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Manejo

Benefícios da redução do estresse calórico no período de transição

Benefícios da redução do estresse calórico no período de transição

Texto: Geoffrey E. Dahl

Em contraste com as vacas em lactação, o menor consumo de matéria seca e, consequentemente, a menor produção de calor metabólico das vacas secas melhora sua capacidade de se adaptar ao estresse calórico. Ainda assim, observam-se impactos negativos do calor sobre esses animais, embora um número limitado de estudos mostrem benefícios de intervenções de manejo, como resfriamento passivo (sombra) e ativo (ventiladores e aspersores).

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Estresse calórico e produção de leite

Pesquisas de nosso grupo investigaram os efeitos de resfriar ativamente vacas secas sobre seu desempenho e saúde na lactação subsequente. Nesses trabalhos, as vacas foram secas aproximadamente 6 semanas antes da data prevista do parto e instaladas em galpão free stall, com os lados abertos e camas de areia. Para as vacas resfriadas (CL) foram instalados aspersores na linha de alimentação e ventiladores, enquanto as vacas controle (HT) foram alojadas em locais sem esses equipamentos, tendo acesso apenas a sombra. Os estudos foram conduzidos entre maio e outubro na Flórida, quando as temperaturas médias diárias excedem 30oC e a umidade é consistentemente alta. Todas as outras práticas de manejo foram as mesmas para ambos os grupos durante o período seco. Após o parto, todas as vacas foram instaladas e manejadas como um grupo, e resfriadas de acordo com os protocolos padrões da fazenda. Usando essa abordagem, isolamos os efeitos do estresse calórico no período seco sobre vários aspectos da produção e da saúde.

Nosso primeiro objetivo era determinar se, e em que extensão, o estresse calórico no período seco afetava adversamente a produção de leite. Como observado em estudos anteriores, constatamos uma redução na produção de leite após o estresse calórico no período seco, com as vacas CL produzindo 5 a 7 quilos a mais de leite por dia em relação às HT. Essa diferença na produção foi aparente desde o início da lactação e persistiu por, pelo menos, 40 semanas (Figura 1). Essa observação indica que a glândula mamária está programada para produzir mais leite por toda a lactação quando o estresse calórico é evitado durante o final da gestação. Uma série sequencial de biópsias mamárias revelou que a proliferação celular foi maior em vacas secas resfriadas com relação àquelas que sofreram estresse calórico. Nossa conclusão foi que a queda na produção em vacas com estresse calórico resulta da redução do crescimento mamário durante o período seco, fazendo com que as vacas entrem em lactação com uma menor capacidade de produzir leite com relação aos animais que são resfriados.

 

Figura 1. Produção de leite em vacas expostas ao estresse calórico ou resfriadas durante o período seco. Adaptado de Tao et al., 2011.

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Quando as vacas sofrem estresse calórico no período seco, reduzem seu consumo de matéria seca com relação às vacas resfriadas, e há uma redução concomitante no ganho de peso e escore de condição corporal.

O exame da função hepática indicam que o resfriamento melhora o metabolismo lipídico, de tal modo que maiores produções podem ser suportadas com relação às vacas que sofreram estresse calórico, mesmo quando todas as mesmas são resfriadas durante a lactação.

 

Estresse calórico e função imunológica

Uma ocorrência comum nas vacas em transição é o menor status imunológico, com consequente aumento na incidência de doenças entre o período seco e as 6 primeiras semanas de lactação.

Nossa abordagem inicial para examinar os efeitos do estresse calórico no período seco sobre o status imunológico de vacas em transição foi a avaliação das respostas das células brancas do sangue sob condições de cultura. As células brancas do sangue de vacas resfriadas tiveram maior capacidade de se proliferar com relação àquelas de vacas com estresse calórico, um indicador de resposta imunológica mais forte. Além disso, as vacas resfriadas exibiram melhoras nos padrões de expressão de uma série de genes envolvidos na função dos leucócitos.

Embora a expressão do gene seja de interesse, é importante entender se o padrão resulta em melhor capacidade das células brancas do sangue de atacar e eliminar patógenos. Observamos que os neutrófilos de vacas resfriadas tiveram maior atividade no início da lactação com relação àqueles de vacas que passaram por estresse calórico no período seco. Isso é uma evidência de que o resfriamento tem efeitos residuais no status imunológico após o parto.

Mas, o que esses indicadores in vitro do status imune impactam na saúde da vaca em início de lactação? Nosso modelo para testar essa questão foi um desafio à glândula mamária com o patógeno causador de mastite, Streptococcus uberis. Como esperado, as vacas desenvolveram mastite, e houve um aumento correspondente na contagem de células somáticas no quarto inoculado. As vacas resfriadas tiveram uma expressão maior de genes específicos envolvidos no reconhecimento precoce do patógeno com relação às vacas que tinham sido submetidas ao estresse calórico, e também apresentaram maiores contagens de células brancas do sangue e números totais de neutrófilos. Portanto, parece que os indicadores in vitro de um melhor status imunológico, observados nas vacas secas resfriadas, se traduziram em uma resposta imunológica mais robusta à medida que elas entraram em lactação. Além disso, essa resposta imunológica foi associada a uma maior produção de leite.

 

Efeitos estacionais

Para avaliar os impactos estacionais na produção de leite, nosso grupo revisou, recentemente, registros de mais de 2.600 vacas multíparas que pariram durante um período de três anos na mesma fazenda comercial na Flórida. As vacas foram separadas por mês do parto em dois grupos; 1) COOL (frio, em inglês - que pariram em dezembro, janeiro ou fevereiro) e 2) HOT (quente, em inglês - que pariram em junho, julho e agosto), e uma série de resultados de desempenho foram avaliados durante a lactação subsequente. É importante enfatizar que as condições de manejo, incluindo alimentação, protocolos de ordenha e reprodutivo, e instalações, foram similares na fazenda durante todo o período de estudo.

As vacas COOL produziram 550 kg a mais de leite do que as HOT e apresentaram menor incidência de mastite nos primeiros 80 dias de lactação. Além disso, as vacas COOL tiveram menos casos de retenção de placenta e problemas respiratórios gerais do que o grupo HOT, sugerindo uma resposta imunológica mais robusta em vacas que foram secas durante os meses frios do ano.

Um resultado muito interessante foi o melhor desempenho reprodutivo das vacas COOL, apesar da maior produção de leite, refutando o dogma de que altas produções e estresse calórico são, necessariamente, antagônicos para bom desempenho reprodutivo.

Temperatura, umidade e fotoperíodo são os principais fatores que afetam o desempenho das vacas. De fato, vários estudos evidenciam o papel da exposição à luz durante o período seco na produção de leite e na saúde da vaca na próxima lactação. Porém, a duração média da luz do dia na Flórida, entre dezembro e janeiro (inverno), é de 10,5 a 11,5 horas, bem mais do que as 8 horas de exposição à luz que melhora a produção de leite, quando impostas durante o período seco. Além disso, a duração da luz do dia entre junho e agosto (verão) é de apenas 13 a 14 horas, muito mais curto do que as 16 horas usadas para melhorar a produção durante a lactação. Em contraste, usando o índice temperatura-umidade (ITU) como um guia, está claro que as vacas que pariram nos meses frios [COOL] (média de ITU – 54,8+1,0) tiveram menos estresse calórico quando secas do que aquelas que pariram nos meses quentes [HOT] (ITU = 76,2+0,4). Dessa forma, os efeitos sazonais no desempenho foram, provavelmente, devidos ao impacto do estresse calórico, e não ao fotoperíodo.

 

Efeitos do estresse calórico e desenvolvimento das bezerras

O estresse calórico gestacional impacta de forma adversa a bezerra antes e depois do seu nascimento. Bezerras nascidas de vacas com estresse calórico são menores ao nascimento e não conseguem recuperar esse peso perdido até um ano de idade. Estudos em andamento em nosso laboratório têm revelado uma série de alterações nos resultados imunológicos, metabólicos e de desempenho, que resultam de um breve período de estresse calórico no final da gestação.

Nossos estudos têm mostrado que resfriar ativamente as vacas secas tem efeitos positivos profundos no peso ao nascimento das bezerras, sendo os mesmos mantidos no desmame.

Além das diferenças de peso, as bezerras que passaram por estresse calórico no útero têm o metabolismo de energia alterado. Usando desafios de insulina e glicose, observamos que as bezerras com estresse calórico desviam energia para os tecidos periféricos de uma maneira consistente com um maior acúmulo de gordura, ao invés de massa muscular.

As bezerras nascidas de vacas que foram resfriadas também tiveram maiores concentrações circulantes e maior eficiência de absorção de IgG, com relação àquelas que nasceram de vacas com estresse calórico. Essa melhora na transferência de IgG, entretanto, não é devida às diferenças na qualidade do colostro, uma vez que vacas secas com estresse calórico tiveram concentrações numericamente maiores de IGg que as resfriadas. Dessa forma, o estresse calórico no útero parece alterar a capacidade da bezerra de absorver IGg, extremamente importante para a sua sobrevivência e saúde.

Os efeitos acima mencionados na saúde e no crescimento da bezerra estão, em última análise, associados com um melhor desempenho. Analisamos registros de 85 novilhas nascidas de vacas com estresse calórico ou vacas resfriadas durante os últimos cinco anos, em nossa fazenda da Universidade, para avaliar o impacto do estresse calórico no útero sobre a saúde, reprodução e produção de leite. É importante enfatizar que, após o nascimento, todas as bezerras foram manejadas de forma idêntica em nosso sistema, de forma que quaisquer efeitos observados são devidos às diferenças induzidas no útero, e não após o nascimento. Com relação às bezerras resfriadas no útero, aquelas nascidas de vacas com estresse calórico deixaram o rebanho com maior frequência antes da puberdade, requereram mais serviços para conceber e produziram 5 kg/dia a menos de leite na primeira lactação. Assim, parece que a vaca é afetada de forma aguda pelo estresse calórico no final da gestação, enquanto a bezerra, no útero, se torna programada para ser menos produtiva.

 

Implementação de um manejo de redução do estresse calórico

Sempre que possível, as vacas secas devem ter acesso ao resfriamento ativo para reduzir a carga de calor durante os períodos mais quentes do ano. Isso significa que sombra e, se possível, aspersores ou outros métodos de resfriamento, devem estar presentes nos locais de alojamento das vacas secas, seja no pasto ou confinamento. Uma maneira eficiente de promover resfriamento em vacas mantidas em pastagens é o fornecimento de sombra no pasto e resfriamento ativo nos locais de alimentação.

Tão importante quanto o esquema de resfriamento é a duração do mesmo. Por exemplo, as vacas podem ser resfriadas somente durante as últimas três semanas antes do parto, e apresentarem resultados positivos na produção e na saúde? Apesar de nenhuma comparação direta ter sido feita, tendo como base os resultados de vários estudos, parece que o resfriamento durante todo o período seco produz uma resposta melhor. Em nossas séries de estudos, durante um período de 6 anos, observamos uma melhora de 5 a 7 kg por dia na produção de leite com o resfriamento ativo iniciado no início do período seco.

 

Conclusões

O resfriamento de vacas secas é uma intervenção de manejo relativamente simples de ser implementada, sendo capaz de melhorar o bem-estar animal, a produção e a saúde e, por conseguinte, trazer melhores retornos financeiros para as fazendas leiteiras.

Vários resultados de pesquisa evidenciam os benefícios do resfriamento ativo durante todo o período seco, que se traduzem em aumento do crescimento mamário, maior consumo de matéria seca, maior produção de leite, melhor desempenho reprodutivo e melhora do status imunológico durante a transição para lactação. Além disso, bezerras que nascem de vacas resfriadas no período seco são maiores, têm um sistema imunológico mais robusto e, por fim, produzem mais leite em sua primeira lactação, quando comparadas com aquelas nascidas de vacas com estresse calórico.

 

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