregando para o agronegócio – ou para qualquer outro setor – simplesmente por conta do gênero. Não precisamos de provações e muito menos de validações. Precisamos de equidade para simplesmente conseguirmos pertencer e conviver lado a lado com os colegas homens. A questão nunca foi sobre a capacidade, e sim sobre as oportunidades.”

NÃO PRECISAMOS DE PROVAÇÕES E MUITO MENOS DE VALIDAÇÕES. PRECISAMOS DE EQUIDADE PARA SIMPLESMENTE CONSEGUIRMOS PERTENCER E CONVIVER LADO A LADO COM OS COLEGAS HOMENS. A QUESTÃO NUNCA FOI SOBRE A CAPACIDADE, E SIM SOBRE AS OPORTUNIDADES



O ritmo do equilíbrio


“A Fazenda VR representa um dos três fundamentais pilares da minha trajetória profissional, juntamente com a Casa do Produtor e a Fábrica de Rações VR. Esses empreendimentos estão intrinsecamente conectados ao agronegócio, setor de vital importância para o nosso país. Atualmente, me considero uma empreendedora profundamente apaixonada por essa área, na qual encontrei não apenas uma carreira, mas uma verdadeira vocação.

Atuar em um ambiente predominantemente masculino, como é o caso da pecuária leiteira, apresenta alguns desafios. Contudo, em vez de considerá-los uma barreira, optei por enxergá-los como um diferencial. A presença feminina na liderança oferece vantagens significativas, pois frequentemente somos mais organizadas e criteriosas. Esses fatores em um ramo como o do leite, em que cada detalhe faz a diferença, trazem um resultado mais positivo, mais harmonioso para a fazenda.

O paradigma de que não estamos no lugar certo é quebrado quando há respeito mútuo. Faço questão de valorizar todo o grupo que está nessa jornada comigo, pois é necessário ver a fazenda como empresa; e as coisas só fluem quando há uma equipe trabalhando em equilíbrio, com o mesmo propósito. Sendo assim, é importante perceber cada indivíduo – seja homem, seja mulher –, suas individualidades e qualidades. E saber que, quando combinadas, vão agregar e transformar o ambiente de trabalho em um lugar mais produtivo e agradável.”

O PARADIGMA DE QUE NÃO ESTAMOS NO LUGAR CERTO É QUEBRADO QUANDO HÁ RESPEITO MÚTUO



O ritmo da resiliência



“Nossa jornada começou cedo, já que crescemos no ambiente rural, imersas na simplicidade e nos desafios do campo. A virada veio quando, na transição da adolescência para a juventude, aos 18 anos, nos mudamos para a cidade a fim de prosseguir com os estudos universitários. Tal decisão foi incentivada por nosso pai, que buscava nos proporcionar uma educação superior e uma vida menos árdua que a do campo. Essa etapa representava o anseio comum de muitos pais da época, que desejavam um futuro mais promissor para seus filhos.

A narrativa da nossa vida tomou um rumo inesperado entre 2013 e 2014, quando nosso pai adquiriu uma propriedade perto de Alto Alegre/SP. Em março de 2015, nossa família enfrentou uma tragédia: um grave acidente levou a vida de nossa mãe e deixou nosso pai em coma. Diante desse cenário devastador, eu e minha irmã assumimos a responsabilidade pela propriedade, marcando o início de uma nova fase. Nosso irmão, já casado, ofereceu suporte dentro de suas possibilidades, mas a gestão do dia a dia da fazenda ficou a nosso cargo.

Nosso compromisso era manter tudo funcionando até que nosso pai pudesse decidir sobre o futuro. Mesmo depois da sua recuperação, ele nos deu a opção de assumir a propriedade integralmente. Aceitamos o desafio e, desde então, eu e minha irmã, Natália, nos dedicamos à administração da fazenda, cuidando da produção leiteira e das demais obrigações, enquanto nosso pai oferece suporte, especialmente na agricultura, como no plantio de milho.

A gestão da fazenda é um esforço familiar, com todos contribuindo nas diversas tarefas, desde o plantio até a silagem, embora a parte leiteira seja nossa responsabilidade direta. Nosso pai continua a ser um pilar de suporte, respeitando nossas decisões e incentivando nossas iniciativas de melhoria e aprendizado. Somos nós que buscamos a evolução – por meio de cursos e adquirindo novos conhecimentos –, mantendo a fazenda em constante desenvolvimento.

Desde que assumimos a propriedade em 2015, percebemos uma mudança gradual na percepção da sucessão familiar no campo, especialmente em relação ao papel da mulher. Nossa experiência reflete a capacidade e a resiliência feminina em um ambiente tradicionalmente masculino. Apesar dos desafios, estamos demonstrando que as mulheres são capazes de gerir e inovar na pecuária leiteira, contribuindo significativamente para o setor. Essa trajetória não só fortalece nosso propósito como também inspira outras mulheres a reconhecerem seu potencial no agronegócio.”

NOSSA EXPERIÊNCIA REFLETE A CAPACIDADE E A RESILIÊNCIA FEMININA EM UM AMBIENTE TRADICIONALMENTE MASCULINO



O ritmo da persistência



“A pecuária leiteira é um campo repleto de histórias notáveis, marcadas pela essência e pelo toque feminino, caracterizados por cuidado, intuição, persistência e fé. Uma dessas histórias, particularmente especial para mim, aconteceu durante o Mondial du Fromage et des Produits Laitiers (Mundial de Queijos e Laticínios) em Tours, na França. Diferentemente das exposições e dos torneios leiteiros, cujos altos custos muitas vezes excluem os pequenos produtores, os Campeonatos de Queijo se destacam por sua natureza democrática. Neles, a competição se baseia no sabor, na textura, no visual e no aroma do queijo, permitindo que pequenos produtores concorram em pé de igualdade com os grandes.

Essa igualdade de condições foi possível graças ao apoio da SerTãoBras – Associação de Produtores e Entusiastas do Queijo Artesanal Brasileiro –, que garante a participação de todos os produtores associados. Em 2021, tivemos a oportunidade de levar cinco dos nossos queijos para competir, além de representar outros produtores que não puderam estar presentes. O resultado foi extraordinário: conquistamos duas medalhas de ouro, duas de prata por Maturação e uma de bronze, posicionando nosso país como o segundo maior ganhador de medalhas, atrás apenas da França, o país anfitrião.

Essas conquistas vão muito além do reconhecimento. Para um pequeno produtor, uma medalha pode transformar completamente sua trajetória, abrindo novas portas e oportunidades. Há inúmeros exemplos de produtores que viram suas vendas e o valor dos seus queijos aumentarem significativamente graças a esses prêmios. Mais do que isso: muitos jovens que antes não viam futuro no negócio familiar agora reconhecem seu potencial e seu valor.”

 A PECUÁRIA LEITEIRA É UM CAMPO REPLETO DE HISTÓRIAS NOTÁVEIS, MARCADAS PELA ESSÊNCIA E PELO TOQUE FEMININO



O ritmo da gestão

“O negócio leiteiro é uma equação complexa, um problema com muitas variáveis. Como administradora, procuro seguir alguns princípios.

O alicerce dessa jornada é, sem dúvida, a família. Foi no seio familiar que absorvi valores cruciais como honestidade, integridade, respeito, determinação, persistência e, acima de tudo, amor. Sou imensamente grata por ter o apoio incondicional dos meus pais, das minhas irmãs, dos meus sobrinhos e sobrinhos-netos e do meu marido. Todos estão comigo a cada etapa desse caminho.

Compreender profundamente o negócio e gerir eficientemente as suas variáveis é também um pilar essencial. Isso inclui a indispensável colaboração de profissionais altamente qualificados nas áreas de gestão, projetos, sanidade, nutrição e genética. Acredito que esses foram os fatores mais relevantes para o fortalecimento do negócio. Nesse sentido, a coleta e a análise de dados é fundamental para as tomadas de decisão e o fortalecimento contínuo do empreendimento.

Outras variáveis de extrema importância que busco perseguir:

  • Implementar planejamento e monitoramento sistemáticos, com objetivos bem-definidos.
  • Buscar sempre a excelência na execução de tarefas e na produtividade.
  • Comprometer-me com a melhoria contínua e a inovação, visando à sustentabilidade econômica, ambiental e social.
  • Estabelecer protocolos claros e eficientes.
  • Contar com infraestrutura adequada e uma equipe de apoio comprometida.
  • Respeitar as pessoas, entendendo e valorizando cada contribuição.
  • Garantir o bem-estar dos animais, atendendo às suas necessidades com compreensão e respeito.
  • Preservar o meio ambiente, adotando práticas responsáveis e sustentáveis.

Em minha reflexão diária, tanto pessoal quanto profissional, questiono-me constantemente sobre como posso evoluir. Em que posso melhorar? O que preciso aprender? O que devo mudar? Essas perguntas me impulsionam a buscar sempre a excelência, apoiada na minha persistência, vontade, dedicação e empatia.”

EM MINHA REFLEXÃO DIÁRIA, TANTO PESSOAL QUANTO PROFISSIONAL, QUESTIONO-ME CONSTANTEMENTE SOBRE COMO POSSO EVOLUIR. EM QUE POSSO MELHORAR? O QUE PRECISO APRENDER? O QUE DEVO MUDAR? ESSAS PERGUNTAS ME IMPULSIONAM A BUSCAR SEMPRE A EXCELÊNCIA, APOIADA NA MINHA PERSISTÊNCIA, VONTADE, DEDICAÇÃO E EMPATIA



O ritmo da mudança

“Há cerca de sete anos, fiz uma escolha que mudou radicalmente a minha vida. Depois de atuar como psicóloga por mais de uma década, percebi que não estava satisfeita profissionalmente no serviço público em que atuava.

Foi em 2016 que meu pai nos convocou em Orizona/GO, eu e meus três irmãos, para discutir o futuro da fazenda familiar. Meu irmão Diego, que é agrônomo, já trabalhava na fazenda, especialmente no setor agrícola. Nesse período, meu pai havia construído o primeiro barracão de Compost Barn, visando melhorar o conforto e, consequentemente, a saúde e a produção dos animais. Ele enxergou que esse seria o futuro da produção leiteira, mas reconheceu que seria um caminho que exigiria grande investimento e dedicação; então, nos propôs que participássemos do negócio.

Decidi, então, aceitar o convite do meu pai e mergulhar no negócio familiar, deixando minha carreira em Goiânia para trás. Licenciada do meu cargo público e sem saber praticamente nada de produção de leite ou gestão de fazendas, troquei a vida agitada da cidade grande para experimentar a ‘calmaria’ do campo (digo isso entre aspas pois só quem trabalha com fazenda de leite sabe a loucura que é). Apesar de inicialmente não ter afinidade com o ambiente rural, aos poucos fui me interessando e descobrindo a complexidade e a beleza envolvidas na produção de leite.

Hoje, estou totalmente imersa na gestão da fazenda, cuidando de várias frentes: gerenciamento de pessoas, finanças, compras e relacionamento com fornecedores e consultores. Temos três consultorias nos auxiliando, abrangendo gestão financeira, assistência zootécnica e qualidade do leite.

Desde que cheguei, nossa produção de leite triplicou, passando de cerca de 3 mil litros para quase 10 mil litros diários, com 270 vacas em lactação e três barracões de Compost Barn. Investimos em infraestrutura e tecnologia, como uma nova sala de ordenha automatizada.

Além disso, venho tendo voz ativa na discussão sobre sucessão familiar no agronegócio, junto com meus irmãos, dando continuidade ao trabalho iniciado por nossos pais. Meu pai ainda é uma figura central nas decisões, mas estamos trabalhando juntos para levar adiante o legado familiar.

Depois de algum tempo, tive que fazer uma escolha definitiva entre minha carreira no serviço público e o negócio familiar. Sem hesitar, optei por me dedicar integralmente à fazenda. Hoje, brinco que faço psicologia de vacas, totalmente comprometida com o crescimento e a sustentabilidade da atividade leiteira.

Como produtora, empreendedora e mãe, percebo que a capacidade de ser multitarefas me oferece vantagem no gerenciamento. Estou sempre em busca de aprendizado, suporte e contribuições de especialistas para garantir que nossa propriedade esteja sempre avançando –e sempre melhor do que ontem.”

COMO PRODUTORA, EMPREENDEDORA E MÃE, PERCEBO QUE A CAPACIDADE DE SER MULTITAREFAS ME OFERECE VANTAGEM NO GERENCIAMENTO. ESTOU SEMPRE EM BUSCA DE APRENDIZADO, SUPORTE E CONTRIBUIÇÕES DE ESPECIALISTAS PARA GARANTIR QUE NOSSA PROPRIEDADE ESTEJA SEMPRE AVANÇANDO –E SEMPRE MELHOR DO QUE ONTEM.





Equipe Revista Leite Integral


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