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Reprodução

Protocolos hormonais: quando e como utilizá-los?

Protocolos hormonais: quando e como utilizá-los?

 

 Texto: Álan Maia Borges, Iuri Antunes Pereira Lima, Luciano de Rezende Carvalheira, Silvio Costa e Silva, Lucas Fernando Ventura Ferreira, Telma da Mata Martins

 Os protocolos hormonais podem melhorar as taxas de gestação do rebanho e aumentar a produção de leite. A decisão pela adoção da IATF e a escolha do protocolo hormonal devem ser baseadas na realidade de cada propriedade, levando-se em consideração os aspectos zootécnicos, econômicos e sociais inerentes a cada uma delas.

 

Na primeira parte deste artigo, publicada na edição de dezembro da Leite Integral (“Protocolos hormonais: viabilidade da aplicação em rebanhos leiteiros – Parte I”), foram apresentados aspectos relacionados à viabilidade da adoção de protocolos hormonais. Nesta continuação, discutiremos a escolha do protocolo mais adequado e os resultados médios obtidos, assim como sua relação custo/benefício.

Ao optar pela adoção de protocolos hormonais para implantação da IATF no manejo reprodutivo, o produtor deve ser informado sobre os possíveis resultados esperados para cada categoria do rebanho. As taxas de concepção obtidas podem ser afetadas por alguns fatores, tais como, estado nutricional do animal, época do ano, número de partos, dentre outros, verificando-se que os resultados de um determinado protocolo hormonal podem variar entre propriedades.

 

Categoria animal

Novilhas. Para o emprego da IATF em novilhas, deve-se considerar algumas particularidades dessa categoria. Esses animais só devem entrar no manejo reprodutivo após terem apresentado três cios consecutivos. A adoção dessa medida é importante para que o sistema reprodutor da novilha receba influência dos hormônios estrógeno e progesterona, favorecendo sua maturação e capacidade para manutenção da gestação.

O início da puberdade é influenciado por diversos fatores, como a composição genética, o peso vivo e a idade. Animais de composição genética taurina tendem a entrar na puberdade mais precocemente que os zebuínos. De forma geral, espera-se que a novilha tenha 50 a 55% do peso vivo de uma fêmea adulta do seu grupo genético ao entrar na puberdade, e 80 a 85% do peso adulto ao primeiro parto (Para mais informações leia os artigos “Fatores relacionados com a puberdade em novilhas leiteiras”, partes I e II, publicados nas edições 76 e 77 da Revista Leite Integral).

A puberdade pode ser induzida por meio de protocolos que associam os hormônios estrógeno e progesterona, sensibilizando o sistema nervoso central e estimulando a ovulação do folículo dominante. Porém, para que o objetivo seja alcançado, os animais devem apresentar peso e idade compatíveis com o início da puberdade, a ponto de o folículo dominante ter capacidade de responder ao protocolo hormonal indutor da ovulação. Para garantir que o animal esteja apto a entrar no manejo reprodutivo e impedir o desperdício de sêmen com animais impúberes, recomenda-se a avaliação ginecológica periódica das novilhas por um Médico Veterinário.

Vacas em lactação. Vacas de alta produção apresentam maior perfusão sanguínea no fígado, o que acelera a metabolização dos hormônios esteróides (estrógeno e progesterona), utilizados normalmente nos protocolos reprodutivos. Portanto, o emprego da IATF em vacas lactantes tende a resultar em menor taxa de gestação. O manual de IATF publicado pela Associação Brasileira de Inseminação Artificial (ASBIA, 2011) reporta que a taxa de gestação, após inseminação com sêmen convencional, pode variar de 20 a 40% para vacas com produção de leite superior a 25 litros/dia. Já os animais com produção inferior a 25 litros/dia apresentam taxas de gestação semelhantes às vacas de corte, variando de 40 a 60%.

Vacas em anestro pós-parto ou em anestro nutricional. Outro fator que interfere na escolha dos protocolos hormonais é a taxa de anestro da categoria animal, período em que a vaca não apresenta cio e, portanto, não chega à ovulação. Esta condição é comum em vacas no pós-parto e em animais com baixo escore corporal.

O hormônio luteinizante (LH), responsável pelo crescimento final do folículo dominante e pela sua ovulação, tem suas reservas reduzidas na hipófise durante o pós-parto, o que impede a ocorrência da ciclicidade. A recuperação dos estoques de LH, a ocorrência da primeira ovulação e, consequentemente, o retorno à ciclicidade ocorrem normalmente entre 20 e 40 dias pós-parto, dependendo de alguns fatores como a raça e a condição corporal.

Convém ressaltar que, após o parto, deve-se respeitar o período de espera voluntário, no qual o animal não é submetido à monta natural ou inseminação artificial para permitir a involução uterina completa (macroscópica e microscópica). Este período pode variar entre 45 e 60 dias pós-parto, dependendo do manejo da propriedade.

Animais com baixa condição corporal também apresentam maior percentagem de anestro. O tecido adiposo produz um hormônio chamado leptina que atua no sistema nervoso central participando da regulação da fisiologia reprodutiva. Quando as reservas corporais de energia são reduzidas, a produção deste hormônio diminui, levando à inibição da liberação de GnRH e do LH, resultando em falha ovulatória e anestro. O aumento da ingestão de matéria seca (IMS) leva ao acúmulo de gordura e consequente retorno à ciclicidade.

Após o parto as vacas leiteiras de alta produção apresentam maior exigência energética, superior à fornecida por meio da IMS, devido à elevada demanda de nutrientes para a suportar e manter a lactação. Neste período, o organismo mobiliza as reservas corporais de energia, estabelecendo-se um período denominado balanço energético negativo (BEN). Com o avançar da lactação, a IMS aumenta e o requerimento energético passa a ser suprido pela alimentação. Porém, se a dieta não for formulada adequadamente ou se o animal passar por restrição alimentar, o BEN tende a ser agravado, prolongando o período de anestro devido à baixa reserva de tecido adiposo.

Outro fator que influencia na taxa de anestro pós-parto é a presença do bezerro, manejo normalmente adotado em fazendas de produção com gado mestiço Holandês x Zebu. Os estímulos visuais, olfativos e táteis (ex: amamentação) atuam no sistema nervoso central e inibem a ovulação em vacas lactantes.

Os protocolos hormonais podem ser utilizados para induzir a ovulação e restabelecer a atividade ovariana dos animais com boa condição corporal em anestro no pós-parto recente. Os fármacos administrados nos protocolos mimetizam os hormônios produzidos pelo organismo, revertendo algumas causas de anestro. Contudo, a utilização de protocolos hormonais com o objetivo de restabelecer a atividade ovariana se torna inviável em animais com baixa condição corporal - ECC menor que 2,5 (escala de 1 a 5, na qual 1 representa animal muito magro, e 5 animal obeso). Nesses casos, a utilização de gonadotrofina coriônica equina (eCG) pode ser adicionada ao protocolo visando promover o crescimento final do folículo, além de torná-lo capaz de responder à indução da ovulação; porém, os resultados ainda são controversos e o custo é elevado.

Para tomar a decisão de adotar terapia hormonal em animais com baixo ECC, o produtor deverá verificar se o investimento será compensado, uma vez que o valor do protocolo com eCG é maior que o dos protocolos convencionais e a taxa final de gestação ainda é baixa, restando os questionamentos: o custo final compensará o investimento? O animal desnutrido será capaz de conceber e manter uma gestação? Os animais que conseguirem conceber terão disponibilidade de alimento para garantir o desenvolvimento normal e a viabilidade do feto, e o restabelecimento da reserva corporal durante a gestação?

 

Sêmen sexado em protocolos hormonais

Levando em consideração o objetivo da fazenda com foco na produção de leite, deseja-se obter o maior número de bezerras nascidas com a finalidade de reposição ou substituição das fêmeas do rebanho. O sêmen convencional possui aproximadamente 50% de espermatozoides Y (determinam o sexo da cria para macho) e 50% de espermatozoides X (determinam o sexo da cria para fêmea). O sêmen sexado para fêmea pode apresentar até 90% de espermatozoides X, o que justifica o aumento da sua utilização na pecuária leiteira. Todavia, o processamento do sêmen durante a sexagem dos espermatozoides influencia negativamente na qualidade dos mesmos, podendo reduzir a taxa de concepção de 15 a 40% em relação ao sêmen convencional.

O processo de sexagem reduz o tempo necessário para a ocorrência da capacitação espermática no trato genital feminino e, com isso, tornam-se aptos à fecundação em período mais curto que o do sêmen convencional. A baixa fertilidade do sêmen sexado também pode estar relacionada com a menor concentração de espermatozoides por dose inseminante (2,0 x 106 espermatozoides), comparada ao sêmen convencional (10 x 106 espermatozoides).

Com o objetivo de obter melhores taxas de gestação, alguns pesquisadores recomendam atrasar a IATF com sêmen sexado, para que os espermatozoides sejam depositados no útero em momento mais próximo da ovulação. Em um experimento com novilhas cíclicas da raça Jersey, inseminadas 60 horas após a retirada do implante de progesterona (10 a 12 horas antes da ovulação), verificaram maior taxa de gestação que as fêmeas inseminadas 54 horas após a retirada do implante (16 a 18 horas antes da ovulação). Os resultados obtidos com sêmen convencional foram maiores quando comparados ao sêmen sexado, nos dois momentos de inseminação (Gráfico 1).

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As taxas de gestação após IATF com sêmen sexado em vacas em lactação são ainda menores. Por isso o produtor deve estar ciente desses resultados ao decidir adotar a técnica em vacas de alta produção, principalmente na época de verão, como observado em estudo realizado na Universidade de São Paulo (2007). O experimento foi realizado com 245 vacas Holandesas, sendo a inseminação realizada 54 ou 60 horas após a retirada do implante de progesterona. Foram verificadas baixas taxas de gestação após a utilização de sêmen convencional ou sêmen sexado, independente do momento da IATF (Gráfico 2).

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Considerando-se as baixas taxas de gestação e o maior custo da dose do sêmen sexado em relação ao sêmen convencional, o produtor deve evitar empregá-lo na IATF. A utilização do sêmen sexado apresenta melhores resultados em novilhas leiteiras cíclicas, com taxas de gestação de aproximadamente 50% após inseminações precedidas de observação do cio induzido por meio de hormônios exógenos. Uma boa alternativa para propriedades leiteiras que adotam protocolos de indução/sincronização do cio e da ovulação em novilhas, é utilizar o sêmen sexado somente na primeira inseminação artificial com observação e detecção de cio. O sêmen convencional deve ser utilizado nas inseminações seguintes, verificando-se aumento de aproximadamente 70% na proporção de fêmeas nascidas.

  

Relação custo-benefício

Como calcular a relação custo-benefício dos protocolos hormonais? Considerando as diferentes opções de protocolos disponíveis no mercado e as variações nos resultados obtidos, é necessário saber qual é o melhor caminho para se obter sucesso ao adotar essa biotécnica na propriedade.

 

Custos dos protocolos hormonais (negrito mais fraco aqui)

Na fase inicial da implantação de qualquer biotécnica reprodutiva, há um custo considerável. É importante saber que não existe receita de bolo para auxiliar na escolha dos protocolos hormonais. Cada propriedade tem suas particularidades e as mesmas deverão ser consideradas e avaliadas antes da tomada de decisão, que deverá estar bem embasada técnica e economicamente, para evitar prejuízos. Custos diretos e indiretos, que nem sempre são fáceis de individualizar, devem ser quantificados.

Para estimar os custos, o primeiro passo é avaliar a real necessidade de adoção da IATF por meio de consultorias veterinárias. Devido à variação dos resultados em vacas leiteiras, a adoção de protocolos hormonais tem sido recomendada para melhorar a eficiência reprodutiva naqueles rebanhos cuja eficiência na detecção de cio é inferior a 50%. Logo, é necessário avaliar se o mais rentável será solucionar os problemas que estão reduzindo a eficiência reprodutiva da propriedade (ex.: estresse calórico, problemas de casco, baixa condição corporal, etc.) ou implantar a IATF.

Ao optar pela adoção da IATF, será necessário escolher o(s) melhor(es) protocolo(s), expondo os resultados esperados para o produtor, e lembrando que diversos fatores deverão ser verificados previamente:

  1. Raça da vaca (taurina, zebuína, ou seus mestiços);
  2. Estádio fisiológico dos animais e nível de produção (vaca seca ou lactante, com baixa, média ou alta produção leiteira);
  3. Categoria (novilhas, vacas primíparas ou pluríparas);
  4. Sistema de produção (intensivo, semi-intensivo, extensivo);
  5. Época do ano (verão ou inverno / estação chuvosa ou seca);
  6. Situação reprodutiva (animais ciclando ou em anestro);
  7. Escore de condição corporal (baixo, médio ou alto);
  8. Condição das pastagens ou manejo nutricional (bom, regular ou ruim);
  9. Incidência de transtornos puerperais (retenção de placenta, infecções uterinas, cistos ovarianos);
  10. Dias após o parto.

Os resultados obtidos dependem da qualidade dos hormônios, da correta manipulação e aplicação dos mesmos, dos cuidados em todos os procedimentos da técnica de inseminação artificial e do aproveitamento ou não do cio de retorno.

A escolha do sêmen a ser utilizado na IATF deve ser feita de acordo com as informações genéticas do touro e das características a serem melhoradas no rebanho. O valor do botijão de sêmen “cheio” varia de R$ 1.800,00 a R$ 5.000,00, dependendo do tamanho do botijão, da escolha do touro e da quantidade de doses de sêmen adquiridas no momento da compra. Os materiais para inseminação artificial podem ser adquiridos em Kits que custam entre R$ 210,00 e R$ 300,00. Estes itens também podem ser comprados por grupo de produtores para serem utilizados em diferentes propriedades, diluindo-se os custos com a implantação da técnica. Estes valores serão amortizados com o passar do tempo. É recomendado que cada propriedade tenha estrutura básica, como pia com água corrente, iluminação e tronco de contenção.

Na maioria das vezes, o custo do protocolo é passado ao produtor como valor por vaca, sendo que o cálculo é realizado sobre as dosagens de cada hormônio. Existem protocolos mais simples e baratos, com valor de R$ 3,00/animal, até os protocolos mais complexos que podem chegar a R$ 40,00/animal, dependendo da quantidade e qualidade dos hormônios utilizados. O preço da dose do sêmen previamente selecionado deverá ser adicionado a este valor, juntamente com o serviço veterinário, que pode cobrar por protocolo realizado, por horas trabalhadas, por gestação confirmada ou outras maneiras.

 

Benefícios da técnica de IATF (negrito mais fraco aqui)

O custo total da implantação da IATF, assim como seus benefícios diretos e indiretos, deve ser avaliado a curto, médio e longo prazos, independentemente do tamanho da propriedade. Dentre outros já citados no texto, os benefícios da IATF incluem:

  • A otimização da mão de obra, facilitando a organização de férias e folgas dos funcionários;
  • A concentração das parições e a concentração dos picos de produção de leite na entressafra ou em épocas estratégicas de acordo com o interesse do produtor;
  • A padronização dos lotes de bezerras e novilhas que poderão ser utilizadas para reposição ou aumento do rebanho. O excedente apresenta alto valor agregado para venda devido aos méritos genéticos;
  • Um benefício muitas vezes negligenciado é o retorno à ciclicidade de vacas que se encontravam em anestro, proporcionando a chance de serem inseminadas novamente em torno de 21 dias após a IATF (cio de retorno);
  • A redução do período de serviço e, consequentemente, do intervalo entre partos é outro benefício observado quando a IATF é adotada de forma correta.

 

Considerações

A utilização de protocolos hormonais possibilita controlar o ciclo reprodutivo da fêmea bovina, permitindo estabelecer o dia e o horário em que será realizada a inseminação artificial, sem a necessidade de observação de cio. Entre outras vantagens, a IATF pode facilitar a organização das atividades da propriedade e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida dos colaboradores, aumentar o número de serviços, favorecer a programação do nascimento de bezerros e a concentração estratégica de vacas no pico de lactação. Quando utilizados de forma correta, os protocolos hormonais podem melhorar as taxas de gestação do rebanho e aumentar a produção de leite, além da possibilidade de se adotar a inseminação com sêmen sexado para fêmea e obter maior número de novilhas para reposição. A decisão pela adoção da IATF e a escolha do protocolo hormonal devem ser baseadas na realidade de cada propriedade, levando-se em consideração os aspectos zootécnicos, econômicos e sociais inerentes a cada uma delas.

 

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