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Genética

Melhoramento genético em gado leiteiro com ênfase na reprodução

Melhoramento genético em gado leiteiro com ênfase na reprodução

Manuela Gama - Zootecnista, especialista em produção de Ruminantes, mestranda em Genética e Melhoramento Genético Animal – FCAV – UNESP Câmpus de Jaboticabal.

Humberto Tonhati - Professor Titular Depto Zootecnia – FCAV – UNESP Câmpus de Jaboticabal

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Introdução

O Brasil conta com diversos sistemas de produção de leite, desde rebanhos altamente especializados, em sistema de confinamento total, até sistemas extensivos, com utilização de animais mestiços de produção modesta, sendo muitas vezes animais cruzados Holandês (Bos taurus taurus) e Gir (Bos taurus indicus).

A reprodução é o fator determinante da produção de leite, sendo que a produção de cada animal depende de sua habilidade de emprenhar. Frustrações com a ineficiência reprodutiva não são raras e re-presentam um dos fatores que mais influenciam o sucesso econômico da atividade leiteira. Quanto mais cedo a vaca estiver prenhe, melhor será a relação kg de leite produzido/dia de intervalo entre partos, parâmetro esse importante para avaliar a eficiência do sistema de produção de cada propriedade.

Compreendendo a fisiologia reprodutiva e suas inter-relações, pode-se dizer que a eficiência reprodutiva depende de um manejo adequado das vacas e da gestão das pessoas relacionadas à atividade e responsáveis pela realização do trabalho de ordenha, alimentação, higiene e cuidados em geral do rebanho.

A produção de leite por animal cresceu substancialmente nas últimas décadas, graças a uma combinação de fatores como melhoria no manejo, melhor nutrição e intensa seleção genética focada em produção. Por outro lado, a eficiência reprodutiva, em especial nas vacas de alta produção, tem apresentado acentuada queda.

Em revisão feita por Sartori (2006), os dados das Taxas de Concepção em vacas lactantes nos Estados Unidos nas décadas de 40 – 50, apresentavam-se acima de 50%, nos anos 70 foram de aproximadamente 50%, caindo para  40% nos anos 90. Atualmente, a Taxa de Concepção relatada tem está abaixo de 40%.  Juntamente com a baixa Taxa de Concepção, em vacas de alta produção, observa-se um aumento nos problemas reprodutivos como os cistos ovarianos, atraso na ovulação pós-parto, redução na duração e/ou intensidade de estro e na ocorrência de gemela-ridade. 

A inter-relação entre produção de leite e subfertilidade pode ser evidenciada também nos dados revisados por Sartori (2006), que demonstram  que, ao longo dos anos, a Taxa de Concepção em novilhas não sofreu alteração com o passar das décadas, permanecendo entre 60 e 70%. Vale ressaltar que  as  novilhas apresentavam genótipo similar ao das vacas e foram inseminadas com o mesmo sêmen e pelos mesmos técnicos nas fazendas.

A origem desse declínio na eficiência reprodutiva das vacas leiteiras é multi-fatorial. Pode-mos citar alguns fatores como alterações da dieta, diferenças no manejo reprodutivo, mudanças na fisiologia da lactação, alte-rações nos perfis endócrinos dos animais, dentre outros, que estão relacionados com a queda da eficiência reprodutiva.

O aumento da eficiência reprodutiva passa pelo entendimento dos fatores que afetam a reprodução e, assim, pelo direcionamento da seleção genética, incluindo a escolha das vacas e dos touros que entrarão em reprodução e o uso de biotécnicas reprodutivas adequadas a cada propriedade.

É importante também ressaltar a influência do clima tropical e sub-tropical na eficiência reprodutiva. O estresse térmico é um dos principais fatores ambientais responsáveis pela queda do desempenho produtivo e reprodutivo do animal.

Programas de Melhoramento Genético de Bovinos de Leite normalmente incluem características produtivas e reprodutivas. Dentre as características de ordem reprodutiva, a idade ao primeiro parto (IPP) e o intervalo entre partos (IEP) são as mais estudadas pelos seus resultados diretos sobre a eficiência do sistema de produção. Além disso, são características de fácil mensuração, o que viabiliza a coleta de dados e utilização nos programas.

Em países como Estados Unidos, Canadá e alguns locais da Europa, o objetivo de seleção do gado leiteiro era a produção. O foco na questão reprodutiva foi deixado de lado, e a seleção foi conduzida para o aumento individual de kg de leite/ animal. Porém, com o passar dos anos, a queda da eficiência reprodutiva das foi se tornando evidente e a seleção para características ligadas à reprodução começa a ser levada em consideração, assim como a produção de sólidos e a longevidade dos animais.

 

Características reprodutivas – parâmetros genéticos

As características reprodutivas apresentam, de modo geral, baixa herdabilidade. Como conseqüência, a resposta à seleção é lenta. A melhora nesses índices pode ser obtida mais rapidamente pela melhora nas condições ambientais (não genéticas).

Porém, isso não diminui a importância do melhoramento genético com objetivo de aumentar a eficiência reprodutiva em rebanhos leiteiros.

 

IPP – Idade ao Primeiro Parto

Quanto menor for a IPP, mais rápido o animal deixará a fase de recria, produzindo mais leite em sua vida útil no rebanho.  Em-

bora sua herdabilidade seja consi-

derada de média a alta (dados da literatura apontam variação de 0,08 a 0,57), essa característica sofre grande influência do ambiente. Ou seja, melhoras no ambiente, manejo geral e reprodutivo, nutrição, sanidade, dentre outras, pode afetar o crescimento e acelerar a expressão das características produtivas de interesse econômico.

Em trabalho realizado por Silva et al em 2001, a correlação entre produção de leite e IPP foi de -0,63, o que significa que a seleção para produção de leite, resulta em um maior crescimento e, consequentemente, em redução na idade ao primeiro parto.

Portanto, a IPP pode ajudar na seleção direta de outras ca-racterísticas de crescimento e reprodução, sendo a sua adequação a primeira etapa a ser cumprida para melhorar a eficiência reprodutiva do rebanho, além de apresentar relação direta com a precocidade e produtividade em rebanhos leiteiros.

 

IEP - Intervalo Entre Partos

O intervalo entre partos é uma característica predominantemente influenciada pelo ambiente. Sua herdabilidade e repetibilidade são baixas, variando entre 0,02 e 0,12 (herdabilidade), de acordo com dados da literatura.

A correlação entre IEP e IPP encontrada por pesquisadores foi de -0,69, o que sugere um possível antagonismo quando há  seleção para ambos os índices.  Isso significa que a seleção para animais mais precoces ao primeiro parto (IPP) possa contribuir para o aumento do primeiro IEP.

Da mesma forma, a correlação entre IEP e produção de leite é de -,026, sugerindo que quanto maior a seleção para produção de leite resultará em queda na eficiência reprodutiva, um antagonismo muito observado em rebanhos de alta produção. 

Trabalhos indicam também que a correlação entre IPP e produção de leite é de -0,65, o que sugere que filhas de touros com elevado valor genético para produção tendem a atingir a maturidade mais cedo.

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Vacas adultas

A literatura cita que, do ponto de vista genético, há um antagonismo após a primeira cria. O estresse causado pela produção de leite e a ação pleiotrópica dos genes, atuando de forma diversa nas diferentes idades da vaca, pode levar a uma queda na eficiência reprodutiva.

Alterações fisiológicas ocorrem em especial em vacas de alta produção, sendo uma delas a concentração mais baixa de estradiol, interferindo na liberação de GhRH e LH e assim na ovulação.

O alto consumo de matéria seca por animais de alta produção é citado também como um fator que interfere negativamente na eficiência reprodutiva. A explicação dessa teoria seria o maior fluxo hepático, aumentando o metabolismo dos esteróides.

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Conclusões

É fato que a eficiência reprodutiva de vacas de leite vem sofrendo as conseqüências da seleção intensa para produção. A identificação desse problema é o primeiro passo na busca pela melhoria dos índices reprodutivos e pela permanência das vacas por mais tempo no rebanho.

Conhecer as herdabilidades e as correlações das características de produção e reprodução é importante, e se justifica pela possibilidade de usá-las nos programas de melhoramento.

As herdabilidades apresentadas acima sugerem que IPP e produção de leite na 1ª. lactação podem ser melhoradas por seleção direta. Já o IEP é muito influenciado pelo ambiente, respondendo melhor às mudanças de manejo.

O trabalho de melhoramento genético, tanto para produção como para reprodução, deve ser acompanhado de uma busca contínua na melhora do ambiente como, por exemplo, no manejo geral do rebanho, nutrição, sanidade e mão de obra. •

 

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