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Nutrição, Reprodução

Descubra como o ajuste na dieta pode impulsionar a reprodução

“A boa nutrição é o melhor remédio.” Uma frase que carrega simplicidade em meio a um contexto repleto de complexidades. À primeira vista, ao se deparar com a palavra “remédio”, é fácil associá-la imediatamente a uma conotação curativa. No entanto, explorando o significado mais amplo dessa palavra, descobrimos que também pode ser entendido como medida preventiva essencial, capaz de gerar resultados surpreendentes.

Descubra como o ajuste na dieta pode impulsionar a reprodução

Antes mesmo de entrarmos na seleção criteriosa do touro mais adequado ou na escolha da biotécnica reprodutiva mais avançada para facilitar o processo de Inseminação Artificial (IA), existe um aspecto fundamental que merece nossa total atenção: os fatores nutricionais. Estes podem ser restritivos e afetar significativamente os índices reprodutivos em fazendas leiteiras de alta performance.

Comida boa

Comida boa é aquela que nos faz salivar involuntariamente; no mundo das vacas de alta produção, também é sinal de agitação no corredor de alimentação. Aqueles olhares intensos das vacas dominantes, acompanhados de uma ou outra cabeçada entre as multíparas e as primíparas, não são nada menos que o prelúdio de uma experiência sensorial sem igual.

Para atingir esse patamar, é fundamental uma alimentação não apenas palatável, mas também livre de quantidades significativas de micotoxinas e sem sinais de deterioração bacteriana. Esse cuidado contribui para aumentar a ingestão de matéria seca (IMS) especialmente quando oferecida em ambiente agradável – pense em um Índice de Temperatura e Umidade (THI) de 68 e uma competição mínima por espaço no cocho.


Alinhando-nos às recomendações atualizadas do NRC 2021 e garantindo silagem de alta qualidade, com matéria seca (MS) entre 35 e 38% e teor de amido próximo de 40%, podemos alcançar picos de produção leiteira quando a genética do rebanho é favorável. Entretanto, isso por si só não assegura a excelência dos índices reprodutivos.

Para alcançar a excelência na reprodução

O tipo de energia disponível na dieta impacta diretamente o ciclo estral dos ruminantes. As fontes de gordura, ricas em ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa (AGPCL), despertam minha atenção há mais de duas décadas. A inclusão de gorduras na dieta das vacas leiteiras de alta produção visa aumentar a densidade energética das rações para mitigar os distúrbios decorrentes do balanço energético negativo (BEN), mas estudos recentes mostram promessas ainda maiores no que tange à reprodução, imunidade e saúde geral do rebanho, especialmente quando esses lipídios são ricos em ômega 3 e ômega 6.


Dieta balanceada rica em AGPCL é fundamental para a saúde reprodutiva

Esses ácidos graxos essenciais, como o ácido linoleico e o ácido linolênico, são indispensáveis, pois os mamíferos não conseguem sintetizá-los em quantidades suficientes. Evidências recentes sugerem que vacas suplementadas com gorduras ricas em ômega 6 apresentam níveis mais altos de progesterona (Figura 1), essencial para o desenvolvimento embrionário e a retomada da ciclicidade ovariana após o parto. A progesterona, conhecida como o hormônio da reprodução, e um equilíbrio entre ômega 3 e ômega 6 são fundamentais para a integridade celular em todo o organismo, incluindo as paredes celulares embrionárias.


Se liga!

A progesterona é considerada o hormônio da reprodução e é responsável pela pré-sensibilização do centro sexual feminino no período imediato pós-parto. Pode-se afirmar que a retomada precoce da ciclicidade ovariana está diretamente relacionada a altas concentrações sanguíneas de progesterona


Concentrações elevadas de progesterona aceleram o desenvolvimento embrionário inicial, facilitando o reconhecimento materno da gestação. Essa condição contribui com a redução dos índices de mortalidade embrionária e promove melhora dos índices reprodutivos.

Suplementação estratégica

Em colaboração com a Cotripal Agropecuária Cooperativa, localizada em Panambi/RS, desenvolvemos um suplemento alimentar enriquecido com ômega 3 (C 18:3), usando uma base de farelo de linhaça complementada com farelo de canola e DDGS.

O campo de atuação nos levou a desenvolver uma abordagem inovadora focada na “nutrição dos ovários”, conceito que chamamos de nutrição reprodutiva. Nossa estratégia consiste em diminuir os níveis de amido na dieta e aumentar os de gordura, privilegiando um perfil rico em AGPCL, como ômega 3 e ômega 6 (Figura 2).



Se liga!

Os DDGS (grãos secos de destilaria com solúveis) e DDG (grãos secos de destilaria) são subprodutos gerados durante a produção de etanol a partir do milho. São ricos em proteínas e aminoácidos, fornecem boa quantidade de energia e são fontes importantes de minerais, destacando-se o fósforo disponível. Além disso, contêm vitaminas, sobretudo as hidrossolúveis, e substâncias que estimulam o sistema imunológico, como os glucanos. Esses coprodutos têm sido amplamente utilizados na dieta de bovinos, apresentando excelentes resultados.

A redução de amido cria um perfil sanguíneo com níveis moderados de insulina, o que, por sua vez, favorece a manutenção de altos níveis sanguíneos de progesterona (Figura 3).


Para atingir esses objetivos, as dietas seguiram um perfil de amido entre 24 e 25% da dieta total e extrato etéreo entre 4,5 e 5%. Os AGPCL compunham 35% dessa gordura, sempre buscando uma proporção de 10:1 entre C18:6 e C18:3.

A suplementação de gordura veio principalmente de três fontes: soja em grão integral tostada (Soy tost), sais de cálcio de ácidos graxos insaturados de cadeia longa (gordura “protegida” de soja) e o concentrado proteico da Cotripal.

Começamos a implementar essas dietas em fevereiro de 2019, mantendo-as até que as condições financeiras das fazendas permitiram, sem sofrer impactos negativos significativos devido ao preço do leite praticado pelas indústrias.

Por mais de 20 anos, tenho realizado o monitoramento sistemático das taxas de prenhez e serviço nos rebanhos leiteiros de minha região de atuação. Durante esse período, observei que dois índices específicos têm ligação direta tanto com a lucratividade quanto com a persistência da lactação nas vacas monitoradas. É importante destacar que os rebanhos avaliados não fazem uso de somatotropina bovina em suas rotinas de manejo.

Assim, um índice importante analisado é o percentual de concepção das vacas em lactação na primeira inseminação até os 150 dias de intervalo desde o último parto (DEL). Esse índice reflete a eficiência reprodutiva, indicando o percentual de vacas prenhes com apenas uma dose de sêmen durante esse período. Outro índice importante é o percentual acumulado de vacas prenhes até os 150 dias de DEL, independentemente do número de doses de sêmen utilizadas, que nos mostra a porcentagem total do rebanho em lactação que conseguiu emprenhar dentro dos 150 dias de DEL.

Os dados coletados ao longo do estudo revelaram resultados promissores, particularmente no aumento significativo tanto do percentual acumulado de prenhez até os 150 dias de DEL quanto no percentual de concepção na primeira IA dentro desse mesmo período. Esse progresso foi observado em um grupo de 550 vacas pertencentes a quatro rebanhos confinados do tipo Free Stall. Os rebanhos se destacaram pela produção média de 35 kg de leite por dia, obtida em duas ordenhas diárias, e sem o uso de somatotropina bovina (Figuras 4 e 5).





Destaco que é fundamental acompanhar durante um período de tempo maior os rebanhos envolvidos. As estiagens consecutivas dos últimos três anos no Rio Grande do Sul têm afetado a base alimentar, a silagem de milho, impactando negativamente a produtividade e fertilidade das vacas.

Na busca do equilíbrio

Buscar o equilíbrio financeiro que seja sustentável a longo prazo é fundamental, visto que as dietas baseadas em AGPCL, apesar de não serem as mais baratas, demonstram potencial considerável para melhorar os resultados reprodutivos quando integradas a boa gestão alimentar da fazenda. Afinal, como sempre digo: a boa nutrição é o melhor remédio!


EDUARDO SILVEIRA DA SILVEIRA - Médico Veterinário e Especialista em Reprodução


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