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Concentrado para bezerros: ingredientes e níveis nutricionais

Concentrado para bezerros: ingredientes e níveis nutricionais

Texto: Sandra Gesteira Coelho, Juliana A. Mello Lima, Ana Paula S. Franzoni

Por muitos anos, os programas de criação de bezerros preconizaram a restrição da quantidade de leite a 4 litros diários. No entanto, estudos realizados nos últimos 10 anos têm demonstrado que o maior volume e sólidos do leite fornecido aos bezerros podem refletir em efeitos positivos no desenvolvimento e saúde durante o aleitamento e vida produtiva futura. Para que os ganhos obtidos durante o aleitamento não sejam perdidos na desmama, durante a transição da dieta líquida para a sólida, é importante que os bezerros estejam consumindo pelo menos 1 kg de concentrado antes do desaleitamento, minimizando o estresse nutricional nesse momento. Para estimular o consumo, os alimentos sólidos devem ser palatáveis e ter alta digestibilidade, devido à baixa capacidade de fermentação ruminal de animais jovens. Além disso, o concentrado deve promover a movimentação do rúmen, desenvolvendo a musculatura, sem provocar grande enchimento ruminal.

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Fatores que afetam o consumo de ração dos bezerros

Vários fatores contribuem para a variação no consumo da ração pelos bezerros, dentre eles pode-se destacar: palatabilidade, composição, forma física do concentrado, volume de leite oferecido, disponibilidade de água, e manejo da alimentação.

A palatabilidade tem forte efeito no início do consumo de alimentos sólidos, no entanto, é apenas um fator para o sucesso no uso dos concentrados. Uma boa alternativa para melhorar o consumo é a adição de melaço, que pode ser misturado aos ingredientes do concentrado antes da peletização ou pulverizado quando o concentrado tem textura grosseira. Além de ser utilizado como palatabilizante, o melaço também pode ser empregado no controle da pulverulência (poeira) das rações. Como é um produto que fermenta rapidamente no rúmen, a quantidade utilizada deve estar entre 5 a 7% para evitar queda no pH do rúmen e flutuações no consumo. Soro de leite em pó e leite desnatado também são utilizados como palatabilizantes.

Em estudos com bezerros, avaliando a palatabilidade dos grãos, a cevada apresentou maior aceitação, quando comparada com milho, trigo e aveia. A aveia apresenta boa palatabilidade, além de ser excelente fonte de fibra, sendo bem aceita em teores de até 25% do concentrado. Outros alimentos que influenciam o consumo podem ser observados na tabela 1.

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O mais importante para manter o consumo é o fornecimento de alimento fresco. Portanto, retirar as sobras da ração e oferece-la em vasilhames e cochos limpos é fundamental. Alimentos molhados e mofados são menos consumidos e podem provocar doenças.

 

Fontes de carboidratos

As fontes de carboidratos utilizadas nos concentrados para bezerros devem ser selecionadas para fornecer grande proporção de energia digestível ou metabolizável, sendo o milho, cevada, sorgo, arroz, trigo e a aveia, comumente utilizados em todo mundo. Além de fornecer energia, os grãos são fermentados rapidamente no rúmen, produzindo grandes quantidades de ácidos graxos voláteis (AGV), responsáveis pelo desenvolvimento do epitélio ruminal.

Essas fontes diferem entre si pelo conteúdo de amido. O trigo apresenta 77% de amido seguido por 70 a 73% no milho, sorgo e arroz, e por 57 a 58% na cevada e aveia.

O milho é um excelente alimento para inclusão no concentrado dos bezerros porque apresenta taxa ideal de degradação no rúmen e alta digestibilidade no trato gastrointestinal. Na maioria das indústrias e propriedades rurais é o grão de escolha como fonte energética nos concentrados de bezerros. Em pesquisa comparando diferentes dietas contendo como principal fonte de carboidrato milho, cevada, aveia e o trigo, foram observados maior consumo de concentrado e ganho de peso para os animais alimentados com a dieta a base de milho. Fora do Brasil, a cevada é o segundo grão mais amplamente utilizado no concentrado para bezerros. Isso se deve à sua rápida fermentação no rúmen, que é maior do que outros grãos não processados.

As pesquisas com milho processado em concentrados para bezerros mostram resultados variados, mas frequentemente não é observada melhor taxa de ganho de peso.

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Fontes de proteína

A proteína é o segundo componente nutricional mais importante, depois da energia, recebendo mais atenção por ser o mais caro da dieta de bezerros. O NRC (2001) recomenda que o concentrado dos bezerros tenha 18% de proteína bruta por quilo de matéria seca. Segundo esse modelo, o que limita ganho em bezerros entre 60 e 90 kg, que recebem apenas alimentos sólidos, é a energia, e não proteína.

A fonte de proteína mais utilizada em concentrado para bezerros é a soja, no entanto, outros alimentos, incluindo semente de linhaça, farelo de algodão e soja tostada, moída ou extrusada, podem ser usados. A soja parece ser o melhor nutriente proteico para bezerros, já que sua substituição por outros alimentos não tornou o animal mais eficiente. Além disso, a soja, em associação ao milho, supre o perfil de aminoácidos adequado para os bezerros. 

A utilização de fontes de nitrogênio não proteico, como ureia, não é recomendada em dietas para bezerros entre o nascimento e 10 a 12 semanas de idade.

 

Fontes de fibra

No concentrado fornecido do nascimento até aproximadamente dois meses de idade, o ideal é a utilização de quantidades limitadas de fibra, para maximizar o ganho de peso e a eficiência, a menos que o custo dos grãos seja limitante ou esses estejam em falta. Após os dois meses de vida, as fontes de fibra terão maior importância, sendo que valores abaixo de 6% ou acima de 20% de fibra em detergente ácido (FDA) devem ser evitados. Concentrados com pouca fibra podem causar problemas digestivos como acidose ruminal, e limitar o consumo. Concentrados com valores de fibra acima de 20% não conseguirão atender às demandas energéticas dos bezerros. O conteúdo de fibra em detergente neutro (FDN) depende de muitos fatores, mas concentrações aceitáveis estão entre 15% e 25%. A fonte de FDN é o principal fator que influencia sua inclusão na dieta, sendo que alimentos de maior valor nutricional, como casca de algodão, casca de soja, casca de aveia poderão ter maior inclusão que alimentos de menor valor nutricional, como forrageiras maduras.

As fontes de fibra mais utilizadas para o concentrado são farelo de trigo, farelo de soja extrusado, casca de soja e casca de aveia. A aveia é boa opção por ser muito palatável e ótima fonte de fibra.

 

Gordura

Bezerros jovens têm alta exigência de energia e proteína, e consomem quantidades limitadas de matéria seca. Dessa forma, fontes de gordura podem ser incluídas no concentrado, com o objetivo de aumentar a ingestão de energia. No entanto, algumas fontes de gordura como o óleo de milho, sais de cálcio de ácido graxo, dentre outras, têm sido usadas com benefícios limitados. Estudos nos quais gordura foi adicionada ao concentrado demostraram diminuição da ingestão de matéria seca e redução ou manutenção do ganho de peso. Portanto, a adição de gordura no concentrado, acima de 1%, para auxiliar na formação do pellet ou diminuir a pulverulência, não é recomendada.

 

Forma física do concentrado

A forma física do concentrado pode influenciar a palatabilidade e o consumo. Concentrados texturizados ou grosseiros, com grãos inteiros e ou processados, acrescidos de pellets, são preferidos pelos bezerros. Partículas com maior granulometria são importantes para estimular a movimentação do rúmen e o desenvolvimento do volume do órgão. As formas farelada ou peletizada não provocam estímulo físico à movimentação e ruminação (salivação, tamponamento), pois os pellets são facilmente quebrados na boca do animal. Além disso, alimentos farelados e peletizados têm maior probabilidade de causar paraqueratose ruminal, por ficarem retidos entre as papilas, diminuindo a área de absorção. Quando se trata da saúde do rúmen, em bezerros até a 8a semana de idade, o tamanho das partículas é mais importante que o teor de fibra da dieta. O estímulo mecânico sobre as paredes do retículo-rúmen (efeito físico) é necessário para promover a movimentação do rúmen, o desenvolvimento das camadas musculares, o aumento do volume e a manutenção da saúde do epitélio.

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Coccidiostáticos

Coccidiostáticos são incluídos à dieta para prevenção de coccidiose ou eimeriose. Quando adicionados aos concentrados, aumentam o ganho de peso vivo, mesmo quando não há diagnóstico clínico de coccidiose. Os coccidiostáticos mais utilizados são a monensina e a lasalocida. Deve-se ter cuidado no momento de adicioná-los a dieta, calculadando e pesando corretamente, pois a dose tóxica para os bezerros é próxima da dose recomendada. Além disso, a mistura deve ser bem homogênea para que toda a ração contenha a mesma quantidade do produto.

 

Água

Para o desenvolvimento precoce do retículo-rúmen, os bezerros devem ter acesso a água limpa e fresca desde o nascimento, pois seu consumo aumenta a ingestão de matéria seca e o ganho de peso. Para cada litro de água ingerida a mais, ocorre aumento no consumo de matéria-seca de 82g/dia, e ganho de peso de 56g/dia. A escassez de água pode causar diminuição de cerca de 31% no consumo de matéria seca, e de 38% no ganho de peso.

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Conclusões

Em resumo, um bom concentrado para bezerros, além de ser palatável, deve ter níveis adequados de proteína 18% (sem ureia) e energia (80% de NDT). Valores de FDA menores que 6% e maiores que 20% devem ser evitados, e a FDN deve estar entre 15 a 25% (teores maiores podem ser utilizados, quando a fonte de FDN vem de casca de soja, polpa de beterraba, caroço de algodão ou aveia). Os concentrados devem ainda apresentar níveis de vitaminas e minerais recomendados pelo NRC 2001 e serem constituído por alimentos de boa qualidade e textura grosseira.

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