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Você já sabe, mas não custa lembrar!

Colostro: sempre podemos reaprender o que já foi aprendido

Você já sabe, mas não custa lembrar!

Edição #104 - Novembro/2017

Você já sabe, mas não custa lembrar!

Colostro: sempre podemos reaprender o que já foi aprendido

Recentemente, estava revendo publicações do Journal of Dairy Science relacionadas a bezerras. Há algum tempo, o jornal ganhou versão digital, e todas as suas edições, desde a primeira - publicada em 1917 - estão disponíveis para consulta on-line. Incrível, não é?!  A quantidade de informações é surpreendente, os artigos são de alta qualidade, e para ter a real noção do que estou falando basta acessar o endereço www.journalofdairyscience.org.

Neste dia, eu procurava nos arquivos do jornal artigos com a palavra “colostro” e, acidentalmente, ordenei a busca por data, do mais antigo para o mais novo (só uma observação, havia 3.648 artigos que continham a palavra “colostro”!). Um, em específico, chamou logo minha atenção. Seu título era “O problema da colostragem e a sua solução” (tradução livre de The Colostrum Problem and It Solution), de Ragsdale e Brody (dois autores famosos em pesquisa de nutrição animal) da Universidade de Missouri, em Columbia, EUA. O artigo foi publicado em 1923, no volume 6 da revista.

Tenha em mente que em 1923 a tecnologia disponível para conduzir pesquisas era pouco desenvolvida. Não havia testes diagnósticos muito precisos, os métodos para a identificação de proteínas eram limitados e não existiam formas para determinar a qualidade do colostro nas fazendas. O refratômetro (aparelho utilizado para medir a quantidade de imunoglobulinas no colostro), por exemplo, foi inventado no final de 1800, mas até que fosse possível usá-lo no campo foram mais de 100 anos de refinamento. Portanto, muitas conclusões feitas pelos pesquisadores foram baseadas em observações cuidadosas, compreensão da fisiologia animal (dentro dos limites do conhecimento da época) e uma interpretação perspicaz dos dados. Claro que havia muitos becos sem saída e interpretações erradas, mas o método científico nos levou à compreensão da nutrição animal, da imunidade e da fisiologia que temos hoje.

Vale a pena ler o artigo de Ragsdale e Brody, mesmo que seja apenas para ter uma ideia do quão longe caminhamos desde 1923. Ou... para perceber que, às vezes, devemos reaprender o que já foi aprendido. Vou comentar este ponto usando o resumo do final do artigo. Em itálico, está um trecho do texto original.

O sangue do bezerro recém-nascido não contém nenhuma globulina ou corpos imunes. O colostro é muito rico nestas substâncias, que são passadas para o sangue do animal de forma inalterada, pelo trato alimentar. Este fato, junto com a observação de que a ocorrência de doenças e a taxa de mortalidade são muito maiores entre os animais que não recebem colostro, indica como ele é essencial para bezerros recém-nascidos.

Neste texto, observamos que a importância do colostro é reconhecida há mais de 100 anos. Na verdade, muitos produtores sabiam, intuitivamente, que o primeiro “leite” da vaca era essencial para a saúde e para o crescimento da bezerra. No entanto, esta é uma das primeiras afirmações, documentadas em uma revista científica, sobre o fato de que componentes do colostro (que agora sabemos, são as imunoglobulinas) são absorvidos intactos e chegam à corrente sanguínea do animal, conferindo imunidade passiva. O artigo afirma que os bezerros que foram corretamente alimentados com colostro tiveram mortalidade neonatal inferior a 10%. Já entre aqueles que não receberam colostro, a mortalidade foi superior a 25%.

Em 1923, os pesquisadores não entendiam que “corpos imunes” e “globulina” eram, praticamente, a mesma coisa. Hoje, sabemos que a vaca produz colostro com grandes quantidades de imunoglobulinas – IgG, IgA e IgM – que fornecem imunidade para a bezerra. Entretanto, esse artigo talvez seja a primeira publicação científica que recomenda que os animais recém-nascidos devam ser alimentados com colostro.

Se o colostro for infectado com organismos patogênicos, estes podem ser inativados pela pasteurização. Esse processo não altera as propriedades do colostro, desde que feito em banho- -maria e que se evite o superaquecimento. Devido ao rápido aumento do coeficiente de coagulação das proteínas com a elevação da temperatura, o processo de pasteurização lenta com temperaturas mais baixas oferece uma margem de segurança maior do que a pasteurização com temperaturas mais altas; 60° C é a temperatura mais segura.

Uma rápida revisão da história indica que as recomendações para pasteurizar o leite começaram no final de 1800. Assim, esta pode ser a primeira ponderação sobre o tratamento térmico do  colostro, os efeitos sobre a qualidade e temperaturas recomendadas. Hoje recomendamos, rotineiramente, que o colostro seja pasteurizado a 60° C, durante 60 minutos, para assegurar a redução do número de Mycobacterium aviumparatuberculosis , responsável pela doença de Johnes  ou paratuberculose.

As primeiras tentativas de pasteurizar produtos lácteos, frequentemente, usavam fogo direto ou vapor injetado no líquido para aumentar a temperatura. No caso do colostro, estes procedimentos fariam as proteínas coagularem, tornando-o ineficaz. O uso do banho-maria foi recomendado neste artigo para eliminar estes problemas.

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Foto: Bezerras que recebem colostro pasteurizado se desenvolvem tão bem quanto aquelas que o recebem em sua forma natural

A IMPORTÂNCIA DO COLOSTRO JÁ ERA RECONHECIDA HÁ MAIS DE 100 ANOS. NA VERDADE, MUITOS PRODUTORES SABIAM, INTUITIVAMENTE, QUE O PRIMEIRO “LEITE” DA VACA ERA ESSENCIAL PARA A SAÚDE E PARA O CRESCIMENTO DA BEZERRA

A pasteurização a 60° C, por 20 a 30 minutos, não altera as propriedades, e a experiência mostra que bezerras que recebem colostro pasteurizado se desenvolvem tão bem quanto aquelas que o recebem em sua forma natural, e muito melhor do que os animais que não receberam colostro.

Nossa recomendação de hoje é estender a pasteurização do colostro para 60 minutos, utilizando a mesma temperatura, 60° C. Embora a maioria dos patógenos seja eliminada após 30 minutos de pasteurização, um período mais longo reduz ainda mais a contagem de uma variedade maior de microrganismos. Quantos estudos foram feitos nos últimos 20 anos para mostrar resultados semelhantes a este?

O método satisfatório para criar a bezerra de uma vaca infectada com tuberculose é, portanto, separar o animal de sua mãe ao nascer e alimentá-lo com colostro pasteurizado durante os primeiros dois a três dias de vida. O colostro deve ser pasteurizado em banho-maria a 63° C durante 20 minutos, ou, de preferência, a 60° C por 30 minutos.

Este é um conselho sábio e válido, se as enfermidades em questão forem tuberculose, pseudotuberculose, Escherichia coli e também para outros agentes patogênicos. Com base em tudo o que foi exposto, vale lembrar que o “velho” ditado, atribuído a Winston Churchill (e a outros autores), na verdade permanece atual e sempre pertinente: “Aqueles que não conseguem aprender com a história estão condenados a repeti-la”.

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Foto: A pasteurização do leite começou a ser recomendada no final do século XIX

 JIM QUIGLEY

Publicado em Calf Notes.com  (www.calfnotes.com) em 12 de agosto de 2017.

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