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Reprodução

A fertilidade dos rebanhos leiteiros está realmente diminuindo?

A fertilidade dos rebanhos leiteiros está realmente diminuindo?

Texto: Flávia Fontes

A produção de leite e a reprodução têm sido consideradas, por muito tempo, como parâmetros antagônicos. Ou seja, o aumento da produção de leite ao longo dos anos teria levado a uma redução na fertilidade dos rebanhos. Entretanto, um crescente número de novos trabalho têm mostrado evidências de que as altas produções de leite estão favoravelmente associadas com a fertilidade, sendo as vacas de maior produção aquelas com maior capacidade de se tornarem prenhes. Da mesma forma, rebanhos altamente produtivos têm sido comumente considerados como os de melhor desempenho reprodutivo.

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Ninguém discorda que a produção de leite vem crescendo de forma consistente ao longo das últimas quatro décadas. No Brasil, de 2000 a 2010 houve um aumento de cerca de 50% na produção de leite, representando mais de 10 bilhões de litros. O número de vacas ordenhadas, assim como a produção por vaca/ano também aumentaram consideravelmente (Tabela 1) . Por outro lado, a conclusão geral é de que existe um antagonismo entre produção de leite e reprodução, traduzido  pela redução da fertilidade em decorrência do aumento da produção de leite.

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Amplo debate

A percepção desse antagonismo entre produção e reprodução tem sido repetidamente contestada, desencadeando um debate apaixonado sobre a verdadeira natureza desta relação. Além disso, uma crescente lista de estudos atuais tem apontado evidências de uma associação favorável entre altas produções de leite e bom desempenho reprodutivo, mostrando que vacas de alta produção são também aquelas com maiores chances de se tornarem prenhes.

Um desses estudos foi conduzido pela equipe do Animal Science Group, da Wageningen University, na Holanda. Os pesquisadores concluiram que a relação entre produção de leite, saúde e fertilidade não é sempre a mesma. Um aumento na produção nem sempre está relacionado com aumento nos problemas de saúde e fertidade. Segundo eles, não existe necessariamente um maior risco de problemas de saúde e fertilidade em vacas de alta produção. Esse risco é aumentado apenas em condições de ambiente e manejo sub-

ótimas como, por exemplo, dietas desbalanceadas.

Um recente estudo do USDA forneceu mais evidências para suportar essa teoria, mostrando que a fertilidade foi ressaltada com a incorporação do mérito genético para fertilidade das filhas, sem nenhuma aparente queda nos ganhos em produção de leite por vaca. O mérito genético é uma medida genética de fertilidade para as filhas de um touro, sendo que um valor igual a 1 indica 1% de aumento na taxa de prenhez em 21 dias.

Outro trabalho muito recente, publicado na edição de março de 2012 do Journal of Dairy Science, também utilizou o mérito genético para investigar sua relação com o desempenho reprodutivo de vacas Holandesas mantidas em pastagens. O grupo de pesquisadores canadense dividiu os animais do experimento entre Fert + (vacas mais férteis) e Fert - (vacas menos férteis), de acordo com o mérito genético para fertilidade, e concluiu que existe uma forte associação entre esse e o desempenho reprodutivo. Ou seja, animais com maior mérito genético apresentaram melhor desempenho reprodutivo e vice-versa.

Os pesquisadores observaram ainda, que as vacas mais férteis produziram mais leite (19,5 vs. 18,7 kg.dia), tiveram um menor intervalo parto-concepção (85,6 vs. 113,8 dias), e menos serviços por concepção (1,78 vs. 2,83).

As vacas mais férteis apresentaram ainda maior escore de condição corporal (ECC), maior concentração circulante de IGF-1, durante toda a lactação, e maior concentração circulante de insulina durante as 4 primeiras semanas de lactação. Essas observações confirmam a hipótese de que animais mais férteis  são menos dependentes das reservas corporais para produção de leite, reduzindo assim o grau de desacoplamento do eixo somatotrópico. Parte dos resultados obtidos no experimento estão sumarizados na Tabela 2.

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Frente a esses novos resultados, fica a pergunta: o que mais pode ter mudado, além dos níveis produtivos, que possa ser responsável pela queda na fertilidade?

• O número de fazendas produtoras de leite caiu drasticamente nas últimas décadas. Por outro lado, o número de vacas nos rebanhos apresentou um aumento expressivo. Assim, cada funcionário ficou responsável pelo manejo de um número maior de animais.

• As estratégias reprodutivas sofreram grandes mudanças, passando da monta natural para várias biotecnologias como inseminação artificial e programas de sincronização da ovulação.  Isso é especialmente evidente em fazendas com maior produtividade.

• Houve um aumento no número de confinamentos, nos quais as vacas são alojadas quase que exclusivamente em piso de concreto após o primeiro parto.

Claramente, essas e muitas outras mudanças ocorreram nos rebanhos nos últimos 30 a 40 anos, podendo ser responsáveis pelo suposto antagonismo entre produção de leite e reprodução.

 

Medidas de produção

Qual a forma apropriada de se medir a produção de leite?  Avaliações de curto prazo, de 60 ou 90 dias, podem ser úteis quando se quer avaliar a influência imediata da produção no momento (ou próximo dele) da inseminação, mas são menos confiáveis para estimar o desempenho total na lactação. Nesse caso, a produção corrigida para sólidos seria mais apropriada,  pois é representativa da energia contida no leite fluido.  Por outro lado, a produção em 305 dias reflete com maior acurácia a lactação completa, mas não avalia o ambiente metabólico durante o período reprodutivo.

A mesma produção, que em uma região ou país é considerada alta, pode ser tida como moderada ou baixa em outros locais. Além disso, essas diferenças produtivas são frequentemente confundidas com raça e fatores nutricionais. Vacas de baixa produção, mantidas em sistemas de pastejo, encontram-se em um status metabólico completamente diferente daquele de vacas mantidas em confinamento, com disponibilidade de alimentos ao longo de todo o dia. Assim, a definição do que é alto, moderado ou baixo, em termos de produção de leite, deve ser feita dentro de um determinado sistema de produção e de base genética.

 

Definição de desempenho reprodutivo

As várias formas de avaliação do desempenho reprodutivo aumentam ainda mais o nosso desafio de elucidar o problema. Historicamente, os estudos baseados em genética avaliaram índices que podem ser utilizados para determinar a eficiência reprodutiva, como taxa de concepção, número de serviços por concepção, dias em aberto e intervalo entre partos. Cada um desses índices é fortemente controlado pelo tipo de manejo adotado na propriedade, que pode sobrepor e, em alguns casos, suplantar o potencial genético para produção.

Os índices de eficiência reprodutiva podem ser manipulados, levando a interpretações diferentes, de acordo com a forma como são determinados. Por exemplo,  os dias em aberto e o intervalo entre partos podem ser alterados pela mudança na duração do período voluntário de espera, dos dias em lactação ao descarte, ou designando vacas vazias como “não inseminadas”.  Outro exemplo é a taxa de concepção, que varia de acordo com o número de dias em lactação no momento da inseminação, tanto nos casos onde é feita a detecção do cio, quanto naqueles em que se usa a inseminação em tempo fixo.

 

Necessidade de uma nova abordagem

É necessário que seja desenvolvida uma nova forma de avaliar todos esses fatores de confundimento. Pesquisadores da Kansas State University e da Michigan State University estão avaliando tanto os efeitos individuais das vacas, quanto dos rebanhos, utilizando modelos estatísticos sofisticados. Os resultados preliminares são interessantes. Por exemplo, enquanto a avaliação de rebanho pode apresentar relação negativa entre produção de leite e desempenho reprodutivo, os dados individuais de vacas dentro desses rebanhos apresentam tendência oposta, ou seja, quanto maior a produção de leite, maior a eficiência reprodutiva.

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