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Boas práticas de manejo garantem saúde e desenvolvimento

Boas práticas de manejo garantem saúde e desenvolvimento

Texto: Lívia Carolina Magalhães Silva , Mateus José Rodrigues Paranhos da Costa

 A criação de bezerras, principalmente até o desmame, exige a aplicação de boas práticas de manejo e muita atenção a detalhes. No caso de bezerras leiteiras, é possível melhorar a interação humano-animal? Qual seria o melhor momento para essa interação?. Neste artigo, entenda os benefícios das associações positivas com estes animais.

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 Durante muito tempo, a questão do bem-estar dos animais de produção ficou literalmente esquecida, talvez pela busca frenética de melhorar os índices zootécnicos. Desde a década de 60, vários países da Europa, por meio de iniciativas da própria sociedade, passaram a reconhecer a necessidade de mudanças nos sistemas de produção animal e a exigirem a adoção de atitudes humanitárias na criação e no abate de animais para consumo. A partir dessas iniciativas, houve aumento no interesse de se conhecer melhor como se dá o relacionamento entre humanos e animais e, desde então, muitos estudos têm sido realizados em busca do entendimento das relações entre comportamento, produtividade e bem-estar animal.

O aumento na utilização de sistemas intensivos de produção é um dos elementos que mais tem levado a pressões do público sobre a questão do bem-estar dos animais de produção. Associado a isto, é também objeto de preocupação a utilização de tecnologias que, apesar de reduzirem o esforço de trabalho, com adoção p.ex., de comedouros automáticos e ordenhadeiras mecânicas, promovem expressiva redução nas oportunidades de interações entre humanos e bovinos, em particular das interações positivas, que podem ser representadas por atividades cotidianas, como: reposição de alimento no cocho, ordenha e aleitamento.

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Interações positivas

A relação homem-animal é muito importante na produção leiteira, afetando tanto o bem-estar na fazenda (aqui definido pela combinação das condições de bem-estar dos animais e dos trabalhadores) quanto às respostas produtivas, com impacto econômico direto. Nesse cenário, a formação de laços entre humanos e bovinos leiteiros geralmente tem início nos primeiros dias de vida da bezerra, em particular nas fazendas que adotam a separação das bezerras de suas mães poucas horas após o nascimento, pois todos os cuidados com os mesmos passam a ser de total responsabilidade dos tratadores.

Assim, é pertinente perguntar quais prejuízos podem ocorrer quando a interação entre humanos e animais passa a ser marcantemente aversiva? No caso de bezerras leiteiras, é possível melhorar a interação humano-animal? Qual seria o melhor momento para se interagir com eles? Deve-se reconhecer que a criação de bezerras, principalmente na fase inicial da vida até o desmame, exige a aplicação de boas práticas de manejo e muita atenção a detalhes. Na infância, as bezerras são muito sensíveis às experiências vividas e, portanto, esta fase caracteriza-se como um momento muito importante para promover associações positivas com elas.

Estudos conduzidos pelo Grupo ETCO da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV-UNESP), Campus de Jaboticabal-SP, têm mostrado que quanto mais cedo acontecem os contatos positivos com os animais, melhores são as respostas referentes à docilidade dos mesmos, no futuro.

Além disso, a partir de utilização de boas práticas de manejo (melhoria nas instalações e no sistema de aleitamento e melhor interação humano-animal) foi observada redução de 50% na mortalidade das bezerras durante a fase de aleitamento; associado a isto, o novo manejo implicou também na redução significativa na ocorrência de doenças, em particular da diarreia, cuja ocorrência reduziu de 76,9% para 13,3% das bezerras avaliadas, da mesma forma para a porcentagem de animais com quadro clínico de desidratação, que foi reduzida de 28,2% para 10,8%.

Deste modo, neste artigo iremos abordar como adotar as boas práticas de manejo nos sistemas de aleitamento das bezerras, sendo compostas por aleitamento em baldes com bico, desmama gradual e interação positiva humano-animal.

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Cuidados essenciais

Muitas vezes, após separação da vaca, as bezerras são conduzidas para instalações próprias, onde permanecem durante todo o período de aleitamento. Assim, todos os cuidados com os animais, como alimentação, limpeza e tratamentos veterinários passam a ser de responsabilidade do trabalhador. Ensinar as bezerras a tomarem leite em baldes convencionais não é uma tarefa fácil, e nestes primeiros dias de aprendizagem geralmente elas não conseguem tomar todo o leite oferecido, culminando em problemas como inapetência e fraqueza, que podem deixar as bezerras mais susceptíveis às doenças.

Pesquisas recentes, realizadas pelo nosso grupo de pesquisas (Grupo ETCO), encontraram que as bezerras têm mais facilidade para aprender a tomar leite quando são ensinadas a mamar em baldes com bicos. Este balde tem como finalidade facilitar o aleitamento, pois permite que a bezerra expresse seu comportamento natural de sucção e que a mamada seja mais eficiente, uma vez que os riscos de falsa via diminuem muito, pelo fato de ingerir leite lentamente e em pequenas quantidades, além de melhorar a digestibilidade do leite.

Outro fator positivo decorrente do uso de baldes com bicos é a diminuição no comportamento de sugar a instalação e as outras bezerras. O comportamento de sugar é inato, ou seja, nasce com a bezerra, portanto ela irá expressá-lo, e se não for por meio da mamada será por outros meios (como sucção de partes das instalações, dos corpos de outras bezerras e dos bebedouros de água). Ao utilizar o balde com bico para o aleitamento temos observado a diminuição deste comportamento de sucção, principalmente em outras bezerras, o que pode ser um meio de contágio de doenças.

A altura para se posicionar o balde deve ser de 40 a 50 cm, entre o bico e o chão, a mesma do úbere da vaca. Deste modo, iremos permitir que a bezerra se posicione corretamente para mamar, assim como se estivesse mamando em sua mãe.

Ao utilizar os baldes com bicos, é importante que alguns cuidados sejam tomados, dentre eles:

  • Desinfetar os bicos a cada troca de bezerra: isto irá prevenir quanto aos contágios de doenças. Utilize borrifadores contendo solução clorada e depois seque cada bico com papel toalha descartável.
  • Ordem de aleitamento: primeiramente aleite as bezerras mais novas e que não apresentem sinais de doenças, depois os animais mais velhos e saudáveis, finalizando o aleitamento com os animais doentes.

Além de todos estes pontos abordados, é muito importante que durante o aleitamento haja uma interação positiva trabalhador-bezerra. Estudos mostram a importância desta interação com reflexos positivos no desenvolvimento do animal (ganho de peso e menor ocorrência de doenças, por exemplo) e na obtenção de respostas comportamentais desejáveis, ou seja, animais manejados positivamente tornam-se mais dóceis, e quando tem a presença sistemática desta interação positiva desde a infância, permite a manutenção da docilidade até a vida adulta. Este é um fator de grande relevância, pois é desejável ter animais mais fáceis de manejar durante a pesagem e ordenha, por exemplo. Esta interação torna-se mais intensa quando ocorre junto ao aleitamento, pois o leite reforça positivamente esta interação. Assim, é recomendado que, pelo menos uma vez ao dia, durante o aleitamento, seja estimulada a interação com as bezerras, o que pode ser feito com a escovação diária dos animais, assemelhando as lambidas da mãe enquanto ele mama. Partes como costado, inserção de cauda, períneo e virilha devem ser priorizadas durante a escovação, que pode durar entre 1 a 2 minutos em cada animal. Se houver possibilidade, realize em todos as bezerras que estão em fase de aleitamento, caso contrário, faça a escovação preferencialmente nas bezerras mais jovens, com até 30 dias de idade. Isto porque, de acordo com nossos estudos, este período é caracterizado como o de maior aprendizado por parte das bezerras. Lembrando que, quanto mais tempo se interage positivamente com o animal, mais se aumenta a chance dele manter boas respostas comportamentais a longo prazo.

A interação positiva dos tratadores com as bezerras, além de estreitar os laços, permite realizar um manejo mais cuidadoso, observando e verificando os animais de forma individual. Por exemplo, quando sugerimos que o tratador escove ou acaricie as bezerras diariamente e de forma individual, além de propormos uma interação positiva, criamos a oportunidade para um contato mais íntimo, que facilita a identificação de problemas de saúde em fase inicial como, por exemplo, em relação à infestação de carrapatos, miíases, problemas com umbigo e princípio de casos como diarreia e pneumonia. Ou seja, se temos uma boa interação e tratadores capacitados para solucionar pequenos problemas como estes (pois conhecem sua biologia, nutrição e sanidade), seguramente teremos uma boa eficiência na criação.

Assim, é evidente que as bezerras submetidas às boas práticas de manejo apresentarão melhores condições de saúde, sendo notado também melhor desenvolvimento e expressão mais frequente de comportamentos desejáveis como, por exemplo, a redução da distância de fuga e maior docilidade dos animais durante o manejo. Quando o trabalhador conhece cada um dos animais sob seus cuidados, ele tende a reconhecer mais facilmente as suas necessidades e consegue supri-las com maior eficiência.

De maneira geral, a implantação das boas práticas de manejo tem o objetivo de desenvolver o bem-estar na fazenda, oferecendo melhores condições de vida para todos que nela vivem e trabalham. No caso específico do manejo de bezerras leiteiras, os manejos devem ser conduzidos com muito cuidado, sendo que qualquer falha de manejo pode resultar, em casos extremos, na morte dos animais.

 

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