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Manejo, Nutrição, Sanidade

Estratégias de prevenção ao timpanismo em ruminantes

O timpanismo, doença grave e potencialmente fatal para ruminantes, pode ser prevenido. Descubra como!

Estratégias de prevenção ao timpanismo em ruminantes

O timpanismo, assim como a acidose ruminal, é uma enfermidade digestiva que pode causar grandes perdas econômicas aos produtores. Compreender o perfil da doença, bem como os fatores que contribuem para o seu desenvolvimento, é fundamental para prevenir a ocorrência de casos e proteger os animais.

O que é timpanismo?
O timpanismo, também conhecido como empanzinamento ou meteorismo ruminal, refere-se à expansão anormal do rúmen-retículo, resultante da retenção excessiva de gases gerados durante a fermentação.
Esse acúmulo pode se apresentar na forma de espuma persistente misturada ao conteúdo ruminal, caracterizando o timpanismo espumoso, ou como gás livre separado da ingesta, o timpanismo gasoso. Conforme o quadro da doença evolui e o acúmulo de gás aumenta, o rúmen-retículo pode dilatar-se a ponto de exercer pressão sobre o diafragma do animal, levando à parada cardiorrespiratória. Entender os principais fatores predisponentes do timpanismo é essencial para prevenir a doença. Além disso, conhecer as manifestações clínicas favorece o diagnóstico precoce e o tratamento adequado.

Tipos de timpanismo
Para diagnosticar e iniciar o tratamento adequado, é necessário conhecer os tipos de timpanismo.

Timpanismo primário
No timpanismo primário ou espumoso, ocorre alteração na tensão superficial e viscosidade do conteúdo ruminal. Essas mudanças impedem a coalescência dos gases resultantes da fermentação, levando à associação das bolhas gasosas com a ingesta. Apesar da presença inicial de movimentos, a eliminação das bolhas torna-se difícil, uma vez que a espuma estável preenche o espaço no rúmen-retículo, e sua presença próxima à região do cárdia impede a abertura e o reflexo da eructação.

Timpanismo secundário
O timpanismo secundário, também conhecido como gás livre, resulta da não eliminação dos gases gerados no processo de fermentação, ocasionado por obstrução no cárdia ou esôfago, podendo ter origem mecânica, patológica ou metabólica. Adicionalmente, existe a possibilidade da ocorrência de lesões nas vias nervosas responsáveis pelo processo de eructação, exemplificado pela indigestão vagal, que pode levar à atonia ruminal.

Fatores predisponentes
É preciso entender os principais fatores de risco do timpanismo para que seja possível adotar medidas eficazes de prevenção e tratamento.

1. Dieta rica em leguminosas: A dieta dos bovinos deve ser equilibrada e cuidadosamente formulada. As leguminosas ricas em proteínas são fator predisponente para o timpanismo, como é o caso da alfafa (Medicago sativa), do trevo-vermelho (Trifolium pratense) e do trevo-branco (T. repens). As proteínas solúveis das folhas dessas leguminosas são facilmente fermentadas por bactérias ruminais, o que resulta na produção de gases e na proliferação bacteriana. Consequentemente, as partículas de cloroplasto (organelas das plantas, encontradas nas folhas), colonizadas por microrganismos ruminais, impedem a coalescência das bolhas. Outro fator relevante é o estágio de desenvolvimento das plantas. O período vegetativo ou de brotação apresenta maiores riscos em relação à formação da espuma, devido à concentração mais elevada de cloroplastos e proteínas solúveis;

O TIMPANISMO, TAMBÉM CONHECIDO COMO EMPANZINAMENTO OU METEORISMO RUMINAL, REFERESE À EXPANSÃO ANORMAL DO RÚMENRETÍCULO, RESULTANTE DA RETENÇÃO EXCESSIVA DE GASES GERADOS DURANTE A FERMENTAÇÃO

2. Dieta com alto teor de grãos ou carboidratos solúveis: Dietas com alimentos concentrados muito finos ou de baixa granulometria podem criar ambiente propício para a proliferação de certos grupos de bactérias ácido-tolerantes, como o Streptococcus bovis. Essa condição favorece a digestão microbiana do amido, resultando em níveis elevados na produção de mucopolissacarídeos. Tais substâncias contribuem para a estabilidade da espuma e aumentam a viscosidade do conteúdo ruminal, resultando na consequente retenção de gases. A inserção de palma nas dietas de bovinos, rica em mucilagem e carboidratos solúveis e com baixo teor de fibra, pode contribuir para que aconteçam problemas digestivos;

3. Dieta com alto teor de fibras finas ou dietas pobres em fibra: Dietas com alto teor de fibras finas, como pastagens jovens ou forragens de má qualidade, podem aumentar a predisposição dos bovinos ao timpanismo. Além disso, dietas com baixo teor de fibra podem contribuir para o desenvolvimento de bactérias ácido-tolerantes, uma vez que essa dieta provoca alterações na produção de saliva. O comprometimento do pH ruminal devido à falha no mecanismo de tamponamento, responsável por neutralizar os ácidos no rúmen, resulta em disbiose. A disbiose é um desequilíbrio na microbiota ruminal que cria ambiente propício para a proliferação de bactérias, como o Streptococcus bovis, por exemplo;

4. Mudanças na dieta: Mudanças repentinas na dieta dos bovinos, especialmente a transição de dieta de forragem para dieta rica em grãos, podem causar desequilíbrios no sistema digestivo e aumentar o risco de timpanismo. Isso evidencia a importância de promover alterações na dieta de forma gradual e com a orientação de profissionais capacitados.


Bovinos criados em sistema de confinamento são mais propensos ao timpanismo, pois são alimentados com rações ricas em carboidratos. Esses carboidratos são fermentados por bactérias no rúmen, resultando na produção de gases

Os sinais clínicos do timpanismo em bovinos são decorrentes do aumento da pressão intra-abdominal. É frequente observar distensão, principalmente do lado esquerdo do abdômen (fossa paralombar), onde está localizado o rúmen. Porém, em casos mais severos, pode haver distensão abdominal de ambos os lados. Esse aumento da pressão comprime a musculatura torácica e pode levar a episódios de deficiência respiratória, evidenciados pelo aumento da frequência cardíaca e respiratória. Em situações mais intensas, o animal pode estender a cabeça e o pescoço, assumindo posição ortopneica, indicativa de postura facilitadora para a respiração. Adicionalmente, podem ocorrer sintomas como queda na produção de leite, inquietação, micção e defecação frequentes e perda de apetite. Em casos agudos, há momentos em que não há sinais clínicos anteriores à morte súbita.

OS SINAIS CLÍNICOS DO TIMPANISMO EM BOVINOS SÃO DECORRENTES DO AUMENTO DA PRESSÃO INTRA-ABDOMINAL. É FREQUENTE OBSERVAR DISTENSÃO, PRINCIPALMENTE DO LADO ESQUERDO DO ABDÔMEN



O timpanismo provoca distensão do flanco esquerdo devido ao aumento da pressão intrarruminal

Diagnóstico do timpanismo
O diagnóstico é estabelecido com base no histórico e nos sinais clínicos apresentados pelo animal. O uso de exames laboratoriais não é comum nesses casos. No cenário de diagnóstico post mortem, especialmente em casos de morte súbita, a necropsia assume papel de extrema importância.
Durante esse procedimento, é possível identificar:
• Alterações circulatórias, como hemorragias;
• Esôfago congesto na porção cervical, mas pálido na porção torácica;
• Protusão da língua;
• Pulmões comprimidos;
• Eritema sob a mucosa ruminal;
• Fígado pálido;
• Enfisema subcutâneo.

Tratamento e prevenção
O tratamento do timpanismo varia de acordo com o grau de gravidade da doença. Em casos leves, o animal pode ser tratado com medicamentos que reduzem a produção de gases ou ajudam a eliminá-los do rúmen. Em casos graves, pode ser necessário intervenção cirúrgica para drenar os gases do rúmen. Os métodos de tratamento disponíveis são aplicáveis a depender do quadro do animal acometido pela doença, levando em consideração os seguintes fatores:
• Tipo de timpanismo (primário ou secundário): O timpanismo primário é causado pelo consumo de alimentos ricos em carboidratos fermentáveis, enquanto o timpanismo secundário é causado por outros fatores, como ingestão de ar ou obstruções no rúmen;
• Grau de acometimento (leve ou grave): Em casos leves, o animal pode ser tratado com medicamentos orais, como antiácidos ou procinéticos. Em casos graves, pode ser necessária a intervenção cirúrgica, como a punção ruminal ou a laparotomia; se o tratamento não for iniciado rapidamente, o animal pode vir à óbito rapidamente.



Para prevenir o timpanismo bovino, é importante que a dieta dos animais seja equilibrada, com proporção adequada de grãos e fibras

A melhor maneira de prevenir o timpanismo é garantir que os animais tenham acesso a dieta equilibrada, composta por variedade de alimentos, incluindo forragens, grãos e silagem. Também é importante evitar mudanças bruscas na dieta e fornecer água fresca e de boa qualidade aos animais. As seguintes medidas podem ajudar a prevenir o timpanismo:

a) Fornecer forragens de boa qualidade e em quantidade sufi ciente: as forragens são ricas em fibras, que ajudam a regular a microbiota ruminal e a prevenir a formação de espuma;
b) Aumentar a granulometria dos grãos: os alimentos com maior granulometria são mais difíceis de serem digeridos pelas bactérias do rúmen, o que diminui a produção de gases;
c) Evitar mudanças bruscas na dieta: mudanças bruscas na dieta podem causar distúrbios no sistema digestivo, aumentando o risco de timpanismo;
d) Fornecer água fresca e de boa qualidade: a água ajuda a diluir os gases no rúmen, o que dificulta a formação de espuma;
e) Incluir ionóforos na dieta: os ionóforos são substâncias que atuam no pH ruminal, dificultando a formação de espuma. A monensina sódica, por exemplo, pode ser usada para reduzir a estabilidade das bolhas e favorecer a eructação.

Recomendações específicas para dietas que incluam leguminosas e grãos:

a) Preferir leguminosas com maior teor de taninos: essa substância é capaz de combinar com proteínas, formando precipitados, o que reduz a formação de espuma no rúmen;
b) Evitar o consumo de leguminosas verdes ou em excesso: são mais propensas à fermentação e produção de gases;
c) Evitar o consumo de grãos com menor granulometria: são mais fáceis de serem digeridos pelas bactérias do rúmen, o que aumenta a produção de gases. Isso pode predispor o animal ao timpanismo. Além disso, é importante que a dieta contenha pelo menos 10 a 15% de forragem de boa qualidade.

O timpanismo por gás livre é causado por obstruções no rúmen, como corpos estranhos ou lesões. Para prevenir esse tipo de timpanismo, é importante evitar o acesso dos animais a corpos estranhos, como pregos, fios ou plásticos e investigar e tratar possíveis problemas metabólicos que possam causar lesões ou obstruções no rúmen.

Quais os impactos causados pelo timpanismo?
O timpanismo tem impacto significativo na produção de leite, no bem-estar dos animais e nos custos de produção.
• Redução na produção de leite: O timpanismo pode levar à diminuição na ingestão de alimentos devido ao desconforto abdominal e à distensão do rúmen. Como resultado, a produção de leite pode ser reduzida em até 50%;
• Perda de Escore de Condição Corporal (ECC): A redução na ingestão de alimentos e a diminuição da produção de leite podem resultar na perda de peso corporal dos bovinos leiteiros. Isso pode ser prejudicial para a saúde da vaca e para produção de leite a longo prazo; • Queda no bem-estar animal: O timpanismo causa desconforto e dor nos bovinos, que podem ficar inquietos, ofegantes e relutantes a deitar-se. O estresse resultante do timpanismo afeta negativamente o bem-estar dos animais;
• Aumento dos custos: O tratamento do timpanismo em bovinos leiteiros pode ser dispendioso. Inclui a necessidade dos animais serem cuidadosamente avaliados por Médicos Veterinários, passarem por procedimentos para o alívio dos gases e administração de medicamentos;
• Desenvolvimento de problemas de saúde a longo prazo: Em casos graves ou crônicos de timpanismo, os bovinos podem desenvolver problemas de saúde a longo prazo, como acidose ruminal, deslocamento do abomaso e laminite.

Considerações finais
Ao compreender as características do timpanismo, sua forma de manifestação e os fatores predisponentes, fica claro que a adoção adequada de manejos é essencial para minimizar os efeitos da doença em vacas leiteiras. Entre essas práticas, destaca-se a formulação cuidadosa e de alta qualidade da dieta, juntamente com a detecção precoce dos sintomas para o tratamento imediato. A prevenção se apresenta como a melhor opção, sendo mais eficaz e econômica do que o tratamento após o desenvolvimento da doença.


LARYSSA MENDONÇA - Consultora Técnica do Rehagro
BRUNA MAEDA - Equipe Rehagro



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