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Nutrição

Água, o nutriente mais essencial

Água, o nutriente mais essencial

Texto: Alexandre M. Pedroso

Quando formulamos dietas para bovinos leiteiros nos preocupamos com carboidratos, proteínas, lipídios, minerais, aditivos, etc, etc, mas nunca nos atentamos com a quantidade de água a ser consumida. E, de todos os nutrientes necessários para o bom desempenho dos animais, a água é, de longe, o mais importante, já que o leite é composto de 87% de água. Mais importante que a água só o oxigênio. Mas, nós sabemos se as vacas estão bebendo água em quantidade e qualidade adequadas?

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Infelizmente, não é raro encontrarmos em fazendas produtoras de leite oferta de água de baixa qualidade, em bebedouros sujos, de difícil acesso para os animais, sub-dimensionados e com vazão insuficiente. Isso é um gigantesco tiro no pé do produtor de leite, pois não podemos esquecer que o leite é composto por 87-88% de água, ou seja, a restrição de água impõe uma restrição muito grande ao desempenho produtivo das vacas.

A água é essencial para todos os processos bioquímicos do organismo, transporte de nutrientes, manutenção da temperatura corporal, manutenção do equilíbrio iônico, e muitas outras funções importantes.

 

Consumo de água

Diversos fatores afetam o consumo diário de água por uma vaca leiteira, como peso vivo, produção de leite, atividade aeróbica (deslocamentos), clima, dentre outros. Parte da água consumida vem dos alimentos, mas a maior parte vem da água de beber. O NRC (2001) apresenta diferentes equações para estimar o consumo de água, abaixo segue uma delas, pela qual tenho preferência:

Ingestão de água (kg/dia) = (0.90 x Prod. Leite, kg/d) + (1.58 x IMS, kg/d) + (0.05 x ingestão de sódio, g/d) + (1.20 x temperatura mínima diária, °C) + 15.99

Utilizando essa equação, uma vaca produzindo 25 kg de leite, consumindo 20 kg de matéria seca de dieta e 40 g de sódio por dia, considerando temperatura mínima de 15°C,  teria um consumo de cerca de 90 kg de água por dia. Se a dieta tiver 50% de umidade, a vaca irá consumir 20 kg de água na dieta, além de beber outros 70 kg (litros) diariamente.

Uma regra mais simples é admitir que uma vaca leiteira necessita, em média, de cerca de 4 litros de água para cada litro de leite produzido. No entanto, é preciso considerar que temperaturas elevadas aumentam a necessidade de água, sendo que os requerimentos podem subir em 10 a 20% nessa situação. Segundo a equação acima, para cada grau a mais na temperatura mínima, a vaca necessita de 1,2 litros de água adicional.

Dada a importância desse nutriente, a restrição de água sempre deve ser considerada como uma das principais razões para quedas na produção de leite, ou desempenho abaixo do esperado. Em muitos casos, a solução de problemas relacionados à quantidade e qualidade da água permite aumentos de produção da ordem de 10 a 20%.

Via de regra, má qualidade da água leva a baixo consumo. Como muitas vezes o resultado de análises qualitativas da água é demorado e oneroso, sempre vale a pena monitorar o consumo. Antes de enviar uma amostra para o laboratório, verifique o que pode ser feito na fazenda para melhorar a disponibilidade de água e, consequentemente, seu consumo pelas vacas. Um bom teste é fornecer água de alguma fonte reconhecidamente boa por alguns dias e verificar se há alguma mudança. Se a produção de leite aumentar, certamente, o problema terá sido identificado, poupando tempo e economizando dinheiro para investir na solução mais adequada.

A estimativa do consumo de água não é trivial, mas pode ser relativamente simples, bastando, para isso, a instalação hidrômetros nas linhas de alimentação dos bebedouros. Verifique semanalmente o consumo para ter um bom histórico, o que pode ajudar bastante. Se a ingestão de água cair abaixo de 80% do esperado pelo nível de produção das vacas, certamente há algum problema.

Resumindo tudo o que foi falado até aqui, as vacas devem ter sempre água limpa e fresca disponível a qualquer momento do dia que desejem. Mas, como saber se a água está de fato limpa? Idealmente a água oferecida às vacas deve ter a mesma qualidade e aparência da água considerada adequada para consumo humano, ou seja, a água nos bebedouros deve ser adequada para nós. Para manter essa água sempre limpa e fresca é fundamental manter uma rotina rígida de limpeza dos bebedouros. A frequência de limpeza não deve ser superior a 2-3 dias, idealmente os bebedouros deveriam ser limpos diariamente para manter a qualidade da água. Se a limpeza é difícil, o produtor deve considerar a troca ou reforma dos bebedouros para facilitar o processo. Normalmente, o que mais dificulta a limpeza é a baixa vazão de saída, pois os ralos de escoamento sempre são bastante estreitos. Esse é um bom ponto a ser revisto na maioria das fazendas. Para manter a qualidade da água, recomenda-se ainda a desinfecção com água sanitária (meio copo em 20 litros de água) ou com pastilhas de cloro de liberação lenta.

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Localização e dimensionamento dos bebedouros

A disposição dos bebedouros também tem papel fundamental para manter o bom fornecimento de água nas fazendas. Além de bebedouros de fácil acesso nas áreas de alimentação, seja em pastagens ou confinamento, é fundamental a disposição dos mesmos  na sala de espera e saída da ordenha, e nos corredores de deslocamentos em sistemas de produção em pastagens. Trabalhos recentes de pesquisa mostram que o ambiente mais estressante da fazenda é a sala de espera da ordenha, e se faltar água nesse ambiente, o prejuízo é garantido. Imagine que uma vaca produzindo 25 kg de leite ao dia secreta algo em torno de 11 a 13 litros de leite por ordenha (em sistemas de 2 ordenhas diárias), e certamente saem da sala com bastante sede. Por isso, a presença de bebedouros na saída da sala de ordenha também é fundamental.

Em termos gerais, os bebedouros devem ser capazes de fornecer de 8 a 15 litros de água por minuto, e ter  60 cm de comprimento para cada 15 a 20 vacas estabuladas. Em climas quentes é recomendável aumentar essa disponibilidade de espaço.

 

Qualidade da água

Como já destacado, a qualidade da água fornecida às vacas também deve ser monitorada rotineiramente. Os fatores comumente considerados na análise qualitativa da água incluem odor e sabor, propriedades químicas e físicas, presença de compostos tóxicos, concentração de minerais e contaminação microbiana. Os principais fatores anti-qualitativos que reconhecidamente afetam a qualidade da água são o total de sólidos dissolvidos (TSD), que equivale à soma de todos os elementos inorgânicos dissolvidos na água (salinidade), enxofre, ferro, sulfatos, cloretos, nitratos (NO3), nitritos (NO2) e fluoretos. Outros fatores também podem ser considerados relevantes, mas não são tão importantes, tais como dureza e teores de cálcio e magnésio. O pH da água sempre é considerado como problema em potencial, mas na verdade afeta pouco o desempenho animal. Valores entre 5,5 e 8,5 são considerados adequados ao consumo pelos animais.

Recomenda-se fazer análise química e microbiológica pelo menos uma vez ao ano, sendo que os laudos devem ser arquivados para futuras comparações. O controle microbiológico pode ser feito com cloragem, utilizando níveis de cloro de 0,3 a 0,7 ppm. Níveis acima de 1 ppm podem ser prejudiciais aos processos digestivos e produção de leite. Idealmente, o nível de TSD deve ficar abaixo de 1.000 ppm para evitar problemas, mas valores até 3.000 dificilmente causarão transtornos mais graves que uma leve diarreia. Já os níveis de cloretos e sulfatos devem ser mantidos abaixo de 250 ppm, e os de nitratos devem ficar abaixo de 50 ppm. A presença de nitritos é especialmente crítica, pois valores acima de 4-5 podem até causar a morte de animais.

Não é incomum encontrar-se altos níveis de sulfatos (acima de 250 ppm) e ferro (acima de 0,3 ppm) na água, o que pode ser um problema, já que estes minerais, quando em concentrações acima do limite,  podem reduzir a palatabilidade da água e a absorção de outros minerais da dieta. Além disso, algumas bactérias são conhecidas por se multiplicarem melhor na presença de enxofre e ferro, o que pode piorar ainda mais a qualidade da água.

 

Conclusão

Por todos os pontos abordados aqui, fica clara a importância do monitoramento permanente do consumo e qualidade da água nos rebanhos leiteiros. Falta e/ou baixa qualidade da água têm um impacto enorme no desempenho das vacas, e isso certamente vai repercutir negativamente no bolso do produtor de leite.

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